Racionalidade neoliberal e uma abordagem segura de vida: práticas restaurativas para a formação do humano resiliente e o combate às vulnerabilidades

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2021v26n3p568

Palavras-chave:

Justiça Restaurativa, Vulnerabilidades, Resiliência, Políticas De Segurança, Racionalidade Neoliberal

Resumo

O presente artigo tratará de alguns dos atuais equacionamentos e efeitos da chamada Justiça Restaurativa (JR) em crianças e jovens. Em primeiro lugar, questiona-se como opera a seletividade do sistema penal no contínuo produzido pela JR, que articula a prevenção de conflitos e novas penalizações, transitando entre Varas da Infância e da Juventude, escolas, bairros e comunidades em prol da construção de ambientes seguros. Em segundo lugar, o artigo se concentra nas diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a JR no Brasil. Uma vez que a abordagem do desenvolvimento humano da ONU estabelece que os investimentos em capital humano devem ser aplicados desde a infância, também por meio da promoção de resiliência e do combate às chamadas vulnerabilidades – conceitos-chave para a metodologia restaurativa conforme formulada pela ONU –, problematiza-se em que medida este formato de JR apresenta-se em consonância com a racionalidade neoliberal assentada em uma abordagem securitária de vida.

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Biografia do Autor

Helena Cecília Barreto Bruno Wilke, Universidade de São Paulo - USP

Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2021-12-30

Como Citar

WILKE, H. C. B. B. Racionalidade neoliberal e uma abordagem segura de vida: práticas restaurativas para a formação do humano resiliente e o combate às vulnerabilidades. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 26, n. 3, p. 568–588, 2021. DOI: 10.5433/2176-6665.2021v26n3p568. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/42937. Acesso em: 29 mar. 2024.

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