Guloseimas para animais de estimação: comensalidade, afeto e antropomorfismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2019v24n3p57

Palavras-chave:

Mercado pet, Animais de estimação, Alimentação

Resumo

Presentear cães e gatos tem se tornado um ato que inclui artigos de alimentação, mas também objetos não comestíveis. Entre estes, alguns parecem identificar cães e gatos a crianças. Esse processo, chamado de infantilização, perpassa aspectos de consumo tanto quanto aspectos relacionados ao status ambíguo de tais animais na sociedade contemporânea. Nem totalmente animais, nem integralmente humanos, os pets vivem numa categoria à parte, ora antropomorfizados, ora (re)animalizados. O presente trabalho sugere que a infantilização esteja relacionada tanto à antropomorfização quanto ao novo status do animal de estimação como membro da família. Representado como uma criança inocente e capaz de amor incondicional, ele é mimado com uma série de produtos característicos da infância, como brinquedos e guloseimas. Emerge na noção de incondicionalidade uma percepção misantrópica da humanidade, alinhada a aspectos utilitaristas que têm o mercado e as trocas interessadas como pano de fundo.

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Biografia do Autor

Andréa Barbosa Osório, Universidade Federal Fluminense - UFF

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Professora do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense - UFF.

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Publicado

2019-12-11

Como Citar

OSÓRIO, A. B. Guloseimas para animais de estimação: comensalidade, afeto e antropomorfismo. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 24, n. 3, p. 57–71, 2019. DOI: 10.5433/2176-6665.2019v24n3p57. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/37596. Acesso em: 19 abr. 2024.

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Dossiê