Visibilizando os sujeitos históricos: Movimento negro, a intelectualidade acadêmica e a emergência da Lei n. 10.639/03

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2238-3018.2016v22n2p229

Palavras-chave:

Lei n. 10.639/03, Política de silenciamento historiográfico, Crítica Pós-colonial.

Resumo

Os estudos pós-coloniais se constituem como um campo de investigação em que novos pilares epistemológicos e teóricos são pensados, a fim de construírem uma lógica outra para produção de saberes. Segundo Spivak (2010) os estudos pós-coloniais buscam alternativas para a desconstrução da antinomia Oeste/Leste e, com isso, intentam produzir outras formas de pensamento e de modos de vida que “deem voz” aos povos historicamente silenciados pela modernidade/colonialidade. É a partir deste enunciado que o presente artigo procura debater as narrativas historiográficas sobre a participação do sujeito negro na construção da história nacional, bem como frisar a política de silenciamento historiográfico que ocultou a representação e o protagonismo feminino na luta abolicionista. As senhoras abolicionistas, como ficaram conhecidas, escreveram e organizaram: jornais, clubes e sociedades abolicionistas exclusivamente femininos e mistos, bem com, libertaram escravos e atuaram em movimentos sociais e políticos, como nos lembra Silva e Barreto (2014), todavia a historiografia oficializada tratou de silenciar essas vozes, asseverando mais uma vez a dominância de paradigmas exclusivamente baseados em epistemologias eurocêntricas produzidas por pessoas do sexo masculino, ocidentais, cisgêneras, brancas, heterossexuais, urbanas, de classe média. Essas considerações são decisivas para pensarmos em uma história que vai na contramão do que está posto nas narrativas históricas colonialistas. Principalmente se partirmos da premissa que a escrita da história do Brasil privilegiou desde a sua oficialização, com a fundação do IHGB, uma narrativa colonial que desenhou as fronteiras que fixaram os espaços e os papéis dos sujeitos coloniais para construção do Brasil. Os discursos dos historiadores procuravam construir a nação anulando as diferenças e os sujeitos sociais, a fim de trazer coesão a essa “comunidade imaginada”. (Benedict Anderson, 2008).

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Amauri Júnior Silva Santos, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

Mestrado em História pelo Programa de Pós-graduação em História na Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT

Referências

ANDERSON, B. R. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

AZEVEDO, C. M. M. Percursos do negro na historiografia: invisibilidade, resistência, racialização. São Carlos: UNESP, 2006. (Comunicação oral).

BALLESTRIN, L. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít., n. 11, p. 89-117, 2013.

BARBOSA, M. S. A África por ela mesma: a perspectiva africana na História Geral da África (UNESCO). Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

BARBOSA, M. S. Eurocentrismo, História e História da África. Sankofa. Revista de História da África e Estudos da Diáspora africana, n. 1, p. 46-63, jan. 2008.

BARRETO, M. R.; SILVA, W. B. Mulheres e Abolição: Protagonismo e Ação. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) - ABPN, v. 6, p. 50-62, 2014.

BHABHA, H. K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

BLOCH, M. L. B. Apologia da história, ou, O ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., c2002.

BRASIL. Lei. n. 10.639 de Janeiro de 2003. D.O.U., de 10/01/2013.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: MEC, 2004b.

BRASIL. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal n. 10.639/03. Brasília: MEC/SECAD, 2005.

BRASIL. Parecer n. 03/2004 do Conselho Pleno do Conselho Nacional de educação. Brasília: MEC, 2004a. CARVALHO, A. V. Palmares como campo de batalha. In: FEITOSA, Lourdes C.; FUNARI, Pedro Paulo A.; ZANLOCHI, T. (Org.). Veias Negras do Brasil: conexões brasileiras com a África. Bauru: Edusc, 2012, p. 233-262.

CONCEIÇÃO, M. T. Interrogando discursos raciais em livros didáticos de História: entre Brasil e Moçambique – 1950-1995. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015.

CORREA, S. M. S.; BITTENCOURT, M. África e Brasil: uma história de afastamentos e aproximações. Métis (UCS), v. 10, p. 7-14-14, 2011.

COSTA, S. Dois Atlânticos: teoria social, anti-racismo, cosmopolitismo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006. DOMINGUES, P. J. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos. Revista Tempo, v. 23, p. 100-122, 2007.

FANON, F. Pele negra, mascaras brancas. Salvador: EdUFBA, 2008.

FANON, F. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2010. FLORES, E. C. História da África e Abordagens Historiográficas: leituras comparativas e epistemológicas. In: XVI Encontro Estadual de História, 2014, Campina Grande. Anais Eletrônicos do XVI Encontro Estadual de História - ANPUH-PB. João Pessoa: ANPUH-PB, 2014, v. 16, p. 633-644.

HANCHARD, M. G. Orfeu e o poder: o movimento negro no Rio de Janeiro e São Paulo (1945 – 1988). Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2001.

KI-ZERBO, J. Introdução Geral. In: História Geral da África. v. I – Metodologia e Pré-História da África. Brasília; São Paulo: MEC/Unesco, 2011, p. XXXI-LVII

LIMA, M. História da África: temas e questões para a sala de aula. In. OLIVEIRA, I.; SISS, A. (Org.). Cadernos PENESB: População negra e Educação Escolar, n. 7. Rio de Janeiro/Niterói: Quartet/EdUFF, 2006.

MATA, I. Estudos pós-coloniais: desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas, v. 14, n. 1, p. 27-42, 2014.

MIGNOLO, W. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da modernidade. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, 2005, p. 33-49.

MUNIZ, D. C. G.; MACENA, F. F. Mulheres e política: a participação nos movimentos abolicionistas do século XIX. Mosaico (Goiânia), v. 5, p. 45-54, 2012.

PANTOJA, S.; ROCHA, M. J. (Org.). Rompendo silêncios: História da África nos currículos da educação básica. Brasília: DP Comunicações, 2004.

PEREIRA, A. M. Trajetória e Perspectivas do Movimento Negro Brasileiro. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.

PEREIRA, A. A. A Lei 10.639/03 e o movimento negro: aspectos da luta pela? reavaliação do papel do negro na história do Brasil?. Cadernos de História (Belo Horizonte), v. 12, p. 25-45, 2011.

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, set. 2005, p. 107- 130.

SCOTT, J. Gender and politics of History. New York: Columbia University Press, 1998.

SILVA, A. T. T.; BITTENCOURT, C. A. C. A Educação para a emancipação: Aproximações entre o pensamento de Kant e Adorno. Educação em Revista, v. 14, n. 1, p. 53-64, jan./jun. 2013.

SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010.

SWAIN, T. N. Mulheres, sujeitos políticos: que diferença é esta? Revista Mosaico, v. 5, n. 1, p. 45-54, jan./jun. 2012.

MUNIZ, D. C. G. (Org.). Mulheres em ação: práticas discursivas, práticas políticas. Florianópolis: Mulheres; Belo Horizonte: PUC Minas, 2005.

VAINFAS, R. Colonização, Miscigenação e questão racial: notas sobre equívocos e tabus da historiografia brasileira. Tempo, v. 8, p. 7-22, 1999.

WALSH, C. Interculturalidad, Plurinacionalidad y Decolonialidad: Las Insurgencias Político Epistémicas de Refundar el Estado. Tabula Rasa, n. 9, p. 131-152, jul.- dic. 2008.

Downloads

Publicado

2016-12-30

Como Citar

Santos, A. J. S. (2016). Visibilizando os sujeitos históricos: Movimento negro, a intelectualidade acadêmica e a emergência da Lei n. 10.639/03. História & Ensino, 22(2), 229–246. https://doi.org/10.5433/2238-3018.2016v22n2p229

Edição

Seção

Artigos