Construção e validação da Escala de Racismo Revitimizador

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2236-6407.2020v11n2p130

Palavras-chave:

estudo de validação, escala de racismo, vitimização secundária, conservadorismo

Resumo

O racismo apresenta duas características centrais: persistência e adaptação. Considerando as mudanças sociais e políticas do Brasil na atualidade, hipotetiza-se que ele atue mediante atribuição de culpa às minorias pela existência do próprio racismo, numa lógica de revitimização. Neste artigo procedemos a construção e validação de uma Escala de Racismo Revitimizador (ERR). Foram realizados dois estudos. O primeiro (n = 121, 50,4% do sexo feminino, idade média = 25,3, DP=10,2) procedeu a uma análise de conteúdo de posts na internet para a construção e confirmação da ERR. O segundo (n = 104, 54,8% de sexo masculino, idade média = 22,9, DP=7,3) procedeu a validação convergente com o racismo moderno e discriminativa com o autoritarismo, bem como Análise Fatorial Confirmatória e correlações com a motivação interna/externa para responder sem preconceito. Os resultados demonstram que a ERR é menos obstrutiva que a escala de racismo moderno e apresenta validade convergente e discriminativa.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Marcus Eugênio Oliveira Lima, Universidade Federal de Sergipe

Doutor em Psicologia Social pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa em 2003 (ISCTE-PT). Pós-Doutorado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em 2011. 

Isabelle Haaiara Andrade Barbosa, Universidade Federal de Sergipe

Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Membro do grupo de pesquisa: Normas Sociais, Estereótipos, Preconceito e Racismo (NSEPR) da UFS.

Erick Matheus Santos Araujo, Universidade Federal de Sergipe

Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Membro do grupo de pesquisa: Normas Sociais, Estereótipos, Preconceito e Racismo (NSEPR) da UFS.

Juliana Nascimento de Almeida, Universidade Federal de Sergipe

Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Bolsista PIBIC-CNPq e membro do grupo de pesquisa: Normas Sociais, Estereótipos, Preconceito e Racismo (NSEPR) da UFS.

Referências

Altemeyer, B. (1981). Right wing authoritarianism. Winnipeg: University of Manitoba Press.

Arcoverde, L. (2018, 27 de julho). Crimes de racismo e injúria racial crescem 29% em São Paulo em 2018. Globo News, Recuperado de https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/07/27/crimes-de-racismo-e-injuria-racial-crescem-29-em-sao-paulo-em-2018.ghtml

Bastide, R., & Fernandes, F. (1959). Brancos e negros em São Paulo. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional.

Billiet, J. B., & McClendon, M. J. (2000). Modeling acquiescence in measurement models for two balanced sets of items. Structural Equation Modeling, 7(4), 608–628. doi:10.1207/S15328007SEM0704_5

Bret, A., Beffara, B, McFadyen, J., & Mermillod, M. (2017). Right wing authoritarianism is associated with race bias in face detection. PLoSOne, 12(7), e0179894. doi:10.1371/journal.pone.0179894.

Cohen, C. J., Fowler, M., Medenica, V. E., & Rogowski, J. C. (2017). The ‘Woke’ Generation? Millennial Attitudes on Race in the US. Recuperado de https://genforwardsurvey.com/assets/uploads/2017/10/GenForward-Oct-2017-Final-Report.pdf

Dovidio, J. F. & Gaertner, S. L. (1998). On the nature of contemporary prejudice: The causes, consequences, and ‘challenges of aversive racism. In J. L. Eberhardt & S. T. Fiske (Eds.), Confronting Racism: The problem and the response (pp. 3-32). Califórnia: SAGE.

Dovidio, J. F., Hewstone, M., Glick, P., & Esses, V. M. (2010). Prejudice, stereotyping and discrimination: Theoretical and empirical overview. Em J. F. Dovidio, M. Hewstone, P. Glick, & V. M. Esses (Eds.), The SAGE handbook of prejudice, stereotyping and discrimination, (pp. 3-29). Califórnia: SAGE.

Duckitt, J. (1992). Psychology and prejudice: A historical analysis and integrative Framework. American Psychologist, 47(10),1182-1193. doi: 10.1037/0003-066X.47.10.1182

Feldman, S., & Huddy. L. (2005). Racial Resentment and white opposition to race-conscious programs: Principles or prejudice?. American Journal of Political Science, 49(1), 168–183. doi:10.2307/3647720

Feres Jr., J., & Campos, L. A. (2016). Ação afirmativa no Brasil: Multiculturalismo ou justiça social? Lua Nova, 99, 257-293. doi:10.1590/0102-6445257-293/99

Fernandes, F. (1966). O Negro no mundo dos brancos. São Paulo, SP: Difusão Européia do Livro.

Fredrickson, G. M. (2015). Racism: A short history. Nova Jersey: Princeton University Press.

Freyre, G. (1933/1983). Casa-grande e senzala: Formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Lisboa: Edição Livros do Brasil.

G1 (2018, 07 e janeiro). Blog com mensagens racistas sobre estudantes provoca revolta em universidade do Rio. Recuperado de https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/blog-com-mensagens-racistas-sobre-estudantes-negros-provoca-revolta-em-universidade-do-rio.ghtml

Gouveia, V. V., Souza Filho, M. L., Araújo, A. G. T., Guerra, V. M., & de Sousa, D. F. M. (2006). Correlatos valorativos das motivações para responder sem preconceito. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19(3), 422-432. doi:10.1590/S0102-79722006000300011

Hu, L. T., & Bentler, P. M. (1999). Cutoff criteria for fit indexes in covariance structure analysis: Conventional criteria versus new alternatives. Structural Equation Modeling: A Multidisciplinary Journal, 6, 1–55. doi:10.1080/10705519909540118
Jornalistas Livres (2018, 26 de janeiro). Piauiense é a primeira negra diplomata no Itamaraty. Recuperado de www.facebook.com/jornalistaslivres/photos/a.292153227575228/680009545456259/?type=3&theater

Lima, M. E. O (2014). Preconceito. In A. R. R. Torres, L. Camino, M. E. O. Lima, & M. E. Pereira (Eds.). Psicologia social: Temas e teorias (pp. 589-642). Brasília, DF: Techonopolitik.

Lima, M. E. O. (2019). O que há de "novo" no novo racismo do Brasil? Revista Ensaios e Pesquisas em Educação e Cultura, 4, 155-177. doi:10.29327/211303

Lima, M. E. O., Almeida, J. N., Araujo, E. M. S., & Barbosa, I. H. A. (2019). Crise, anomia e identificação com o Brasil de 2014 a 2018. In A. Faro, M. E. O. Lima, D. França, S. Enumo, & C. Pereira. (Eds.). Psicologia Social e Psicologia da Saúde: Tópicos atuais (p. 33-52). Curitiba, PR: CRV.

Lima, M. E. O., Neves, P. S. da C., & Silva, P. B. (2014). A implantação das cotas na Universidade: Paternalismo e ameaça à posição dos grupos. Revista Brasileira de Educação, 19(56), 141-164. doi:10.1590/S1413-24782014000100008

Mauro, M. (2018, 20 de novembro). Denúncias de discriminação racial aumentam 43,75% de 2017 para 2018. Destak, Recuperado de https://www.destakjornal.com.br/cidades/rio-de-janeiro/detalhe/denuncias-de-discriminacao-racial-aumentam-4375-de-2017-para-2018

McConahay, J. B., & Hough, J. C. Jr. (1976). Symbolic racism. Journal of Social Issues, 32(2), 23-45. doi:10.1111/j.1540-4560.1976.tb02493.x

Michael, G. (2017). The rise of the alt-right and the politics of polarization in America. Skeptic, 22, 9-17.

Miles, R. (1989). Racism. Londres: Routledge.

Munanga, K. (1996). As facetas de um racismo silenciado. In L. M. Schwarcz, R. D. S. & Queiroz, (Eds). Raça e diversidade (pp. 213-229). São Paulo, SP: Estação Ciência, Universidade de São Paulo.

Observatório da Discriminação Racial no Futebol Brasileiro (2019). Futebol racista: A discriminação de ontem e hoje. Recuperado de https://observatorioracialfutebol.com.br/textos/futebol-racista-a-discriminacao-de-ontem-e-hoje/

Pierson, D. (1942). Negroes in Brazil: A study of race contact at Bahia. Carbondale II: Southern Illinois University Press.

Pires, A. M. L. T. (2010). El prejuicio racial en Brasil: Medidas comparativas. Psicologia & Sociedade, 22(1), 32-42. doi:10.1590/S0102-71822010000100005

Plant, E. A., & Devine, P. G. (1998). Internal and external motivation to respond without prejudice. Journal of Personality and Social Psychology, 75(3), 811-832. doi:10.1037/0022-3514.75.3.811

Plant, E. A., & Devine, P. G. (2001). Responses to other-imposed pro-Black pressure: Acceptance or backlash?. Journal of Experimental Social Psychology, 37, 486–501. doi:10.1006/jesp.2001.1478.

Sacco, A. M., Couto, M. C. P. de P., & Koller, S. H. (2016). Revisão sistemática de estudos da psicologia brasileira sobre preconceito racial. Temas em Psicologia, 24(1), 233-250. doi:10.9788/TP2016.1-16

Santos, A. O., Schucman, L. V., & Martins, H. V. (2012). Breve histórico do pensamento psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais. Psicologia: Ciência e Profissão, 32, 166-175. doi:10.1590/S1414-98932012000500012.

Santos, W. S., Gouveia, V. V., Navas, M. S., Pimentel, C. E., & Gusmão, E. E. (2006). Escala de racismo moderno: Adaptação ao contexto brasileiro. Psicologia em Estudo Maringá, 11(3), 637-645. doi:10.1590/S1413-73722006000300020.

Schwarcz, L. M. (1993). O espetáculo das raças: Cientistas, instituições e questão racial no Brasil do século XIX. São Paulo, SP: Editora Companhia das Letras.

Shevlin, M., & Miles, J. N. (1998). Effects of sample size, model specification and factor loadings on the GFI in confirmatory factor analysis. Personality and Individual Differences, 25, 85–90. doi:10.1016/S0191-8869(98)00055-5

Sidanius, J. (1993). The psychology of group conflict and the dynamics of oppression: A social dominance perspective. In S. Iyengar, & W. McGuire (Eds.), Explorations in political psychology (pp. 183-219). Durham, NC: Duke University Press.

Sou de Sergipe (2017, 23 de novembro). Sou de Sergipe, Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=0hVh2Z6fXRA
Vala, J., & Pereira, C. (2012). Racism: An evolving virus. In: F. Bettencourt, A. J. Pearce (Eds.) Racism and ethnic relations in the portuguese-speaking world (pp. 49-70). New York, NY: Oxford University Press.

Turra, C., & Venturi, G. (1995). Racismo cordial: A mais completa análise sobre o preconceito de cor no Brasil. São Paulo, SP: Editora Ática.

Vieira, R. M. (2015). Racismo à moda da casa. GV Executivo, 14, 62. doi:10.12660/gvexec.v14n1.2015.49196

Vilela, M. O. (2012). A Personalidade autoritária do chão de fábrica à gerência: Um estudo aplicando a Escala RWA adaptada da Escala "F" de Adorno. (Dissertação de mestrado). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. Recuperado de http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Administracao_VilelaMO_1.pdf.

Wachelke, J., Natividade, J., Andrade, A., Wolter, R., & Camargo, B. (2014). Caracterização e avaliação de um procedimento de coleta de dados online (CORP). Avaliação Psicológica, 13(1), 143-146.

Yang, J. (2014). Effect of racism on African American women's development of psychological distress: The role of psychological wellbeing and racism-related social support. Theses and Dissertations, Iowa State University. Recuperado de https://lib.dr.iastate.edu/etd/13873.

Downloads

Publicado

2020-08-31

Como Citar

Oliveira Lima, M. E., Andrade Barbosa, I. H., Araujo, E. M. S., & Almeida, J. N. de. (2020). Construção e validação da Escala de Racismo Revitimizador. Estudos Interdisciplinares Em Psicologia, 11(2), 130. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2020v11n2p130

Edição

Seção

Artigos Originais