A oralidade no impresso: o 'eu-nós lírico-político' da literatura indígena contemporânea

Autores

  • Julie Dorrico Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

DOI:

https://doi.org/10.5433/boitata.2017v12.e32958

Palavras-chave:

Tradição, Literatura Indígena, Voz-práxis, ‘Eu-nós lírico-político’.

Resumo

Este artigo versa sobre a emergência da literatura indígena contemporânea no país, buscando mostrar a qualidade estética adveniente desde a oralidade e fazendo-se presente na literatura impressa dos diferentes escritores indígenas. Nosso argumento central consiste em defender que a literatura indígena apresenta a ancestralidade como matéria para a expressão estética e a violência histórica enquanto matéria para resistência, possibilitando um trânsito entre os dois mundos: o da oralidade, em que os saberes, os rituais, os cantos fazem parte da cultura indígena fundamentalmente oral até o século XXI; e o do impresso, onde a expressão oral faz-se presente somando-se ao estilo criativo dos escritores na contemporaneidade. Esta literatura apresenta caracteres específicos, tais como a evocação da pessoa singular ‘eu’ indissociável do coletivo étnico ‘nós, e a expressão literária ‘lírica’ evoca a resistência ‘política’. Por isso, defendemos o conceito do ‘eu-nós lírico-político’ na conjuntura literária indígena, justificando uma voz-práxis que protagoniza a presença e a atuação do indígena desde si mesmo.

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Biografia do Autor

Julie Dorrico, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Doutoranda em Teoria da Literatura na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

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Publicado

2017-12-27

Como Citar

Dorrico, J. (2017). A oralidade no impresso: o ’eu-nós lírico-político’ da literatura indígena contemporânea. Boitatá, 12(24), 216–233. https://doi.org/10.5433/boitata.2017v12.e32958