A Idade Média Brasileira? Colonialismos e medievalismos historiográficos (c.1900-1940)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2020v13n26p36

Palavras-chave:

Idade Média Brasileira, Carlos Malheiro Dias, Medievalismo, Colonialismo, Historiografia

Resumo

O presente artigo pretende recobrar o colonialismo intelectual vigente na historiografia brasileira do início do século XX, além de suas nítidas relações com os medievalismos subjacentes aos processos de produção histórica vigentes na Europa do período. Assim, o texto recobrou os colonialismos culturais no final do século XIX e início do século XX, que subsidiaram os nacionalismos e colonialismos europeus em outras partes do mundo. Em seguida, o texto ofertou aos leitores um vislumbre do predomínio do colonialismo cultural francês no Brasil e, em menor grau, a ambivalente presença do colonialismo cultural português - minorado por sentimentos lusófobos na jovem república brasileira. O último tópico foi dedicado ao estudo de caso em torno da produção intelectual de Carlos Malheiro Dias (1875-1941), um famoso literato e jornalista luso-brasileiro, para mostrar que as premissas anteriores não apenas cimentaram a noção de “raízes medievais brasileiras”, mas também a base arquetípica e teorética da historiografia brasileira.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Renan Marques Birro, Universidade de Pernambuco

Departamento de História (Universidade de Pernambuco/Campus Mata Norte)
História Medieval

Referências

ALTSCHUL, Nadia R. Medievalism and the contemporaneity of the medieval in postcolonial Brazil. Studies in Medievalism, Glasgow, v. 16, p.139-154, 2015.

ALTSCHUL, Nadia R. Medievalism in Spanish America after independence. In: D’ARCENS, Louise (ed.). The cambridge companion to medievalism. Cambridge: CUP, 2016. p.151-164.

AMARAL, Clinio; BERTARELLI, Maria Eugenia. Long middle ages or appropriations of the medieval? A reflection on how to decolonize the Middle Ages through the theory of Medievalism. História da Historiografia, Mariana, v. 14, n.33, p. 97-130, 2020.

BASTOS, Mário Jorge da Motta; RUST, Leandro Duarte. Translatio Studii: a
história medieval no Brasil. Signum, [Rio de Janeiro], n. 10, p.163-188, 2008.

BATALHONE JÚNIOR, Vitor Claret. A “História pátria” entre dois monumentos: o passado colonial nas notas de rodapé da história geral do Brasil e da história da colonização portuguesa no Brasil. Revista de História, São Paulo, n. 170, p.317- 342, 2014.

BIRRO, Renan Marques. “A energia, as ideias e a vida anglo-saxãs estão a serviço do rei Emanuel”: reflexões sobre as primeiras missões batistas no Norte do Brasil (c.1870-1900). In: BIRRO, Renan Marques; CHAVES JÚNIOR, J. I.; LENINE, V. (org.). Colonialidades: governos, gentes e territórios na América Ibérica (séculos XVII-XIX). Curitiba: Prismas, 2016b, p.305-318.

BIRRO, Renan Marques. Ensino de história medieval, eurocentrismo e BNCC (2015-2018): um debate recente? In: BUENO, André; BIRRO, Renan Marques; BOY, Renato (org.). Ensino de história medieval e história pública. Rio de Janeiro: Sobre Ontens, 2020. E-book. p. 175-183.

BIRRO, Renan Marques. Frederick Jackson Turner e as raízes históricas,
epistemológicas e raciais do conceito contemporâneo de fronteira. Veredas da História, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.34-54, 2016ª.

BRAUDEL, Fernand. Pedagogia da história. Revista de História, [São Paulo], v. 11, n. 23, p. 3-21, 1955.

CARDOSO, C. F. S. Sobre los modos de producción coloniales de América.
Cuadernos de Pasado y Presente, Córdoba ( Argentina ), n.40, p.135-159, 1973.

CARDOSO, Irene. A universidade da comunhão paulista. São Paulo: Cortez, 1982.

CARLOS MALHEIRO DIAS. In: DIREÇÃO-GERAL do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (Portugal). [Lisboa]: DGLAB, 2020. Disponível em: livro.dglab.gov.pt. Acesso em: 12 fev. 2020.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago. Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da “invenção do outro”. In: LANDER, E. (org.). A colonialidade do saber. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p.80-87.

COELHO, Maria Filomena. Breves reflexões acerca da História medieval no Brasil. In: SILVA, L. R. (dir.) Atas da VI semana de estudos medievais. Rio de Janeiro: PEM, 2006. p.29-33.

CORTIER, Cortier. Langue, littérature, culture et civilisation à l’Alliance française: les constituants d’un modèle à succès? Les documents de la SIHFLES, [Paris], n. 60/61, p.1-12, 2018.

D’ALESSIO, Marcia Mansor. Intervenções da memória na historiografia:
identidades, subjetividades, fragmentos, poderes. Projeto História, São Paulo, v. 17, p. 269-280, nov. 1998.

DAGENAIS, John; GREER, Margaret Rich. Decolonizing the middle ages:
introduction. Journal of Medieval and Early Modern Studies, Durham, v. 30, n. 3, p.431-448, 2000.

DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p.24-32.

EMERY, Elizabeth; MOROWITZ, Laura. Consuming the past: the medieval revival in fin-de-siècle France. Aldershot: Ashgate, 2003.

FÁVERO, Maria de Lourdes Albuquerque; PEIXOTO, Maria do Carmo Lacerda; SILVA, Ana Elisa Gerbasi. Professores estrangeiros na Faculdade Nacional de Filosofia, RJ (1939-1951). Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 78, p. 59-71, ago. 1991.

FÁVERO, Maria L. A. UDF: construção criadora e extinção autoritária. In:
MOROSINI, M. (org.). A universidade no Brasil. Brasília: INEP, 2006. p.37-51.

FERREIRA, Antonio Celso. Modernos mamelucos. In: FERREIRA, Antonio Celso. A epopeia brilhante: letrados, instituições, invenção histórica (1870-1940). São Paulo: EdUNESP, 2002. p.304-327.

FERREIRA, Marie-jo. As comemorações do primeiro centenário da independência brasileira ou a exaltação de uma modernidade luso-brasileira. In: REIS, A.; ROLLAND, D. (org.). Modernidades alternativas. Rio de Janeiro: FGV, 2008. p.119- 139.

FERREIRA, Marieta de Moraes. Os professores franceses e a redescoberta do Brasil. Revista Brasileira, Rio de Janeiro, ano 11, n. 43, p.227-246, abr./jun. 2005.

FERREIRA, Marieta de Moraes.. O ensino da história na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Hist. cienc. saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p.611-636, jun. 2012.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: Maia & Schmidt, 1933.

FURTADO, André Carlos. Entre a cátedra e a coleção: Sérgio Buarque de Holanda e a história geral da civilização brasileira. In: VENANCIO, G. M. (org.). Intelectuais e palavra impressa. Niterói: EdUFF, 2015. p.75-95.

GEARY, Patrick J. Medieval Germany in america. Washington: GHI, 1996.

GEARY, Patrick J. O mito das nações. São Paulo: Conrad, 2005.

HEY, Ana Paula; CATANI, Afrânio. A USP e a formação de quadros de dirigentes.In: MOROSINI, M.(org.). A universidade no Brasil. Brasília: INEP, 2006. p.231-243.

HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936.

HROCH, Miroslav. Social preconditions of national revival in Europe. Cambridge: CUP, 1985.

JESUS, Mirian Silva. Abrindo espaços: os “paulistas” na formação da capitania do Rio Grande. 2007. Dissertação (Mestrado) – UFRN, Natal, 2007.

LIMA, Douglas Mota Xavier. Uma história contestada: a história medieval na
Base Nacional Comum Curricular (2015-2017). Anos 90, Porto Alegre, n. 26, p.1-21, 2019.

LIMA, Manuel Oliveira. Formação histórica da nacionalidade brasileira. Brasília: Editora do Senado, 2012.

LISBOA, Eduardo Leite. A história pública e a redenção do medievo. In: BIRRO, R. M.; BOY, R. (org.). Ensino de história medieval e história pública. Rio de Janeiro: Sobre Ontens, 2020, p.59-64.

MALET, Albert; ISAAC, Jules. Histoire 1: rome et le moyen âge av. J.-C.-1492. Paris: Hachette, 2002.

MALHEIRO DIAS, Carlos (org.). História da colonização portuguesa do Brasil. Porto: Litografia Nacional, 1921-1924. 3 v.

MALHEIRO DIAS, Carlos. O estado actual da causa monarchica. Porto: Litografia Nacional, 1912.

MAMA, Amina. Conhecimento, cultura, identidade. In: UNESCO. Sociedade do conhecimento versus economia do conhecimento. Brasília: UNESCO: SESI, 2005. p.115-142.

MENEGHEL, Stela. Universidade de Campinas (UNICAMP): cérebros, cérebros, cérebros. In: MOROSINI, Marília (org.). A universidade no Brasil. Brasília: INEP, 2006. p.255-264.

MERKEL, Ian. Brazilian race relations, French social scientists, and African
decolonization: a transatlantic history of the idea of miscegenation. Modern
Intellectual History, Cambridge, v. 17, n. 3, p.1-32, 2019.

MESQUITA FILHO, Júlio. Conceito de universidade. In: PONTES, J. A. V. Júlio de Mesquita Filho. Recife: Fundaj: Massangana, 2010. p.149-160.

MESQUITA FILHO, J. A cidade universitária. In: PONTES, J. A. V. Júlio de Mesquita Filho. Recife: Fundaj: Massangana, 2010. p.137-147.

MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da modernidade. In: LANDER, E. (org.). A colonialidade do saber. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 33-49.

MILLER, Anne-Hélène. Inter-disciplinarité et trans-nationalisme. Perspectives médiévales, Paris, n. 37, p.1-16, jan. 2016.

MOTA, Carlos Guilherme. Ecos da historiografia francesa no Brasil: apontamentos e desapontamentos. In: PERRONE-MOISÉS, L.(org.). Do positivismo à desconstrução. São Paulo: EdUSP, 2004. p.137-157.

MÜLLER, Fernanda Suely. Ruptura ou tradição?: a crítica e a literatura portuguesa em “O Estado de São Paulo” no pré-modernismo brasileiro: 1900-1911. 2007. Dissertação (Mestrado) – USP, São Paulo, 2007.

MÜLLER, U. Medievalism/Mittelalter-Rezeption. In: CLASSEN, A. (org.). Handbook of Medieval Studies. Berlim: DeGruyter, 2010. p.850-865.

NEVES, Cynthia Agra Brito. O berço francês na nossa educação: do projeto do Colégio Pedro II ao Bac-ENEM. Domínios da Lingu@gem, Uberlândia, v. 9, n. 4, p.64-90, out./dez. 2015.

PAULA, Maria de Fátima Costa. USP e UFRJ: a influência das concepções alemã e francesa em suas fundações. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo 14(2), p.147-161, out. 2002.

PEIXOTO, A. Apresentação. Boletim da UDF, Distrito Federal, n. 1, p. 8, 1935.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1942.

PUGH, Tison; WEISL, Angela Jane. Medievalisms: making the past in the present. London: Routledge, 2013.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, cultura, y conocimiento en América Latina. Ecuador Debate, [Quito], v. 44, p.227-238, ago. 1998.

RAMOS, Rui. “Um novo Brasil de um novo Portugal”: a história do Brasil e a ideia de colonização em Portugal nos séculos XIX. Penélope , Paris, v. 23, p.129-152, 2000.

RICARDO, Cassiano. Marcha para oeste - a influência da “Bandeira” na formação social e política do Brasil. Rio de Janeiro: EdUSP, 1970. 2 v.

RÜSEN, Jörn. Que es la cultura histórica? Reflexiones sobre una nueva manera de abordar la historia. In: FÜßMANN, K.; GRÜTTER, H. T.; RÜSEN, J. (ed.). Historiche Faszination, GeschichtsKultur Heute. Keulen: Böhlau, 1994. p. 3-26.

SAID, Edward W. Orientalismo. São Paulo: Cia das Letras, 2007.

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Graphia, 1962.

SVANBERG, Fredrik. Decolonizing the viking age. Stockholm: Almqvist & Wiksell International, 2003. v.1.

TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. A Guerra dos bárbaros. Mossoró: Fundação Vingtun Rosado, 1995.

THEODORO, Janice. Eurípedes Simões de Paula (1910-1977). Revista de História, São Paulo, n. 160, p.17-50, jun. 2009.

TRICHES, Robertha Pedroso. A labareda da discórdia: o antilusitanismo na
imprensa carioca. Revista de Ciência Política, Rio de Janeiro, v. 36, p.1-15, jul./ago. 2007.

UTZ, Richard. Don’t be snobs, medievalists!. 2015. Disponível em: medievalists. net. Acesso em: 10 ago. 2019.

WARREN, Michelle R. Creole medievalism. Minneapolis: UMP, 2011.

WOOD, Ian N. The modern origins of the early middle ages. Oxford: OUP, 2013.

Downloads

Publicado

09-12-2020

Como Citar

BIRRO, R. M. A Idade Média Brasileira? Colonialismos e medievalismos historiográficos (c.1900-1940). Antíteses, [S. l.], v. 13, n. 26, p. 36–67, 2020. DOI: 10.5433/1984-3356.2020v13n26p36. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/40349. Acesso em: 29 mar. 2024.