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Discurso de Abertura do II Congresso Anual de Psicologia da UEL
Este documento fora apresentado por ocasião da comemoração do aniversário de 40 anos da Psicologia na UEL, em cerimônia especial de abertura do II Congresso Anual de Psicologia da UEL, realizado em agosto de 2011, na cidade de Londrina - PR.
Este documento fora apresentado por ocasião da comemoração do aniversário de 40 anos da Psicologia na UEL, em cerimônia especial de abertura do II Congresso Anual de Psicologia da UEL, realizado em agosto de 2011, na cidade de Londrina - PR.
Discurso de Abertura do II Congresso Anual de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina
Em nome da Profª Drª Berenice Quinzani Jordão saúdo as demais autoridades presentes. Senhoras e senhores. Professores e estudantes, presentes ao II Congresso Anual de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina:
A todos, boas vindas!
Em setembro de 2010, logo após o encerramento do I Congresso de Psicologia da UEL, peregrinei junto aos três departamentos de Psicologia desta Universidade para discutir a ideia de transformar o próximo congresso anual de psicologia em um evento voltado para a celebração dos 40 anos do curso. A receptividade da ideia foi boa. Mas transformar uma ideia em um evento deste porte exigiu esforços, reuniões, discussões, negociações e muito trabalho. Por isso, e na qualidade de Coordenador Geral do Evento e do Colegiado de Curso de Psicologia, quero expressar meu reconhecimento pelo trabalho realizado pela Comissão Organizadora do II Congresso de Psicologia. No melhor espírito das relações universitárias, da amizade e da afetividade, aos Professores Doutores Solange Mazzaroba (Coordenadora da Comissão e representando o Colegiado de Psicologia), Célio Estanislau e Maura Gongora (representando o Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento), Katya de Oliveira e Fabiano Koch Miguel (representando o Departamento de Psicologia e Psicanálise), João Batista Martins e Marilícia Palmieri (representando o Departamento de Psicologia Social e Institucional), à Psicóloga Denise Matoso (representando o Conselho Regional de Psicologia da 8ª Região), à Estudante Ruth Tainá Piveta (representando o Centro Acadêmico dos Estudantes de Psicologia da UEL) e aos membros da Comissão de Apoio, meus agradecimentos sinceros.
1º Ser um instrumento de avaliação e de correção do rumo do Projeto Pedagógico do Curso;
2º Ser um fórum para se conjugar, comemorar e celebrar as pessoas que foram e que são responsáveis pelos 40 anos do Curso de Psicologia da UEL; e
3º Ser um acontecimento de avaliação da Psicologia como um instrumento de formação profissional.
Quanto ao 1º objetivo, os congressos anuais de Psicologia da UEL (até agora este é o segundo) estão vinculados ao projeto pedagógico do curso. E por isso, como já apontei no ano anterior, a vinculação suprime o caráter voluntário do evento, de um lado, e, de outro lado, previne que seja orientado em função de um ou outro departamento de psicologia.
Portanto, enquanto o projeto pedagógico atual do curso estiver em vigência, eventos como este deverão ocorrer anualmente sob a responsabilidade do colegiado do curso e devem atender os interesses do curso. Para além dessas implicações administrativas, o evento, como concepção, foi proposto para ser espaço de interlocução entre todos os estudantes do curso, docentes e pesquisadores, regionais e nacionais, com vistas a se discutir ideias, a história, a atualidade e os rumos da psicologia, como curso e como profissão.
Uma nota de esclarecimento: a participação dos estudantes do curso, daqueles que ingressaram a partir do ano de 2010, também é vinculada. Como este é o II Congresso, por enquanto somente os estudantes das 1ª e 2ª séries do curso se vinculam automaticamente ao evento. Mas em 2014, os 400 estudantes do curso estarão aqui. Logo, este Evento tenderá a se constituir num fórum excepcional para o debate de ideias, para a discussão do Curso e para a discussão da Psicologia, principalmente da psicologia que se professa nesta Universidade. Os rumos deste Curso serão traçados neste Evento. Não fará nenhum sentido que os docentes do Curso tratem o Evento de maneira desdenhosa, a exemplo do que ocorreu no ano passado.
Quanto ao 2º objetivo, sei que a Comissão Organizadora envidou esforços na tentativa de trazer a este Evento professores bem representativos da história da Psicologia da UEL. Nas pessoas deles, o Evento pretendeu homenagear os demais professores que fizeram o curso ao longo de seus 40 anos. Algumas das tentativas restaram frustradas, mas ainda assim este Evento é um tributo a todos aqueles que, à sua maneira, contribuíram para que este curso conseguisse o status que possui.
Reconheço que, para cumprir este 2º objetivo, razoável seria escrever a história do curso, descrevendo as ações de suas personagens principais. Mas não avoquei a mim esse papel. Primeiro, quando cheguei o curso já estava conquistando sua maturidade e, pelas histórias que escutei, os acontecimentos mais importantes já tinham ocorrido e não tomei parte deles. Segundo, em 1996, quando o curso completou 25 anos, a Professora Heloisa Helena Nunes Sant´Anna, auxiliada pelos Professores Rodolpho Carbonari Sant´Anna e Dione de Rezende, escreveu a história do curso até aquele ano.
Com base nesse documento, transcrevi e lerei algumas passagens da história do curso, que foram contadas à Profª Heloisa pelas próprias personagens que as viveram. Nos termos de Ascêncio Garcia Lopes, a justificativa para um curso de psicologia no início da década de 70 era: “... como a psicologia é um conceito básico, seria útil para muitos cursos e portanto teria uma aplicação imediata na universidade como um todo, já que estávamos tentando criar vários cursos novos ampliando assim o universo ainda restrito da UEL, dando-lhe a universalidade necessária”.
Mais a frente Ascêncio disse que havia um setor de Psicologia Educacional na Faculdade de Educação, uma clientela a espera do curso e a oportunidade de captação de recursos auxiliares imediatos através de convênio com o Detran. O pessoal da Psicologia Educacional da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi convidado a se transferir para a Universidade e para trabalhar no Psicotécnico do Detran. Em seguida decidiu-se pela criação de um departamento chamado “Ciência do Comportamento” cujo primeiro chefe fora o Profº Aloyseo Bzuneck.
O Profº Aloyseo, por sua vez, disse que “os professores de Psicologia (que lecionavam para as licenciaturas) se reuniram com alguns médicos psiquiatras, com objetivo de formar um departamento específico. [...] Da reunião saíram duas decisões: que se iniciava um novo departamento, o Departamento de Ciências do Comportamento, e que ficaria lotado no Centro de Ciências Biológicas. Assim, eu e mais quatro nos deslocamos para o CCB. Sucessivamente os psiquiatras deixaram esse departamento e formaram outro no CCS.”
Ainda de acordo com Ascêncio, ocorreu uma “grande discussão sobre a linha a ser definida para o curso, se deveria se filiar à linha das humanidades, ou à linha das ciências biológicas, prevalecendo a ideia desta última.” Após, “procuramos o pessoal de Campinas (PUC de Campinas), pois tínhamos a informação que tinham muito boa formação nesta linha da Psicologia. Vieram então cinco professores que, embora recém-formados, se desempenharam muito bem no curso. Soube mais tarde que, infelizmente, esse grupo sofreu perseguição e teve que ir embora da universidade. Isso aconteceu também com outros departamentos, por exemplo na medicina.”
Nos termos do documento da Profª Heloisa, os cinco professores que vieram de Campinas foram José Baus, José Carlos Fontes, José Gonçalves Medeiros, Luis Leite Monteiro de Oliveira e Francisco Luiz Garcia. Seguem as palavras do Profº Francisco: “Chegamos à Londrina nos primeiros dias de 1972, ansiosos para tentar implantar o curso que sonhávamos e, ao mesmo tempo, temerosos ante à magnitude e à extensão do projeto; [...]”.
“ Desembarcamos em uma cidade relativamente pequena, com duzentos e cinquenta mil habitantes talvez, sempre suja, empoeirada na seca e enlameada no período das águas. A estrada até o Perobal, onde estava instalado apenas o centro de Ciências Biológicas, não era ainda pavimentada, de sorte que, nos períodos de chuva, as aulas eram suspensas porque o acesso era praticamente impossível. Naqueles primeiros meses, o departamento ainda não tinha seu pavilhão próprio e partilhamos, todos, uma única sala com alguns professores da Física; em outra sala, vizinha, ficavam os professores do Departamento de Biologia, também sem espaço próprio, como nós. Neste pequeno cômodo, uma sala de aula, dividida por paredes de madeira e com umas poucas mesas e armários, nasceu e germinou o curso de Psicologia da UEL.”
“Outros professores foram pouco a pouco se juntando a este grupo inicial: primeiro os professores Dione de Rezende, Heloísa Helena Nunes Sant’Anna, Rodolpho Carbonari Sant’Anna e Vivaldo de Oliveira Reis Filho, todos graduados na Universidade de Brasília ou na Universidade de Veracruzana do México; depois os professores Erika Wrobel Abib, José Antônio Damásio Abib e Takechi Sato, este da Universidade de São Paulo e aqueles, também da Universidade de Brasília.” “[...] em 1973 ou 1974, creio, tentaram transferir o Departamento para o Centro de Ciências Humanas; argumentavam então, que um curso de Psicologia que deveria estudar o comportamento humano, senão sua mente e personalidade, estaria melhor localizado ali. Redigimos então um ofício em resposta a esta tentativa; argumentávamos que a Psicologia, se era uma ciência humana, era também biológica, que o comportamento, seu objeto de estudo, era, antes, um fenômeno de natureza biológica; que este era um fim em si mesmo, não obrigatoriamente um instrumento para promover o bem-estar e a adequação do homem a seu meio; reportamo-nos ainda à importância da Psicofisiologia e da Psicofarmacologia para tentar reverter aquela situação. Acredito que acabamos por convencer o representante do MEC e a própria administração da Universidade, pois permanecemos no CCB, ainda que o Departamento tenha sido dividido em dois e mudado de nome, o Departamento de Psicologia Geral e Experimental, que ali ficou com a maior parte dos docentes, e o Departamento de Psicologia Escolar ou da Educação, não me lembro bem, que foi transferido para a Pedagogia.”
“ Em fins de 1977 [...] começamos a planejar um curso em nível de pós-graduação na UEL, um curso de Psicobiologia, o segundo no Brasil, creio; nós do Departamento, qualificados já ou em processo de qualificação, e também professores da Biologia, especialmente da Zoologia e da Ecologia, da Fisiologia, da Anatomia, etc. Um projeto que, infelizmente jamais chegou a ser implantado, atropelado que foi por outros acontecimentos.”
“Neste período o prof. José Carlos Pinotti tinha assumido a Reitoria da Universidade em junho de 1978, em pleno período de férias pois, acabou demitindo, de maneira injusta e arbitrária, prepotente mesmo, primeiro o professor José Antônio Damásio Abib e, pouco depois, os professores Álvaro Sérgio Ribas Junqueira e Míriam de Moraes, esta aluna da primeira turma do curso de Psicologia. Estávamos então, no Encontro Anual da SBPC, em São Paulo e ficamos extremamente surpreendidos e indignados com este ato. Depois de um processo extremamente desgastante e doloroso, as pessoas que fundaram este Departamento acabaram se transferindo para outras universidades do país [...], outros ainda abandonaram a vida acadêmica, uma verdadeira diáspora, enfim. Alguns professores, afastados para capacitação, na época, para cá retornaram e resgataram o entusiasmo dos primeiros dias. Estes professores, entre os quais, Dione de Rezende e Heloísa Helena Sant’Anna mantiveram aceso e tornaram realidade o ideal que germinou e frutificou.”
Quanto ao 3º objeto do evento, o de ser um acontecimento de avaliação da Psicologia como um instrumento de formação profissional, considerei que para falar sobre isso melhor seria dispor a psicologia do contexto do sistema educacional, de forma que o que se aplica a este também se aplica àquela.
Assim, antes do movimento de contestação social de 1968, uma perspectiva funcionalista atribuía à escolarização um papel central no processo de superação do atraso econômico, do autoritarismo e dos privilégios, associados às sociedades tradicionais, e de construção de uma nova sociedade, justa, moderna e democrática. A escola seria uma instituição neutra, com vistas a difundir o conhecimento racional e objetivo.
Na Europa, a década de 60 marcou a transição do ensino secundário para o ensino universitário como um resultado da expansão do sistema educacional no pós-guerra. A massificação do ensino universitário trouxe consigo a desvalorização dos títulos escolares e junto a frustração da expectativa de mobilidade social através da escola. Para Bourdieu, a decepção dessas pessoas (que ele chamou de “geração enganada”) foi o que alimentou a eclosão de 68.
Nos anos 60, as teses de Bourdieu enfraqueceram a concepção funcionalista da escola. Igualdade de oportunidades, justiça social, meritocracia eram valores evanescentes que cederam lugar à reprodução e legitimação das desigualdades sociais. A educação deixou sua instância transformadora e democratizadora das sociedades para ser o principal meio institucional a legitimizar e fixar privilégios sociais. A partir deste ponto, Bourdieu propõe três conjuntos de disposições e de estratégias de investimento escolar adotados pelas classes populares, médias e pelas elites.
As classes populares, pobre em capital econômico e cultural, investiriam de modo moderado no sistema de ensino por conta da percepção, de eventos acumulados, de que as chances de sucesso são reduzidas. Isso tornariam os investimentos incertos e de alto risco. Além disso, o retorno do investimento escolar é dado no longo prazo. A solução, segundo Bourdieu, seria a adoção de um sistema liberal de educação dos filhos, de forma que a vida escolar deles não seria acompanhada de maneira sistemática e nem haveria cobrança intensiva em relação ao sucesso escolar. Quando fosse o caso, a opção seria por carreiras escolares curtas, com vistas à inserção profissional rápida.
Já a classe média investe de forma sistemática na escolarização dos filhos. Mais que possuir um volume bom de capital, havia uma dinâmica interna nessas famílias que parecia explicar melhor porque elas investiam na educação dos filhos. Originária de classes populares, a classe média nutria a esperança de ascenção social em direção à elite. Pela proposta de Bourdieu, o esforço dessa classe para investir na escola possuía três componentes: o asceticismo (disposição para renunciar a prazeres imediatos em nome de um projeto de futuro), o malthusianismo (propensão ao controle da natalidade) e a boa vontade cultural (reconhecimento da cultura legítima e esforço sistemático em adquiri-la).
Por fim, as elites econômicas e culturais também investem muito na escola, mas de forma relaxada e descontraída. Para eles, o sucesso escolar é tido como natural e, além disso, estariam livres das pressões pela ascensão social.
Portanto, ao dissimular que sua cultura seja a cultura das classes dominantes, a escola dissimula os efeitos que isso tem para o sucesso escolar das classes dominantes. Trocando em miúdos, as diferenças nos resultados escolares dos estudantes deveriam ser reveladas em termos de diferenças de capacidades e de habilidades. Mas, ao invés, aquelas diferenças revelariam maior ou menor proximidade entre a cultura escolar e a cultura do estudante. A reprodução das diferenças ou das desigualdades se garantiria no fato de que os estudantes que dominam, originalmente, os códigos essenciais à decodificação da cultura escolar, seriam os originários das classes dominantes.
50 anos após ter lançado suas ideias, Bourdieu ainda é atual. Mas agora já não se discute mais a neutralidade da instituição escola. Nessa instituição, as chances são desiguais e esta afirmação é dada como certa. Tanto é certa que os Conselhos superiores da Universidade Estadual de Londrina reunir-se-ão, a partir de amanhã, com o fim de preparar seus representantes junto ao Conselho Universitário para a votação que determinará o destino das políticas de cotas de admissão aos cursos de graduação desta Universidade por mais alguns anos.
Não se requer muito esforço para perceber o que tudo isso tem a ver com a psicologia. Mas para dar uma ideia, cito os resultados de uma pesquisa conduzida por Maria Cristina Gramani, pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Ela investigou a relação entre o desempenho dos estudantes em matemática e a escolha da carreira profissional. Os resultados, publicados na última semana, mostraram que estudantes dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais têm o melhor desempenho em matemática e a escolha de suas profissões universitárias recai sobre cursos da área de ciências exatas, principalmente as engenharias. Já os estudantes dos estados do Piauí, Ceará e demais estados do nordeste mostraram o pior desempenho em matemática. Surpreendentemente, os resultados da pesquisa revelaram que, no momento de escolher suas carreiras profissionais, a escolha desses estudantes se concentrou sobre a licenciatura em matemática.
É de se pensar se uma crítica do tipo autocrítica como a que se deriva dessa pesquisa caberia aos cursos de psicologia, da psicologia que escapa das grandes universidades públicas e que se transforma num negócio nas instituições que vendem o ensino; vendem também cursos de psicologia, administrados em turnos até vespertinos, durante apenas 4 anos. Mesmo que as universidades públicas não padeçam deste mal, padecem de outros, igualmente graves. Por exemplo, ainda que, metaforicamente, o sujeito se rebele ante a possibilidade - não apenas sintática - de ser objeto, sou temeroso quanto ao sucesso dessa rebelião nos cursos de graduação das universidades públicas periféricas.
Tanto aqui como alhures, a prática do inbreading é comum. Com isso, cultuamos o mesmo e, prevenindo a diversidade, prevenimos-nos da diversidade. Somos conhecidos do establishment e nos reconhecemos nele. E, como uma personagem da mitologia grega, sentimos confortáveis ao nos ver refletidos do outro lado. O establishment é a metáfora do espelho e nós, supostamente os sujeitos do fazer formar o profissional, não passamos de objetos recepcionados num conjunto de seres arregimentados em departamentos que se previnem da ameaça do diverso. Reconfigurado com a nova aquisição, aquele conjunto torna-se inábil para gerar o diverso porque, ao nos escolher como sua própria imagem, mostrou-se originalmente avesso à diversidade.
O problema do inbreading é histórico e está posto. A desvalorização da carreira docente universitária é crônica. Ficamos felizes quando alguns dos nossos estudantes relatam interesse em trilhar essa carreira. Portanto, o inbreading tem futuro certo. Mas nem por isso estamos desautorizados a discutir criticamente a psicologia como um campo de formar, autorizar e habilitar pessoas a agir profissionalmente. E se a opção for essa, a crítica começa pela e dentro da psicologia praticada na academia. O problema é que daí se fica preso na circularidade da lógica formal. Afinal, o sujeito que se habilita à crítica está inevitavelmente retido, como objeto, no campo da própria crítica.
Para romper essa circularidade, o segredo seria permitir o ingresso de sujeitos diversos ao campo da discussão. Uma forma de se conseguir isso - ainda que restritiva - é a constituição de fóruns como este. Mesmo que concordemos com a ideia de desmantelamento das ilusões modernas de que há algum lugar a se chegar, de Boaventura de Sousa Santos, há que se preocupar com o ideal de cada estudante presente aqui. Cada um deles acha que ser psicólogo é um lugar a se chegar, nem que seja apenas o primeiro.
É por isso que discutir a racionalidade moral-prática e a ética na formação do profissional que a Psicologia habilita para o mercado de trabalho é questão indeclinável e urgente. Apenas para reflexão, devemos recordar que o estudante chega à universidade vindo de um sistema de ensino absolutamente tutelado. Não que a universidade, com seus currículos e disciplinas, não reproduza parte dessa tutela. Mas a formação profissional derivada da universidade constitui um período relativamente curto se comparado com o da vida de um indivíduo. Todavia, o impacto que a universidade gera sobre as sociedades pelo ato de habilitar profissionais é muito grande. Assim, o processo de habilitar alguém para intervir profissionalmente no mundo é extremamente delicado e comprometedor. Requer ser tratado com a devida responsabilidade pelo sistema universitário e, fundamentalmente, pelas pessoas que fazem da psicologia um curso de formação profissional. Mas esse tratamento, pela via da responsabilidade, também será uma homenagem àqueles que criaram e garantiram que o curso de Psicologia desta Universidade possa comemorar hoje os seus 40 anos.
Declaro aberto o II Congresso Anual de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina.
Ari Bassi do Nascimento
Agosto de 2011
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Texto de Ari Bassi do Nascimento, professor do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da UEL.
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