Conhecer os riscos, administrar a vida: aconselhamento genético entre a biopolítica e a sociedade de controle

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2015v20n1p151

Palavras-chave:

Aconselhamento genético, Eugenia, Biopoder, Sociedade de controle

Resumo

Neste artigo, comparamos o modo de funcionamento do aconselhamento genético (AG) com as medidas eugênicas do século passado. Realizamos uma análise de materiais jornalísticos publicados no Brasil sobre o AG, além de uma discussão teórica sobre as configurações do biopoder num contexto biotecnológico. Concluímos que, enquanto a eugenia era exercida por Estados que disciplinavam as condutas individuais e regulavam as populações para “melhorar a raça humana”, o AG se aproxima da racionalidade da governamentalidade neoliberal e da sociedade de controle. Isso porque o AG se desenrola num contexto em que governo, mercado e especialistas modulam o campo de probabilidades e riscos aberto por indivíduos que, como “empreendedores de si mesmos”, precisam administrar seu capital genético e são tidos como clientes e acionistas, além de pacientes e cidadãos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Bruno Lucas Saliba de Paula, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília - UNB. Professor da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG.

Yurij Castelfranchi, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.

Referências

BECK, Ulrich; BECK-GERNSHEIM, Elisabeth. La salud y la responsabilidad en la era de la tecnología genética. In: BECK, Ulrich; BECK-GERNSHEIM, Elisabeth. La individualización. El individualismo institucionalizado y sus consecuencias sociales y políticas. Barcelona: Paidós Ibérica, 2003.

BRUNONI, Décio. Aconselhamento Genético. Ciência e saúde coletiva, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2002.

CASTELFRANCHI, Yurij. Scientists to the streets. Science, politics and the public moving towards new osmoses. JCOM – Journal of Science Communication, Trieste, v. 1, n. 2, p. 1-14, jun. 2002.

CASTELFRANCHI, Yurij. As serpentes e o bastão: tecnociência, neoliberalismo inexorabilidade. 2008. Tese (Doutorado em Sociologia) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.

DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: DELEUZE, Gilles. Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2010.

DINIZ, Débora. Autonomia reprodutiva: um estudo de caso sobre a surdez. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 175-181, jan.- fev. 2003.

FOUCAULT, Michel. About the Beginning of the Hermeneutics of the Self: Two Lectures at Dartmouth. Political Theory, v. 21, n. 2, p. 198-227, may. 1993.

FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008a.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008b.

HARAWAY, Donna. A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist Feminism in the Late Twentieth Century. In: HARAWAY, Donna. Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. New York: Routledge, 1991.

LEWIS, R. Barry; MAAS, Steven. QDA Miner 2.0: Mixed-Model Qualitative Data Analysis Software. Field Methods, v. 19, n. 1, p. 87-108, feb. 2007.

LOPEZ-RUIZ, Osvaldo. A técnica como capital e o capital humano genético. Novos estudos – CEBRAP, n. 80, p. 127-139, mar. 2008.

MONTEIRO, Marko. Os dilemas do humano: reinventando o corpo numa era (bio)tecnológica. São Paulo: Annablume, FAPESP, 2012.

NOVAS, Carlos; ROSE, Nikolas. Genetic risk and the birth of the somatic individual. Economy and Society, v. 29, n. 4, p. 485-513, nov. 2000.

NOWOTNY, Helga; SCOTT, Peter; GIBBONS, Michael. Rethinking science: knowledge and the public in an age of uncertainty. Cambridge: Polity Press, 2001.

PEPPERELL, Robert. The Posthuman Condition: consciousness beyond the brain. Bristol: Intellect, 2003.

PINA-NETO, João Monteiro. Aconselhamento genético. Jornal de Pediatria (Rio J.), Porto Alegre, v. 84, n. 4, p. 20-26, ago. 2008.

ROSE, Nikolas. Politics of life itself: biomedicine, power, and subjectivity in the twenty-first century. Princeton: Princeton University Press, 2007.

SOUZA, Vanderlei. Em nome da raça: a propaganda eugênica e as idéias de Renato Kehl nos anos 1910 e 1920. Revista de História Regional, Ponta Grossa, v. 11, n. 2, p. 29-70, 2007.

Downloads

Publicado

2015-03-14

Como Citar

PAULA, B. L. S. de; CASTELFRANCHI, Y. Conhecer os riscos, administrar a vida: aconselhamento genético entre a biopolítica e a sociedade de controle. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 20, n. 1, p. 151–173, 2015. DOI: 10.5433/2176-6665.2015v20n1p151. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/23260. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê