Edições anteriores

  • Artigos Livres
    v. 16 n. 31 (2022)

    Os artigos desta edição compõem um roteiro de questões contemporâneas constituídas a partir de pesquisa, crítica e análise de filmes, quadrinhos, fotografias e charges. Aos olhos dos pesquisadores, tanto as produções que objetivamente lançam novas perspectivas sobre temas reconhecidos, ou outras, que à época de sua realização eram elas mesmas uma novidade, podem ser vistas a partir de abordagens que refletem demandas atuais da vida coletiva.

  • Histórias em quadrinhos Latino Americanas: a história contemporânea na cultura de massas (parte I)
    v. 16 n. 30 (2022)

    As histórias em quadrinhos (HQ’s) são uma forma de expressão artística contemporânea na qual, quadro a quadro, cria-se uma sequência de ações que estruturam uma história com começo, meio e fim, compostas de elementos, normativas e códigos próprios. Embora dialogue com o cinema e a literatura, é uma mídia autônoma, cuja linguagem é bastante rica e constituída por diversos elementos como planos, temas e formas narrativas, recorrendo à linguagem visual para simular tempo e ação. Esse dossiê abre espaço para trabalhos que discutam os quadrinhos enquanto meio, a maneira como as histórias em quadrinhos se desenvolveram no Brasil e na América Latina, seus artistas, editoras, coletivos, adaptações, etc. Suas relações com outras tradições dos quadrinhos e suas características próprias. A intenção desse dossiê é acolher trabalhos dedicados tanto à história das HQs na América Latina, quanto aos momentos históricos referentes a latino América tratados nas obras, ou seja, trabalhos que utilizem as HQs enquanto fontes históricas.

  • v. 15 n. 29 (2021)

    O dossiê pretende contribuir com uma avaliação sobre o estado da arte dos estudos dos jogos eletrônicos no contexto da cultura contemporânea em sentido amplo, compreendendo seus diferentes gêneros, formatos, narrativas e tecnologias envolvidas. O número está aberto para revisões teóricas sobre o tema da ludicidade, mas também se volta para a necessidade de se discutir eventuais acusações de ordem moral, processos de patologização que se antecipam ao debate científico sobre tal possibilidade, o que pode culminar muitas vezes em medidas repressivas e até criminalizadoras. Sobretudo, vale destacar estudos de caso de caráter etnográfico sobre os usos sociais dos jogos e que podem vir acompanhados de reflexões a respeito do seu acesso às classes mais baixas e o impacto que podem promover nas culturas periféricas, no debate contemporâneo sobre culturas jovens, feminismo, gamificação, gênero, machismo, racismo, ou outros grupos com atenção predominante para processos identitários. O presente dossiê é também um convite à interdisciplinaridade na qual se pretende reunir a antropologia, arte, comunicação, economia, filosofia, história, psicologia, psicanálise, sociologia etc.

  • v. 15 n. 28 (2021)

    O Dossiê tem por objetivo identificar na atualidade várias vertentes metodológicas e, por conseguinte, uma miríade de textos acadêmicos em perspectiva transdisciplinares acerca dos debates sobre Cultura Material. Desta forma, encontram-se artigos que buscaram analisar a cultura material, seja considerando o objeto em si, seja investigando a imagem (fotográfica, digital, etc.), seja pela sua representação na História e áreas afins.
  • v. 14 n. 27 (2020)

    É possível definir o estudo da cultura material como a busca pela explicação e interpretação, em profundidade, dos objetos criados pelo homem e de suas conexões com os fenômenos sociais e com as características relacionadas a determinado período e grupo social, além da investigação sobre qual o significado deste objeto dentro de sua própria sociedade e como esta relação se desencadeou.
    A cultura material, associada à vida cultural e prática de uma sociedade, usa do objeto material como suporte de informação e o transforma em documento histórico e fonte de conhecimento, não só relacionado às suas características estéticas e externas, mas também a seus componentes simbólicos e representativos. Ainda, dentro da investigação dos objetos materiais, inúmeros são os fatores que podem ser usados como escopo para pesquisa, já que desde sua idealização até o seu descarte, o objeto experimenta diversos processos e movimentos: sua matéria prima, técnicas aplicadas e a relação com seu entorno são apenas alguns dos tópicos que podem ser discutidos. Também, dentro do contexto de estudos da imagem, esta pode ser usada como transmissora da materialidade da representação e da transformação de um conceito ou ideia em um objeto, e assim, este poderá ser usado e estudado a partir da cultura material.
    A capa desta edição da Revista Domínios da Imagem, que abordará o tema “Cultura Material: Objetos, imagens e representações”, traz como referência os traços minimalistas do contorno de um vaso. Não é possível dizer a qual período esse vaso pertence, em qual grupo social ele está inserido, nem de qual material é feito, mas é possível afirmar que o reconhecimento de um objeto pelo observador o insere, quase que automaticamente, em sua própria realidade. Dessa forma, o pesquisador coloca este vaso em determinado tempo e espaço, de acordo com seu estudo, assim como acontece com a pesquisa apresentada para o presente dossiê.
    Assim, o presente dossiê mostrará como o estudo da cultura material pode ser amplo e abrangente, ao mesmo tempo em que suas particularidades e detalhes mostram o objeto como parte essencial e representante da sociedade.

    Marina dos Santos Gall

  • v. 14 n. 26 (2020)

    As formas de se comunicar uma informação ou disseminar o conhecimento sofrem transformações constantemente, e cada atualização exige, tanto do informante como do espectador, o ajustamento conforme suas necessidades e disponibilidades, que se adaptarão melhor à mensagem que deve ser lançada e ao modo como ela vai ser apreendida. 
    Estas transformações também modificam o relacionamento do usuário com as diversas formas de mídia, que se revelam como um mecanismo para a manutenção da memória e da experiência coletiva. 
    Uma vez que uma informação é divulgada, ela passa a agir quase que por conta própria, circulando e encontrando cada vez mais espectadores e inclusive criando circunstâncias que irão modificá-las e até mesmo desenvolver novas formas de representação. A disseminação da informação não tem fim. 
    Desta forma, a capa para o dossiê “Imagens midiáticas e/ou midiatizadas: temporalidades e historicidades” trata de uma representação de como a imagem e a informação são divulgadas. A imagem que representa a essência do dossiê faz referência ao chiado das antigas televisões, que, além de equipamento de entretenimento, é também, e podemos dizer até os dias de hoje, um instrumento de compartilhamento de conhecimento e cultura. As linhas diagonais que atravessam este chiado mostram como a informação se dispersa para diversos lados, e deste modo atinge diversos públicos em sua transmissão.
    Assim, a difusão do conhecimento se adaptou, e, com o passar dos anos, conseguiu encontrar ainda mais alternativas para sua divulgação.

    Marina dos Santos Galli

  • v. 13 n. 25 (2019)

     REVOLTA DA VACINAS

    Thaysa Stabelini

    (Licenciada em História pela PUCPR e Mestra em História Social pela UEL.)

    Contexto histórico

    O período caracterizado como República Velha (1889-1930) contou com diversos movimentos sociais, dentre os quais, a Revolta da Vacina (1904). Antes de nos aprofundarmos nas características deste evento, é importante que se compreenda o contexto histórico do País e qual a finalidade e ideologia das ações que culminaram em tal fato.

    Com a proclamação da República no Brasil, em 1889, a ideologia positivista foi utilizada para atender aos objetivos nacionalistas do governo. Tal ideologia pode ser vista no lema da bandeira nacional, nos dizeres “Ordem e Progresso”, no entanto, para que estes objetivos fossem alcançados eram necessárias ações que eliminassem a imagem de fragilidade social e econômica do país, fortalecendo suas relações comerciais e resolvendo a questão das “Patologias do Brasil”. (SCHWARCZ ; STARLING, 2015, p. 330).

    Neste momento histórico, a gravidade nos casos das doenças tropicais[1] foi percebida como problema não apenas biológico, mas também de ordem social. Segundo Castro (2004), doenças, pobreza, desordem, sujeira e perigo eram termos correspondentes e eram vistos como consequência ou característica dos demais. Deste modo, as alterações sociais, políticas e econômicas necessárias para o desenvolvimento do País estavam pautadas, sobretudo, em conceitos médicos e científicos, e não contavam com a participação popular. Dentre tais conceitos, destacavam-se a eugenia, o higienismo e a salubridade.

    Sendo assim, a ideia de uma cidade limpa e adequada estava diretamente relacionada à saúde de quem nela habitava. E qual o melhor exemplo para se colocar em prática todo este aparato ideológico e burocrático? A capital do País, a cidade do Rio de Janeiro. Neste contexto, o então presidente Rodrigues Alves nomeou o engenheiro Pereira Passos para prefeito da cidade e o médico sanitarista Oswaldo Cruz para Diretor da Saúde Pública.

    Para Pereira Passos e Oswaldo Cruz, a questão da higienização da nação estava relacionada, além da preocupação com as doenças, com a questão do urbanismo, que buscava ligar o crescimento das cidades com o seu embelezamento. Como consequência disso, ocorreu a migração forçada da população mais pobre e que vivia em condições precárias para regiões mais afastadas da cidade por meio do que Pereira Passos chamou de “bota fora”, quando houve a demolição de casebres e de cortiços em nome da reurbanização e limpeza da cidade. Tal fato gerou revolta e descontentamento entre o povo.

    A Revolta

    No que diz respeito às doenças que assolavam a cidade do Rio de Janeiro no ano de 1904, destacavam-se: a peste bubônica (causada pelos ratos), a febre amarela (transmitida por mosquitos) e a varíola (causada pelo vírus Orthopoxvirus e transmitida pelo contato das vias aéreas superiores como saliva e gotículas no ar). As duas primeiras doenças foram relativamente controladas com medidas higienistas – como a captura de ratos pela população, que os entregavam ao governo em troca de recompensas, o que depois culminou na criação proposital destes animais para obtenção de lucro e na suspensão de tal ação pelo governo –, No entanto, a varíola permaneceu como mazela na cidade e, para isso, foi promulgada pelo então presidente a Lei nº 1.261 de 31, de outubro de 1904, a qual instituía a vacinação irrestrita e obrigatória a todos os brasileiros com mais de seis meses de idade e a revacinação, também irrestrita, após sete anos da primeira aplicação - (BRASIL, 1904).

    É importante destacar que a vacina, naquele momento, era o único meio de prevenção eficaz, visto que as pessoas viviam em condições de higiene precárias, aglomeradas em casebres, morros e cortiços e, portanto, tinham contato físico diário com outras pessoas que poderiam estar contaminadas.

    Em decorrência disso, iniciou-se uma campanha sanitária coordenada por O.C., com características violentas. Durante tal ação, invadiam-se as casas das pessoas sem nenhum esclarecimento ou organização de cunho informativo e educativo, o que gerou na população, em políticos e militares de oposição ao governo o sentimento de revolta e descontentamento. Como se pode observar na imagem, a imprensa fez constantes críticas à ação de Oswaldo Cruz, dedicando a ele charges e criticando, inclusive, a eficácia do medicamento.

    Outra questão importante a ser considerada é que Oswaldo Cruz e o poder público utilizavam a linguagem militar para designar as ações sobre a doença e os corpos das pessoas, como aponta Sontag (1984), nestes momentos críticos o poder político em questão pode se apropriar da linguagem militar, como o termo “combate”, a fim de incutir na população o desejo intenso por erradicar aquela doença.

    Além disso, as pessoas resistentes à vacinação eram acusadas como culpadas pelo próprio mal, sem autonomia nem sabedoria para decidirem o que era melhor para si e, por isso, recebiam a imposição da força do governo, dos agentes sanitários e da polícia para resolver a questão da doença. Por tal motivo, na imagem de Leonidas Freire é possível perceber Oswaldo Cruz à frente, formando uma espécie de exército junto aos agentes de saúde e sentado sobre balas - pois muitos destes defendiam a invasão das casas e vacinação das pessoas utilizando, se necessário, armas de fogo.

    É importante destacar que as pessoas reagiam com muito medo, além de revolta, pois culturalmente utilizavam roupas que cobriam seus corpos e viam como absurdo precisar mostrar parte do mesmo - braços – para que desconhecidos aplicassem um medicamento sobre o qual não tinham informações sobre a eficácia e recebiam apenas a ordem objetiva e racional do governo, de que agora, por lei, deveriam se submeter a isso.

    O evento perdurou do dia 10 ao dia 16 de novembro de 1904, as pessoas foram às ruas como forma de protesto e também tentavam impedir os agentes sanitários de entrarem em suas casas. A região central do Rio de Janeiro foi transformada em praça de guerra com bondes derrubados, edifícios depredados e muita confusão na Avenida Central.

    Segundo Schwarcz e Starling (2015) o resultado das ações foi o controle da revolta por parte da polícia e do governo, o que culminou na suspensão de direitos políticos, prisão dos líderes do movimento e envio dos mesmos para o atual estado do Acre. Houve sucesso na erradicação da varíola do Rio de Janeiro, mas trinta pessoas morreram e outras 110 ficaram feridas durante a revolta. Com fim do movimento, o governo revogou a obrigatoriedade da vacina.

    REFERÊNCIAS 

    BRASIL. Lei nº1261, de 31 de outubro de 1904. Torna obrigatorias, em toda a Republica, a vaccinação e a revaccinação contra a varíola. Diário Oficial da União - Seção 1 - 2/11/1904, Página 5158 (Publicação Original).  Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1900-1909/lei-1261-31-outubro-1904-584180-publicacaooriginal-106938-pl.html> Acesso em 07 abr. 2020

    CASTRO, Elizabeth Amorim de. O leprosário São Roque e a Modernidade: Uma abordagem da Hanseníase na perspectiva da relação Espaço-Tempo. 135 p. Dissertação (Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2005. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/1878.  Acesso em 05 abr. 2020

    SCHWARCZ, Lilia M; STARLING, Heloísa. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

    SONTAG, Susan. A doença como Metáfora.  Tradução de Márcio Ramalho. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984. v. 1.

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    [1] As doenças estavam confinadas aos países tropicais e subtropicais onde vivia-se em condições sociais e sanitárias atrasadas – que favoreceriam a propagação da doença – e o que seria uma consequência indireta do clima tropical. (SOUZA, 2008, p.3)

  • v. 12 n. 23 (2018)

    Os Estúdios Disney têm tradição em lançar produções inspiradas em contos do mundo inteiro, principalmente europeus que se consagraram na literatura. A maior parte das animações traz a representação de mulheres como ponto fulcral de suas construções fílmicas. Notamos que tais representações tiveram uma mudança substancial após os anos 1990 e teve seu auge na animação Frozen (2012), inspirada no livro de Hans Andersen, A Rainha da Neve de 1844, justificada não só pela inserção da mulher na própria produtora, ocupando cargos de diretora e produtora executiva, mas também e, principalmente pela mudança na forma da sociedade ver a mulher. Conforme Moscovici nos lembra em relação às representações sociais:
    "[...] não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, contudo, elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem”. (MOSCOVICI, 2003, p. 41).
    Elsa, personagem principal de Frozen, animação que ultrapassou 1 bilhão de arrecadação, traz consigo uma renovação bastante importante na representação da mulher promovida pela Disney: é a primeira protagonista a não ter um caso amoroso. A realidade da rainha Elsa é bastante próxima de inúmeras mulheres que, como ela, dedicam-se aos seus trabalhos, e, até mesmo, às suas famílias, sem necessariamente, precisar de uma figura masculina para ser feliz. A aceitação de ser quem é e assumir o posto de rainha de Arendelle mostra-nos um empoderamento que revolucionou a história da produtora e do cinema.
    Apesar desse empoderamento, inusitadas para o público acostumado com o romance das animações até A Princesa e o Sapo (2009), ter sido alvo de elogiosos comentários, também foi de críticas fundadas num conservadorismo que propõe à mulher um papel de submissão que fora naturalizado pela estrutura tradicional da sociedade. Mesmo acreditando que a mudança de representação da Walt Disney seja, não só uma questão cultural que vê na luta feminista um ideal justo de equidade social, mas também uma questão econômica que geraria trazer essa discussão para dentro da roteirização e construção fílmica, Elsa é um marco para toda a possibilidade de dizer “Livre estou”!

  • v. 12 n. 22 (2018)

    A imagem da capa desta edição da Domínios da Imagem reproduz parcialmente a ilustração presente também na capa do livro intitulado "A ofensiva japonesa no Brasil", publicado por Carlos de Souza Moraes em 1942. O livro, em tom claramente discriminatório tanto textual quanto imageticamente, ressaltava argumentos contrários à presença japonesa no Brasil, considerando o período da Segunda Guerra Mundial. Essas imagens são analisadas e desconstruídas criticamente na presente edição da Domínios por Rodrigo Luis dos Santos.
  • v. 11 n. 21 (2017)

    Quadrinho de Emilio Morales Ruiz (Espanha), que ganhou o primeiro lugar no concurso de ilustrações “Comic and Cartoon Competition on Gender Equality“, organizado pela UN Women. A proposta do concurso era “apresentar imageticamente trabalhos que mostrassem os direitos das mulheres e a desigualdade entre os gêneros.”

    https://awebic.com/democracia/se-precisava-desenhar-esta-feito-ilustracoes-sobre-desigualdade-de-generos-e-direitos-das-mulheres/

  • v. 11 n. 20 (2017)

    Releitura da imagem "We Can Do It", produzida no contexto da Segunda Guerra Mundial como propaganda americana incentivando as mulheres ao trabalho. Posteriormente, foi apropriada pelos movimentos feministas nos Estados Unidos.

    Disponível em: http://obviousmag.org/muito_alem_do_obvio/assets_c/2015/06/FEMINISMO01-thumb-800x446-110156.jpg. Acesso em 20 nov. 2017. Autoria desconhecida.

  • v. 10 n. 19 (2016)

    Reprodução feita por David Koutsogiannopoulos a partir da visão aristotélica de um útero.
  • Religião, migração e cultura. Imagens da fé
    v. 10 n. 18 (2016)

    A imagem da capa apresenta uma foto de Lewis Wickes Hine (1874–1940), fotógrafo e sociólogo estadunidense pioneiro da fotografia documental. Hine, após ter estudado nas universidades de Chicago, Columbia e Nova Iorque, ensinou na Ethical Culture School, onde encorajou o seus alunos a utilizar a câmera fotográfica como meio de desenvolvimento cultural. Muito preocupado com o bem-estar dos menos favorecidos, registrou a chegada dos imigrantes à Ilha Ellis, que, ao longo do século XIX e no começo do século XX, foi a principal porta de entrada aos Estados Unidos. A foto aqui reproduzida, parte da série realizada nesta ilha, é intitulada Italian Madonna (1905) já que sua composição evoca claramente uma imagem muito comum na iconografia católica: a da Nossa Senhora com o menino Jesus. A Madonna de Hine, “venerada” pelos homens e rapazes postos em semicírculo atrás dela, parece estar suspendida no presente alegórico do arquétipo materno e, ao mesmo tempo, radicada em um momento e em um lugar dramaticamente definidos. A foto desta mãe italiana, em sua transcendente humanidade, representa, no fim das contas, o negativo das imagens míticas apresentadas neste dossiê. Estas, efetivamente, são sempre percebidas pelos crentes como próximas, informadas e atenciosas, isto é, divinamente imanentes. Imagens humanas e imagens divinas estão constantemente sujeitas a recíprocas transfigurações como esta, formidavelmente impressa pelo talento de Hine.

    Francesco Romizi

    LEWIS, W. Hine, Italian Madonna (1905). The Miriam and Ira D. Wallach Division of Art, Prints and Photographs: Photography Collection, The New York Public Library. The New York Public Library.

  • v. 9 n. 17 (2015)

    A imagem da capa apresenta uma pintura de Miguel Cabrera (1695-1768), criollo nascido em Antequera, na Nova Espanha, e um dos mais influentes artistas de seu tempo. Dentre suas obras mais conhecidas está o retrato da religiosa e poetisa Sor Juana Inés de la Cruz. A obra aqui reproduzida é intitulada De español y mulata, morisca (1763) e pertence a um colecionador particular. Ela deveria compor, com mais 15 pinturas, uma série que funcionava como uma espécie de catálogo das razas e tipos sociais da sociedade colonial nova-hispana. Cada uma delas apresentava – através da representação de casais com seus filhos - uma das chamadas “castas” coloniais, como a do coyote (mestiço com índia) ou do castizo (espanhol com mestiça). Este tipo de trabalho ficou conhecido como “pintura de castas” e foi bastante comum no século XVIII, tanto na Nova Espanha quanto no Peru. As séries de “castas” também podem ser interpretadas como uma reação ao processo desencadeado pelo chamado reformismo bourbônico, que tentava alijar, gradualmente, as elites criollas dos principais postos de comando da administração colonial. Nesse sentido, elas visavam reforçar a identidade criolla, ressaltando a chamada “limpeza de sangue” das elites coloniais e tentando demarcar claramente as diferenças de “castas” e classes sociais. Elas revelavam, por outro lado, toda a ambiguidade do contexto já que, ao mesmo tempo que ordenavam simbolicamente a sociedade, explicitavam o alto grau de diversidade e mestiçagem do mundo colonial. Para o pesquisador, além das hierarquias sociais, a “pintura de castas” permite perscrutar os espaços sociais, as vestimentas, os hábitos e os costumes retratados. 

    José Carlos Vilardaga

  • v. 8 n. 16 (2014)

    Breccia da rostro al personaje de Sábato y ese ciego con su bastón nos obsequia una imagen terrorífica y distante, perversa y extraordinaria. La pesadilla más temida se confirma: los lectores somos vistos y observados y doblemente: por los ciegos imaginados del escritor y a través de los ojos del dibujante. Informe sobre ciegos es la adaptación de Alberto Breccia de un fragmento de la novela de Ernesto Sabato “Sobre héroes y tumbas”. La adaptación se publicó por primera vez en España en 1993 en la colección Los libros de CO & CO de Ediciones B. El protagonista de la historia, Fernando Vidal Olmos, inicia su descenso (dantesco y lovecraftiano) al infierno, en donde, está convencido, los ciegos conspiran para dominar el mundo. La paranoia y la locura lo conducen a su propia destrucción. El guionista y escritor Carlos Sampayo, prologó la obra: “La representación del mal no hace más que confirmar que el mal es peor que cualquier idea que de él pueda hacerse; no sabemos si hay fuerzas que lo rigen; en todo caso Breccia interpreta el Informe sobre ciegos como una alegoría creada por Ernesto Sábato y, como tal, es un nuevo punto de partida de la representación de las fuerzas negativas”. Mal, terror, oscuridad, locura. Y, entonces, en ese juego de luces y sombras de la estética breccia, de aguadas y contrastes, se asome, quizá, eso que algunas veces llamamos: “verdad”.

    Laura Vazquez.

    BRECCIA, Alberto. Informe sobre ciegos, s.d. Una adaptación de Alberto Breccia sobre un texto de Ernesto Sábato.

    A capa é composta a partir de montagem da imagem de Breccia no canto superior direito e, ao fundo, tira da personagem Mafalda, de Quino.

  • v. 8 n. 15 (2014)

    A imagem de capa foi criada pelos artistas norte-americanos e gêmeos idênticos, Doug Starn e Mark Starn. Seria um retrato convencional, que criaria a ilusão de uma identidade sólida, perene e que não seria levada pelas águas do tempo? Na (de)composição dos Starn, a “identidade” é colada, material e simbolicamente, a partir de uma série de imagens mais ou menos desconexas que tentam formar de modo frágil um todo estilhaçado, que trai a pretensão de coerência. Tentamos agarrar o todo, mas encontramos os fragmentos... e afinal, não seriam eles também partes obliteradas de nós?

                                                          Richard Gonçalves André 

    STARN, Doug; STARN, Mark. Double Starn portrait, 1985-1986. Disponível em: http://digitalimagingandphotography.blogspot.com.br/2011/07/doug-and-mike-starn.html. Acesso em: 20 dez. 2014.

  • Dossiê Tecnologia e Imagem
    v. 8 n. 14 (2014)

    Acerca das histórias e estórias da relação entre imagem e tecnologia trata esse número da Revista Domínios da Imagem. Às primeiras dedicam-se os autores dos textos aqui articulados, às segunda dedicamos uma meta-narrativa fotográfica que, de uma colaborativa, entremeia os artigos com imagens recebidas por meio de dispositivos digitais. 

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    Nossa imagem de capa é uma charge do historiador espanhol, pioneiro no que diz respeito às pesquisas sobre tecnologia, literacia e criação de escritas digitais, Antonio Rodriguez de Las Heras. Las Heras é catedrático da Universidad Carlos III de Madrid, diretor do Instituto de Cultura y Tecnología desta universidade e membro do conselho diretivo da revista TELOS. Cuadernos de Comunicación, Tecnología y Sociedad. Em 1990 foi premiado, pela FUNDESCO, por seu livro Navegar por la información. Seus trabalhos podem ser encontrados em www.arsdelash.es . Na charge que utilizamos como abertura deste número da revista Domínios da Imagem, uma curiosa comparação entre a descoberta do fogo pelo homem com a descoberta da informação nos celulares. Em ambas, o descrédito social com que a inovação é tratada socialmente, assim como a previsão de uma revolução de grandes dimensões. Longe de prever na tecnologia alguma centralidade, seja do apocalipse, seja do nirvana, gostaríamos de assinalar que mais do que máquinas de entretenimento, a tecnologia constitui um objeto de estudo que deve ser respeitado.


  • Dossiê: Interfaces entre Morte e Imagem
    v. 7 n. 13 (2013)

    O foco selecionado para a edição 13 fundamenta-se sobre as relações entre imagem e morte. Apesar de sua universalidade, na medida em que todos os seres estão fadados a perecer, a ponto de um antigo provérbio italiano afirmar que, não importando se rei ou peão, ao final do jogo todos acabam na mesma caixa, a morte constitui objeto de estudo uma vez que, culturalmente, são construídas diferentes representações em torno da mesma, tornando-a, portanto, domínio da História e outros campos do saber. Malgrado não sejam os únicos, os cemitérios constituem lugares privilegiados para pensar as tessituras entre imagens, símbolos e morte, como abordam os autores ao longo deste número.
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    Na capa, verifica-se o túmulo de Luz Maria Garcia Velloso no Cemitério da Recoleta, na cidade argentina de Buenos Aires. Trata-se da primeira necrópole pública portenha, fundada em 1822, abrigando sepulturas da elite do país a partir de diversos estilos arquitetônicos. O jazigo em questão possui sobre o féretro a representação da falecida em seu último sono, repousando à espera do Juízo Final. Isso é um resquício nos oitocentos de um imaginário cristão anterior ao século XII, em que a crença na alma como substância distinta do corpo físico não se encontrava ainda difundida. Entretanto, a estatuária jacente entrou em decadência no século XIX com o advento de outro instrumento de criação visual, a fotografia, que democratizou relativamente o acesso à imagem entre diferentes camadas da sociedade, colonizando os cemitérios dos séculos XX e XXI com imagens fotográficas, que passaram a representar o duplo dos trespassados.

    Richard Gonçalves André

    Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina

     

  • v. 7 n. 12 (2013)

    Prezados(as) colegas, A Domínios da Imagem chega ao sexto ano de publicação em sua décima segunda edição apresentando aquilo que tem constituído o traço da revista e, de forma mais ampla, do Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem (LEDI): a natureza multidisciplinar que se reflete na variedade de artigos que compõem o presente número, escritos por autores de diferentes formações acadêmicas, abordando distintos objetos sob múltiplas fontes de caráter iconográfico. Aqui, as imagens são vistas em sua complexidade, seja como documentos ou indícios, seja como objetos ou focos de pesquisa, fazendo jus à “iconosfera” que perpassa o mundo contemporâneo. Adriély da Silva Santos, no artigo que abre a presente publicação, analisa as apropriações dos jogos eletrônicos entre crianças, sugerindo como os estereótipos negativos relacionados aos games, entendidos como fontes de violência, devem ser desconstruídos e repensados pela comunidade científica, pais e professores. Aline Pires Luz discorre sobre a poesia concreta e o desenvolvimento tecnológico e comunicacional contemporâneo tendo como fundamento teórico proposições do Zen Budismo, ressaltando aspectos como a não linearidade, a não logicidade e o caráter complexo dessa produção poética. Almerinda Silva Lopes e Maria Cláudia Bachion Ceribeli demonstram como o conceito de arte passou por um processo de transformação a partir do século XIX, tendo em vista as mudanças socioeconômicas, comunicacionais e tecnológicas do período, ressaltando que o modo de conceber e relacionar-se com a obra artística teria sido modificado. Cláudia Mariza Mattos Brandão aborda as fotografias sob uma ótica pouco usual (principalmente nas ciências sociais) e, justamente por isso, extremamente rica: como manifestações do imaginário, tocando e manifestando elementos arquetípicos inerentes ao indivíduo, isto é, sugerindo um olhar para dentro. Daisy de Camargo, tendo como fonte o periódico anarquista “A Plebe”, publicado entre 1917 e 1951, analisa os discursos de resistência contra burgueses, integralistas e clérigos, enunciados marcados por certo “humor negro”. Simone de Oliveira Camillo e Fabiana Tavolaro Maiorino, sob a luz da epistemologia da complexidade de Edgar Morin, analisar o filme "Avatar", demonstrando como as concepções do diretor James Cameron na película não podem ser compreendidas sob a ótica cartesiana, demandando por um pensamento complexo. Johnni Langer, por sua vez, propõe a interpretação da chamada Pedra Rúnica, monumento construído na Escandinávia entre os séculos VIII e XI, período denominado Era Viking, chamando a atenção para o caráter cosmológico e astronômico que perpassa o artefato. Ainda, Mara Burkart enfoca as caricaturas políticas no periódico “O Pasquim” entre 1978 e 1980, durante o Período Militar brasileiro, tendo como alvo governantes como Geisel e Figueiredo. Como visto, a presente edição é múltipla e complexa, indo dos periódicos às fotografias, da Pedra Rúnia à poesia concreta, dos filmes aos jogos eletrônicos, o que constitui, em sua diversidade, o fio condutor da Domínios da Imagem. Nesta edição, incluímos ainda uma novidade: as imagens centrais dos artigos apresentados foram utilizadas como capas desses artigos; para aqueles artigos sem uma imagem proposta pelo autor, tomamos duas direções: em dois deles, sobre jogos eletrônicos e fotografias/imaginário, propusemos a artistas plásticos que experimentassem apresentar interpretações visuais dos textos. Aproveitamos o momento para agradecer aos nossos artistas, Lúcio Canabarro e Claudia Brandão, e paraconvidar o leitor a desfrutar desse trabalho inédito. Nos demais, recorremos a um repositório digital de imagens históricas de livre acesso, conforme licença Creative Commons. Trata-se do site norte-americano Historical Stock Photos, que disponibiliza para uso educacional mais de 5.000 volumes de imagens da história estadunidense e mundial conforme browser de simples utilização e e cópia legal em apenas um click. Com isso esperamos sensibilizar nosso leitor para o tema dos recursos educacionais abertos, bem como da liberdade de trânsito e uso ético de textos e também imagens no mundo virtual. Sem mais delongas, desejamos uma boa leitura a todos! Os editores
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    O mapa reproduzido na capa desta edição 12 da Domínios da Imagem representa o percurso fluvial feito pelo governador da Província do Paraguai, D. Luiz de Céspedes Xeria, quando foi tomar posse de seu cargo, em Assunção, no ano de 1628. O documento original está no Archivo General de Indias (Sevilha), mas o que apresentamos aqui é uma cópia feita a pedido do historiador Afonso Taunay, em 1917, quando ele era diretor do Museu Paulista (conhecido como Museu do Ipiranga). A imagem foi publicada em seu livro “Collectanea de mappas de cartographia paulista antiga” (1922). No confronto com a imagem original do arquivo espanhol, percebem-se algumas pequenas, mas sugestivas alterações feitas pelo copista, em especial na representação da vila de São Paulo, que foi sutilmente aumentada e colocada de “cabeça pra cima”. Em destaque, na imagem, cortando-a de cima a baixo, o “rio de ayembi” (Tietê), e horizontalmente o "Parana q es el Riodelplata" (Paraná). Os dois eixos fluviais foram percorridos pelo governador em 19 dias. No canto superior esquerdo, a “villa de san pablo enel Brasil”, ponto de partida da viagem, e no canto inferior direito, o ponto de chegada: “ciudad real deguayra”. A imagem é parte de um relato direcionado ao rei Felipe IV de Espanha. Típicoroteiro que reproduz acidentes geográficos, caminhos, afluentes e ilhas, pode, se analisado sob critérios cartográrficos contemporâneos, denotar desproporções, problemas de escala a e inverossimilhanças; mas é, no fundo, uma representação do trajeto construída a partir da observação cotidiana. É parte de uma apropriação do espaço feito por um governante. Xeria percorria, e tomava posse simbólica, via cartografia, de um caminho já secularmente conhecido pelos índios, e que, há algumas décadas, era também percorrido, nos dois sentidos, por aventureiros, mercadores e bandeirantes. José Carlos Vilardaga 
  • v. 6 n. 11 (2012)

    A arte que ilustra a capa desta edição é de autoria de Eduardo Tadeu Arrebola de Souza. Confeccionada com técnicas diversas, manuais e digitais, foi especialmente tratada para esta edição da Domínios da Imagem. Misto de ilustração e história em quadrinhos, a imagem sintetiza mistério e mensagem, pois “Abra uma porta” é tanto um título, como um slogan quanto uma tautologia narrativa que reforça a presença do homem obscurecido pela contraluz. Os pássaros, saídos da tela de Hitchcock ou dos versos de Poe, voam em direções distintas, aflitos, sugerindo a vastidão e o infinito do escuro que a luz da porta não alcança. Nem toda porta que se abre...
    Artista autodidata, Edu Tadeu produz há mais de 30 anos em Londrina e região. Já participou de diversos salões de artes plásticas e outras atividades expositivas; realiza pinturas, ilustrações, artesanatos gráficos, marionetes e iluminuras; ministra cursos e workshops. Recentemente concluiu o curso de História pela Universidade Estadual de Londrina, quando revelou-se também um justo narrador, na melhor das tradições que se extinguem. 
    Rogério Ivano
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