Sobre a Revista

A Revista Boitatá (ISSN 1980-4504) é uma publicação de fluxo contínuo vinculada a Universidade Estadual de Londrina (UEL), de acesso livre, do GT de Literatura Oral e Popular da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL). Ela tem por objetivo principal disseminar trabalhos inéditos decorrentes de produções científicas de pesquisadores nacionais e estrangeiros que investigam as poéticas orais e a literatura popular. A partir de 2023 a revista passou a adotar a licença CC BY.

Edição Atual

v. 17 n. 34 (2022): Eu Canto Porque o Instante Existe e Exige: as poéticas da voz no período pandêmico
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Nos últimos dois anos, a atipicidade do período pandêmico reconfigurou as relações humanas. Nossa proximidade com a morte ficou menos estranha, as tecnologias se fizeram mais presentes e o home office se tornou um termo mais familiar, um cúmplice inseparável, inclusive nas manifestações da arte em geral. Nesse panorama, a recepção desse momento pelos poetas da voz não ficou alheia. Assim, questiona-se: como se deram estas relações na produção poética de base oral? De que forma e em que níveis o isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 durante, pelo menos dois anos, impactou as relações entre os artistas, poetas e de mais profissionais da voz (cantores, cantadores, repentistas, cordelistas, aboiadores, professores(as), etc) durantes este período? E em termos da organização dos mesmos enquanto grupo social, houve mudanças significativas? De que natureza? Como tais relações aconteceram, por exemplo, na sala de ensino remoto? Como compreender a performance, nos moldes zumthoniano, nestas circunstâncias de produção e recepção?

Essas temáticas são flexíveis para epistemologias diversas, apesar de alguns campos reflexivos privilegiarem as mesmas, a exemplo da interdisciplinaridade da primeira geração dos Estudos Culturais como instituição acadêmica, simbolizados nos pais fundadores: Raimond Williams, Edward P. Thompson, Richard Hoggart e Stuart Hall. Além do olhar inter e transdisciplinar, a marginalidade institucional e a ponte entre cultura e suas relações de poder são relevantes para a temática proposta.

Se o tema envolve a poética da voz, essa voz evoca a própria presença mesmo estando ausente, pois, não é captada apenas por meio da escuta, mas através de todos os componentes que a constituem: os elementos linguísticos, a tradição, os movimentos físicos e até mesmo sua interferência em relação ao corpo no tempo e no espaço. Essas circunstâncias estão relacionadas ao que Paul Zumthor compreendeu como um efeito sensorial: uma palavra ao ser pronunciada demonstra capacidade de preencher, como uma representação do corpo que a produz em seus aspectos não apenas biológicos, mas históricos, mitológicos e literários.

É nesta perspectiva, portanto, que este dossiê se propõe: aceitar pesquisas inseridas no grande guarda-chuva que acolhe as múltiplas faces das poéticas das vozes, quase sempre invisibilizadas pelo cânone poético tradicional, e impactadas pela pandemia da Covid-19; vozes de borda, latentes, presentificadas, reprimidas e silenciadas, inclusive na sala de aula; vozes (de)cantadas, (re)inventadas por força da tradição oral; vozes que, ao ecoarem no outro, se refratam, se ressignificam, denunciam e se transformam.

Publicado: 2022-08-02

Editorial

  • Apresentação

    Prof. Dr. Marcelo Vieira da Nóbrega, Prof. Dr. Linduarte Pereira Rodrigues, Prof. Dr. José Nogueira da Silva
    e022016

Dossiê

  • Processo de Criação da Ilustração “Oralidade e Distopia”

    Alberto Pessoa
    e022017
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e49779
  • As vozes da tradição e da modernidade em Bom dia para os defuntos a heterogeneidade literária e linguística no romance de Manuel Scorza

    Thiago Roney Lira Borges
    e022008
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e48756
  • "Sousândrade: Rascunho para uma urna"

    Isis Diana Rost
    e022009
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e48350
  • Nova York, Liverpool, Belo Horizonte Três ruas, três canções

    Adriano de Paula Rabelo
    e022010
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e47673
  • A Poesia de Autoria Feminina de espada em punho!

    Jocineide Catarina Maciel de Souza, Elizabete Nascimento
    e022011
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e47433
  • A intergenericidade poética em contos da tradição oral

    NADIA BARROS ARAUJO
    e022012
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e47405
  • Projeto Nas Asas da Leitura: a poesia no 6º ano durante o ensino remoto

    Fabiana Simplício da Silva, Amanda Kelly Sousa Rodrigues, Ana Paula dos Santos Guedes, Ana Lúcia de Souza Neves
    e022013
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e46846
  • Há poesia no ensino remoto? Um relato de experiência das atividades do projeto de extensão "Nas asas da leitura"

    KALINA NARO GUIMARÃES, Chrisllayne Farias da Silva, Erenice de Souza Lima
    e022014
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e46845
  • Vidas-Mortes-Vidas Severinas em Tempos de Pandemia hibridismo de vozes aprisionadas de poetas-apologistas, cordelistas e repentistas em um grupo de WhatsApp.

    Marcelo Vieira da Nobrega
    e022015
    DOI: https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e46655
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LETRAS E VOZES CONTRACOLONIAIS E ANTIRRACISTAS

Submissões até 13 de Fevereiro de 2023

ORGANIZADORAS: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy (UFRGS), Cristina Mielczarski dos Santos, Mônica de Souza Chissini (UFRGS/IFRS) e Vera Lúcia Cardoso Medeiros (UNIPAMPA).

Inspirados pela contundência anticolonial de Aimé Césaire (1978), acrescentamos que a as formas do neocolonialismo extrativista e transnacional permanecem moralmente, epistemologicamente, esteticamente e ontologicamente indefensáveis. Do mesmo modo, o enfrentamento da “zona do não ser” (FANON, 2008) imposta pelo olhar imperial sobre sujeitos racializados segue inspirando existências que se fazem na afirmação geopolítica de identidades e corpos-território dissidentes. O grupo Modernidade/Colonialidade (ESCOBAR, 2003) retoma essa linhagem a partir de várias disciplinas e em diálogo com tradições críticas como as dos estudos subalternos e dos estudos pós-coloniais, examinando o reverso da modernidade e seus desdobramentos na América Latina. Assim, a decolonialidade contesta o universalismo abstrato e homogeneizante eurocêntrico ou nortecêntrico que pretendeu subalternizar ou mesmo aniquilar práticas e subjetividades não brancas (de sujeitos e coletivos marcados como “outros”) com a proposição de vários mundos e formas de conhecimento (o pluriverso). Como educadoras e acadêmicas, buscamos aproximar teoria e prática ou a realidade habitada e as criações e proposições de autorias negras, indígenas e periféricas num projeto que se quer político e acadêmico. Se admitimos nossa ignorância sobre essas/es outras/os, não deixamos de buscar práticas pedagógicas decoloniais e parcerias de intervenção social como reação à violência epistêmica sobre os sistemas próprios de simbolização, subjetivação e representação desses sujeitos e coletivos subalternizados. Por exemplo, somos desafiados tanto pelas escritas e performances no artivismo de Jaider Esbell como pelas provocações de Denilson Baniwa em sua “reantropofagia”, ação anticolonial e insurgente no espaço racista e predador do circuito da arte contemporânea. Igualmente buscamos atuar na “guerra pelo reencantamento do mundo” a partir das formulações de Luiz Rufino, que consideram ancestralidade, alteridades e vinculação entre formas de vida e existência (material e espiritual) como bases de uma educação comunitária (dialogando, entre outros, com o pensamento de Abdias Nascimento sobre quilombismo, com as formulações de Lélia Gonzales sobre amefricanidade e, mais recentemente, com a proposta de Antônio Bispo dos Santos de contracolonização pelos povos afropindorâmicos). Acompanhamos eventos e experiências poéticas e narrativas que se fazem presentes nos espaços públicos e periféricos, como saraus, certames de poesia falada (slam), circuitos de arte urbana e da cultura hip hop, ou ainda expressões performáticas de matrizes religiosas e culturais afrocentradas, enfim, uma multiplicidade de manifestações artístico-culturais que instabilizam os cânones. Desse modo, o Dossiê acolherá propostas que a partir de letras e vozes de lugares empíricos ou simbólicos (territórios ou textos) contestem a manutenção do racismo-etnocentrismo-colonialismo nos campos das artes, das poéticas da voz, do pensamento crítico, da educação e da (cosmo)política.