A transposição da oralidade à escrita literária na contemporaneidade: Sefarad (2001) de Antonio Muñoz Molina

Autores

  • Ana Paula de Souza Universidade Federal do Mato Grosso

DOI:

https://doi.org/10.5433/boitata.2017v12.e32951

Palavras-chave:

Testemunho oral, Memória, Antonio Muñoz Molina, Sefarad.

Resumo

Judeus-sefarditas sobreviventes da perseguição nazista na França ou na Hungria, filhas de comunistas exilados durante a Guerra Civil Espanhola e a ditadura franquista, ex-combatentes da Divisão Azul do exército alemão, exilados das ditaduras da ex-URSS ou da América Latina, migrantes andaluzes radicados em Madri, essas figuras anônimas, personagens da “vida real”, transformam-se em protagonistas do romance Sefarad (2001), do escritor espanhol Antonio Muñoz Molina (1956). Comportando-se quase que como um historiador oral, ou como um editor de literatura de testimonio latino-americano, o escritor andaluz transpõe à escrita literária as memórias orais a ele confiadas em conversas fortuitas, entrevistas e depoimentos. Sefarad é, portanto, literatura escrita nutrida de oralidade. O objetivo deste artigo é mostrar o processo por meio do qual Muñoz Molina transforma a memória oral em fonte para a escrita literária e os recursos estilísticos que emprega nesse empreendimento. Além disso, interessa-nos discutir qual é a finalidade da transposição dos testemunhos orais à escrita literária e analisar, por meio das considerações metaficcionais do narrador, a postura ética do autor nessa dinâmica de apropriação e recriação do testemunho oral do outro.

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Biografia do Autor

Ana Paula de Souza, Universidade Federal do Mato Grosso

Professora Adjunta do Departamento de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária do Instituto de Linguagens da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso –

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Publicado

2017-12-27

Como Citar

Souza, A. P. de. (2017). A transposição da oralidade à escrita literária na contemporaneidade: Sefarad (2001) de Antonio Muñoz Molina. Boitatá, 12(24), 115–128. https://doi.org/10.5433/boitata.2017v12.e32951