“Todas as falhas e virtudes desse povo”: considerações sobre a composição racial da Força Expedicionária Brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2020v13n25p242

Palavras-chave:

Força Expedicionária Brasileira, Exército Brasileiro, Relações raciais, Democracia racial

Resumo

Entre 1944 e 1945, o Brasil enviou um pequeno exército de 25 mil homens, a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para combater as forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Essa força foi caracterizada por ser a única combatente, em toda a guerra, que foi integrada, em termos raciais. Tão importante quanto a integração, a composição da FEB foi retratada, na época e na memória coletiva, como uma “amostra racial” do Brasil. Essa imagem de relações raciais harmônicas também ajudou a alimentar o mito da democracia racial. O objetivo deste artigo é revisar a formação racial da FEB, verificando a documentação disponível em arquivos militares e civis brasileiros e a historiografia recente. Este estudo conclui que a FEB, com ligeiras diferenças, reproduziu a estrutura racial da população brasileira em sua composição. No entanto, esse “caldeirão multiétnico e cultural” foi uma consequência não planejada do processo de recrutamento da divisão expedicionária, uma vez que o objetivo das autoridades do Exército era recrutar uma “elite”, com critérios de saúde física e alfabetização que poderiam ser excludentes para uma parte da juventude não branca. No entanto, devido às dificuldades de recrutamento seletivo e evasão de parte das classes média e alta, predominantemente brancas, foi enviado para a guerra uma tropa com origens raciais e culturais que pode ser considerada uma espécie de “amostra” da sociedade brasileira.

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Biografia do Autor

Francisco Cesar Alves Ferraz, Universidade Estadual de Londrina

Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor Associado do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina.

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Publicado

21-08-2020

Como Citar

FERRAZ, F. C. A. “Todas as falhas e virtudes desse povo”: considerações sobre a composição racial da Força Expedicionária Brasileira. Antíteses, [S. l.], v. 13, n. 25, p. 242–277, 2020. DOI: 10.5433/1984-3356.2020v13n25p242. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/39487. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê