A´augusta mãe por cima das ondas do oceano´: a corte portuguesa no púlpito brasileiro

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DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2017v10n20p857

Palavras-chave:

Oratória sagrada, Expansão marítima, Império português, Literatura brasileira

Resumo

A parenética lusitana ganhou força no período das grandes navegações, em que a atuação missionária se justificava em função tanto da criação de um horizonte comum, quanto no fortalecimento da coesão cultural promovida pela cristianização do mundo ocidental. Crônicas de viagem e parenética missionária se fundiram na geração de uma unidade discursiva lusófona ao longo do período moderno. Nas igrejas, aqueles que nem tinham contato com o mundo de letras, nem acesso às grandes naus, sacavam seus bilhetes de viagem dos sermões que ouviam com atenção. Não obstante, a idealização de novos territórios era partilhada por sermonistas que descreveram cidades inteiras sem nunca tê-las visto. Tal é o caso de algumas orações acerca de Portugal e Brasil, sobretudo no período em que a transferência da corte lusitana para a capital fluminense conformou uma aproximação mais efetiva entre essas duas partes do Império. Nomeado pregador régio por d. João VI, frei Francisco de São Carlos lhe devotou a “Oração de Ação de Graças, recitada no dia 1o de Marco de 1809 na Capela Real, dia de aniversário da feliz chegada de sua alteza real a esta cidade” a d. João VI. Nas palavras do frei uma Lisboa que se desvenda pelas memórias e presença de novas personagens na cena fluminense. Na oração, uma descrição do patrimônio imaterial que representava a sociabilidade da corte e sustentava a manutenção do Antigo Regime. Acerca do alargamento das fronteiras do conhecimento forjado no trânsito lusófono trata a presente apresentação, guiada pelas viagens imaginárias à que sermonistas e pregadores transportam a população desses dois lados do Quinto Império.

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Biografia do Autor

Maria Renata da Cruz Duran, Universidade Estadual de Londrina

Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina.

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Publicado

01-12-2017

Como Citar

DURAN, M. R. da C. A´augusta mãe por cima das ondas do oceano´: a corte portuguesa no púlpito brasileiro. Antíteses, [S. l.], v. 10, n. 20, p. 857–880, 2017. DOI: 10.5433/1984-3356.2017v10n20p857. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/31354. Acesso em: 28 mar. 2024.