Objetos indígenas: do artificial ao imaterial

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2014v7n14p258

Palavras-chave:

Antropologia, Patrimônio Cultural, Museus, Coleções etnográficas, Objetos indígenas

Resumo

Analisamos neste artigo os diversos sentidos que foram atribuídos aos objetos indígenas ao longo da trajetória de constituição dos museus modernos, para, então, tecer algumas considerações sobre os significados atribuídos a eles nas concepções de patrimônio cultural desenvolvidas pelas políticas públicas preservacionistas, especificamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Partimos do princípio que os museus se constituíram como os lugares privilegiados de guarda desses objetos, expressando assim as ações, as práticas sociais, as técnicas e o modo como o conhecimento foi e é construído e reproduzido sobre aquilo que se encontra em museus. A análise das significações e as ressignificações de ‘coisas’ que passam a ser denominadas em determinado momento etnográficas, permite desnaturalizar a concepção de que os objetos existem por si só como, por exemplo, etnográficos ou artísticos. Desenvolvemos, nesse sentido, uma historicização do processo de musealização dos objetos indígenas para entender as conformações que hoje adquire a patrimonialização de bens culturais de grupos indígenas.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Analucia Thompson, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutora em Museologia pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa. Técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Professora Permanente do Curso de Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Referências

ABREU, Regina. Tal antropologia, qual museu? In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário de S.;

ALEXANDER, Edward P.; ALEXANDER, Mary. Museums in motions: an introduction to the history and functions of museums. 2. ed. New York: Altamira Press, 2008.

ANDRADE, Mário. Anteprojeto para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n. 30, p. 271-287, 2002.

BENNETT, Tony. The birth of the museum: history, theory, politics. London: Routledge, 2009.

BOURGUET, Marie-Noëlle. O explorador. In: VOVELLE, Michel. O homem do iluminismo. Lisboa: Editorial Presença, 1997. p. 207-250.

CAVIGNAC, Julie A. Museologia e etnografia: estudos americanistas no Brasil no início do século XX. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS COMUNICAÇÃO, 35., 2011, Caxambu. Comunicação... Caxambu, 2011.

CHAGAS, Mário. Há uma gota de sangue em cada museu: a ótica museológica de Mário de Andrade. Cadernos de Sociomuseologia, Lisboa, n. 13, 1998.

CHAPMAN, William R. Arranging ethnology: A. H. F. Pitt Rivers and the typological tradition. In: STOCKING JUNIOR, George W. Objects and others: essays on museums and material culture. Madison, Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 1985. p. 15-48.

CONSELHO CONSULTIVO DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Ata da 49ª Reunião realizada 3 ago 2006. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/baixaFcdAnexo.do;jsessionid=3AA6C07E9B65DCF81FAA08E661632F5C?id=2734. Acesso em: 20 jun. 2014.

CORRÊA, Alexandre Fernandes. Vilas, parque, bairro e terreiros: novos patrimônios na cena das políticas culturais em São Paulo e São Luís. 2001. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.

COUTO, Ione Helena P. A tradução do objeto do “outro”. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário de S.; SANTOS, Myrian S. (Org.). Museus, coleções e patrimônios: narrativas polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. p. 179-202.

CUNHA, Manuela C. Política indigenista no século XIX. In: CUNHA, Manuela C. (Org.). História dos índios no Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras; 1998. p. 133-154.

DACOSTA KAUFMANN, Thomas. From treasury to museum: the collections of the Austrian Habsburgs. In: Elsner, J. & Cardinal, R. (Eds). The cultures of collecting. (4ª. ed.). Londres: Reaktion Books Ltd, 1997. p. 117-154.

DESVALLEES, André; MAIRESSE, François (Dir.). Dictionnaire encyclopédique de muséologie. Paris: Armand Colin, 2011.

DIAS, Nélia. Antropologia e museus: que tipo de diálogo. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário de S.; SANTOS, Myrian S. (Org.). Museus, coleções e patrimônios: narrativas polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond; MinC/IPHAN/DEMU, 2007. p. 126-137.

Disponível em: http://www.soas.ac.uk/literatures/satranslations/sturge.pdf. Acesso em: 18 nov. 2010.

ERIKSEN, Thomas H.; NIELSEN, Finn S. História da antropologia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

FREIRE, José R. B. A descoberta dos museus pelos índios. In: CHAGAS, Mário; ABREU, Regina. (Org.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 219-254.

GRUPIONI, Luiz D. B. Coleções e expedições vigiadas: os etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil. São Paulo: Hucitec; Anpocs, 1998.

HARMS, Volker. The aims of the museum for ethnology: debate in the German-speaking countries. Current Anthropology, Chicago, v. 31, n. 4, p. 457-463, 1990.

HEGER, Franz. Die archäologischen und ethnographischen Sammelungen aus Amerika im k. k. Naturhistorischen Hofmuseums in Wien. Festschrift zum 16. Internationalen Amerikanisten-Kongress in Wien, p. 1-72, 1908.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN. Bens registrados. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=17743&sigla=Institucional&retorno=paginaInstitucional . Acesso em: 10 jun. 2014.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN. Os sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois: princípios, ações e resultados da política de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial no Brasil, 2003-2010. 2. ed. Brasília: IPHAN, 2010.

KURY, Lorelai. O Brasil dos viajantes: viajantes e naturalistas do século XIX. IN: PEREIRA, Paulo R. (Org.). Brasiliana da Biblioteca Nacional: guia de fontes sobre o Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 59-77.

LENCLUD, B. Methode etnographique. In: BONTE, Pierre; IZARD, Michel (Dir.). Dictionaire de l’ethnologie et de l’anthropologie. 4. ed. Paris: Quadrige/PUF, 2013.

L'ESTOILE, Benoît de. O arquivo total da humanidade: utopia enciclopédica e divisão do trabalho na etnologia francesa. Horizontes antropológicos, Porto Alegre, n. 20, p. 265-302, 2003.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

LIMA FILHO, Manuel Ferreira; ABREU, Regina Maria do Rego Monteiro de. A antropologia e o patrimônio cultural no Brasil. In: LIMA FILHO, Manuel Ferreira; BELTRÃO, Jane Felipe; ECKERT, Cornelia (Org.). Antropologia e patrimônio cultural: diálogos e desafios contemporâneos. Blumenau: Nova Letra, 2007. p. 21-44.

LOPES, Maria M. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997.

MAcDONALD, Sharon. Expanding museum studies: an introduction. In: MAcDONALD, Sharon. (Ed.). A companion to museum studies. Malden: Blackwell, 2011. p. 1-12.

MADARIAGA, Celeste J. de. La musealización del patrimonio etnológico. In: PARRILLA, José M. G.; LÓPEZ, José M. C. (Ed.). La musealización del patrimonio. Hueva: Universidade de Hueva, 2009. p. 65-76.

MARTINI, André. O retorno dos mortos: apontamentos sobre a repatriação de ornamentos de dança (basá busá) do Museu do Índio, em Manaus, para o rio Negro. Instituto Socioambiental. Revista de Antropologia. São Paulo, v. 55, n. 1, p. 331-355, 2012.

MENESES, Ulpiano Bezerra. O campo do patrimonio cultural: uma revisão de premissas. In: FÓRUM NACIONAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Sistema Nacional de Patrimônio Cultural: desafíos, estratégias e experiências para uma nova gestão. 1., 2012, Ouro Preto. Anais… Brasília: IPHAN, 2012. p. 25-39.

NASCIMENTO JUNIOR, José. À guisa de apresentação: por um novo olhar da relação entre cultura e economia. In: NASCIMENTO JUNIOR, José. (Org.). Economia de museus. Brasília: MinC; IBRAM, 2010. p. 7-18.

OLIVEIRA, João P. O retrato de um menino Bororo: narrativas sobre o destino dos índios e o horizonte político dos museus, séculos XIX e XXI. Tempo, Niterói, v. 12, n.23, p. 85-111, jul./dez. 2007.

PAIVA, Ana Cristina de Souza Gonçalves. As dinâmicas das duas metades: tombamento e patrimônio etnográfico no IPHAN. 2012. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) - IPHAN, Rio de Janeiro, 2012.

PEIRANO, Mariza G. S. Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada). In: MICELI, Sérgio (Org.). O que ler na ciência social brasileira. 1. Antropologia. São Paulo: Sumaré, 1999. p. 225-266.

PENNY, H. Glenn. Objects of culture: ethnology and ethnographic museums in imperial Germany. Londres: University of North Caroline Press, 2002.

POSSAS, Helga C. G. Classificar e ordenar: os gabinetes de curiosidades e a história natural. IN: FIGUEIREDO, B.G.; VIDAl, D. G. (Org.). Museus: dos gabinetes de curiosidades à museologia moderna. Belo Horizonte: Argvmentvm; Brasília: CNPq, 2005. p. 151-164.

PRATT, Mary Louise. Humboldt e a reinvenção da América. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4, n. 8, p. 151-165, 1991.

RIBEIRO, Berta G. Dicionário do artesanato indígena. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Unesp, 1988.

ROQUE, Ricardo. Headhunting and colonialism: anthropology and the circulation of human skulls in the Portuguese empire, 1870-1930. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2010.

SANTOS, Myrian S. (Org.). Museus, coleções e patrimônios: narrativas polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond; MinC/IPHAN/DEMU, 2007. p.114-125.

SHELTON, Anthony A. Cabinets of transgression: renaissance collections and the incorporation of the New World. In: ELSNER, J.; CARDINAL, R. (Ed.). The cultures of collecting. 4. ed. Londres: Reaktion Books, 1997. p. 156-176.

SHELTON, Anthony A. Museums and anthropologies: practices and narratives. In: MACDONALD, S. A companion to museum studies. Malden: Blackwell, 2011. p. 64-80.

SMITH, Laurajane. Uses of heritage. New York: Routledge, 2006.

STARN, Randolph. A Historian's brief guide to new museum studies. The American Historical Review, New York, v. 110, n. 1, p. 69-98, Feb. 2005.

STURGE, Kate. The other on display: translation in the ethnographic museum. 2003.

THOMAS, Nicholas. Licensed curiosity: Cook’s Pacific voyages. In: ELSNER, J.; CARDINAL, R. (Ed.). The cultures of collecting. 4. ed. Londres: Reaktion Books, 1997. p. 116- 136.

THOMPSON, Analucia. A coleção Natterer: objetos indígenas brasileiros. 2012. Tese (Doutorado em Museologia) - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2012.

TORRES, Heloisa Alberto. Contribuição para o estudo da proteção ao material arqueológico e etnográfico no Brasil. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 1, p. 9-30, 1937.

VRDOLJAK, Ana F. International law, museums and the return of cultural objects. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

Downloads

Publicado

22-12-2014

Como Citar

THOMPSON, A. Objetos indígenas: do artificial ao imaterial. Antíteses, [S. l.], v. 7, n. 14, p. 258–281, 2014. DOI: 10.5433/1984-3356.2014v7n14p258. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/19179. Acesso em: 29 mar. 2024.