Marinha do Brasil: uma trajetória do enfardamento

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2014v7n13p158

Palavras-chave:

Militares, Recrutamento militar, Estado, Guerra, Racionalidade científica

Resumo

Realizou-se o exame sobre as fundações da Marinha do Brasil e de seus profissionais por meio de uma análise sócio-histórica, considerando que ambos, da forma como passaram a ser concebidos, têm uma trajetória histórica e uma origem e bases sociais. Acredita-se que eles sejam efeitos da racionalidade científica moderna e que foram produzidos no decorrer de um percurso atravessado por impactantes transformações no panorama do mundo contemporâneo ocidental. O enfardamento refere-se a um processo de assimilação dos valores e preceitos militares ao ponto de conformarem um “espírito” capaz de fazer do indivíduo um membro da organização militar a serviço da pátria. A trajetória do enfardamento se desenrolou, ao longo da história, através do processo de profissionalização do militar. Ademais, o enfardamento se atualiza diariamente no seio institucional por meio de diversas estratégias de formatação. Este artigo apresenta parte dos resultados da pesquisa que resultou na Tese de Doutorado do curso do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre militares que são pacientes alcoolistas de um ambulatório da Marinha do Brasil.

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Biografia do Autor

Elizabeth Espindola Halpern, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Psicóloga e Capitão-de-Fragata da Marinha do Brasil. Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutoranda em Saúde Mental no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ligia Costa Leite, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Colaboradora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Publicado

12-07-2014

Como Citar

HALPERN, E. E.; LEITE, L. C. Marinha do Brasil: uma trajetória do enfardamento. Antíteses, [S. l.], v. 7, n. 13, p. 158–183, 2014. DOI: 10.5433/1984-3356.2014v7n13p158. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/16683. Acesso em: 20 abr. 2024.