SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE SOBRE A EDUCAÇÃO FEMININA NO SÉCULO XIX
Jane Cristina Franco de Lima *
* Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina em 1991 e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá-Pr em 2000. Assistente Social do Centro de Atendimento à Mulher, Secretaria Especial da Mulher, Prefeitura do Município de Londrina-Pr;

RESUMO

Este artigo objetiva identificar como se desenvolve o processo educacional da mulher francesa entre 1815 a 1848, através do romance Memórias de Duas Jovens Esposas, de HONORÉ DE BALZAC. A educação de Luíza revela que a mulher aprende a realçar a beleza com uma toalete impecável, a utilizar o vestuário da última moda, a recepcionar convidados em seu salão e a articular encontros com pessoas influentes e importantes. Essa análise histórica possibilita ao Serviço Social compreender a importância do contexto familiar, bem como o processo de educação a que os homens estão submetidos, em virtude das exigências de produção da vida material.

Palavras-chave: educação, mulher, France.


INTRODUÇÃO

Um leque de inúmeras possibilidades se abre para o profissional que atua diretamente nas denominadas questões sociais. O assistente social pode optar por uma infinidade de áreas ou temáticas para intervir, escolhidas de acordo com sua trajetória histórica e formação profissional. Essas áreas ou temáticas são constituídas à partir do momento histórico e das condições determinadas pela produção da vida material. Dessa maneira, o assistente social pode optar por intervir na esfera pública ou privada, e no interior destas, atender à criança, ao adolescente, ao adulto, aos idosos, aos presidiários, às mulheres, entre outras possibilidades.

Nessas áreas, a sua intervenção, na maioria das vezes, é realizada à partir dos conhecimentos que adquiriu na formação acadêmica de maneira gradual e globalizada. Para compreender um pouco mais cada segmento, cabe ao assistente social aprofundar-se nos conhecimentos de cada área específica, para garantir uma prática profissional com maior embasamento teórico.

No que diz respeito ao segmento “mulheres”, em muitas situações, esse profissional se depara com conflitos familiares, violência doméstica, depressão feminina, entre outras questões que poderiam ser enunciadas e que dizem respeito à problemática feminina. O atendimento às mulheres que apresentam esses e outros problemas requer, muitas vezes, o levantamento de sua vida familiar, inclusive o processo de formação, educação que vivenciam ao longo de suas vidas. Portanto, entender como ocorre o processo educacional da mulher possibilita uma atuação com maior profundidade.

Nesse sentido, quando atua com mulheres o assistente social pode investigar as questões pertinentes a esse segmento, analisando tanto as necessidades colocadas às mesmas no final do século XX, quanto verificá-las em outros momentos históricos. Ao realizar esse resgate histórico em diferentes sociedades, o profissional compõe, aos poucos, o arcabouço teórico necessário para intervir de maneira crítica, utilizando-se de outras disciplinas que analisam a situação feminina em outras condições históricas, para compreender e analisar a problemática feminina de seu tempo.

É com esse olhar e perspectiva que o assistente social pode analisar a educação feminina na França do século XIX, mais precisamente a habilidade adquirida pela mulher francesa para influenciar o homem na vida conjugal e social. A análise desse período específico e da influência da mulher na França, abre novas perspectivas de entendimento e de intervenção no cotidiano do Serviço Social no final do século XX. Assim, detalhes e pormenores da vida familiar das mulheres atendidas pelo assistente social, passam a conter inúmeros significados, demonstrando que sua educação no contexto familiar e social, associada às condições históricas que a origina, é de extrema importância para a prática profissional, que segundo Pinto é uma prática de cunho educativo realizada com uma grande multiplicidade de outros agentes. Para esse autor,

em outras palavras, as (os) assistentes sociais fazem educação, no âmbito dos serviços sociais, embora sem serem pedagogos (profissionais da educação), assim como os pais/mães de família, os padres e freiras, os homens e mulheres dos meios de comunicação, para só citar alguns casos: mudar o pensar, sentir das pessoas, para que estas ajam de outro modo no mundo; mudar o pensar/sentir para mudar a prática. (Pinto, 1993, p. 43)

De certa maneira, o assistente social lida com a educação, sem muitas vezes dar-se conta disso. Nesse processo, esse profissional atua no sentido de modificar comportamentos e atitudes dos usuários dos serviços sociais, bem como lida diretamente com usuários que, inevitavelmente, passaram por processos educativos na família, na escola e na sociedade. Para essa compreensão, portanto, esse estudo propõe a análise desses processos educativos na sociedade francesa do século XIX.

A educação feminina no século XIX: o olhar de Honoré de Balzac

No que diz respeito a educação da mulher francesa no século XIX, é possível perceber que a formação dessas mulheres assume características peculiares, especificamente no tocante a formação da mulher para influenciar o mundo dos homens. A mulher influencia o homem se, em primeiro lugar, detiver as minúcias que o comportamento exige e, em segundo lugar, exercer prestígio, preponderância e ascendência sobre o sexo masculino. Uma mulher, em seu papel de esposa, mãe ou irmã, pode ser capaz de persuadir o homem a mudar de decisão, convencendo-o de que o próprio homem, seus filhos ou outros parentes serão beneficiados com a mudança (Lamphere, 1979, p. 124). Assim, influenciar significa inculcar, incutir e preponderar sobre a opinião do homem de maneira sutil, fazendo-o adotar uma outra conduta mais favorável aos interesses femininos.

Aristocrata ou burguesa, a mulher francesa encontra possibilidades, estratégias e motivações, que podem ser fontes de poder, se obter na infância e na juventude os conhecimentos que necessita para tornar-se uma mulher influente. Trata-se, portanto, de um comportamento que requer o desenvolvimento de determinadas habilidades, em que o encanto, a sedução e a magia precisam sobressair-se. Essas mulheres buscam a supremacia em suas casas, nos salões, nos teatros e nos bulevares. Seu cabelo, sua pele, sua roupa e sua jóia contribuem para torná-la o centro das atenções, tanto na vida privada, quanto na vida pública.

Para adquirir supremacia e atenção, é necessário a aquisição de habilidades que não nascem ao acaso. Elas são produzidas e aprimoradas nas relações sociais, o que pressupõe um processo de educação dessa mulher para desempenhar os papéis que lhe são atribuídos. Segundo Gastaldi (1940, p. 180), a mulher para triunfar na sociedade tem necessidade de adestrar seu espírito e aguçar sua sensibilidade. Assim, o homem é domesticado e seduzido pelo domínio dessas qualidades que a mulher tão bem desenvolve.

Os modelos e os exemplos mais próximos ensinam a jovem a utilizar-se dos meios disponíveis e a comportar-se sedutoramente nas mais variadas circunstâncias. Alguma pessoa (mãe, irmã, parente, amiga, professora ou até mesmo o pai e o marido) precisam ensinar a mulher as atitudes e a linguagem para influenciar os homens. Trata-se, portanto, de um comportamento produzido e transmitido no cotidiano, que se origina, a princípio, na família. O desempenho da mãe ou de outra pessoa é muito importante para que a mulher aprenda a influenciar os homens que fazem parte de seu círculo de relacionamento. As atitudes e os diálogos que a mãe e o pai estabelecem com a filha nas relações familiares tornam-se, dessa forma, momentos de aprendizagem. Esse comportamento passa a ser reforçado, também, pelo relacionamento entre homens e mulheres no meio social. É esse processo educacional contínuo que possibilita à mulher possuir determinadas “características”, que podem ser analisadas nos romances Memórias de Duas Jovens Esposas de Honoré de Balzac.1

Em Memórias de Duas Jovens Esposas, Balzac retrata a amizade existente entre duas amigas, Luíza e Renata, que se conhecem no convento. Luíza de Chaulieu, filha do duque de Chaulieu, vai para o convento com dez anos de idade, retornando para casa paterna aos 18 anos de idade. Essa jovem é ensinada na infância pela avó, depois permanece por algum tempo em um convento e mais tarde retorna ao lar, onde a mãe e a sociedade completam sua educação. É a avó, a Princesa de Vaurémont, que mais contribui para a formação da sua personalidade. Ao retornar para casa, Luíza revela a relação que mantinha com ela: “Esses aposentos são os daquela avó tão querida, a princesa de Vaurémont, a quem devo uma fortuna qualquer, da qual nunca ninguém me falou [...]”. (Balzac, 1955, p. 146)

Luíza mantém estreitos laços de afeto e carinho com a avó. A estima de Luíza é maior pela avó do que por sua própria mãe. Embora tenha uma mãe biológica é a avó que assume a tarefa de ensinar-lhe os segredos da vida na infância, de inspirar-lhe e de servir-lhe de modelo: “[...] Quantas vezes eu a vi, com os pés descansando em cima da barra, mergulhada na sua poltrona com o vestido semi-sungado nos joelhos por sua posição, pegando, depondo, e tornando a pegar a tabaqueira, de cima da pequena mesa entre a sua caixa de pastilhas e suas meias-luvas de seda! [...]”. (Balzac, 1955, p. 148-9)

Somente o fato de ver a avó sentada em sua poltrona ensina Luíza a comportar-se como ela. As palavras estão dispensadas. Os gestos e as atitudes da Princesa são suficientes para ficarem fixados na mente da neta. Ela lhe ensina, sem nem dar-se conta disso, as maneiras que a mulher deve adotar na sociedade aristocrata. Luíza revela esse ensinamento ao expor suas lembranças: “A Princesa tinha gestos de cabeça, um modo de saltar as palavras e os olhares, uma linguagem particular que eu não encontrava em minha mãe [...]. Tinha principalmente essa excessiva liberdade de opiniões que seguramente influiu sobre o feitio de meu espírito [...]”. (Balzac, 1955, p. 148-9)

Através de seus gestos, olhares, palavras e conversações, a avó repassa a finura e a bonomia presentes no comportamento feminino. A ausência da mãe na infância causa à Luíza certas inquietações ao retornar para casa, pelo fato de nunca tê-la conhecido. As dúvidas são maiores do que as certezas: “ [...] Encontrei minha mãe no seu salão, onde nada foi mudado. Ela estava em grande toalete. De degrau em degrau eu a mim mesma perguntava como seria para mim essa mulher, que foi tão pouco mãe que, em oito anos, dela não recebi mais do que as duas cartas que conheces”. (Balzac, 1955, p. 150)

O fato de não ter tido anteriormente contato com a mãe não anula a contribuição que essa deve dar-lhe na nova fase de sua vida. Por mais que Luíza não sinta afeição profunda pela figura materna, indubitavelmente é a mãe que torna-se o modelo mais próximo naquele momento, preparando-a para participar do mundo em que sua família está inserida. Ao ver a toalete da mãe, percebe o que isso significa: “A encantadora toalete de minha mãe era a primeira revelação daquele mundo entrevisto em nosso sonhos [...]. Sua beleza venceu-me, perdoei-lhe o abandono em que me deixara, compreendi que uma mulher como ela fora arrastada pelo seu papel de rainha [...]”. (Balzac, 1955, p. 151)

Luíza compreende que a mulher se exime de muitas coisas para assumir um papel de influência na sociedade aristocrata, chegando ao ponto de entender que o zelo pela vida social implica abandonar a educação dos filhos, inclusive dela própria. A beleza, que é o atributo primordial utilizado pela mulher, demanda tempo e dinheiro para sustentar as exigências da toalete, o que exige, muitas vezes, a abdicação da educação dos filhos.

A negligência da mãe durante a infância da filha é recompensada pelas suas preocupações do presente: “[...] Embora eu queira deixá-la completamente livre, creio que nos primeiros tempos andará acertada se ouvir os conselhos de uma mãe que procederá consigo como uma irmã”. (Balzac, 1955, p. 151)

Os conselhos da mãe são fundamentais para Luíza aprender o comportamento da mulher aristocrata. Essa lhe ensina as regras da toalete, o vestuário mais satisfatório e a linguagem utilizada, elementos esses necessários à mesma para conviver com os aristocratas. Até mesmo para a escolha dos chapéus, a mãe preocupa-se em educar seu gosto, a fim de colocá-la em condições de escolhe-lhos sabiamente. Levar a filha ao chapeleiro e indicar os chapéus adequados que deve usar implica um ensinamento, com um objetivo explícito. Todavia, as mínimas ações cotidianas de sua mãe estão repletas de situações de aprendizagem que não ocorrem propositadamente: “Minha mãe veste-se, nunca é visível das duas horas às quatro: às quatro sai para um passeio de uma hora; recebe das seis às sete, quando não janta fora; depois a noite é preenchida pelos divertimentos, espetáculos, bailes, concertos, visitas [...]”. (Balzac, 1955, p. 155)

O comportamento da mãe evidencia como uma mulher influente deve comportar-se no decorrer do seu dia. É necessário gastar horas na toalete, passear nos bulevares, receber visitas, jantar fora, enfim, freqüentar lugares públicos e manter uma intensa vida social. A mulher influente não pode isolar-se em casa, relacionando-se apenas com os seus familiares. Ela precisa estar bela e manter um contato muito próximo com a sociedade aristocrata para ter o poder de influenciar seus participantes.

A educação do convento para a vida religiosa não condiz com a educação para a vida social. É necessário educar Luíza para uma vida diferente, onde o seu comportamento em público determinará seu êxito. A vida no convento implica hábitos, costumes e valores diferenciados dos da vida em sociedade. Aqueles precisam ser substituídos pelos hábitos da vida secular. É a educação que garante essa substituição. Para poder freqüentar as altas esferas sociais Luíza precisa obter os conhecimentos veiculados pela sociedade aristocrata. É possível perceber, então, que a educação de uma jovem dá-se inicialmente pelos membros de sua família, para ser completada, posteriormente, pela sociedade. Para entrar nas altas esferas sociais aristocratas, a mulher precisa adquirir, de antemão, determinados conhecimentos que são repassados pela família, mas, principalmente, pelo sexo feminino. A seqüência desse aprendizado na vida social vai depender, em grande medida, da própria mulher.

O comportamento da avó e da mãe, acrescido dos diálogos com Renata no convento, das indicações da governanta, Miss Griffith, escolhida para acompanhá-la, e das leituras que efetua na biblioteca paterna contribui para preparar Luíza para a vida em sociedade e, assim, torná-la uma mulher influente: “[...] E além disso, querida, tudo está em harmonia: um andar, uma voz! A gente se lembra dos meneios da saia da avó, que nunca a tocava: enfim, sou bela e graciosa”. (Balzac, 1955, p. 158)

Essa mulher precisa, além de saber agir e adotar determinadas atitudes, possuir o arsenal de instrumentos para compor seu “armamento”. O andar, o sentar, o caminhar e o falar devem estar de acordo com os padrões sociais e as regras de convívio. Essas regras já são discutidas por Erasmo (1998) no século XVI, quando tudo aquilo que parece perfeitamente natural precisa ser ensinado. Para conviver em sociedade, a mulher tem que aprender a comportar-se conforme determina as regras de conduta estipulados por seu meio social, nesse caso, o aristocrata. Não basta simplesmente saber baixar os olhos, mas fazê-lo de maneira natural, delicada e graciosa. Enfim, as minúcias do comportamento feminino devem ser aprendidas. Luíza compreende isso, ao ser presenteada por seu pai: “[...]. Tenho fitas, calçados, luvas, tudo em profusão. Meu pai deu-me graciosamente o que requer uma moça: um necessaire, uma toalete, uma caçoila, um leque, uma sombrinha, um livro de orações, uma corrente de ouro, um xale de cachemira [...]”. (Balzac, 1955, p. 159)

Os acompanhamentos e os ornamentos são os primeiros requisitos de uma mulher. Cada objeto deve ser usado no momento certo e da maneira correta. Possuí-los de nada vale se a mulher não saber usá-los adequadamente. Um balançar mais brusco do leque, uma sombrinha que não acompanha o andar ou errar o passo ao dançar uma quadrilha podem comprometer o sucesso da mulher, que receberá mais críticas do que elogios. Após os devidos ensinamentos, que se iniciam na infância e são completados na juventude, a mulher está apta para assumir seu papel na sociedade. Na passagem que segue, Luíza revela a repercussão de sua entrada nas esferas sociais da alta aristocracia: “À noite, fui ao baile, e fiquei ao lado de minha mãe, a qual me deu o braço com um devotamento bem recompensado. As honras eram para ela, eu servi de pretexto para as mais agradáveis lisonjas [...]”. (Balzac, 1955, p. 161)

O primeiro baile é apenas o início da vida social da mulher. Para ser notada e admirada pelos homens é necessário manter uma vida social ativa, freqüentando salões, teatros, óperas e bailes. Nesses locais, que são públicos, a mulher deve assumir um comportamento satisfatório para garantir o êxito nas relações sociais: “Faz quinze dias, querida que vivo a vida mundana: uma noite, nos Italianos, a outra na Grande Ópera, e daí sempre para os bailes. Ah! A sociedade é um deslumbramento [...]”. (Balzac, 1955, p. 172)

Essa vida social ativa implica que a mulher, além de freqüentar as óperas e os teatros, deve também receber visitas em seu salão e participar das recepções em outros salões. O espírito de uma mulher como Luíza nutre-se da aprovação constante das pessoas de seu círculo social. Para Berger (1983, p. 107), que estuda a influência do ambiente social sobre o homem no século XX, é o meio social que determina o que a mulher deve ser e fazer, indicando a conduta a ser adotada em diferentes situações.

Além de apresentar-se adequadamente, a mulher precisa também saber conduzir-se diante de determinadas situações, evitando manifestar uma opinião negativa acerca da sociedade. A mãe lhe mostra e ensina que o bom gosto e a etiqueta social exigem que a mulher se expresse de forma sutil e dissimulada, não expondo explicitamente o pensamento e o conhecimento acerca dos fatos, dos acontecimentos e das pessoas. É somente no meio familiar que a mulher pode expor suas idéias e opiniões sem correr o risco de ser criticada: “Em família - respondeu minha mãe - pode falar sem receio” (Balzac, 1955, p. 174). Se essas opiniões são expostas sem critério e de maneira desmedida, a mulher corre o risco de ser criticada por estar expressando um julgamento negativo em relação a atitude de seus pares. 2

Essa atitude dissimulada deve também conduzir a relação conjugal. Renata aconselha Luíza a utilizar a beleza para encantar e agradar o homem. Para Renata, convém à Luíza influenciar Henarez, seu futuro marido, para torná-lo um grande homem, ao invés de adotar uma atitude de dominação explícita: “Podes [...] fazer surgir o leão oculto nesse homem verdadeiramente superior. [...]. Será que não te sentirás orgulhosa de exercer teu poder de outro modo que não em teu proveito, de fazeres um homem de gênio de um grande homem [...]?” (Balzac, 1955, p. 261).

Aspectos Conclusivos

A análise desse romance nos possibilita verificar que a mulher precisa encontrar exemplos à sua volta para utilizar o vestuário adequado, possuir uma toalete impecável e agir de maneira acertada para influenciar o homem. É necessário aprender a dissimular sua influência para não prejudicar a ambos. Desse modo, a mulher consegue alcançar os objetivos que almeja sem desmerecer seu cônjuge, utilizando-se da sutileza para influenciá-lo. É o equilíbrio desses elementos que lhe assegura conquistar a confiança do marido e de seus pares.

Para influenciar o homem a mulher precisa saber conquistar o marido e a sociedade, comportando-se de acordo com as regras sociais estabelecidas. Embora exerça influência sobre o cônjuge, a esposa não deve exercer um domínio explícito, sob pena de comprometer a relação conjugal.

Dependendo da educação que recebe, a mulher estabelece as estratégias que lhe convém para atingir seus alvos, a partir do aprendizado familiar e social. Sem essa educação, a mulher não consegue apropriar-se das habilidades para influenciar o sexo masculino. Como afirma Erasmo (1998, p. 31) no século XVI, ao falar da educação, “[...] ninguém pode escolher os próprios pais ou a própria pátria, mas cada qual pode plasmar a sua personalidade pela educação”.

Assim, a análise do processo educacional das mulheres no século XIX possibilita ao Assistente Social compreender a importância da família e da sociedade para a formação da personalidade feminina. Além disso, um outro aspecto que merece destaque refere-se à possibilidade desse profissional compreender e visualizar a importância da influência feminina em qualquer momento histórico. Podemos aprender, com as mulheres francesas que viveram no século passado, as artimanhas e os ardis para conquistar determinados objetivos. As mulheres atendidas pelo Serviço Social, podem aprender, também, que é possível reordenar o comportamento feminino no século XX para alcançar, de maneira mais satisfatória, os anseios e os desejos femininos nas relações sociais.


NOTAS

1 O nascimento de Balzac, em 1799, coincide com a ascensão de Napoleão ao poder; e sua morte, em 1850, com as barricadas de 1848. O escritor testemunha o Império, a Restauração da monarquia e a Revolução de 1830. [volta]

2 Segundo Prado, uma autora contemporânea que também analisa a educação da mulher para ser esposa na França do século XIX, a reputação se baseia nas aparências, pois é ela que possibilita ao homem e à mulher atenderem os objetivos pessoais, satisfazer a vaidade, tirar vantagens pessoais e materiais, granjear créditos comerciais e relações de negócios, enfim, servir aos interesses pessoais e profissionais. (Prado, 1979, p. 87-8) [volta]


ABSTRACT

The goal of this article is to identify the educational developmental process of the French woman between 1815 through 1848, through two romantic works, The Memoirs of Two Young Wives, of Balzac. The education of the Luíza reveals that the women learn to: accentuate beauty with an impeccable style of dress, utilize the latest fashions, entertain guests and meet important and influencial people. The historic analysis makes it possible for the Social Service to understand the importance of the family context, as well as the education process to which men are subjected in virtue of the demands of production in the material life.

Key words: educacion, woman, France.


BIBLIOGRAFIA

BALZAC, H. A Musa do Departamento. In: A Comédia Humana. Rio de Janeiro: Globo, 1955. v. 6.

_______. Memórias de Duas Jovens Esposas. In: A Comédia Humana. Rio de Janeiro: Globo, 1955. v. 1.

BERGER, P. Perspectivas Sociológicas. Uma Visão Humanista. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1983.

BRANDÃO, C. R. O que é Educação. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção Primeiros Passos).

DURKHEIM, E. A educação como Processo Social. In: Educação e Sociedade. São Paulo: Ed. Nacional, 1978.

ERASMO. A Civilidade Pueril. Revista Intermeio, Campo Grande, n. 2, 1998. Encarte Especial.

_______. Revista Intermeio, Campo Grande, n.. 3, 1998. Encarte Especial.

GASTALDI, S. Vida e obra de Balzac. São Paulo: Guaíra, 1940.

LAMPHERE, L. Estratégias, Cooperação e Conflito entre as Mulheres em Grupos Domésticos. In: A Mulher, a cultura e a sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

KRUPPA, S. M. P. A Educação como tema da Sociologia. In: Sociologia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.

PRADO, D. Ser Esposa a mais Antiga Profissão. São Paulo: Brasiliense, 1979.

ROSALDO, M. Z. A mulher, a cultura e a sociedade: uma revisão teórica. In: A Mulher, a cultura e a sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 1979.

>> volta para índice