O PAPEL DA UNIVERSIDADE NA CONSTRUÇÃO DO SABER SOBRE IDOSOS*
Leonardo Prota

* Palestra proferida no 3º Fórum das Instituições de Ensino Superior do Paraná sobre projetos com a terceira idade, em 17/09/99
RESUMO

Na construção do saber sobre idosos, a Universidade cumpre sua tarefa quando se trata de conhecimentos que elevam, de forma significativa, a expectativa de vida. Viver muito não é suficiente; é preciso viver melhor. Nesse sentido, de melhoria de qualidade de vida, a Universidade tem muito caminho, ainda, a percorrer; cabe à universidade provocar uma mudança cultural, de integração do idoso no contexto social.

Palavras-chave: Universidade, terceira idade, mudança cultural, qualidade de vida, integração social.


É amplamente conhecida a previsão de que, em 2020, o Brasil terá em sua população entre 15 e 17% de pessoas com mais de sessenta anos de idade; isso representa uma massa humana de aproximadamente 32 milhões de pessoas. Atualmente, o Brasil conta já com 12 milhões de pessoas acima de sessenta anos.

“A questão do envelhecimento populacional atinge a todos nós (CORRÊA, 1996), não só como pessoas que somos, caminhando para o nosso próprio envelhecimento, mas também porque estamos sofrendo contínuas mudanças, em nossa maneira de ser e de sentir a cada período de tempo, em nosso corpo e em nosso espírito, e na observação da sociedade que está à nossa volta. A cada dia nos deparamos com os mais velhos em nosso círculo de parentes, amigos, clientes e nas ruas e, entretanto, sabemos tão pouco sobre eles”.

O tema que me foi proposto leva por título: “O papel das Instituições de Ensino Superior no Brasil, na construção do saber sobre idosos, e os aspectos filosóficos, teóricos e metodológicos dos projetos com a terceira idade”. Considero o tema um pouco ambicioso; na tentativa de desenvolvê-lo, abordarei o assunto em dois tópicos:
1. O papel da Universidade
2. Projetos com a terceira idade.


1. O papel da universidade na construção do saber sobre idosos

Com muita propriedade, Luis Carlos Guedes Pinto, Pró-Reitor de Desenvolvimento Universitário da UNICAMP, em recente publicação, salienta as principais funções da Universidade: geração e transmissão de conhecimentos para a sociedade na qual ela está inserida. Essa sociedade, que financia e mantém indiretamente as atividades da Universidade, deve usufruir do repasse do saber criado, desenvolvido e reproduzido por docentes e pesquisadores.

Porque é importante que a sociedade financie a produção de conhecimentos? – ele pergunta. “Não me parece plausível outra razão que não a de orientar a mudança – ele afirma (FOLHA DE SÃO PAULO, 04/08/99). O ideal universitário é transformar realidades e fatos a partir do conhecimento. A Universidade, portanto, deve ser o motor da dinâmica social, como local privilegiado de discussão e reflexão”.

Esse é o ponto de partida de nossa reflexão: papel da Universidade é o de orientar a mudança; transformar realidades e fatos a partir do conhecimento.

Há um grande número de mitos, em sua maioria negativos, que acompanham o envelhecimento e a velhice. Os mais comuns, de acordo com as considerações feitas pela Organização Mundial de Saúde, são os seguintes: 1. A maioria dos idosos vive em países desenvolvidos; 2. Todos os adultos com mais de 65 anos se assemelham; 3. O homem e a mulher envelhecem da mesma forma; 4. Pessoas idosas têm saúde frágil; 5. Idosos já não tem com o que contribuir à sociedade; 6. Velhos são uma carga econômica para a sociedade. (GAZETA DO POVO, 5/8/99).

Cabe à Universidade desmitificar essas crenças. De fato, a maioria dos idosos pertencem aos países em desenvolvimento; mais de 60%. Por outro lado, as pessoas envelhecem diferentemente uma das outras. “Para umas, o envelhecimento é um longo processo de volta para si mesma e de enriquecimento interior, de crescimento do espírito, de aquisição de sabedoria, de tolerância e discernimento e de percepção do belo nas pequenas coisas da vida. Para outras, o envelhecimento é uma longa fase de torturas e sofrimentos, de angústia e medo da morte próxima, de perdas importantes e irrecuperáveis, de dores e doenças, de solidão e isolamento do mundo. De alienação e de menosprezo por parte da sociedade” (CORRÊA, 1996).

Em outras palavras, há um envelhecimento saudável, ou senescência; e um envelhecimento patológico, ou senilidade. Tarefa da Universidade é tratar de um e de outro tipo, tendo em vista a mudança, de ampliar o mundo da senescência e diminuir o da senilidade.

“Felizmente, para a maioria das pessoas, o envelhecimento saudável é a regra (CORRÊA, 1996), e elas vivem independentemente, gozando de razoável saúde física e mental, em contato com os seus familiares e a sociedade. Essa forma de envelhecer está muito vinculada ao modo de vida pregresso do indivíduo: quanto mais ativo e dinâmico ele foi em seu passado; quanto mais criativo, generoso, participante nas atividades da comunidade e com investimentos emocionais em diversas áreas (trabalho, família, sociedade, lazer, viagens...), mais ela terá um envelhecimento saudável e preserverá suas funções cognitivas até idades provectas”.

Aliás, a principal revelação de uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) intitulada “Como vive o idoso brasileiro” (FOLHA DE SÃO PAULO, 6/8/99), é de que a maioria da população brasileira que já completou 65 anos continua trabalhando; continua na chefia da família e contribui com boa parte do rendimento familiar. O estudo mostra que é errada a idéia de que as pessoas mais jovens trabalham para sustentar uma suposta inatividade dos idosos; apesar da idade, formam um contingente ativo 62% das pessoas com mais de 65 anos, trabalhando 40 horas semanais; por sua vez, depois dos 80 anos, os idosos que trabalham, em média, dedicam 32 horas semanais. Analisando a importância, sempre crescente, do papel desenvolvido pelo idoso no âmbito familiar, o estudo mostra também que as mulheres com mais de 65 anos de idade vêm ganhando responsabilidades: enquanto, em 1986, 35% das mulheres idosas chefiavam sua família, contra 89% dos homens; dez anos depois, o número entre a população idosa feminina saltou para 42%, mantendo-se inalterada a situação dos homens idosos.

Desse estudo podemos salientar um aspecto de suma importância para melhor definir o papel da Universidade com relação ao idoso. Não se trata somente de produção de conhecimentos que elevem, de forma significativa, a esperança de vida; só viver muito não é suficiente. Precisamos viver melhor. E a maneira de o idoso viver melhor é de se sentir integrado socialmente, com o reconhecimento de suas responsabilidades e de seu valor. Proporcionar ao idoso somente proteção e compaixão não o dignifica; isso significa segregação.

Integração é o contrário de segregação; o que acontece hoje é segregação, esquecendo que a velhice constitui tão somente uma etapa da vida, assim como a infância, a juventude, a virilidade; e a vida é uma só. Viver significa poder levantar, de manhã, com projetos a realizar, vivenciar o dia realizando projetos, descansar à noite com a alegria do reconhecimento de projetos realizados ou de reformulação de estratégias para o dia seguinte.

Cabe à Universidade provocar essa mudança cultural, de integração do idoso no contexto social. Uma boa época para se pensar sobre a velhice é a juventude, porque só assim é possível melhorar as chances de viver a velhice, quando chegar. Integrar as várias etapas da vida, como um todo, é o maior desafio da Universidade na produção de conhecimentos, tendo em vista a mudança cultural.

Muito maior esse desafio, se considerarmos que o Estado não está preparado para desempenhar esse papel de integração, como evidenciam jornais e revistas de âmbito nacional, que circulam durante esses últimos meses, por ser este o ano internacional do idoso.

Até o Papa João Paulo II denuncia a marginalização do idoso (GAZETA DO POVO, 26/7/99). Ele salienta que a velhice já foi sinônimo de sabedoria e equilíbrio, mas, nas sociedades com avançado desenvolvimento industrial e tecnológico a condição do idoso é ambivalente. Por um lado, os idosos são cada vez menos integrados à família e à sociedade; e, por outro lado, são procurados, em particular por casais jovens, que acham que os avós são uma ajuda indispensável na educação dos netos. Trata-se de um modelo social dominado pela economia e o lucro; um modelo social dominado pela economia do benefício que castiga as populações não produtivas e julga as pessoas em função de sua utilidade e não por ela mesma. “A velhice é um valor em si – continua o Papa–. As pessoas idosas recordam a todos, em especial aos jovem, que a vida sobre a terra é uma parábola com um começo e um fim”.

Dessas palavras do Papa João Paulo II podemos inferir que, tratando-se de um modelo dominado pela economia, é tarefa da Universidade promover mudanças culturais no âmbito desse modelo, pela criação de conhecimentos com base em soluções econômicas. É sempre um projeto político que provoca mudanças e todo projeto político é embasado em projeto econômico.
Assim, por exemplo, a Comunidade Européia está alcançando sua união político-social através de experiências no plano econômico, do mercado comum; ao passo que o Mercosul ainda não encontrou seu lastro comum cultural porque não se consolidou no plano econômico.

Não é possível pensar em integração social do idoso mantendo-o segregado economicamente, diminuindo sempre mais os recursos básicos para sua sobrevivência, como acontece na atualidade. A Universidade não pode eximir-se da tarefa de apresentar estudos viáveis, ao Estado e à Sociedade, para que o idoso possa ter uma vida economicamente digna, visto que durante toda a sua vida contribuiu para isso.

Por sua vez, se a vida sobre a terra é uma parábola com um começo e um fim, como salientamos na palavra de João Paulo II, podemos comentar uma expressão semelhante discutida entre estudiosos de bioética ao tratar do princípio da autonomia do paciente, essa parábola tem um começo, um meio e um fim.

No começo, o ser humano apresenta fragilidade e sua existência precisa de cuidados; na juventude a na virilidade, o homem sente-se na plenitude de sua vida e toma decisões com plena autonomia, investindo no seu futuro; quando o futuro torna-se presente, no fim da parábola, o idoso sente-se traído, como se precisasse nova e simplesmente de cuidados, como no início de sua existência, não lhe sendo facultado mais o uso de sua autonomia. Isso pode ser válido tratando-se de senilidade, ou seja, de idoso patológico; não, porém, quando se trata de senescência, ou seja, de envelhecimento saudável e ativo, que é o caso da maioria.

Toda ação cultural baseia-se em valores e as manifestações culturais complementam-se dialeticamente, tendo em vista esses valores. Ora, o que caracteriza um objeto valioso é o seu dever ser, ou seja, o projeto de ser, de decidir, assumir, viver... e não a triste constatação do acabado e definido.

Para nós brasileiros, que ainda pensamos viver num país de jovens, falar sobre a velhice seria falar sobre o obsoleto, pois moderno é ser jovem. Contudo, o sonho da longevidade é um sonho de muitos ainda hoje; não adianta, porém, querermos viver demasiado se não vivermos bem o presente. “Envelhece-se como se viveu (CORRÊA, 1986). Na verdade, em nosso envelhecimento vamos continuando a ser como sempre fomos, apenas acentuando muitos dos nossos traços de caráter e tendo outros atenuados. Passamos, também, por um processo de regressão em nosso envelhecer normal que, de certa forma, recapitula, em direção oposta, os passos da personalidade da criança e do adolescente descritos por Piaget”.

É essa mudança, da integração social do idoso, da criança e do adolescente, que a Universidade deve promover. De fato, a Universidade, com o surgimento da psicogeriatria, que é uma subespecialidade médica da psiquiatria; com pesquisas realizadas pelas ciências biomédicas, pela psicologia e sociologia, desempenha perfeitamente o seu papel de criação de conhecimentos quanto à expectativa de vida; o que falta, ainda, é o aprofundamento da questão da integração social do idoso, a partir do fato de que a velhice é um valor em si.


2. Projetos com a terceira idade

É com prazer que assistimos hoje a uma série de estudos e iniciativas destinadas à terceira idade. O número das publicações está aumentando continuamente e as atividades a que a literatura dá origem são as mais variadas. A própria UEL está inserida sempre mais nesse contexto, através da UNATI, Universidade Aberta à Terceira Idade.

Não é objeto desta nossa reflexão a análise de todo esse leque de atividades e iniciativas, mas, tão somente, aprofundar a base filosófica que deve nortear a nossa ação nesse contexto.

A título de exemplo, evidenciamos o Programa de Estudos da Terceira Idade da Pontifica Universidade Católica do Paraná que, criado em 1992, desenvolve atividades relacionadas com o saber, o fazer e o lazer, possibilitando, assim, uma vida ativa, independente da idade que se tenha, pelas oportunidades de novos aprendizados e de convívio social. Esse programa compreende um Curso de Atualização Cultural e uma série de Cursos de Extensão, tais como Arte de viver, Atividade física e lazer, A Bíblia e suas versões, Canto coral, Envelhecer com saúde, Filosofia e atualidade, Filosofia e arte árabe, História da Arte, História da Música, Informática, Jardinagem, Línguas (Espanhol, Inglês, Italiano), Orquidofilia, Pintura, Teatro.

O que há de comum, em todas essas atividades, é evidenciado pela frase de Jaac Azimov, citada no texto:
“A essência da vida é descobrir algo que se goste fazer, que dê sentido à vida, e depois se colocar em situação que permita fazê-lo”. Isso significa que a Universidade, que constitui o espaço institucional privilegiado para se discutir as questões relativas ao envelhecimento e à velhice, em modo particular deve aprofundar o conceito de pessoa.

Em outra oportunidade, definimos a pessoa como “o ente que se expressa a si mesmo no ato de entender, querer e amar” (Dizionario delle idee – Centro di studi filosófici di Gallarate). Essa definição resume um longo processo especulativo pelo qual o conceito de pessoa foi gradativamente elaborado e clarificado.

É certo que os gregos não elaboraram o conceito de pessoa no mesmo sentido que os autores cristãos; eles tiveram somente uma intuição. Coube ao cristianismo, a partir de controvérsias trinitárias e cristológicas surgidas no século IV, proceder a uma progressiva precisão terminológica e conceitual a respeito da idéia de pessoa.

Por essa progressiva conceituação terminológica, ficou evidenciado, também, o sentido etimológico do termo grego-latino de pessoa: máscara, usada para desempenhar um papel nas representações; quer dizer, algo sobreposto à pura e simples individualidade. Só que não se trata de esconder a individualidade, mas de dar-lhe a possibilidade de pôr em evidência o papel que o ser vem desempenhando em sua atividade criadora.

O primeiro autor cristão que desenvolve em profundidade o conceito de pessoa é Santo Agostinho. Ele baseou-se, em modo particular, em Aristóteles, levando em consideração a Ética a Nicômaco, sobretudo as passagens em que são descritas as relações entre seres humanos (por exemplo, entre amigos). Contudo, para chegar à plenitude da noção de pessoa, Agostinho teve que recorrer a dados da experiência, que, desde então, chamou-se de experiência pessoal.

A idéia de pessoa, em Agostinho, afasta-se da relativa exterioridade e avança para a intimidade. A experiência e a intuição da interioridade serviram a Agostinho para fazer dessa relação consigo mesmo, não uma relação abstrata, mas uma relação concreta e real. Nesse contexto fica mais clara a definição dada anteriormente: pessoa é o ente que se expressa a si mesmo no ato de entender, querer e amar; ou seja, o ser que tem vida interior e manifesta essa vida interior a si mesmo e aos outros no ato de entender, querer e amar.

Uma das pessoas mais influentes na história da elaboração do conceito de pessoa é Boécio. Ele analisa o sentido etimológico, de máscara, tão somente como ponto de partida para um maior aprofundamento na linguagem filosófica e teológica. Define assim a pessoa: “substância individual de natureza racional”, quer dizer, uma substância que existe por direito próprio, com características próprias e individuais, não repetíveis.

A pessoa é uma substância que existe por direito próprio, e totalmente irreptível. Ou seja, o ser da pessoa é um ser próprio, que pertence a si mesmo e não depende do outro.

Autores modernos, além dos elementos metafísicos mencionados, introduziram elementos psicológicos e éticos, aprofundando, assim, o conceito de pessoa. Dessa forma, estabeleceu-se uma clara distinção entre a noção de indivíduo e a noção de pessoa.
O indivíduo está determinado em seu ser; a pessoa é livre, se auto-determina. O indivíduo é definido negativamente, ou seja, alguém é indivíduo quando não é o outro; a pessoa pode ser definida positivamente, ou seja, enquanto ela própria se expressa no ato de entender, querer e amar.

Podemos, portanto, ressaltar três características determinantes da pessoa: interioridade, que transborda nas relações consigo mesma e com o outro; propriedade, que implica em sua identidade irrepetível; liberdade, que desemboca em auto-mediação, visto que a pessoa, de acordo com Kant, é a liberdade de um ser racional sob leis morais, impostas a si mesmo por ele mesmo.

Nessa tarefa de a Universidade aprofundar o conceito de pessoa pode ser encontrada a motivação para uma mudança cultural, na sociedade, a respeito da integração: idosos, jovens e crianças.

Salientamos que falar em pessoa, fala-se em evidenciar o papel que o ser vem desempenhando em sua atividade criadora. Nesse contexto, de evidenciar o papel que o ser vem desempenhando em sua atividade criadora é que fazemos referência a outra atividade desenvolvida no Distrito Federal, o Projeto Reminiscências: Integrando Gerações (SOUZA, 1999). Esse projeto visa não apenas integrar gerações, mas as instituições públicas de saúde, de educação e de cultura. Torna-se sempre mais evidente a importância do processo de reminiscências para os idosos, para os jovens, para as equipes de profissionais e para toda a sociedade. Com o passar dos anos, as pessoas vão registrando na memória fatos de toda natureza; quer dizer que, quanto mais avançam em idade, as pessoas têm guardadas mais histórias em seus “livros íntimos”. Essas lembranças, se não forem contadas e registradas, serão perdidas, causando enorme prejuízo às gerações futuras.

A propósito de reminiscências, Norberto Bobbio insiste na necessidade de ir sempre mais a fundo nesse processo. Assim ele se expressa: “O tempo da memória segue um caminho inverso ao tempo real (BOBBIO, 1996): quanto mais vivas as lembranças que vêm à tona de nossas recordações, mais remoto é o tempo em que os fatos ocorreram. Cumpre-nos saber, porém, que o resíduo ou o que logramos desencavar desse poço sem fundo, é apenas uma ínfima parcela da história de nossa vida. Nada de parar. Devemos continuar a escavar! Cada vulto, gesto, palavra ou canção, que parecia perdido para sempre, uma vez reencontrado, nos ajuda a sobreviver”.

Nós, os idosos, não queremos migalhas: ajuda, conforto, compreensão, assistência...; queremos o banquete: viver, sentir, planejar, executar...; e essa vida, que é uma só, queremos vivê-la intensamente.

Considerações Finais

Ao definirmos o papel da Universidade na construção do saber sobre idosos, salientamos que a Universidade cumpre a contento sua tarefa de produção de conhecimentos que elevem, de forma significativa, a expectativa de vida; só que viver muito não é suficiente.

É preciso viver melhor. E a maneira de o idoso viver melhor é de se sentir integrado socialmente; ou seja, cabe à Universidade provocar uma mudança cultural, de integração do idoso no contexto social.

Ao verificarmos os projetos existentes com relação à terceira idade, chegamos a identificar que para dar oportunidade de descobrir algo que dê sentido à vida e, assim, colocar o idoso em situação de poder realizar esse ideal, é preciso, inicialmente, aprofundar o conceito de pessoa.

Traçamos as principais características determinantes da pessoa: sua vida interior que se comunica no ato de entender, querer e amar; sua identidade irrepetível; sua liberdade, que leva o ser a construir o mundo da cultura, ou seja, o mundo dos valores.

O valor, de acordo com Nicola Abbagnano (Dicionário de Filosofia), não é somente a preferência, mas é o preferível, o desejável; o valor não é um mero ideal, mas é, antes, o guia das próprias escolhas. Assim sendo, a melhor definição de valor é aquela que o considera como uma possibilidade de escolha, isto é, como uma disciplina inteligente das escolhas que pode conduzir a eliminar algumas delas ou a declará-las irracionais ou nocivas, e pode conduzir a privilegiar outras, ou seja, a determinar as autênticas possibilidades de escolha, fundamentando, assim, a universalidade e a permanência.

É isso o que o idoso espera e exige da Universidade, sobretudo considerando que a função primordial da Universidade é a criação, manutenção e difusão de valores.


ABSTRACT
In the pursuit of a better understanding of the elderly, the University fulfills its duty when acquires knowledge which increases, significantly, life expectancy. To live longer is not enough; it is necessary to live better. In the sense of improving the quality of life, the University has, still, a long road ahead; it is the University’s responsibility to bring about a cultural change, aiming the integration of the elderly in the social context.

Key-words: university; third age; cultural change; quality of life; social integration


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