OS IMPACTOS DAS DIMENSÕES SOCIETÁRIAS CONTEMPORÂNEAS E O PERFIL DO ASSISTENTE SOCIAL

Drª Ana Carolina Santini B. de Abreo*
Adriana de Oliveira**
Alysson A. Lima Desan**
Elisângela A. Cóis Ferreira**
Renata Mendes Ribeiro**
* Assistente Social, professora do Departamento de Serviço Social da UEL, doutora em Serviço Social pela PUC-SP, coordenadora da pesquisa.
** Estagiárias bolsistas PIBIC/CNPq/UEL.

RESUMO

Este texto é produto de reflexões ocorridas no interior da pesquisa “As Questões Sociais Contemporâneas e as Demandas da Profissão Frente à Reconstrução do Projeto de Formação do Assistente Social” e está voltado para análise das caracteristicas essenciais do perfil profissional capaz de atender as demandas do mercado de trabalho que estão sendo postas para o Serviço Social na atualidade.

Palavras-chaves: Serviço Social; Perfil Profissional; Conhecimentos e Habilidades; Questões Contemporâneas


Os contornos neoliberais que se dão no auge da crise global de expansão do capitalismo, permeiam a prática do assistente social e promovem o delineamento de um novo perfil profissional.

Nos últimos anos, com a promessa de crescimento econômico, ocorrem rearranjos políticos e, segundo Almeida,

nos anos noventa, sob a imposição do FMI/Banco Mundial, os governos latino-americanos vêm executando sistematicamente o receituário neoliberal. (...) As conseqüências deste processo podem ser comprovadas no aumento da pobreza e miséria, evidenciadas na massa de excluídos que se adensa frente a uma política que conjuga uma perversa distribuição de renda, a redução do salário real e deterioração dos serviços sociais (Almeida e Alencar, 1995, p. 278).

Neste contexto mediatizado por alterações políticas, sociais e econômicas se encontra o Serviço Social como profissão inserido neste processo de mudanças que estão ocorrendo na América Latina e no mundo, pois o Brasil, é profundamente atingido pelas transformações originadas pela globalização dos mercados e o avanço do neoliberalismo, que proclama a redução dos encargos do Estado para minimizar os custos, dentre eles os recursos destinados a implementação das políticas sociais. Portanto, há cada vez mais uma redução maior das responsabilidades do Estado sobre a Seguridade Social e os Direitos Sociais da população.

Conforme Raquel Gentilli:

No momento em que vivemos manifestações particularmente desconcertantes de uma nova realidade mundial que se avizinha, anunciando o estraçalhamento dos padrões societários herdados do pós-Segunda guerra Mundial, resta-nos muitas perguntas e perplexidades em face aos sinais desta nova ordem, sobretudo em relação aos segmentos mais pauperizados e excluídos da população brasileira em relação ao acesso a padrões dignos de seguridade social (1998, p. 9).

Estas transformações societárias vêm implicando, não só na emergência de novas demandas para o Serviço Social, como na necessidade premente de redimensionar a formação profissional a partir de procedimentos investigativos que tomem como objeto as mudanças do espaço ocupacional do Assistente Social

Ademais, é preciso pensar a formação profissional sob a égide curricular, considerando que é em suas escolas, que o Serviço Social estimula e efetiva elementos constitutivos à formação acadêmica e profissional dos futuros assistentes sociais.
Desta forma, a Universidade Estadual de Londrina, especificamente o Departamento de Serviço Social, e o corpo de seus professores tem estudado e debatido a Reformulação Curricular em curso desde 1996. Portanto, os dados a serem apresentados sobre o perfil profissional neste artigo são o resultado da pesquisa que foi desenvolvida nos dois últimos anos com vistas a contribuir com o processo de Revisão Curricular, focalizando as alterações e as demandas manifestas pelos Assistentes Sociais das regiões Norte, Noroeste e Oeste do Estado do Paraná e nos Diversos Estados Brasileiros na prática do Assistente Social no âmago da crise capitalista do final do século 20.

Perfil Profissional de Serviço Social dos anos 90

O Serviço Social, na efervescência dos anos 90, traz como prioridade a busca pela qualidade dos serviços prestados, coloca em evidência a ética da profissão, engloba toda uma dimensão política, econômica e social que vem determinando a condição de vida do “homem”, e tem influência direta na prática profissional do Assistente Social, bem delineando assim um novo perfil profissional.

O projeto neoliberal que se preconiza acaba por alijar qualquer possibilidade de superação da situação em que se encontram milhões de brasileiros. Temos um Estado voltado para o setor econômico, globalizado e descentralizado, onde se faz o mínimo para as necessidades sociais reais e se aniquila qualquer horizonte que altere o grau de desemprego e miserabilidade que se instalou no Brasil, onde os direitos são escamoteados, impera a política do favor e da ajuda, ao mesmo tempo que os serviços sociais públicos são rechaçados.

Esta realidade leva o Serviço Social a procurar novos rumos, ou seja, o Assistente Social tem que ultrapassar as tarefas terminais burocráticas trazendo para si maiores responsabilidades, através da criação e otimização de novas propostas de atuação que traga respostas concretas às demandas onde o Assistente Social deve ser um profissional propositor e não só executor.

Verifica-se aqui novas determinações da esfera de trabalho do Assistente Social, que requer, segundo Iamamoto:

Um profissional qualificado, que reforce e amplie a sua competência crítica, não só executiva, mas que possa analisar, pesquisar e decifrar a realidade. Alimentado por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano tem ampliado as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida em sociedade (Iamamoto, 1997, p. 31).

Nesta perspectiva, busca-se um profissional sintonizado com as transformações pelas quais passa a sociedade e que consiga visualizar as relações estabelecidas entre os homens frente a este modo de produção no qual se inserem. É mister notar que

a base organizacional do exercício profissional, dependente das organizações públicas e privadas atuantes no campo das políticas sociais, está sofrendo mudanças de forma. Mudança esta decorrente das orientações privatistas da esfera estatal, casadas às novas formas de gestão e controle da força de trabalho, requeridas pelas mudanças tecnológicas e da organização do trabalho no processo produtivo (Iamamoto, 1995, p. 15).

Este processo de reestruturação do trabalho e advento de restrições de recursos e benefícios estatais para área social além de novos aparatos tecnológicos, constituem-se como fatores desencadeantes das mutações nas atividades tradicionalmente atribuídas ao Assistente Social.

Na realidade com o advento de tantas mudanças ocorridas nas relações de trabalho no mundo, o Assistente Social vem se deparando com novas estratégias de intervenção que exigem mais qualificações do profissional e maior intimidade com as novas formas de gerenciamento, não restringindo sua prática somente aos escassos benefícios assistenciais.

Contudo, para delinear as nuanças do perfil profissional na atualidade, o universo da pesquisa buscou em seu processo investigativo reconhecer o perfil profissional de diversas regiões, adotando procedimentos que garantissem a representatividade dos sujeitos escolhidos e uma amostra probabilística que possibilitasse estender as análises à categoria profissional.

A pesquisa focalizou em sua área de abrangência as regiões norte, noroeste, oeste paranaense e diversos Estados nacionais (Via On Line). Entretanto, observou-se que apesar das diversidades regionais, não há um distanciamento temporal e consideráveis alterações do perfil profissional atual, o que permite debater as multidimensões da contemporaneidade.

Perfil Profissional de Serviço Social do Norte do Paraná

A pesquisa sobre o perfil profissional da região Norte do Paraná procurou abranger algumas das diversas áreas onde atua o Serviço Social. Levamos em conta que sua prática cotidiana apresenta nuanças diferenciadas e, por conseqüência, revela distintas caracterizações do ser, e do fazer da profissão.

A partir dos resultados obtidos, verificou-se que na quase totalidade das respostas dos assistentes sociais entrevistados (73.1%) houve uma preocupação salutar com a ética e (61.5%) com a competência técnica e profissional permeando as ações do cotidiano. Para 53.8% dos sujeitos, o Assistente Social deve estar sempre em busca de novos conhecimentos.

Como ressalta um Asssistente Social,

O profissional precisa ter uma competência crítica das questões que permeiam sua realidade, do usuário, das questões sociais em nível regional e municipal, respaldado de uma postura ou trabalho constituída através da interdisciplinariedade, com muita ética profissional e domínio de conhecimento objetivando decifrar a realidade para construção de propostas de trabalho preservando os direitos do cidadão e o seu como parte do coletivo.

A competência política é enfatizada por 42.3% das opiniões, e o compromisso profissional é valorizado por 30.7% das opiniões.
Questões como: conhecimento teórico-prático; posi-cionamento profissional; e relacionamento interpessoal são citados entre 19.2% e 11.5% das respostas, ou seja, estão em menor freqüência, embora encontrados nas diversas áreas da pesquisa como Assistência e Saúde.

É revelada também, a necessidade de o profissional compreender a organização de serviços, grupos e comunidades. Se tratando do Serviço Social de empresa, é fundamental que o Assistente Social conheça a política interna da organização. Estes quesitos foram inferidos pelos profissionais da saúde, assistência e empresa, eqüivalendo a 7.6% do total.

O profissional tem que ser ágil, tem que saber fundamentar suas propostas de trabalho e tem que ser perspicaz para perceber o clima organizacional (profissional entrevistado).

A interdisciplinariedade; o conhecimento sobre as políticas sociais vigentes; a valorização de parceiros; a competência social; a inteligência emocional; o trabalho com a 3ª idade; o conhecimento sobre informática; e a operacionalização de técnicas, somaram 3.8%, ou seja, embora sejam assuntos atuais não foram abordados com muita intensidade, e foram observados entre profissionais que atuam com crianças e adolescentes, na penitenciária, nas empresas privadas e públicas e nos órgãos de Assistência Social.

Com respeito às habilidades apontadas como relevantes por esses mesmos profissionais, temos a informática, as habilidades para relacionamento interpessoal, a alusão aos conhecimentos teóricos, fazendo-se primaz a proficiência em línguas estrangeiras e a capacidade para trabalhar com recursos humanos.

Contudo, constatamos que os Assistentes Sociais não podem mais se restringir em executar apenas as atividades que são tradicionalmente postas, porque o atual mercado de trabalho exige um profissional polivalente, em virtude das grandes mudanças societárias que vem ocorrendo em nosso país decorrente principalmente da globalização, da terceirização e ao avanço do neoliberalismo.

Perfil Profissional de Serviço Social da Região Noroeste

Com relação aos diversos campos onde a pesquisa foi efetuada, verifica-se algumas diferenças quanto aos conhecimentos necessários para a atuação do Assistente Social. Por exemplo: na área da Assistência Social, valoriza-se o conhecimento das políticas sociais e o trabalho de planejamento, envolvendo a elaboração e implantação de projetos. Para isso o profissional deve contar com competência técnica, postura política, criatividade, liderança e espírito investigativo, entre outros predicados que venham contribuir para uma atuação mais dinâmica e eficiente. Na área da saúde, dinamismo, competência técnica e ética devem estar presentes na ação profissional. No campo dos portadores de necessidades especiais valoriza-se a competência técnica, o conhecimento em outras áreas e a interdisciplinariedade, uma vez que este trabalho deve ser realizado com outros profissionais.

Neste ponto, o campo pode ser comparado ao da assistência, onde a inter e multidisciplinariedade são enfatizadas.

Quanto à atuação com crianças e adolescentes, e também ao Serviço Social de comunidade ¾ apontam para vários pontos em comum, como a competência técnica, busca de novos conhecimentos, postura política e ética, confirmando o compromisso profissional em ampliar as áreas de atuação.

O Profissional deve estar em constante processo de atualização e reciclagem profissional, postura política e ideológica definida, devendo atender os interesses da população alvo com a qual trabalha, não ser alienado ao empregador por questão de comodismo, ou por medo de perder o emprego (Sujeito da Pesquisa).

Para o Serviço Social de empresa, lhe é peculiar a necessidade de atender as necessidades de seu público e de sua área de interesse.1

Embora não tenham sido citadas em outras áreas, questões como esta estão subentendida, pois o Assistente Social está inserido em uma complexa relação de forças que lhe exigem posicionamento e decisão, e o usuário deve ser atendido em suas necessidades, pois ele é o objetivo maior de sua atuação.

Embora a pesquisa tenha abrangido duas regiões e diversos campos de atuação, vários pontos foram comuns em todas as respostas, demonstrando maturidade e vontade profissional em estar acompanhando a evolução pelo qual a profissão vem passando, tornando-a mais abrangente em seus aspectos interventivos e exigindo maior capacitação do Assistente Social.

É clara a preocupação com a questão das técnicas e sua aplicação para o exercício profissional, fato que nos leva a questionar o caráter marcadamente prático e interventivo da profissão. Trata-se de uma questão relevante que ainda gera grandes discussões dos intelectuais do Serviço Social (Assistente Social entrevistado).

Entendemos que a Ética é muito valorizada, pois desenvolvemos uma prática voltada para o ser humano na qual deve haver respeito e sigilo em relação à sua história de vida, principalmente quando vivemos sob e égide de uma sociedade que freqüentemente desrespeita a Ética em todos os momentos. Com certeza é tempo de analisarmos como conduzimos nossa ação e em que estamos pautando nossas normas e valores morais.

A busca por novos conhecimentos responde a necessidade do próprio mercado, que exige cada vez mais qualificação ao profissional. Exige visão ampliada dos problemas sociais, da tecnologia que desponta, das novas formas de gerenciamento de serviços, e criatividade para lidar com problemas afins e recursos escassos. Ou seja, procura-se o profissional que ofereça planos, sugestões, soluções, alternativas e, mais que isso, que os concretizem, que os efetive, saia do discurso e indique caminhos e possibilidades a serem seguidos. Os profissionais alvo da pesquisa consideram que é necessário ter conhecimentos e habilidades relevantes para a atuação profissional frente às novas exigências do mercado de trabalho. Nesse sentido, um sujeito da pesquisa aponta:

É preciso que a categoria profissional tenha conhecimento do processo de globalização, domínio de pelo menos uma língua estrangeira, preparo suficiente para prestar um serviço enquanto propositor e não apenas um executor de tarefas (Sujeito da pesquisa).

Deve ainda o profissional estar sintonizado com as políticas sociais, pois são elas as atuais norteadoras das ações do Serviço Social. Conhecê-las é fundamental. Viabilizar parcerias e apresentar argumentos condensados complementa estas políticas. Portanto, conhecer a conjuntura e sua dinâmica enriquece a luta por conquistas.

É necessário buscar constantemente o aprimoramento em diversas áreas do conhecimento humano, ser ágil e ter a habilidade de prever, de perceber as novas exigências do mercado de trabalho (Profissional).

Finalizando esta análise, indicamos o seguinte perfil profissional, geral às regiões Norte e Noroeste do Paraná:

• Ética Profissional;

• Competência Técnico Profissional;

• Busca por Novos Conhecimentos;

• Postura Política;

• Interdisciplinariedade;

• Compromisso Profissional.

Perfil Profissional de Serviço Social da Região Oeste

Ao dissertar sobre o perfil profissional, 60% dos entrevistados, descreveram que é preciso ter um conjunto de competências: técnico- política e ética para a atuação frente à realidade. Foram assinalados também a necessidade de aumentar os conhecimentos teóricos destacando a importância do cumprimento do código de ética. Entretanto, 80% considera outros fatores que conformariam o perfil profissional na atualidade, sendo subdivididos e quantificados da seguinte maneira:

• Maior embasamento teórico-metodológico - (20%)

• Incrementar os conhecimentos sobre Planejamento - (20%)

• Desenvolver a Iniciativa e criatividade - (20%) e

• Conhecimento mais atualizado das políticas sociais - (20%).

É preciso ter conhecimentos referente à informática e principalmente estar se atualizando teoricamente para que sua prática não se torne rotineira. Ressalta ainda um outro sujeito da pesquisa: O embasamento teórico e metodológico e um bom conhecimento sobre as políticas sociais, planejamento e reciclagem, iniciativa e criatividade.

Perfil Profissional de Serviço Social de Diversos Estados Brasileiros

Na opinião de um segmento importante de profissionais, o Assistente Social deve ter conhecimentos básicos das grandes teorias sociais aliadas a capacidade de pensar a realidade de forma crítica e saber apresentar propostas estratégicas.

O profissional tem que corresponder ás exigências de um mundo de economia globalizada, com um avanço tecnológico descomunal e uma competição intensa. O Serviço Social não está fora dessa dinâmica maior. O Assistente Social tem que se preparar, manter – se atualizado e competitivo (Participante da pesquisa).

Entretanto na visão dos assistentes sociais, para que o profissional de Serviço Social possa atender as demandas de uma sociedade globalizada, ele precisa antes de tudo, ter uma consciência política e conhecimento da estrutura da sociedade como um todo. Essa postura política tem que ser clara e apartidária. Já o conhecimento e a competência técnica devem andar juntos e não devem ser dissociados, onde o conhecimento deve estar atrelado há uma visão histórica, percebendo todas as fases da sociedade e dos indivíduos.

Não podemos em Serviço Social perceber o indivíduo separado de seu contexto social e histórico (Participante da pesquisa).

A competência técnica, citada por 8.3% dos profissionais, deve estar aliado a uma postura ética (11.1%) e política( 22.2%).

O perfil profissional adequado é de um Assistente Social dinâmico cuja rapidez de pensamento permita que sugira ações em igualdade de condições com os demais profissionais. Precisamos não apenas de competência técnica, mas também de uma auto – confiança. Os novos conhecimentos são voltados para a nova dinâmica do mundo do trabalho, e um atendimento de documentos estatísticos de modo a que possamos entender as análises que circulam nestes meios (Participante da pesquisa).

O Assistente Social deve ser atualizado (5.5%), criativo (5.5%) e sobretudo equilibrado emocionalmente (2.75%). Ele deve ser crítico (22.5%) pois o contexto o exige; de outra maneira ele continuará tendo uma postura “neutra” que no seu discurso ele tanto critica, mas que na prática lhe é tão difícil esquecer.

Atualmente todas as profissões exigem pessoas mais capacitadas polivalentes e dispostas a “vestir a camisa” do empreendimento a que estão ligados. O Assistente Social em minha opinião necessita de uma especial compreensão das políticas sociais e mecanismos para sua formulação e execução, antes de qualquer tomada de partido político ou partidário (Participante da pesquisa).

Através desta pesquisa, detectamos que os profissionais sentem na prática a necessidade de ter qualificação e habilidades diversificadas como: conhecimento de línguas estrangeiras; conhecimento sobre informática; conhecimento sobre direito; capacidade para trabalhar com programas de qualidade total; domínio sobre as políticas sociais; e os assistentes sociais que trabalham em organizações privadas ressaltaram a necessidade de ter domínio sobre conhecimentos de recursos humanos, pois se não o fazem, acabam perdendo espaço para outros profissionais.

Em suma as opiniões colhidas junto aos profissionais de diversas regiões do Brasil, permitiram tecer estas considerações sobre as mudanças que estão acontecendo no espaço profissional de Serviço Social. e dizem respeito as novas formulações das competências, conhecimentos e habilidades que delineiam o novo perfil profissional almejado.

Este contexto acaba por demandar aos Assistentes Sociais segundo Marilda Iamamoto, 1995:

... sua inserção em equipes interdisciplinares, o seu desempenho no âmbito de formulação de políticas públicas, impulsionadas pelo seu processo de municipalização; o trato com o mundo da informática, a intimidade com as novas técnicas e discursos gerenciais – entre muitos aspectos – o que muitas vezes tem sido lido, enviesadamente, como, “desprofissionalização”, “perda de espaços”, restrição de suas possibilidades ocupacionais.

Reflexões Finais

Faltando quase 200 dias para o próximo milênio, é importante que o Serviço Social como profissão, reconheça as profundas alterações que estão acontecendo. Estas transformações societárias vem implicando, não só a emergência de novas demandas para o Serviço Social, como na necessidade premente de redimensionar a formação profissional a partir de procedimentos investigativos que tomem como objeto as mudanças do espaço ocupacional do Assistente Social.

Desenvolvemos um estudo de caráter quantitativo e qualitativo, com as Assistente Sociais da região de Londrina, de Maringá e Toledo, caracterizando as regiões: Norte, Noroeste e Oeste do Estado, onde se concentra um maior numero de Assistentes Sociais inseridos nos mercados de trabalho regionais. Também foi realizada uma pesquisa via Rede Internet que atingiu diversos estados brasileiros.

De acordo com os resultados podemos salientar que ainda não tem ocorrido uma redução global de demandas de Assistentes Sociais, encontramos sim, uma sensível diminuição de postos de trabalho no Estado, (vagas que já não são mais preenchidas) e também cortes dos recursos orçamentários para as políticas sociais e um aumento de trabalhadores voluntários e de terceirização dos serviços.

Se bem a maioria dos assistentes sociais trabalham em órgãos públicos, federais, estaduais ou municipais, nesses espaços também encontramos modificações nas tarefas desenvolvidas pelos assistentes sociais. Exige-se, cada vez mais que o Assistente Social integre equipes interdisciplinares, que atue no âmbito da formulação de políticas sociais, impulsadas pelo processo de municipalização ; que tenha contato com o mundo da informática e conheça as novas tecnologias e as formas de gestão administrativa – entre outros aspectos.

Quanto aos conhecimentos e habilidades relevantes para a atuação profissional frente as novas demandas do mercado de trabalho: os profissionais apontam que no setor público, ainda que a atuação profissional seja determinada pelas diretrizes políticas vigentes, qualquer que seja a área na qual o profissional esteja atuando – saúde, assistência, crianças e adolescentes, idosos, portadores de necessidades especiais – se faz necessário que o profissional procure manter-se informado sobre o debate envolvendo o Estado e as políticas públicas.

Segundo os dados da pesquisa é importante que o profissional de Serviço Social tenha uma boa formação teórico metodológica o que favoreceria também a criatividade e a flexibilidade exigidas pelo mercado, alem de uma gama de conhecimentos sobre: administração, políticas públicas, e planejamento. Portanto, o Assistente Social deve aprofundar seu entendimento em relação ao comportamento do mercado de trabalho, pois só assim as ações propostas terão efetividade

Em suma na opinião da maioria dos assistentes sociais os profissionais de Serviço Social devem conhecer o processo de desenvolvimento do Neoliberalismo, da Globalização. ter criatividade, ter consciência crítica, formação continuada (participar de cursos de especialização, congressos, etc.) e ser versátil para que assim ele não perca espaço para profissionais de outras áreas.

A crescente invasão das novas tecnologias de computação e informação em nosso cotidiano, também causam mudanças significativas no papel, na quantidade, na qualidade e na velocidade da troca de informações entre os seres humanos alem das nações. A velocidade da informação é devido ao fato de estarmos envolvidos com a presença de um projeto de globalização das sociedades. Neste contexto, podemos observar que um seguimento importante dos participantes da pesquisa afirmam que a Internet é um espaço de comunicação eficaz, amplo e veloz, que permite a troca de informações dos mais diversos assuntos nas mais diversas localidades, e os conhecimentos sobre informática, são fundamentais no momento atual.

Entretanto na visão dos assistentes sociais, para que o profissional de Serviço Social possa atender as demandas de uma sociedade globalizada, ele precisa antes de tudo, ter uma consciência política e conhecimento da estrutura da sociedade como um todo. Já o conhecimento e a competência técnica devem percorrer o mesmo caminho, não devem ser dissociados, ou seja um referencial teórico-crítico com uma visão histórica, que oriente as finalidades profissionais e permita aos profissionais a escolha de procedimentos técnicos e ético-políticos mais adequados a realidade atual.

O perfil profissional adequado é, segundo os profissionais, de um Assistente Social dinâmico cuja rapidez de pensamento permita que sugira ações em igualdade de condições com os demais profissionais. Precisamos não apenas de competência técnica, mas também de uma autoconfiança e uma postura ética. Os novos conhecimentos são voltados para a nova dinâmica do mundo do trabalho, e para desenvolver uma compreensão para interpretar os dados que surgem da economia , como a interpretação de documentos estatísticos de modo a que possamos entender as análises que circulam tanto nos meios profissionais, como nos meios de comunicação de massas. Atualmente todas as profissões exigem pessoas mais capacitadas e polivalentes, mas especificamente no caso do profissional de Serviço Social, este deve ter uma especial compreensão das políticas sociais e os mecanismos para sua formulação e execução. Portanto, o profissional de Serviço Social deve ser capaz de repensar não só a realidade social mas também a profissão, tendo uma visão da totalidade que favoreça sua intervenção mas também seu crescimento profissional.

Levando em consideração os resultados da pesquisa a preocupação que é mais saliente refere-se ao Serviço Social como profissão, e a premência de delinear um perfil que deve ir de encontro a uma nova realidade, pois existe o perigo latente do Serviço Social vir a tornar-se uma pratica residual. O desafio profissional radica portanto em não fechar-se em si mesmo e ampliar os horizontes, procurando compreender as mudanças que estão acontecendo. Em quanto a este problema, sustentamos que é possível e necessário que a profissão como um todo inicie um debate e participe ativamente na definição de sua base de sustentação ocupacional, pudendo assim os assistentes sociais converter-se em atores desse processo .

Ainda com referência ao processo que desenvolvemos nesta pesquisa que relatamos, é de suma importância destacar o papel do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq, dando-nos um valioso suporte, assim como todos os profissionais de Serviço Social de diversos estados brasileiros que fizeram possível ampliar os conhecimentos entorno as questões sociais contemporâneas e seu rebatimento no Serviço Social para o aprimoramento da formação profissional.


NOTAS

1 Em outras palavras, “o Assistente Social tem que conhecer a população usuária dos seus serviços, e seus modos de vida, formas de luta: deve compreender o universo cultural dessa população e as formas de demonstrar seus anseios, necessidades e aspirações ...” (Guerra, 1997, p. 23). [volta]


ABSTRACT

This article is concerned with the analysis of the main characteristics of the professional profile to attend the Social Work new demands.

Key-words: Social Work; Professional Profile; Knowledge; Abilities; Contemporaneous Issues.


BIBLIOGRAFIA

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