FEIÇÕES MORFOLÓGICAS

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Deise Fabiana Ely; Mirian Vizintim Fernandes Barros; Rosely Sampaio Archela; Omar Neto Fernandes Barros; Hervé Théry; Neli Aparecida de Mello. Lúcia Helena Batista Gratão.
 

Os mapas referentes às feições morfológicas foram elaborados a partir do esboço morfológico (ELY e CHAVES, 2002) e demonstram que relevo de Londrina é relativamente uniforme, com destaque apenas para algumas formas diferenciadas localizadas na porção sudeste.

Na região norte da cidade, margem direita do ribeirão Lindóia, ocorre a predominância de formas com topos planos e levemente convexos, de vertentes côncavas e convexas distribuídas na mesma proporção e algumas vertentes retilíneas. São identificados patamares, principalmente próximo às cabeceiras dos córregos e fundos de vales, com rara ocorrência de sulcos e ravinas. Na margem esquerda caracterizada por intensa urbanização, predominam vertentes côncavas e convexas, com topos planos e convexos, patamares próximos ao fundo de vale e alguns sulcos.

As encostas da margem direita do ribeirão Quati, na região centro-norte da cidade, apresentam vertentes de formatos côncavos e convexos, seccionadas por alguns patamares. Os sulcos estão concentrados principalmente nas vertentes côncavas. Na nascente deste ribeirão ocorre uma grande ravina e alguns patamares. Na margem esquerda desenvolve-se uma grande ravina, próxima à indústria Bratac (indústria de fiação de seda), decorrente do intenso processo de ocupação pelas atividades sócio-econômicas, sendo que seus topos apresentam formas planas e as vertentes são côncavas e convexas e um percentual elevado de vertentes retílineas. São verificados alguns patamares próximos à nascente do córrego Bom Retiro (afluente do Ribeirão Quati) e alguns sulcos.

A margem direita do ribeirão Água das Pedras concentra topos convexos, vertentes côncavas e convexas, juntamente com alguns patamares, com destaque para uma ravina de pequenas proporções na margem esquerda do córrego Ai. A margem esquerda do referido ribeirão é composta por vertentes de formatos côncavos e convexos, por patamares próximos às nascentes dos córregos Marabá e dos Crentes, além de uma ravina na margem direita do córrego Londrina.

O ribeirão Cambé apresenta em sua margem direita, próxima à nascente, uma pequena ravina, alguns patamares, vertentes côncavas, convexas, retilíneas e topos convexos. A estrutura do relevo em forma de patamares ocorre com freqüência no médio curso deste ribeirão, próximo ao Lago Igapó. Na margem direita do córrego Carambeí, na região leste da cidade, ocorrem sulcos e uma ravina de grande proporção. A margem esquerda é composta por vertentes de formatos côncavos, convexos e algumas são retilíneas. Próximo a nascente e no médio curso predominam topos convexos e patamares e nas vertentes côncavas ocorrem a concetração de sulcos. O baixo curso do ribeirão, após o córrego Bem-te-vi, possui uma grande quantidade de patamares, alguns sulcos, uma ravina, com seus topos de formatos planos e convexos.

Na região leste da cidade, margem direita do córrego São Lourenço, ocorre um número acentuado de sulcos e uma pequena ravina. Há o predomínio de vertentes côncavas e convexas, com a presença de alguns patamares. Na margem esquerda do córrego ocorrem vários patamares, sulcos e topo convexo.
Na região oeste da cidade, margem direita do ribeirão Esperança, os topos são convexos, as vertentes côncavas, convexas e retilíneas. Há presença de sulcos e patamares e uma pequena ravina próxima à nascente. Os topos do relevo situados na margem esquerda são convexos, suas vertentes são predominantemente convexas e retilíneas, ocorrem alguns patamares e sulcos principalmente nessas últimas vertentes.
Na região sul da cidade, margem direita do ribeirão Cafezal, ocorre o predomínio de vertentes de formato convexo, com a presença de morro testemunho, crista e ravina.

Próximo ao fundo de vale, na vertente esquerda do córrego Água Clara, encontra-se uma grande ravina (resultado de uma antiga pedreira). As duas vertentes do córrego Saltinho apresentam grande concentração de sulcos e patamares, cristas, topos convexos e vertentes côncavas e convexas.
Já na margem esquerda do ribeirão Cafezal destaca-se as seguintes formas do relevo: vertentes côncavas e convexas, crista, morro testemunho, sulcos e patamares. Estas formas de relevo são decorrentes do trabalho erosivo realizado pelo rio Tibagi, que percorre um trajeto ortoclinal, servindo de nível de base para o trabalho erosivo de seus afluentes anaclinais, no reverso da cuesta, onde se assenta o sítio urbano de Londrina.

As regiões norte e noroeste da cidade, com altitude média entre 550 a 620 metros, se desenvolvem sobre um padrão de relevo com formas mais suavizadas, com vertentes menos inclinadas; enquanto que nas regiões sul e sudeste ele é mais dissecado, com altitudes entre 350 a 500 metros. Essa configuração geral do relevo se deve ao fato da erosão remontante ter trabalhado de forma mais intensa à jusante, com tendências a dissecar as áreas à montante de seu curso.

O processo evolutivo do relevo, ao sul da cidade, proporcionou a ocorrência das seguintes formas: morros testemunhos e cristas, resultantes da erosão regressiva que expõe as rochas mais resistentes. O constante trabalho erosivo propiciou a formação de colinas suavemente arredondadas, na maioria das vertentes o formato côncavo e convexo e, em menor proporção, o formato retilíneo. Tais vertentes resultam da atuação morfoclimática do Período Quaternário, ou seja, a umidificação climática associada à presença da cobertura vegetal possibilitou a formação da camada pedológica, pois a atuação do intemperismo químico do basalto era predominante sobre seu transporte.

A associação das formas das vertentes ao uso do solo urbano gerou sulcos, ravinas e voçorocas, que aparecem em diversas vertentes da cidade. As ravinas e os sulcos são decorrentes da implantação de vias com cobertura asfáltica, que geram o escoamento concentrado das águas pluviais em locais desprovidos de galerias. Esse processo, associado ao formato das vertentes e a falta de cobertura vegetal, acaba gerando fluxos concentrados de águas pluviais, desencadeando os processos de erosão.

Apenas alguns elementos morfológicos, considerados mais importantes, foram cartografados: ravinas e sulcos como formas erosivas derivadas da ação antrópica e os morros testemunhos, cristas isoclinais e patamares como formas derivadas dos processos de erosão natural.

O processo de ravinamento é extremamente dinâmico, coincidindo com áreas de restrição a implantação de edificações e pode ser acelerado com o processo de urbanização e, até mesmo, desaparecer com a execução de medidas corretivas.

Os sulcos e ravinas predominam nas áreas situadas mais à periferia do sitio urbano, ocorrendo à jusante das áreas impermeabilizadas pelas construções imobiliárias e pelo sistema viário, ocorrendo, sobretudo nos vazios urbanos, áreas de baixa densidade de ocupação, loteamentos em fase de implantação e áreas agrícolas, coincidindo com as altas declividades do terreno.

As ravinas concentram-se especialmente na região sul-sudeste, em vazios urbanos e zonas de baixa densidade de ocupação, mas também são encontradas, com freqüência menor, na região noroeste da cidade.

As formas de morros testemunhos e cristas, encontradas especialmente ao sul da área urbana, resultam da erosão regressiva que expõe as rochas mais resistentes. Este processo de degradação, associado às diferenças pedológicas espaciais da área pode ser responsável pela exposição dos diferentes patamares que compõem o relevo da cidade. Nas áreas mais elevadas e mais aplanadas predominam os Latossolos enquanto que em relevos mais dissecados aparece a Terra Roxa Estruturada (Nitossolos).

Essa breve discussão sobre morfologia predominante na área urbana de Londrina expressa a combinação de uma série de fatores que interferem na sua gênese, tais como: a natureza litológica, a disposição estrutural, a atuação do paleoclima e das intempéries climáticas atuais, a intensidade da dissecação e a ação antrópica. Essa última tem desencadeado a instalação de processos erosivos em diversos locais da cidade, principalmente naqueles em que a cobertura vegetal é ausente e onde as declividades das vertentes são maiores.