LUTA ANTIGA


José Eduardo Costa

O surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não é algo novo na história do Brasil. É uma continuidade das lutas históricas do movimento camponês em nosso país.

Durante a Colônia, a luta pela terra foi desenvolvida basicamente pelos índios e pelos negros. Os índios guerreavam na defesa de seus territórios invadidos pelos bandeirantes e colonizadores, e os negros, unindo a luta pela liberdade com a luta por sua própria terra, construíam os Quilombos – terras livres.

No final do século passado e início do século XX, surgiram movimentos camponeses chamados messiânicos que seguiam um líder carismático. Assim surgiu Canudos, com Antônio Conselheiro; o Contestado, com Monge Maria; as lutas do Cangaço, com Lampião, e outras lutas regionalizadas em cada estado.

A última etapa desse processo, que compreende o período de 1950 a 64, é a fase do movimento camponês organizado enquanto classe. Foi quando se desenvolveram as Ligas Camponesas, as UTABs e o MASTER. Esses movimentos foram massacrados pela ditadura militar, seus líderes, assassinados ou presos. Alguns poucos foram exilados.

Os militares procuraram levar o desenvolvimento ao campo apoiados pelo capital estrangeiro. Levavam a "modernização" para a agricultura, forneciam crédito rural subsidiado para as grandes propriedades, entregavam as terras públicas apenas para as grandes empresas. Estimularam a mecanização do campo, a implantação de agroindústrias para vender insumos industriais às empresas. Como resultado dessa política, milhares de trabalhadores que antes trabalhavam como meeiros, arrendatários, posseiros perderam a oportunidade na terra.

No início da década de 80, começaram então a acontecer as ocupações de forma massiva. Essas lutas isoladas, em quase todos os estados do país, passaram a constituir um movimento articulado pelos camponeses sem terra do Brasil, que ganhou o nome de MST.

O I Congresso com a palavra de ordem "Sem reforma agrária não há democracia", em 1985, reuniu 1.500 delegados e foi criada a Coordenação Nacional do MST, com representantes de 13 Estados do Brasil.

Esse breve retrospecto da história do movimento dos sem terra explica a situação que esses trabalhadores enfrentam hoje que é de questionamento e confronto com a política agrária do governo Fernando Henrique Cardoso. Durante os últimos seis anos, houve exageros de ambas as partes - basta ver o caso de Eldorado dos Carajás, os confrontos entre os sem-terra, Governo Federal e fazendeiros, no Pontal do Paranepanema, e o número de trabalhadores mortos no estado do Paraná. Foram mais de cem, desde o início da década de 90.

Por outro lado, várias foram as denúncias levantadas, pela imprensa, de violência promovida pelo MST e também de desvios de dinheiro de cooperativas dos trabalhadores para as contas particulares de dirigentes do movimento. Fatos que desgastaram a imagem do MST perante a opinião pública.