OPINIÃO: SEMANAIS NÃO POUPAM PROJETO

Desde que foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Câmara Federal, no ano passado, o projeto de lei nº 1676 ganhou espaço na mídia brasileira. Particularmente na imprensa, ele recebeu críticas, dentre as quais algumas, notadamente, irônicas e até sarristas.

As mais importantes revistas de informação do país, Veja e Isto É, até admitiram que, em alguns casos, os estrangeirismos na língua portuguesa são praticados de forma abusiva. Porém, a principal característica apontada pelo autor do projeto foi rejeitada: a de que ele é uma denúncia do domínio cultural e econômico de outros países sobre o Brasil. Ou seja, elas não vêem relação alguma entre neoliberalismo, americanização e anglicanismo, aspecto enfaticamente repetido por Rebelo.

O texto de João Gabriel de Lima (Veja, 30/8/00) apresenta uma visão estereotipada das questões levantadas pelo projeto de lei, ridicularizando-o explicitamente. O jornalista não poupou apelações: chegou a chamar os membros da Academia Brasileira de Letras de "velhinhos" que não têm nada para fazer e a propor que o leitor imaginasse o que aconteceria "se Aldo Rebelo estivesse na esquadra de Cabral". Neste último caso, de acordo com a ironia de Lima, não haveria vocábulos de origem indígena na língua portuguesa.

A Isto É também escorregou na deselegância, dizendo, por exemplo, que certos termos em inglês "causam arrepios no deputado" (edição de 25/10/00). É preciso reconhecer, no entanto, que a revista, ao utilizar o formato entrevista, tratou o tema mais democraticamente, possibilitando a Rebelo a explicação de seus argumentos.

Mas, como na abertura da matéria, alfinetadas não faltaram. As repórteres Florência Costa e Inês Garçone escreveram que Aldo Rebelo cometeu um ato falho, quando pronunciou a palavra "outdoor" em seu depoimento. Ocorre, porém, que esta expressão não tem correspondente em português. Na verdade, o significado atribuído a ela pelos brasileiros é próprio da nossa cultura, pois esse tipo de propaganda é chamado de "bilboard" em inglês.

Além disso, as duas publicações relacionam o autoritarismo que vêem no projeto à ideologia do partido ao qual pertence o deputado, o Partido Comunista do Brasil. Daí, talvez, a interpretarem as idéias de Rebelo como xenófobas, fascistas, patriotadas...

Já o jornal O Povo (edição de 17/4/01), de Fortaleza, na maneira como trata o leitor – traduzindo termos em inglês que ele não é obrigado a conhecer – demonstrou simpatia pelo projeto. A jornalista Patrícia Karam analisou a cobertura da Folha de S. Paulo e disse que o artigo de Hélio Schwarstman usa "adjetivos pouco lisonjeiros para desqualificar o projeto de lei" e que tem "caráter agressivo".

Do lado das publicações acadêmicas, a revista Educação (edição de outubro de 2000) deu um tratamento ao tema que pode ser considerado mais adequado, pois foi pluralista na escolha de fontes de informação e aprofundou questões levantadas pela discussão do projeto, como o ensino da língua no país e a inutilidade de uma lei que fiscalize o idioma.

O que se pode dizer, então, da cobertura desse assunto pela imprensa? Pelo menos no que tange aos grandes veículos, o papel de informar e formar o leitor não foi cumprido. Pelo contrário, houve manipulação quando o enfoque restringiu-se àqueles que foram considerados aspectos negativos das idéias de Rebelo. E o leitor ficou mal informado.

(Camila Kaseker, Camila Rigi e Kátia Gradela)