BOM-SENSO ON SALE E À LA CARTE?

Defesa da língua pátria ou pura radicalização? Nenhuma das alternativas. De acordo com o professor Joaquim Carvalho da Silva, titular de Literatura Brasileira na Universidade Estadual de Londrina e poliglota – ele conversa e escreve em nove idiomas - , a real intenção do deputado Aldo Rebelo é o exibicionismo.

De acordo com o professor, o projeto de lei nº 1676, de autoria do parlamentar, que propõe a contenção de estrangeirismos no Português, não vai resolver situação alguma. Ele comenta que a fobia a palavras estrangeiras já existia no início do século passado, em que defensores da língua propuseram novas palavras em substituição às de origem francesa.

O francês, assim como o inglês, na atualidade, era o idioma dominante, inclusive pelos poetas, que se utilizavam de vários termos em suas obras.

Entretanto, o professor acredita que traduzir algumas palavras não é a melhor solução, pois há as que não são compreendidas pelos falantes e, por isso, são repelidas. "Naquele tempo, criaram a palavra colivelo para substituir cachecol (de origem francesa). Mas colivelo é uma palavra latina!", rebate. Palavras inglesas como delivery e sale, hoje utilizadas para substituir entrega e venda, têm significado apenas para uma minoria, conhecedora de língua inglesa. Dessa forma, segundo o professor, elas estão "condenadas ao desaparecimento", tendo em vista que não entram na linguagem popular.

Americanização

Uma das alegações do deputado Aldo Rebelo é a de que, com o uso excessivo de termos em inglês, a cultura brasileira poderia ser ameaçada pela americana, uma vez que nossos falantes incorporam uma língua que é alheia. Para o professor Joaquim, contudo, não é bem uma americanização o que ocorre. "Se analisarmos a situação historicamente, veremos o velho choque entre as línguas espanhola e portuguesa. No caso da América do Sul, isso fica restrito às regiões fronteiriças – tanto que nós temos ali o ‘portunhol’. Mas isso não quer dizer que o português foi empurrando o espanhol, e nem vice-versa".

O que acontece, nesse caso? O professor arrisca uma resposta : "Cada pessoa tem, além da sua liberdade, o seu patriotismo, o seu senso de nacionalismo..." O bom-senso, então, seria não uma cura definitiva, mas um remédio paliativo contra os abusos – de ambas as partes.

Reportagem: Janaína Garcia