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Seja \(f:D\to C\) uma função complexa onde \(D\) é um domínio complexo. A derivada da função \(f\) no ponto \(p\) é definida por
Se este limite existe, denotamos a derivada da função \(f\) por \(f'\) e escrevemos:
Tomando \(h=z-p\), a última expressão pode ser reescrita na forma:
Exemplos:
Seja \(D\) um domínio complexo, isto é, um conjunto aberto e conexo e \(f:D\to C\). A função \(f\) é analítica em \(D\) se \(f\) possui derivada em todos os pontos \(p\in D\). \(f\) é analítica em um ponto \(p\), quando \(f\) é analítica em uma vizinhança aberta de \(p\). Na literatura, é comum encontrarmos as palavras holomorfa e regular como sinônimos de analítica.
Uma função \(f:C \to C\) é uma função inteira se ela é derivável em todo ponto \(z\in C\), isto é, se \(f\) for analítica em todo o plano complexo.
Uma função real \(f=f(x)\) pode ter a primeira derivada contínua e mas não possuir a segunda derivada. No sistema complexo, esta situação não ocorre, pois se \(f=f(z)\) tem a primeira derivada, também tem todas as outras derivadas.
Sobre a analiticidade, existe uma função real \(f=f(x)\) que não é analítica mas cuja equivalente complexa \(f=f(z)\) é analítica.
Exemplo: A função real definida por \(f(0)=0\) e \(f(x)= e^{-1/x}\) se \(x \neq 0\) não é analítica, mas a função complexa definida da mesmas forma por \(f(0)=0\) e \(f(z)=e^{-1/z}\) se \(z\neq 0\) é analítica em todo o plano complexo.
Uma função que possui derivada em um ponto isolado de seu domínio não pode ser analítica, pois, a definição acima exige que a função deve ter derivada em todos os pontos de um conjunto aberto contendo o tal ponto. O exemplo seguinte trata de uma função que possui derivada em um ponto \(p\) de seu domínio sem ser analítica neste ponto \(p\).
Exemplo: A função \(f(z)=|z|^2\) é derivável em \(z=0\), pois
Consideremos \(p\in C\) sendo \(p=a+ib \neq 0\), segue que
Este limite não existe, pois quando \(z\to p\) por caminhos diferentes, os resultados dos limites são distintos, assim f possui derivada em \(p=0\) mas não é derivável em qualquer outro ponto distinto \(z=0\). Concluímos então que \(f\) não é analítica em \(z=0\).
Teorema: Se uma função \(f\) é analítica em seu domínio complexo \(D\), então ela é contínua neste mesmo domínio \(D\).
Se \(f\) e \(g\) são funções analíticas sobre um domínio \(D\) e \(k\) é um número complexo, então \(f+g\), \(kf\), \(f\cdot g\) e \(f/g\) sendo \(g\neq 0\), são analíticas sobre \(D\), valendo as seguintes regras de derivação:
Regra da cadeia (Derivada da composta): Seja \(h=gof\) definida por \(h=g(f(z))\) a função composta de \(f\) com \(g\). Se \(f\) é derivável em \(p\) e \(g\) é derivável em \(w=f(p)\) então \(h=g\circ f\) é derivável em \(p\) e além disso:
As regras de derivação para algumas funções analíticas podem ser demonstradas de forma similar àquelas do caso real. As funções usuais do Cálculo de funções reais são analíticas reais e quando estendidas de modo conveniente ao plano complexo, possuem derivadas semelhantes.
O problema de saber se uma função complexa f é derivável em um ponto \(p=a+ib\) é simplificada pelo fato de sabermos se as partes real e imaginária de \(f\) são parcialmente deriváveis em \((a,b)\). Seja \(f:D \to C\), sendo \(D\) um domínio em \(C\).
Seja \(f\) escrita na forma \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\) onde \(u\) e \(v\) são funções reais. As Equações de Cauchy-Riemann são dadas por:
Teorema: (Equações de Cauchy-Riemann são necessárias para a analiticidade) Se \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\) é uma função analítica em um ponto \(p=(a,b)\) então, valem as Equações de Cauchy-Riemann, isto é:
Demonstração: Se \(f\) tem derivada em \(p\), podemos escrever
Este limite existe independente do modo como \(h\) tende a zero.
Tomando \(h\to 0\) por valores reais \(h=k\), obtemos:
logo
Tomando agora \(h \to 0\) por valores imaginários \(h=it\), obtemos:
Desse modo
assim:
Igualando as partes reais e as partes imaginárias, obtemos as equações de Cauchy-Riemann:
Nota importante: As equações de Cauchy-Riemann não são suficientes para a analiticidade, pois existem funções \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\) que satisfazem às equações de Cauchy-Riemann em um dado ponto \(p\), mas que não possuem derivada neste ponto.
Exemplo: Seja \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\), onde \(x\) e \(y\) são variáveis reais e definamos \(u(0,0)=0\), \(v(0,0)=0\) e
As equações de Cauchy-Riemann são satisfeitas em \((0,0)\) pois
Acontece que \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\) não tem derivada em \((0,0)\), pois
Tomando \(z \to 0\) através da reta real \(x=0\), obtemos
Tomando \(z \to 0\) através da reta \(y=0\), obtemos
Isto mostra que \(f\) não possui derivada em \(z=0+i0=(0,0)\).
Concluímos que as equações de Cauchy-Riemann não são suficientes para garantir que \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\) possui derivada.
Nota especial: Se, além de satisfazer às equações de Cauchy-Riemann, acrescentarmos o fato que as derivadas de primeira ordem de \(u=u(x,y)\) e \(v=v(x,y)\) são contínuas em uma região \(D\), obtemos as condições para garantir que \(f\) possui derivada nesta região.
Teorema: (Condição necessária e suficiente para a analiticidade)
Seja \(f(z)=u(x,y)+iv(x,y)\), onde \(u=u(x,y)\) e \(v=v(x,y)\) são funções reais. \(f\) é analítica em um ponto \(p=a+ib\) se, e somente se, \(u=u(x,y)\) e \(v=v(x,y)\) possuem derivadas de primeira ordem contínuas em \((a,b)\) e além disso, valem as equações de Cauchy-Riemann.
Exemplos: Analisaremos alguns exemplos já tratados anteriormente.