O conceito de função complexa

Seja um subconjunto D do plano complexo C. Uma função complexa é uma correspondência que associa a cada elemento z inD um único número w=f(z) inC. As notações mais comuns para representar uma função complexa são:

f:D toC,      f:z inD tof(z) inC      ou      w=f(z)

O domínio de f, denotado por Dom(f), é o subconjunto D dos números complexos onde a função está bem definida.

A imagem de f, denotada por Im(f), é o subconjunto dos números complexos f(D)={f(z):zinD}.

Dada uma função w=f(z), com z=x+iy e w=u+iv, podemos ter a seguinte interpretação geométrica da aplicação f:D toC:

fig

É usual considerarmos a regra de definição da função w=f(z) sem especificar o seu domínio, nestes casos fica subtendido que o domínio da função é o maior subconjunto dos números complexos no qual a aplicação w=f(z) faz sentido.

Exemplos: Alguns exemplos sobre o domínio de funções complexas

  1. f(z)=z²=(x+iy)². Como no caso real, funções polinomiais estão definidas para todos os valores de z, sendo assim o domínio desta função é todo o plano complexo.

  2. f(z)=1/z. Como não podemos ter divisão por zero, o domínio desta função é todo o plano complexo exceto o número z=0. Como z=x+iy, o domínio é todo o plano complexo exceto os eixos coordenados.

    fig
  3. f(z)=(z−3i)/(z+8). Neste exemplo o domínio é todo o plano complexo exceto o número z=−8.

Observações:

  1. Em uma aplicação w=f(z), se as variáveis z e w são complexas, f é dita função complexa de uma variável complexa.

    A função f(z)=z²=(x+iy)²=(x²−y²)+2xyi é uma função complexa da variável complexa z.

  2. Se o domínio da função é um subconjunto dos números complexos e a imagem é um subconjunto dos números reais, a função w=f(z) é dita função real de uma variável complexa

    Como exemplo a função f(z)=|z|=[x²+y²]1/2 é uma função real da variável complexa z.

  3. Se o domínio da função é um subconjunto dos números reais e a imagem é um subconjunto dos números complexos, a função w=f(z) é dita função complexa de uma variável real. Para exemplificar considere a função f(x,y)=x+iy com x e y números reais.

  4. Uma restrição de uma função f:D toC é a função f1: S toC, onde S é subconjunto do domínio D.

    fig

    Analogamente, podemos ter uma extensão da função f1, como por exemplo a função f(z)=ez é uma extensão importante da função real f(x)=ex, também podemos citar as funções f(z)=cos(z), f(z)=sen(z), f(z)=tan(z) como extensão das respectivas funções reais entre muitas outras.

Funções uniformes e multiformes

Uma função w=f(z) é uniforme ou unívoca se a cada valor de z, corresponde um único valor de w.

Funções plurívocas, multiformes ou multivalentes são funções que para um valor dado da variável z, associam dois ou mais números w=f(z) distintos.

Exemplos:

  1. A função w=z² é uniforme (unívoca) pois para cada z existe um único valor de w.

  2. A função w=z 1/2 é multiforme (plurívoca), pois para cada valor de z existem dois valores de w.

Este assunto é de natureza um pouco delicada e será tratado com maior atenção posteriormente.

Decomposição de uma função complexa

Uma função w=f(z) de variável complexa pode ser decomposta em duas funções reais de R², a parte real da função u(x,y)=Re f(z) e a parte imaginária da função v(x,y)=Im f(z).

Exemplos:

  1. A função f(z)=z², z=x+iy é decomposta em

    u(x,y)=x²+y²    e    v(x,y)=2xy

  2. Sendo f(z)=z³ e z=x+iy temos

    f(z) = (x+iy)³=(x+iy)(x+iy)²

    ou seja

    f(z)+(x+iy)(x²−y²+i2xy)=(x³−3xy²)+i(3x²−y³)

    assim

    u(x,y)=x³−3xy²    e    v(x,y)=2xy

  3. Para a função definida por f(z)=z.ez temos que

    f(z) = (x+iy)e x+iy=(x+iy)exeiy=(x+iy)ex[cos(y)+isen(y)]

    ou seja

    f(z)= ex[x cos(y) − y sen(y)]+iex[xsen(y)+ycos(y)]

    assim

    u(x,y)=ex[xcos(y) − ysen(y)]    e    v(x,y)=ex[xsen(y)+ycos(y)]

Representação geométrica

Usualmente, uma função real é visualizada pelo traçado de seu gráfico y=f(x) em um sistema cartesiano com um dos eixos para a variável do domínio x e outro para a variável da imagem y.

Para funções complexas f: C toC a visualização de gráficos não é tão simples pois o plano complexo C é bidimensional então seria necessário um espaço de quatro dimensões para traçar o gráfico da função w=f(z). Como um espaço de quatro dimensões não é admissível em nossas mentes, outras técnicas são necessárias para a visualização de gráficos de funções complexas.

O método mais comum é considerar dois planos complexos, um para z e outro para w. No plano w traçamos a imagem da função f sobre algumas curvas e áreas no plano do domínio z.

A correspondência entre pontos de z e w é chamada de transformação de pontos de z em pontos de w pela função f.

Exemplos

  1. Um ponto P do plano z, se move descrevendo um círculo unitário de centro na origem e no sentido anti-horário. Se a tranformação for dada por w=f(z)=z², a imagem P' de P no plano w descreve 2 voltas completas no círculo unitário de centro na origem no sentido anti-horário enquanto o ponto P descreve uma volta completa no pano z.

    Se z=reit e o círculo é unitário, segue que |z|=1, r=1 e z=eit.

    Assim, w=z²=(eit)²=e 2it denotando por r' e t' as coordenadas no plano w, teremos w=r'e it'=e 2it, logo r'=1 e t'=2t.

    fig  fig

    Com isto, concluímos que enquanto o ponto P se move no plano z, a imagem P' no plano w se move sobre um círculo de raio unitário e centro na origem pois r'=1 e enquanto P descreve um ângulo t no plano z, a imagem P' descreve um ângulo 2t no plano w.

  2. Considere a função f(z)=z² e examinaremos a imagem no plano w transformada por esta função sobre as retas x=± 1 e y=± 1.

    fig

    A equação paramétrica do segmento de reta que passa pelos pontos z1=−1−i e z2=−1+i é dada por:

    z(t)=z1+t(z2−z1)    0<t<1

    ou por

    z(t)=(−1−i)+t(2i)=−1+i(−1+2t)    0<t<1

    Observe que z é uma função de t e w também é uma função de t pois é a composta w=f(z(t))=(z(t))², temos

    w(t)=[−1+i(−1+2t)]²=(4t−4t²)+i(2−4t)   0< t<1

    Mostramos um esboço do gráfico no plano w na figura seguinte.

    fig

    A equação paramétrica do segmento de reta que passa pelos pontos z2=−1+i e z3=1+i é dada por:

    z(t)=z2+t(z3−z2)    0<t<1

    Obtemos assim

    z(t)=(−1+i)+t(2)=(−1+2t)+i    0<t<1

    assim,

    w(t)=[(−1+2t)+i]²=(−4t+4t²)+i(−2+4t)   0< t<1

    Um esboço do gráfico é mostrado na sequência.

    fig

    A equação paramétrica do segmento de reta que passa pelos pontos z3=1+i e z4=1−i é dada por:

    z(t)=z3+t(z4−z3)    0<t<1

    Neste caso

    z(t)=(1+i)+t(−2i)=1+i(1−2t)    0<t<1

    então,

    w(t)=[1+i(1−2t)]²=(4t−4t²)+i(2−4t)   0< t<1

    A equação paramétrica do segmento de reta que passa pelos pontos z4=1−i e z1=−1−i é dada por:

    z(t)=z4+t(z1−z4)    0<t<1

    Temos então

    z(t)=(1−i)+t(−2)=(1−2t)−i    0<t<1

    assim,

    w(t)=[(−1−2t)−i]²=(−4t+4t²)+i(−2+4t)   0< t<1

    Então, as imagens no plano w sobre o quadrado x=± 1 e y=± 1 transformadas por w=z² são parábolas como as ilustradas na figura seguinte.

    fig

    Para retas x=± c e y=± c, onde c é uma constante real, as imagens também serão parábolas como estas com as interseções com os eixo coordenados em outros pontos.

Construída por Sônia Ferreira Lopes Toffoli.