Os números complexos

Os números complexos são úteis para resolver equações do tipo x²+1=0 uma vez que não existe qualquer número real com a propriedade que o seu quadrado seja igual a −1. Todo número complexo tem a forma a+bi, onde a e b são números reais e a unidade imaginária i tem a propriedade i²=−1.

Dado o número complexo z=a+bi, então a é a parte real de z, denotada por Re(z) e b é a parte imaginária de z, denotada por Im(z).

O conjunto dos números reais pode ser considerado como um subconjunto dos números complexos com b=0. Se a=0 o número complexo 0+bi=bi recebe o nome de número imaginário puro.

Exemplos:

  1. z=3+0i é um número real, pois Re(z)=3 e Im(z)=0.

  2. z=7+4i é um número complexo, pois Re(z)=7 e Im(z)=4.

  3. z=0+5i é um número imaginário puro, pois Re(z)=0 e Im(z)=−5.

  4. z=−2+0i é um número real, pois Re(z)=−2 e Im(z)=0.

  5. z=0+0i é um número real, pois Re(z)=0 e Im(z)=0.

Igualdade de números complexos

Dois números complexos z=a+bi e w=c+di são iguais se, e somente se, a=c e b=d.

Exercício: Determinar números reais x e y tal que 3x+2iy−ix+5y=7+5i.

Adição e subtração de números complexos

Sejam os números complexos z=a+bi e w=c+di. Definimos a adição e a subtração entre os números complexos z e w, respectivamente por:

z+w = (a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)i
z−w = (a + bi) − (c + di) = (a − c) + (b − d)i

Exercício: Efetuar as seguintes operações:

  1. A=(8+7i)+(5−3i)

  2. B=(2+3i)−(8−6i)

Produto de números complexos

Sejam os números complexos z=a+bi e w=c+di. Definimos o produto entre os números complexos z e w, por

z.w = (a+bi).(c+di) = (ac−bd) + (ad+bc)i

Exercício: Efetuar as seguintes operações:

  1. A=(5−4i).(7−3i)

  2. B=(7−2i)²−2i(5−i)

  3. C=(1+i/5).(−8/3+6i)

  4. D=(1+3i)³

Conjugado de um número complexo

O conjugado de um número complexo z=a+bi é definido como o número complexo z *=a−bi.

As propriedades gerais do conjugado são:

  1. O conjugado do conjugado de z é igual a z, isto é, (z *)*=z.

  2. O conjugado da soma de dois números complexos é igual à soma dos conjugados desses números, isto é, (z+w)*=z *+w *.

  3. O conjugado do produto de dois números complexos é igual ao produto dos conjugados desses números, isto é, (z.w)*=z *.w *.

  4. Se z for um número real, o conjugado de z é o próprio z e além disso:

    Re(z)=½(z+z *)    e    Im(z)=½(z−z *)

As demonstrações devem ser realizadas pelo interessado.

Exercícios: Obter o conjugado de cada um dos números complexos:

  1. z=2i²−(5−i)

  2. w=(3−2i)−(1+i)(1−i)i

Divisão de números complexos

Sejam os números complexos z=a+bi e w=c+di. Definimos a divisão entre z e w, por

z
w
= a+bi
c+di
= (a+bi)(c−di)
(c+di)(c−di)
= ac+bd
c²+d²
+ bc−ad
c²+d²
i

Muitas vezes usaremos a notação mais simples z/w para representar a divisão de z por w.

Exercício: Escrever na forma z=a+bi, cada uma das expressões abaixo:

  1. z=1/i

  2. z=(9−7i)/(1−5i)

  3. z=(1+i)/(1−i)

  4. z=1/(5+2i)

  5. z=[i/(i+1)]5

  6. z=(−2+3i)/(1+2i)

Valor absoluto de um número complexo

O módulo ou valor absoluto de um número complexo z=a+bi é definido como sendo o número real não negativo

|z|=(a²+b²)1/2

Propriedades do Valor absoluto: Se z e w são números complexos, então:

  1. |z| = |−z| = |z *|

  2. |z| > 0

  3. |z| = 0 se, e somente se, z=0.

  4. |z.w| = |z|.|w|

  5. |z/w|= |z|/|w| se w neq0.

  6. z.z * = |z|²

  7. |z+w|<|z|+|w|, (desigualdade triangular).

  8. |z−w|<|z|+|w|, (desigualdade triangular).

  9. |z|−|w|<|z−w|, (desigualdade triangular).

  10. |Re(z)|<|z|

  11. |Im(z)|<|z|

Exercício: Se u=2+i e v=3−2i, determinar o valor da expressão z=|3u−4v|

Plano complexo

Podemos interpretar os números complexos como sendo pontos do plano cartesiano. Um número complexo z=a+bi pode ser representado pelo par ordenado (a,b) de números reais que corresponde a um ponto P do plano cartesiano R² com coordenadas a e b.

Exemplos

  1. z=2+2i pode ser representado pelo ponto (2,2).

  2. z=−2+2i pode ser representado pelo ponto (−2,2).

  3. z=3−2i pode ser representado pelo ponto (3,−2).

  4. z=−2−3i pode ser representado pelo ponto (−2,−3).

Estes números estão representados no gráfico:

fig


Interpretação vetorial dos números complexos

Um número complexo z=a+bi pode ser considerado como um vetor OP onde a origem deste vetor é a origem do plano cartesiano O=(0,0) e a extremidade é o ponto P=(a,b). Desse modo, o vetor tem coordenadas a e b.

fig  fig

As regras do paralelogramo para a soma e subtração de vetores também se aplicam para soma e subtração de números complexos.

Exercícios:

  1. Efetuar as operações indicadas analítica e graficamente os números complexos z=(2+4i)+(3+2i) e w=(3−2i)−(3+4i).

  2. Se u e v são números complexos, construir graficamente os números complexos z=3u−3v e w=v/2+u/3.

Forma polar dos números complexos

Dado um número complexo não nulo z=a+bi, considere a sua representação geométrica

fig

O argumento de z é o ângulo t formado entre o vetor OZ e o eixo OX e o módulo de z é a distância entre o número z e a origem do sistema cartesiano. Logo:

a= r cos(t)    e    b = r sen(t)

onde r=|z|=(a²+b²)1/2 e podemos escrever:

z = a+bi = r [cos(t) + i sen(t)]

Esta é a representação polar do número complexo z, onde r e t são suas coordenadas polares.

Também são usuais as notações

r cis(t) = r [cos(t)+i sen(t)] = r eit

Exercício: Para cada número complexo apresentado, escrever a sua forma polar e representar este número geometricamente.

  1. z=2+2i³

  2. z=−6−i²

  3. z=1+i

  4. z=−1−R[3]i, onde R[3] é a raiz quadrada de 3.

  5. z=(−i/(1−i))5

  6. z=(−5/3−i)

Fórmula de De Moivre

Sejam z1 e z2 números complexos, tal que

z1 = r1 [cos(t1) + i sen(t1)]
z2 = r2 [cos(t2) + i sen(t2)]

Multiplicando estes números complexos, obtemos:

z1 z2 = r1 r2 [cos(t1) + i sen(t1)][cos(t2) + i sen(t2)]
  = r1 r2 [cos(t1)cos(t2) −sen(t1)sen(t2)] +r1 r2 i(sen(t1)cos(t2) +cos(t1)sen(t2)]
  = r1 r2 [cos(t1+t2) + i sen(t1+t2)]

Concluímos que, para multiplicar dois números complexos em suas formas trigonométricas, basta multiplicar os seus módulos e somar os seus argumentos, isto é,

z1 z2 = r1 r2 [cos(t1+t2) + i sen(t1+t2)]

Vale um resultado análogo para a divisão de números complexos:

z1
z2
= r1
r2
[cos(t1−t2) + i sen(t1−t2)]

Para dividir dois números complexos na forma trigonométrica, devemos realizar o quociente de seus módulos e a diferença dos seus argumentos.

Se zj=rj[cos(tj)+i sen(tj)], para j=1,2,...,n, então, temos uma generalização do fato acima:

z1.z2...zn = r1 r2 ...rn [cos(t1+t2 +...+ tn) + i sen(t1+t2 +...+ tn)]

Se z1=z2=...=zn e r=1, temos a Fórmula de De Moivre:

[cos(t) + i sen(t)] n = cos(nt) + i sen(nt)

Exercício: Demonstrar as seguintes identidades trigonométricas:

  1. sen(3t) = 3 sen(t) − 4 sen³(t)

  2. cos(3t) = 4 cos³(t) − 3 cos(t)

Exercício: Efetuar cada uma das operações indicadas:

  1. z1=[4(cos(40º)+i sen(40º)].[5(cos(80º)+i sen(80º)]

  2. z2=[5 cis(20º)][3 cis(40º)]

  3. z3=[2 cis(50º)]6

  4. z4=[8 cis(40º)]³÷[2.cis(60º)]4

Raízes n-ésimas de números complexos

Um número complexo p é um zero de uma função complexa f(z)=0 se f(p)=0. Um número w é uma raiz n-ésima de um número complexo z, se wn=z. A raiz n-ésima pode ser denotada por:

w=z 1/n

Consideremos os números complexos z e w na forma polar:

z = r [cos(t) + i sen(t)]
w = R [cos(u) + i sen(u)]

Se wn=z, então usando a fórmula de De Moivre, obtemos:

Rn [cos(nu) + i sen(nu)] = r [cos(t) + i sen(t)]

Igualando as partes reais e as partes imaginárias, obteremos

Rn cos(nu) = r cos(t)
Rn sen(nu) = r sen(t)

Dessa forma, para todo k inteiro não negativo, temos

Rn = r    e    nu = t + 2kpi

Assim, wk indicará a k-ésima raiz por:

wk = r 1/n [ cos(2kpi/n) + sen(2kpi/n) ]

Se k>n, as raízes se repetem e basta tomar k=0,1,...,n−1 para esta fórmula produzir n raízes distintas do número complexo z.

Exemplo 1: As raízes cúbicas de z=8i podem ser obtidas da seguinte forma. Se z=0+8i, então |z|=8 e t=pi/2. Logo:

1/3 = 81/3 = 2

Os argumentos são

t0=(t+0pi)/3=pi/6,    t1=(t+2pi)/6=5pi/6,    t2=(t+4pi)/3=9pi/6

Usando a notação R[3] para a raiz quadrada de 3, as raízes cúbicas de z=8i são:

w0 = 2 [cos(1pi/6) + i sen(1pi/6)] = +R[3] + i
w1 = 2 [cos(5pi/6) + i sen(5pi/6)] = −R[3] + i
w2 = 2 [cos(9pi/6) + i sen(9pi/6)] = 0 −2i

As n raízes de um número complexo z estão localizadas sobre uma circunferência de raio igual a |z|1/n, centrada na origem, sendo que tais números dividem esta circunferência em n partes iguais.

As raízes cúbicas de z=8i estão representadas na figura pelas letras w0, w1 e w2.

fig

Exemplo 2: Para resolver a equação complexa z 6−1=0, basta obter as 6 raízes complexas da unidade, ou seja, obter w tal que w 6=1. Basta então obter w=11/6=1. Tomaremos z=1, r=1, t=arg(1)=0 e r 1/6=11/6=1. Os argumentos das raízes são:

t0=t/6=0,    t1=1pi/3,    t2=2pi/3,    t3=3pi/3,    t4=4pi/3,    t5=5pi/3

Portanto, as raízes de z 6=1, são:

w0 = cos(0pi/3) + i sen(0pi/3) = 1
w1 = cos(1pi/3) + i sen(1pi/3) = 1/2 + 3i/2
w2 = cos(2pi/3) + i sen(2pi/3) = −1/2 + 3i/2
w3 = cos(3pi/3) + i sen(3pi/3) = −1
w4 = cos(4pi/3) + i sen(4pi/3) = −1/2 − 3i/2
w5 = cos(5pi/3) + i sen(5pi/3) = 1/2 − 3i/2

As raízes de z 6=1 estão representadas na figura abaixo.

fig

Exercício: Obter as raízes das equações abaixo no conjunto dos números complexos e construir os gráficos correspondentes.

  1. 1/4 = 1

  2. 1/4 = −1

  3. z³=−1

  4. z³=3

  5. z²+z+1=0

  6. z³−i=0

  7. z³+27i=0

  8. z²+(2i−3)z+5−i=0

  9. (1+3i)z²+4=0

Fórmula de Euler

Consideremos os desenvolvimentos em séries de potências das funções reais: exponencial, cosseno e seno.

exp(x) =
soma
n=0
xn
n!
= 1 + x +
2!
+
3!
+...
cos(x) =
soma
n=0
(−1)n2n
(2n)!
= 1 −
2!
+ 4
4!
+...
sen(x) =
soma
n=0
(−1)n2n−1
(2n−1)!
= x −
3!
+ 5
5!
+...

Estudamos no curso de Cálculo de funções reais, que estas fórmulas são válidas para todo x real. Vamos admitir (sem as devidas demonstrações) que o desenvolvimento em série de potências de exp(x)=ex também seja válido para números complexos, isto é, que seja possível realizar o mesmo desenvolvimento para exp(z)=ez, mas tomaremos um caso particular em que a parte real do número complexo seja nula.

Assim, tomando z=0+iy=iy com y real, podemos escrever:

eiy =
soma
n=0
(iy) n
n!
= 1 + iy + (iy)²
2!
+ (iy)³
3!
+ (iy)4
4!
+ (iy)5
5!
+ (iy)6
6!
+ (iy)7
6!
+ (iy)8
6!
+...
      = 1 + iy −
2!
−i
3!
+ 4
4!
+ i 5
5!
6
6!
− i 7
7!
+ 8
8!
+...

Um estudo mais detalhado sobre séries absolutamente convergentes será realizado em um capítulo posterior. Tendo em vista que uma série absolutamente convergente, permite rearranjar os termos da série, separaremos a parte real desta série de sua parte imaginária.

eiy = (1 −
2!
+ 4
4!
6
6!
+...) + i (y −
3!
+ 5
5!
7
7!
+ ...)

Comparando com as séries de potências das funções cosseno e seno, obtemos:

eiy = cos(y) + i sen(y)

A função exponencial complexa

Baseado no que foi apresentado acima, podemos definir a função exponencial de um número complexo z=x+iy, como:

exp(z) = ez = e x+iy = ex eiy = ex [cos(y) + i sen(y)]

Propriedades da exponencial complexa: Quaisquer que sejam os números complexos z e w, valem as seguintes propriedades:

  1. ez.ew=e z+w

  2. −z=1/ez

  3. [ezn=enz se n é um número inteiro.

  4. ez neq0

  5. |ez|=e Re(z)

  6. ez=1 se, e somente se, z=2ki, onde k é um número inteiro.

Notação compacta de um número complexo: A partir da definição de exponencial de um número complexo z, podemos escrevê-lo na forma polar com a notação compacta z=r.eit, onde r=|z| e t é o argumento de z.

Exemplo: O número complexo z=−1+3i tem módulo |z|=2 e argumento t=2pi/3, logo z=2e²ipi/3.

Observação: Existe uma conexão entre a exponencial, o cosseno e seno.

cos(t)= eit + e −it
2
   e    sen(t)= eit − e −it
2

Exercícios: Escrever cada número complexo na forma z=r.eit.

z1 = 2−2i,   z2 = 22+22i,   z3 = −i,   z4 = −1−3i,   z5 = −5   e   z6 = −3−4i


Construída por Sônia Ferreira Lopes Toffoli.