Uma equação diferencial ordinária linear de segunda ordem é uma equação da forma
a(x) y''+ b(x) y' + c(x) y = d(x)
onde a=a(x), b=b(x), c=c(x) e d=d(x) são funções conhecidas somente da variável independente x.
Exemplos de EDO lineares
(1) x²y" + sen(x)y' + exp(x)y = u(x) (2) y" -7y' + 12y = cos(x)
Para equações lineares de segunda ordem, se d(x) é diferente de zero, a equação linear será dita não homogênea e se d(x)=0 a equação linear será dita homogênea.
Exemplos de EDO lineares homogêneas
(1) x²y" + sen(x)y' + exp(x)y = 0 (2) y" -7y' + 12y = 0
Não confundir a palavra homogênea usada acima com a homônima, empregada quando se estuda equações diferenciais homogêneas de 1a. ordem através de funções homogêneas de grau zero.
O teorema de existência e unicidade de solução garante que a EDO linear de segunda ordem com as condições adicionais dadas abaixo:
a(x) y'' + b(x) y' + c(x) y = d(x)
y(xo) = yo , y'(xo) = y1
possui uma única solução, desde que as funções a=a(x), b=b(x), c=c(x) e d=d(x) sejam contínuas e a=a(x) seja não nula num intervalo real que contenha o ponto xo.
Como toda função constante real é contínua, então, dentre as equações diferenciais lineares, existe um grupo de equações muito importante que é formado pelas equações cujas funções coeficientes de y, y' e y'' são constantes e neste caso, escrevemos simplesmente:
a y'' + b y' + c y = d(x)
Para resolver este tipo de equação linear não homogênea, deve-se resolver primeiramente a equação linear homogênea associada a esta equação dada para obter yh=yh(x) e obter por algum procedimento matemático, uma solução particular da equação original yp=yp(x). A solução geral y=y(x) será a soma da solução da equação homogênea associada com a solução particular obtida, isto é:
y(x) = yh(x) + yp(x)
Para resolver a equação homogênea com coeficientes constantes, devemos obter a equação característica associada à mesma, que é dada por:
a r² + b r + c = 0
Obter as raízes da equação característica é equivalente a obter os autovalores do Operador Diferencial Linear:
L = a D² + b D + c I
Como a equação característica é uma equação do segundo grau, ela possui exatamente duas raízes no conjunto dos números complexos. Detalhando um pouco mais, observamos que quando os valores de a, b e c são reais, existem três possibilidades para a obtenção das raízes:
Duas raízes reais e distintas: Se r e s são raízes reais e distintas as duas autofunções (autovetores) associadas a estes autovalores em relação ao Operador L, formam o conjunto:
{erx, esx}
Duas raízes reais e iguais: Se r é um autovalor real (multiplicidade 2), as duas autofunções (autovetores) associadas a estes autovalores em relação ao Operador L, formam o conjunto:
{erx, x erx}
Duas raízes complexas conjugadas: Se r e s são raízes complexas conjugadas, digamos r=a+ib e s=a-ib, as duas autofunções (autovetores) associadas a estes autovalores em relação ao Operador L, formam o conjunto:
{eaxcos(bx), eaxsen(bx)}
É possível demonstrar que o conjunto formado por qualquer um dos pares de funções apresentados nos três casos é Linearmente Independente no espaço vetorial de todas as funções reais sobre o corpo dos números reais.
Mais importante ainda é que toda combinação linear destas funções também será solução da EDO linear:
a y'' + b y' + c y = 0
Se {f1,f2} é qualquer um dos conjuntos acima citados, a solução geral da EDO linear homogênea de segunda ordem será dada por:
y = c1 f1 + c2 f2
Existem vários métodos para obter uma solução particular de uma equação linear não homogênea, sendo que os dois mais usados são: Método dos coeficientes a determinar e Método da variação dos parâmetros.
Consideremos a EDO linear com coeficientes constantes:
a y'' + b y' + c y = d(x)
Conhecida a função d=d(x), nosso objetivo será o de obter uma solução particular yp=yp(x) que possa ser escrita como combinação linear de um conjunto de funções linearmente independente capaz de gerar tanto a função d=d(x) como as funções y=y(x), y'=y'(x) e y''=y''(x).
O problema fica mais fácil quando esta função d=d(x) tem alguma das formas abaixo:
Polinômio de grau n na variável independente
Múltiplo de uma função exponencial
Combinação linear de funções trigonométricas
Soma das formas anteriores
Produto das formas anteriores
Respectivamente, para cada caso, procuraremos soluções particulares das formas:
yp(x)=anxn+an-1xn-1+...+a2x²+a1x+ao
yp(x)=k erx
yp(x)=A cos(kx)+Bsen(kx)
yp(x)=y1(x)+y2(x)
onde y1=y1(x) é a solução obtida na primeira forma e y2=y2(x) é a solução obtida na segunda forma.
yp(x)=y1(x).y2(x) onde y1=y1(x) é uma primeira forma e y2=y2(x) é uma segunda forma.
Observação: Se as funções sugeridas já apareceram na solução geral da equação homogênea associada, então a sugestão para a nova função deverá ser a mesma função sugerida, multiplicada por x.
Exemplos: Seja L um operador diferencial linear com coeficientes constantes e uma EDO linear L(y)=d(x).
Equação | Forma da solução procurada |
---|---|
L(y)=3x² | y(x)=ax²+bx+c |
L(y)=7e3x | y(x)=a.e3x |
L(y)=17cos(3x) | y(x)=a.cos(3x)+b.sen(3x) |
L(y)=7sen(2x) | y(x)=a.cos(2x)+b.sen(2x) |
L(y)=7sen(2x)+8cos(2x) | y(x)=a.cos(2x)+b.sen(2x) |
L(y)=7sen(3x)+8cos(2x) | y(x)=a.cos(3x)+b.sen(3x)+c.cos(2x)+d.sen(2x) |
L(y)=3e5x+(x²+7x+3) | y=y1+y2 tal que L(y1)=3.e5x e L(y2)=x²+7x+3. y1(x)=k.e5x e y2(x)=a.x²+bx+c |
L(y)=3e5x(x²+7x+3) | y(x)=e5x[ax²+bx+c] |
L(y)=3e5xsen(2x) | y(x)=e5x[a.cos(2x)+b.sen(2x)] |
Este método é muito mais poderoso que o método dos coeficientes a determinar, para a obtenção de uma solução particular de uma EDO ordinária linear uma vez que resolve equações com coeficientes variáveis.
O processo leva em consideração a solução obtida a partir da equação linear homogênea associada e trata a constante obtida como uma possível função do parâmetro x.
EDO de 1a. ordem: Iniciaremos mostrando como funciona o método para uma EDO linear de 1a. ordem, mesmo sabendo que existe uma outra forma mais fácil para resolver o problema.
Seja a equação y'-2y=5. A equação homogênea associada:
y' - 2y = 0
tem a solução geral
y(x) = A e2x
Fazemos a suposição que A seja uma função de x, isto é, A=A(x) e procuraremos descobrir esta função para que
y(x) = A(x) e2x
seja uma solução particular da equação original dada.
Para que isto ocorra, devemos realizar a derivada para escrever:
y'(x) = A '(x) e2x + 2 A(x) e2x
Substituindo esta última expressão na equação dada, teremos:
A '(x) e2x + 2 A(x) e2x - 2 A(x) e2x = 5
Simplificando esta última equação, chegaremos a:
A '(x) = 5 e-2x
que por integração nos garante que:
A(x) = -(5/2) e-2x
logo, a solução particular será:
y(x) = A(x) e2x = -(5/2) e-2x e2x = -5/2
A solução geral da equação y'-2y=5 é:
y(x) = C e-2x - 5/2
EDO de 2a. ordem: Agora, considereramos uma EDO de 2a. ordem L(y)=d(x), sendo que a solução de L(y) = 0 será dada por:
y(x) = A y1(x) + B y2(x)
onde A e B são constantes reais.
O método consiste em fazer a suposição que A e B possam variar com a variável independente x, isto é que A=A(x) e B=B(x) e a partir daí é imposta uma condição de nulidade de uma expressão:
A '(x) y1(x) + B '(x) y2(x) = 0
que juntamente com a EDO dada, força que:
A '(x) y'1(x) + B '(x) y'2(x) = d(x)
A partir daí, monta-se um sistema de equações, que será escrito sem as variáveis, mas deve ficar claro que todas as funções envolvidas dependerão de x:
A ' y1 + B ' y2 = 0
A ' y1 ' + B ' y2 ' = d(x)
Com a regra de Cramer obtemos A' e B' e por integração obtemos A=A(x) e B=B(x). Finalmente obtemos uma solução particular para a equação original dada.
EDO de 3a. ordem: Seja agora uma EDO linear de 3a. ordem L(y)=d(x), com a solução de L(y)=0 dada por:
y(x) = A y1(x) + B y2(x) + C y3(x)
sendo A, B e C constantes reais.
O método funciona com a suposição que A, B e C possam variar com a variável independente x, isto é que A=A(x), B=B(x) e C=C(x) e a partir daí são impostas duas condições de nulidade:
A ' y1 + B ' y2 + C ' y3 = 0
A ' y1 ' + B ' y2 ' + C ' y3 ' = 0
que juntamente com a EDO, força que:
A ' y1 '' + B ' y2 '' + C ' y3 '' = d(x)
A partir daí, monta-se um sistema com 3 equações:
A ' y1 + B ' y2 + C ' y3 = 0
A ' y1 ' + B ' y2 ' + C ' y3 ' = 0
A ' y1 '' + B ' y2 '' + C ' y3 '' = d(x)
Pela regra de Cramer ou outro método conhecido, podemos obter A ', B ' e C ' e a seguir integrar estas funções para obter A=A(x), B=B(x) e C=C(x) para finalmente obter uma solução particular para a equação original dada.
Exemplos:
Seja a EDO y''+4y=sen(x). A solução da equação homogênea associada é:
y(x) = A cos(2x) + B sen(2x)
Montamos então o sistema:
A ' cos(2x) + B ' sen(2x) = 0
A ' (-2sen(2x)) + B ' (2cos(2x)) = sen(x)
Usando a regra de Cramer, obtemos A' e B':
A '(x) = -½ sen(2x) sen(x)
B '(x) = ½ cos(2x) sen(x)
Integrando A ' e B ' sem a necessidade de acrescentar a constante de integração porque estamos procurando por "uma" solução), obtemos as funções A=A(x) e B=B(x).
A equação y''' = x10 é tal que a solução da equação homogênea associada pode ser escrita como:
y(x) = A.1 + B.x + C.x²
Montaremos o sistema:
A '+ B ' x + C ' x² = 0
B ' + C ' 2x = 0
2 C ' = x10
Dessa forma:
C(x) = (1/22) x11
e podemos obter as outras funções por integrações simples e finalmente obter a função