O papel da matriz adjunta

Nesta página, apresentamos primeiramente o determinante menor de uma matriz quadrada de ordem n. Em seguida, definimos determinante menor complementar e utilizando tal definição exibimos o determinante cofator.

Logo após, mostramos a definição de matriz cofatora de uma matriz quadrada de ordem n para os casos n=2 e n=3.

A definição de matriz adjunta, que foi exibida na sequência, é de fundamental importância na determinação da matriz inversa de uma matriz quadrada de ordem n (quando existir) e também na demonstração do Teorema de Cayley-Hamilton.

Mostramos ainda, a definição de característica de uma matriz, primeiramente para matrizes quadradas e depois para uma matriz retangular.

Finalmente, exibimos algumas propriedades das matrizes adjuntas e as referências bibliográficas.


Determinante menor de uma matriz quadrada

Dada uma matriz quadrada A=(aij) de ordem n, definimos determinante menor da matriz A, ou simplesmente menor de A, como o determinante de uma submatriz quadrada de ordem menor ou igual a n.

Exemplo: Consideremos a matriz quadrada de ordem 3:

M =
1 2 3
2 3 4
3 5 7
  1. Menor de ordem 3: A própria matriz M possui um determinante de ordem 3.

  2. Menor de ordem 2: A matriz M tem 3 linhas e 3 colunas e possui 9 submatrizes de ordem 2 e o determinante de cada uma dessas 9 submatrizes recebe o nome de determinante menor de ordem 2. Se retirarmos a segunda linha e a segunda coluna da matriz, obteremos a submatriz

    S22 =
    1 3
    3 7

    cujo determinante é d22=−2.

  3. Menor de ordem 1: Esta mesma matriz M possui também 9 submatrizes de ordem 1 e cada determinante menor de ordem 1 é dado por dij=aij.

Exemplo: Consideremos a matriz quadrada nula de ordem 2:

M =
0 0
0 0

O determinante de ordem 2 é nulo e todos os 4 determinantes de ordem 1 são nulos.


Determinante menor complementar

Seja A uma matriz quadrada de ordem n>1 da forma

An×n =
a11 a12 ... a1j ... a1n
a21 a22 ... a2j ... a2n
... ... ... ... ... ...
ai1 ai2 ... aij ... ain
... ... ... ... ... ...
an1 an2 ... anj ... ann

Definimos o determinante menor complementar ou simplesmente menor complementar de A relativo ao elemento aij, denotado por Dij, como o determinante da matriz quadrada obtida de A pela exclusão da linha i e da coluna j, que contém o elemento aij considerado. O menor complementar Dij é um número real obtido como:

Dij = det
a11 a12 a13 ... a1n
a21 a22 a23 ... a2n
a31 a32 a33 ... a3n
... ... ... ... ...
an1 an2 an3 ... ann

A linha i e a coluna j da matriz A foram eliminadas para gerar este determinante.

Exemplo: Para a matriz de ordem n=2, definida por

A=
1 2
3 5

teremos quatro menores complementares, que são

D11=det(5)=5,    D12=det(3)=3,    D21=det(2)=2,    D22=det(1)=1

pois o determinante de uma matriz de ordem 1 é o próprio elemento, isto é, se A=[a], então det(A)=a.

Exemplo: Para a matriz de ordem n=3, definida por

A =
2 1 2
0 1 2
0 0 1

temos nove menores complementares:

D11=det
1 2
0 1
=1,    D12=det
0 2
0 1
=0,    D13=det
0 1
0 0
=0
D21=det
1 2
0 1
=1,    D22=det
2 2
0 1
=2,    D23=det
2 1
0 0
=0
D31=det
1 2
1 2
=0,    D32=det
2 2
0 2
=4,    D33=det
2 1
0 1
=2

Determinante cofator (ou cofator)

Seja A=(aij) uma matriz quadrada de ordem n>1. Define-se o determinante cofator ou simplesmente cofator de um elemento aij da matriz A como o número Aij=(−1)i+j.Dij, em que Dij é o menor complementar do elemento aij na matriz A.

Exemplo: Para a matriz de ordem n=2

A =
1 2
3 5

teremos quatro cofatores que são

A11=(−1)1+1.D11=(+1).5=5       A12=(−1)1+2.D12=(−1).3=−3
A21=(−1)2+1.D21=(−1).2=−2       A22=(−1)2+2.D22=(+1).1=1

Exemplo: Para a matriz de ordem n=3

A =
2 1 2
0 1 2
0 0 1

temos nove cofatores que são

A11 = (−1)1+1 D11 = 1    A12 = (−1)1+2 D12 = 0    A13 = (−1)1+3 D13 = 0
A21 = (−1)2+1 D21 =−1    A22 = (−1)2+2 D22 = 2    A23 = (−1)2+3 D23 = 0
A31 = (−1)3+1 D31 = 0    A32 = (−1)3+2 D32 =−4    A33 = (−1)3+3 D33 = 2

Matriz cofatora (ou Cofatora)

Seja A=(aij) uma matriz quadrada de ordem n. Definimos a matriz dos cofatores de A, denotada por cof(A), a matriz que se obtém substituindo cada elemento aij de A pelo seu respectivo cofator Aij.

Exemplo: Seja a matriz de ordem n=2

A =
1 2
3 5

a matriz cofatora cof(A) será

cof(A) =
5 −3
−2 1

Exemplo: Caso n=3: Se

A =
2 1 2
0 1 2
0 0 1

então a matriz cofatora cof(A) será

cof(A) =
1 0 0
−1 2 0
0 −4 2

Adjunta de uma matriz

Seja A=(aij) uma matriz quadrada de ordem n. Define-se matriz adjunta de A, denotada por adj(A), como a transposta da matriz dos cofatores de A, isto é,

adj(A) = transp[cof(A)] = [cof(A)] t

Exemplo: Considere a matriz de ordem n=2 definida por

A =
1 2
3 5

Assim

adj(A) = transp[cof(A)] = transp
5 −3
−2 1
=
5 −2
−3 1

Exemplo: Seja a matriz mais geral de ordem n=2. Se

A =
a b
c d

então

cof(A) =
d −c
−b a

e

adj(A) = transp[cof(A)] =
d −b
−c a

Observações: A adjunta de uma matriz quadrada de ordem 2 da forma

A =
a b
c d

é obtida pela troca das posições dos elementos da diagonal principal e pela troca do sinal dos elementos da diagonal secundária, assim temos:

det[adj(A)] = ad−bc = det(A)

Exemplo: Caso n=3: Para

A =
2 1 2
0 1 2
0 0 1

temos que a matriz adjunta será

adj(A) = transp[cof(A)] = transp
1 0 0
−1 2 0
0 −4 2
=
1 −1 0
0 2 −4
0 0 2

Exemplo: Seja a matriz quadrada de ordem n=2:

A =
1 2
3 5

Assim, det(A)=−1, logo a sua matriz adjunta é

adj(A) =
5 −2
−3 1

Como det[adj(A)]=−1, podemos escrever

A . adj(A) =
1 2
3 5
  . 
5 −2
−3 1
=
−1 0
0 −1
= −1
1 0
0 1
= det(A) . I2

Temos ainda que

adj(A) . A =
5 −2
−3 1
  . 
1 2
3 5
=
−1 0
0 −1
= −1
1 0
0 1
= det(A) . I2

onde I2 é a identidade de ordem 2.

Observações: Neste caso particular em que as ordens das matrizes são iguais a 2, temos:

  1. O produto das matrizes A e adj(A) é comutativo, isto é:

    A . adj(A) = adj(A) . A = det(A)  I2

  2. O produto dos determinantes das matrizes A e adj(A) é igual ao determinante da matriz A elevado à ordem n=2 da matriz A, isto é,

    det[adj(A)] . det(A) = det(A) . det[adj(A)] = [det(A)]²

  3. Os determinantes das matrizes adj(A) e A são iguais, isto é,

    det[adj(A)] = −1 = det(A)

Característica de uma matriz quadrada

Seja A=(aij) uma matriz quadrada de ordem n. Diz-se que a matriz A tem característica r, sendo 1<r<n se, pelo menos um dos determinantes menores de ordem r é diferente de zero e todos os menores quadrados de ordem maior que r são nulos.

Exemplos:

  1. A característica de uma matriz nula é zero.

  2. A característica da matriz identidade de ordem n é igual a n.

  3. Se uma matriz A possui inversa, isto é, det(A)neq0, então a característica de A é a ordem da matriz A.

  4. Se uma matriz A não possui inversa, isto é, det(A)=0, então a característica de A é estritamente menor que a ordem da matriz A.

  5. A matriz A=(aij) definida por

    A =
    1 0 0
    0 1 0
    1 1 0

    tem característica r=2, pois det(A)=0 uma vez que a terceira linha é a soma das duas primeiras linhas, ou seja, a terceira linha é a combinação linear das linhas anteriores, mas

    det
    1 0
    0 1
    = 1
  6. Para a matriz B = (bij) definida por

    B =
    1 0 0
    0 0 0
    0 0 0

    segue que det(B)=0 e todos os determinantes menores de ordem 2 são nulos, mas a característica de A é r=1, pois existe pelo menos uma submatriz de ordem 1 que é não nula, isto é, det[1]=1.

  7. Seja a matriz C = (cij) definida por

    C =
    1 2 3
    2 3 4
    3 5 7

    det(C)=0 pois a terceira linha é a soma das duas primeiras linhas, ou seja, a terceira linha é a combinação linear das linhas anteriores, mas a característica de C é r=2, pois

    det
    1 2
    2 3
    = −1
  8. Considere a matriz D = (dij) tal que

    D =
    1 2 3
    1 3 6
    2 5 9

    Aqui det(D)=0, pois a terceira linha é a soma das duas primeiras linhas, ou seja, a terceira linha é combinação linear das linhas anteriores e a característica desta matriz é r=2, pois

    det
    1 2
    1 3
    = 1
  9. Para a matriz E=(eij) definida por

    E =
    0 2 3
    0 4 6
    0 6 9

    segue que det(E)=0, pois a terceira linha é a soma das duas primeiras linhas, ou seja, a terceira linha é combinação linear das linhas anteriores. A característica desta matriz é r=1, pois cada um dos 9 menores de ordem 2 é 0, mas nem todo elemento é 0.

  10. A matriz quadrada F=(fij) de ordem 2 definida por

    F =
    1 2
    3 5

    tem característica r=2, pois det(F)= −1.

  11. A matriz quadrada G=(gij) de ordem 3 definida por

    G =
    2 1 2
    0 1 2
    0 0 1

    tem característica r=3, pois det(G)=2.

  12. Considere a matriz quadrada A=(aij) definida por

    A =
    1 2
    3 5

    Assim, det(A)=−1. A adjunta de A é dada por

    adj(A) =
    5 −2
    −3 1

    e o determinante da matriz adjunta é −1. Desse modo, temos que

    A . adj(A) =
    1 2
    3 5
    .
    5 −2
    −3 1
    =
    −1 0
    0 −1
    = −1
    1 0
    0 1
    = det(A) . I2

    Temos ainda que

    adj(A) . A =
    5 −2
    −3 1
    .
    1 2
    3 5
    =
    −1 0
    0 −1
    = −1
    1 0
    0 1
    = det(A) . I2

    onde I2 é a identidade de ordem 2. Concluímos então que

    A . adj(A) = adj(A) . A = det(A) . I2

    Tomando o produto dos determinantes das matrizes A e adj(A), obtemos

    det(A) . det(adj(A)) = [det(A)]² = det(adj(A)) . det(A)

    O produto dos determinantes das matrizes A e adj(A) é igual ao determinante da matriz A elevado à ordem da matriz A. Como A é uma matriz quadrada de ordem 2 e como det(A)neq0, segue que a matriz é inversível, e

    det(adj(A)) = (−1) = [det(A)]2−1 = det(A)

  13. Considere a matriz quadrada A=(aij) definida por

    A =
    2 1 2
    0 1 2
    0 0 1

    Assim det(A)=2. O determinante dessa matriz é o produto dos elementos da diagonal principal, pois essa matriz é triangular (superior). A sua matriz adjunta é

    adj(A) =
    1 −1 0
    0 2 −4
    0 0 2

    O determinante da matriz adjunta é o produto dos elementos da diagonal principal, pois a matriz adjunta é triangular (superior). Assim, det(adj(A))=4 e desse modo, temos que

    A . adj(A) =
    2 1 2
    0 1 2
    0 0 1
    .
    1 −1 0
    0 2 −4
    0 0 2
    =
    2 0 0
    0 2 0
    0 0 2
    = 2 .
    1 0 0
    0 1 0
    0 0 1
    = det(A).I3

    Temos ainda que

    adj(A) . A =
    1 −1 0
    0 2 −4
    0 0 2
    .
    2 1 2
    0 1 2
    0 0 1
    =
    2 0 0
    0 2 0
    0 0 2
    = 2 .
    1 0 0
    0 1 0
    0 0 1
    = det(A).I3

    onde I3 é a identidade de ordem 3. Podemos concluir que

    A . adj(A) = adj(A) . A = det(A) I3

    Tomando o produto dos determinantes das matrizes A e adj(A), obtemos:

    det(A) det(adj(A)] = [det(A)]³ = det(adj(A)) det(A)

    O produto dos determinantes das matrizes A=(aij) e adj(A) é igual ao determinante da matriz A=(aij) elevado à ordem da matriz A. Como A é uma matriz quadrada de ordem 3 e como det(A)neq0, segue que a matriz é inversível e além disso

    det(adj(A)) = 4 = 2² = [det(A)]3−1 = [det(A)]²

    O determinante da matriz adjunta de A=(aij) é igual ao determinante da matriz A=(aij) elevado à ordem de A=(aij) menos 1.

Característica de uma matriz retangular mxn

Seja A=(aij) uma matriz retangular com m linhas e n colunas. Diz-se a matriz A tem característica r, sendo 1<r<max(m,n) se, pelo menos um dos determinantes menores de ordem r é diferente de zero e todos os determinantes menores de ordem maior do que r são nulos.

  1. Exemplo: Seja a matriz D=(dij) tal que

    D =
    1 2 3
    −7 0 6

    A característica desta matriz é r=2, pois

    det
    1 2
    −7 0
    = 14

    e não existem menores complementares de ordem 3.

Algumas propriedades da adjunta

Em todas as propriedades seguintes, consideraremos que as matrizes A=(aij) e B=(bij) são matrizes quadradas.

  1. Se A=(aij) é uma matriz de ordem n então

    A . adj(A) = det(A) . In = adj(A) . A

  2. Se A=(aij) é uma matriz de ordem n então

    det(A) . det[adj(A)] = det(A) n = det[adj(A)] . det(A)

  3. Se A=(aij) é uma matriz inversível de ordem n, então

    det(adj(A)) = det(A)n−1

  4. Se A=(aij) é uma matriz não inversível de ordem n, então

    A . adj(A) = adj(A) . A = 0

  5. Se A=(aij) é uma matriz de ordem 2, mostrar que

    adj[adj(A)] = A

  6. Se A=(aij) e B=(bij) são matrizes de mesma ordem n, então

    adj(A . B) = adj(B) . adj(A)

  7. Se A=(aij) é uma matriz inversível de ordem n, então

    adj[adj(A)] = det(A)n−2 . A

  8. A adjunta de uma matriz de ordem 1 é a própria matriz.

  9. A adjunta de uma matriz diagonal é uma matriz diagonal.

  10. A adjunta de uma matriz escalar é uma matriz escalar.

  11. A adjunta de uma matriz triangular é uma matriz triangular.

  12. Se A=(aij) é uma matriz simétrica, então a adjunta de A é uma matriz simétrica.

  13. Se A=(aij) uma matriz de ordem n então

    det{adj[adj(A)]} = [det(A)]2(n−1)

  14. Se a matriz A=(aij) de ordem n tem característica r=n−1, então a adjunta de A tem característica 1.

    Demonstração: Se a matriz A=(aij) tem característica r=n−1, então existe pelo menos um cofator não-nulo e a característica da adjunta de A é pelo menos 1.

Referências bibliográficas

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  2. C. Boyer. História da Matemática, Edgard Blücher. S.Paulo. Pag.424-427. 1974.

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  6. A. G. Kurosh. Curso de Álgebra Superior. Editorial Mir. Moscu 1968.

  7. S. Lipschitz. Álgebra Linear. Edit.McGraw-Hill do Brasil. 2a.ed., S.Paulo, 1974.

  8. L. H. Jacy Monteiro. Álgebra Linear. vol.1. Liv.Nobel. 4a.ed., S.Paulo, 1969.

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  10. F. Reza. Los espacios lineales en la ingeniería. Edit.Reverté. Barcelona, 1977.

  11. G. C. Shepard. Vector Spaces of Finite Dimension. Oliver,Boyd. London, 1966.

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