Os elementos de um corpo ordenado K serão denominados números. Seja K um corpo ordenado. Um subconjunto SK é indutivo se o elemento neutro da multiplicação 1S e além disso xS implica que x+1S.
Exemplos de conjuntos indutivos: (1) O próprio corpo ordenado K. (2) A classe dos números positivos PK desde que 1P. (3) O conjunto C = { x: x> 1}K.
Um número nK é natural se n pertence a todos os conjuntos indutivos de K. O conjunto de todos os números naturais será denotado por N.
Teorema: O conjunto N de todos os números naturais é indutivo.
Demonstração: Para demonstrar que N é indutivo, mostraremos que 1N e que se nN então n+1N.
A própria definição de conjunto indutivo garante que 1N. Vamos supor que nN. Desse modo, nS, para todo subconjunto indutivo SK. Acontece que pela definição de conjunto indutivo, nS, o que garante que n+1S. Assim n+1 pertence a todos os conjuntos indutivos de K, o que garante que n+1 é um número natural, logo n+1N.
Concluímos que N é um conjunto indutivo.
Se S é um conjunto indutivo contido em N, então S=N.
Demonstração: Se SN, pela definição de número natural, segue que NS para todo conjunto indutivo, logo S=N.
Se para cada número natural n podemos definir uma proposição P(n) tal que: P(1) é verdadeira e além disso, para cada kN, P(k) implica P(k+1), então P(n) é verdadeira para todo nN.
Demonstração: Definamos S = {nN: P(n) é verdadeira}. Da forma como S foi construído, SN e S é um conjunto indutivo pois 1S e se nS então n+1S, o que garante pelo princípio da indução que S=N. Dessa forma, a proposição P(n) é verdadeira para todo nN.
O princípio da Indução Matemática serve para demonstrar as próprias propriedades dos números naturais. Outra utilidade deste princípio é definir conceitos que envolvem os números naturais. Na Matemática e também em Computação, o uso de propriedades recursivas faz intenso uso deste princípio.
Exemplo: A soma dos n primeiros números naturais pode ser definida de um modo recursivo, por: S1=1 e Sn+1 = Sn + n+1, para cada nN. Observamos que:
Usando o PIM, é possível mostrar que para todo nN:
Se m,nN então m+nN.
Se m,nN tal que m < n então n−mN.
Se m,nN então m.nN.
Não existe nN tal que m < n < m+1 para cada mN.
Se m,nN são tais que m< n< m+1, então m=n ou n=m+1.
Se m,nN são tais que m< n < m+1, então m=n.
Se m,nN são tais que m < n< m+1, então n=m+1.
Seja S um subconjunto de um corpo ordenado K. Diz-se que S possui um mínimo (menor elemento) so se: soS e para cada sS: so< s. Notação: s0= min(S).
Diz-se que S possui um máximo (maior elemento) to se: toS e para cada sS: s< to. Notação: t0= max(S).
Exemplos:
O conjunto N= {1,2,3,...} possui mínmimo mas não possui máximo.
Para o conjunto C= {−2,−1,0,1,2,3}, segue que min(C)=−2 e max(C)=3.
O conjunto P de todos os números positivos de um corpo ordenado K não possui mínimo.
Proposição: Se s0 = min(S) onde S é um subconjunto de um corpo ordenado K então so é único.
Proposição: Se t0 = max(S), onde S um subconjunto de um corpo ordenado K então to é único.
Seja S um subconjunto de um corpo ordenado K. O conjunto S é bem ordenado se, todo subconjunto de S possui mínimo.
Exemplos:
Todo subconjunto finito de um corpo ordenado K é bem ordenado.
O conjunto N= {1,2,3,...} é bem ordenado.
Todo subconjunto do conjunto N= {1,2,3,...} dos números naturais é bem ordenado.
Seja SN e para cada nN definamos os conjuntos Sn = { mN: m < n} com S1= Ø. Se para cada nN, SnS implicar que nS, então S=N.
Este segundo Princípio de Indução é útil para definir as potências de números naturais.
Seja K um corpo ordenado e xK. Definimos x 1=x e para cada nN: x n+1 = xn.x.
Seja K um corpo ordenado, x,yK e m,nN. Então:
xm . xn = x m+n
(xm) n = x m.n
(x.y) n = xn.yn
(x/y) n = xn/yn
Para pensar: Os números da sequência de Fibonacci são construídos a partir de f1=1, f2=1 e para cada nN:
Construir uma regra geral para definir esta sequência f que aparece na forma de um conjunto:
Exercícios: Usando o Princípio de Indução Matemática, resolva cada um dos exercícios. Em todas as situações que seguem, nN, isto é, n é um número natural.
Mostre que para todo nN tem-se que: n < 2 n.
Se n!=1.2.3...n, mostre que para n> 4, vale: 2 n < n!.
Mostre que para n > 9, tem-se que: n³ < 2 n.
Sejam os números: s1=1 e sn+1=sn + (n+1). Estes números geram as somas dos n primeiros números naturais de modo recursivo. Mostrar que para todo nN, vale a regra geral: sn = n(n+1)/2
Sejam os números: s1=1 e sn+1=sn + (n+1)². Estes números geram as somas dos quadrados dos n primeiros números naturais de modo recursivo. Mostrar que para todo nN, vale a forma geral: sn = n(n+1)(2n+1)/6.
Sejam os números: s1=1 e sn+1=sn + (n+1)³. Estes números geram as somas dos cubos dos n primeiros números naturais de modo recursivo. Mostrar que para todo nN, vale a forma geral: sn=[n(n+1)/2]².
Sejam os números: s1=1 e sn+1=sn + (n+1)4. Tais números geram as somas dos cubos dos n primeiros números naturais de modo recursivo. Mostrar que para todo nN, vale a regra geral sn = n(n+1)(2n+1)(3n²+3n−1)/30.
Sejam os números: s1=1/2 e sn+1=sn+1/((n+1)(n+2)). A regra geral para estes números é sn = n/(n+1) e eles serão usados no estudo de série reais para mostrar que é convergente a série
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Sejam os números: s1=1 e s2=3 e sn+2=3 sn+1−2 sn. Mostrar que estes números têm a forma geral: sn=2 n−1.
Seja K um corpo ordenado, a,rK, r1. Sejam os números: s1=a e sn+1=sn + a rn. Tais números geram a fórmula geral para a soma dos n primeiros termos de uma sequência geométrica que pode ser escrita como:
sn = a |
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Tal regra será utilizada no estudo da importante série geométrica infinita
S(r)= |
|
a rn |
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para garantir a convergência desta série quando |r|<1.
Mostre que se m,nN, então m+nN e m.nN.
Mostre que se m1,m2,...,mnN, então m1+m2+...+mnN e m1.m2.m3...mnN.
Mostre que se p,qP, então p+qP e p.qP.
Mostre que se p1,p2,...,pnP, então p1+p2+...+pnP e p1.p2.p3...pn−1.pnP.
Mostre que se x0 e y0, então x.y0 e além disso (x.y)−1=y −1 x −1.
Mostre que se x10, x20,...,xn0, então segue que x1 x2 ... xn0 e além disso (x1 x2 ... xn)−1=x1−1 x2−1 ... xn −1.
Seja K um corpo ordenado e m,nK. Mostre que se m>1 e n>1, então m.n > 2.
Seja K um corpo ordenado e {mn}K para cada nN. Mostre que se m1>1, m2>1, ..., mn>1, então m1 m2 ... mn >n.
Usamos a letra grega sigma maiúscula para somas. Em geral, usamos a palavra somatório no lugar desoma.
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f(k) = f(1) + f(2) + ... + f(n) |
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No estudo de séries reais e complexas, usamos bastante a soma infinita
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f(k) = f(1) + f(2) + ... + f(n)+ ... |
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Exercício: Usando o Princípio da Indução, demonstrar as seguintes propriedades das somas finitas:
Se C é uma constante, então
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C = nC |
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Demonstração sem usar o Princípio da Indução:
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C = C+C+C+...+C (n vezes) = nC |
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Propriedade da soma
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[f(k) + g(k)] = |
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f(k) + |
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g(k) |
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Propriedade da homogeneidade
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C f(k) = C |
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f(k) |
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Demonstração sem usar o Princípio da Indução:
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C f(k) = C f(1) + C f(2) +...+ C f(n) = C [f(1)+f(2)+...+f(n)] = C |
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f(k) |
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A propriedade telescópica para uma série é dada por
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[f(k+1)−f(k)] = f(n+1)−f(1) |
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Demonstração sem usar o Princípio da Indução:
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[f(k+1)−f(k)] = [f(2)−f(1)]+[f(3)−f(2)] +...+ [f(n)−f(n−1)]+[f(n+1)−f(n)] = f(n+1)−f(1) |
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Exercício: Usando a propriedade telescópica e a função apresentada em cada ítem, demonstrar que:
se f(n)=n, então
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1 = n |
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Demonstração: Se f(n)=n na propriedade telescópica, obtemos:
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[(k+1)− k] = (n+1)−1 = n |
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se f(n)=(n−1)², então a soma dos n primeiros números ímpares é dada por:
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(2k−1) = n² |
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Demonstração: Tomando f(n)=(n−1)² na propriedade telescópica, segue:
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[k²− (k−1)²] = n² −0 = n² |
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se f(n)=n², então a soma dos n números ímpares abaixo, é dada por:
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(2k+1) = n²+2n |
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Demonstração: Com f(n)=n² na propriedade telescópica, obtemos:
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[(k+1)²− k²] = (n+1)² −1 = n²+2n |
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se f(n)=n², então a soma dos n primeiros números naturais é dada por:
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k = n(n+1)/2 |
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Demonstração: Se f(n)=n² na propriedade telescópica, obtemos a partir do ítem anterior, que:
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(2k+1) = n² + 2n |
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Assim:
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k= (1/2) |
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(2k) = (1/2) |
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(2k+1−1)= (1/2)[ |
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(2k+1) − |
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1] |
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que pode ser escrita na forma
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k= [(n²+2n) −n]/2 = n(n+1)/2 |
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se f(n)=n³, a soma dos quadrados dos n primeiros números naturais é dada por:
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k² = n(n+1)(2n+1)/6 |
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Demonstração: Se f(n)=n³ na propriedade telescópica, obtemos:
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[(k+1)³− k³] = (n+1)³ −1 |
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que pode ser escrito como
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[3k²+3k+1] = n³+3n²+3n |
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que pode ser desenvolvido como
3 |
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k² +3 |
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k + |
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1 = n³+3n²+3n |
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Usando os resultados obtidos nos ítens anteriores, segue que
3 |
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k² +3n(n+1)/2 +n = n³+3n²+3n |
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Multiplicando por 2 todos os termos e isolando a soma do lado esquerdo da iguladade, obtemos:
6 |
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k² = 2n³+6n²+6n −3n(n+1) −2n |
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Simplificando segue que
6 |
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k² = 2n³+3n²+n |
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de onde segue o resultado desejado.
se f(n)=n 4, então a soma dos cubos dos n primeiros números naturais é dada por:
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k³ = [n(n+1)/2]² |
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se f(n)=n 5, então a soma dos quárticos dos n primeiros números naturais é dada por:
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k 4 = n(n+1)(2n+1)(3n²+3n−1)/30 |
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se f(n)=n 6, então a soma dos quínticos dos n primeiros números naturais é dada por:
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k 5 = ??? |
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se f(n)=1/n, então
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= |
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Demonstração: Tomando f(n)=1/n na propriedade telescópica, tem-se:
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− |
|
= |
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− 1 |
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de onde segue imediatamente que
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= |
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Multiplicando ambos os membros da igualdade por −1, segue o resultado.
se f(n)=1/n², então
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= |
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Demonstração: Tomando f(n)=1/n² na propriedade telescópica, obtemos:
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|
− |
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= |
|
− 1 |
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de onde segue que
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= |
|
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Multiplicando ambos os membros da igualdade por −1, segue o resultado.