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Dentre todas as relações em um certo produto cartesiano, existe um tipo de subconjunto que é muito exigente mas que produz resultados de grande valor na Matemática. Este conceito é denominado função.
Se \(A\) e \(B\) são dois conjuntos não vazios, uma aplicação \(f\) no produto cartesiano \(A{\times}B\) é uma relação em \(A{\times}B\), que, para cada \(x\in A\), existe \(y\in B\) tal que \((x,y)\in f\),
e, além disso, se \((x,y_1)\in f\) e \((x,y_2)\in f\), então \(y_1=y_2\).
Uma notação bastante comum para uma aplicação \(f\) definida no produto cartesiano \(A{\times}B\) é \(f:A\to B\).
Nota: O primeiro ítem da definição acima declara que todos os elementos de \(A\) devem estar relacionados com elementos de \(B\) e o segundo ítem garante que um elemento de A deve estar associado com apenas um elemento em \(B\).
Exemplo: Nem toda relação no produto cartesiano \(R^2\) é uma aplicação em \(R^2\), como o conjunto \(K=\{(x,y)\in R^2: x^2+y^2=1\}\).
Graficamente, temos:
Em textos antigos, a palavra função era usada de uma forma bastante livre no lugar de aplicação, mas na literatura atual a palavra aplicação passou a ter outros nomes como: operador, transformação, funcional,etc e houve a necessidade de restringir a palavra função exclusivamente às situações em que o conjunto \(B\) é um subconjunto do conjunto \(R\) dos números reais.
Seja \(f\) uma aplicação em \(A{\times}B\), denotada por \(f:A\to B\). O gráfico de \(f\), às vezes usado como a definição de função, é definido por:
O conjunto \(A\) recebe o nome de domínio de \(f\), denotado por \(\text{Dom}(f)\). O conjunto \(B\) recebe o nome de contradomínio de \(f\), denotado por \(\text{Codom}(f)\). A imagem de \(f\), denotada por texto \(\text{Im}(f)\) é o conjunto:
Exemplo: A função quadrática \(f:R\to [0,\infty)\) pode ser escrita na forma:
ou na forma \(f:R \to[0,\infty)\) definida por \(f(x)=x^2\) onde \(\text{Dom}(f)=R\), \(\text{Codom}(f)=Im(f)=[0,\infty)\).
Exercícios:
Podemos restringir o domínio de uma função \(f:A\to B\) a um subconjunto \(S\) de \(A\) de modo que a função restrita ao conjunto \(S\), denotada por \(f|S:S\to B\) seja coincidente com a função original sobre o conjunto
\(S\), isto é, para cada \(x\in S\) tem-se que: \(f|S(x)=f(x)\).
Exemplo: Podemos definir a restrição da função \(f:R\to R\) definida por \(f(x)=x^2\) ao conjunto \([0,\infty)\) de modo que:
Graficamente, temos:
Podemos estender uma função \(f:A\to B\) a um conjunto \(M\) contendo o conjunto \(A\) de modo que a função estendida ao conjunto \(M\), denotada por \(F:M\to B\) deva ser coincidente com a função original sobre o conjunto \(A\), isto é, para cada, \(x\in A\) tem-se que \(F(x)=f(x)\).
Exemplo: Seja a função \(f:R-\{0\}\to R\) definida por \(f(x)=\text{sen}(x)/x\). Esta função não tem sentido para \(x\)=0, mas podemos estender esta função a uma forma bastante natural a todo o conjunto \(R\) dos números reais, tomando \(f(0)=1\). Esta forma é comumente utilizada em Análise Matemática.
Dada uma aplicação \(f:A\to B\) que associa a cada elemento de \(A\) um único elemento de \(B\), esta definição não obriga que todos os elementos de \(A\) tenham imagens distintas ou mesmo que todos os elementos de \(B\) sejam imagens de elementos de \(A\).
Mesmo que \(a\neq b\) pode ocorrer que \(f(a)=f(b)\). Quando elementos distintos de \(A\) possuem imagens distintas, dizemos que a aplicação é injetora. A definição seguinte estabelece este fato.
Uma aplicação \(f:A\to B\) é injetiva, injetora ou unívoca, se: \(a\neq b\) implica que \(f(a)\neq f(b)\). Algumas vezes este tipo de aplicação é denominada 1-1 (lê-se: um-a-um
).
Exemplo: A função \(f:R\to R\), definida por \(f(x)=x^2\) não é injetiva, pois \(f(-2)=\)f(2), mas a função \(f:[0,\infty)\to[0,\infty)\) definida por \(f(x)=x^2\) é injetiva.
Teorema: Seja \(f: A\to B\) uma aplicação. \(f\) é injetora se, e somente se, \(f(a)=f(b)\) implica que \(a=b\).
Demonstração: São equivalentes as proposições lógicas
pois a proposição lógica \(p\to q\) equivale à proposição lógica \(q' \to p'\).
Pode ocorrer que algum elemento de \(B\) não esteja na imagem de um elemento de \(A\). Temos uma outra definição.
Dizemos que a aplicação \(f: A \to B\) é sobrejetiva, sobrejetora ou sobre, se todos os elementos de \(B\) são imagens de elementos de \(A\), ou seja, para todo \(b\in B\) existe \(a\in A\) tal que \(f(a)=b\), o que significa que \(f(A)=B\).
Exemplo: A função \(f: R\to R\), definida por \(f(x)=x^2\) não é sobrejetiva, pois não existe \(x\in R\) tal que \(f(x)=-2\), mas \(f:[0,\infty)\to [0,\infty)\) definida por \(f(x)=x^2\) é sobrejetiva.
Teorema: Seja \(f:A\to B\) uma aplicação. \(f\) é sobrejetora se, e somente se, para todo \(b\in B\), a equação \(f(x)=b\) tem pelo menos uma solução em \(A\).
A demonstração é imediata, pois com o teorema, temos duas maneiras para garantir que \(f\) é sobrejetiva.
Uma aplicação \(f:A\to B\) é bijetiva, bijetora ou uma correspondência biunívoca, se \(f\) é injetiva e sobrejetiva
Exemplo: A função \(f: R\to R\), definida por \(f(x)=x^2\) não é bijetiva, mas a função \(f:[0,\infty)\to[0,\infty)\) definida por \(f(x)=x^2\) é bijetiva.
Exemplo: A aplicação \(f:R-\{2\}\to R-\{3\}\) definida por \(f(x)=(3x-1)/(x-2)\) é injetora pois, se \(f(a)=f(b)\) então \((3a-1)/(a-2)=(3b-1)/(b-2)\) e daí segue que \(a=b\). \(f\) também é sobre pois se \(f(x)=b\), então \((3x-1)/(x-2)=b\), de onde segue que se \(b\neq 3\) então \(x=(2b-1)/(b-3)\). Finalmente, segue que \(f\) é bijetora pois é injetora e sobrejetora
Nota sobre a palavra sobre: Afirmar que \(f:A\to B\) é uma aplicação injetiva sobre o conjunto \(B\), é o mesmo que afirmar que \(f\) é bijetiva
Exercícios: Mostrar que
Dicas
Sejam as aplicações \(f:A\to B\) e \(g:B\to C\). Definimos a aplicação composta \(gof: A\to C\) entre \(g\) e \(f\), nesta ordem, por (\(g\circ f)(x)=g(f(x))\).
Uma outra forma geométrica para a composta das aplicações \(f\) e \(g\), está ilustrada na figura:
Exemplo: Sejam \(f:R\to R\) definida por \(f(x)=2x\) e \(g:R\to R\) definida por \(g(y)=y^2\). Definimos a composta \(g\circ f: R\to R\) por:
A identidade \(I:A\to A\) é uma das mais importantes aplicações da Matemática, definida para todo \(a\in A\), por \(I(a)=a\). Quando é importante indicar o conjunto \(X\) onde a identidade atua, a aplicação identidade \(I:X\to X\) é denotada por \(I_X\).
Propriedades das aplicações compostas
Inversa à esquerda: Sejam as aplicações \(f:A\to B\) e \(g:B\to A\). Diz-se que \(g\) é uma inversa à esquerda para \(f\) se \(gof=I_A\), isto é, para todo \(a\in A\):
Inversa à direita: Sejam as aplicações \(g:B\to A\) e \(f:A\to B\). Diz-se que \(g\) é uma inversa à direita para \(f\) se \(fog=I_B\), isto é, para todo \(b\in B\):
Inversa: Uma aplicação \(f:A\to B\) possui inversa \(g:B\to A\) se, \(g\) é uma inversa à esquerda e também à direita para \(f\). Isto significa que, para todo \(a\in A\) e para todo \(b\in B\):
Notação: A inversa de \(f\) é denotada por \(g=f^{-1}\). Demonstra-se que, se a inversa \(g=f^{-1}\) existe, ela é única e a inversa da inversa de \(f\) é a própria aplicação \(f\), isto é:
A imagem (direta) de um conjunto \(A \subset X\) pela aplicação \(f:X\to Y\), é definida como o conjunto:
Propriedades da imagem direta: Sejam \(f:X \to Y\) uma aplicação, \(A\subset X\) e \(B\subset X\). Então:
Demonstração: Se \(y\in f(A\)), então existe \(x\in A\) tal que \(y=f(x)\in f(A)\). Por hipótese, \(A\subset B\), então \(x\in B\), logo \(y=f(x)\in f(B)\).
Nota: Existem aplicações para as quais \(f(A \cap B) \neq f(A) \cap f(B)\). Você saberia definir uma delas?
A imagem inversa de um conjunto \(W \subset Y\) pela aplicação \(f:X \to Y\), é definida por
Propriedades da imagem inversa: Sejam \(f:X\to Y\) uma aplicação, \(U\subset Y\) e \(V\subset Y\). Então:
Demonstração: Se \(x\in f^{-1}(U)\), então \(f(x)\in U\). Como \(U\subset V\), então \(f(x)\in V\). Desse modo \(x\in f^{-1}(V)\).
\(f^{-1}(U \cap V) = f^{-1}(U) \cap f^{-1}(V)\)
Demonstração: \(x\in f^{-1}(U \cap V)\), equivale a, \(f(x)\in(U\cap V)\), que equivale a, \(f(x)\in U\) e \(f(x)\in V\), que equivale a, \(x\in f^{-1}(U)\) e \(x\in f^{-1}(V)\), se, e somente se, \(x\in f^{-1}(U) \cap f^{-1}(V)\).
\(f^{-1}(U \cup V) = f^{-1}(U) \cup f^{-1}(V)\).
Demonstração: \(x\in f^{-1}(U \cup V)\), se, e somente se, \(f(x)\in(U \cup V)\), se, \(f(x)\in U\) ou \(f(x)\in V\), se, e somente se, \(x\in f^{-1}(U)\) ou \(x\in f^{-1}(V)\), se, e somente se, \(x\in f^{-1}(U) \cup f^{-1}(V)\).
\(f^{-1}(V^c)=[f^{-1}(V)]^c\)
Demonstração: \(x\in f^{-1}(V^c)\), equivale a \(f(x)\in V^c\), que equivale a \(f(x)\) não pertence a \(V\), que equivale a \(x\) não pertence a \(f^{-1}(V)\), que é equivalente a \(x\in [f^{-1}(V)]^c\).
Se \(U \subset V\) então \(f^{-1}(V-U)=f^{-1}(V)-f^{-1}(U)\).
Demonstração: Como \(V-U=V \cap U^c\), pelo item 4, segue que
Pelo ítem (4), segue que:
Propriedades mistas: Sejam \(f: X\to Y\) uma aplicação. Assim: