Manifesto de Stijl
Théo Van
Doesburg & Piet Mondrian & Bart an der Leck, J.J.P.
Prefácio I
Esta revista se
instala com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de um novo
sentido estético. Quer fazer o nome moderno sensível a tudo o que há
de novo nas artes plásticas. À confusão arcaica – o “barroco moderno”-
quer opor os princípios lógicos de um estilo que vem amadurecendo e
que baseia na observação das relações entre as tendências atuais e os
meios de expressão. Quer reunir e coordenar as tendências atuais da
nova plástica, as quais, se bem que sejam fundamentalmente semelhantes
entre si, vêm se desenvolvendo independentemente uma da outra.
A redação se
esforçará para alcançar o objetivo proposto, dando a palavra a
artistas verdadeiramente modernos, que poderão contribuir para a
reforma do sentido estético e para o conhecimento das artes plásticas.
Ali onde a nova estética não chegou ainda ao grande público, a missão
do especialista é despertar a consciência estética deste público. O
artista verdadeiramente moderno, quer dizer consciente, tem uma dupla
tarefa. Em primeiro lugar, deve criar a obra de arte puramente
plástica; em segundo lugar, deve encaminhar o público à compreensão
de uma estética da arte plástica pura. Por ele, uma revista com estas
características é indispensável, tanto mais quando a crítica oficial
não soube suscitar uma sensibilidade estética aberta à revelação da
arte abstrata. A redação permitirá que os especialistas encham esta
lacuna. A revista servirá para estabelecer relações entre o artista, o
público e os apreciadores das diversas artes plásticas. Ao dar ao
artista a oportunidade de falar de seu próprio trabalho, fará
desaparecer o prejuízo em razão do qual o artista modernos trabalha
seguindo teorias pré estabelecidas. Em seu lugar se verá que a obra de
arte não nasce de teorias assumidas a priori, mas, ao contrário, que
os princípios derivam do trabalho plástico.
Por ele, o
artista deve contribuir para a formação de uma cultura artística
profunda, assimilando o conhecimento geral das novas artes plásticas.
Quando os
artistas das diversas artes plásticas tenham compreendido que devem
falar uma linguagem universal, já não se firmaram na sua própria
individualidade.
Servirão ao
princípio geram mas além de uma individualidade restritiva... e, ao
servir ao princípio geral, deverá criar um só estilo orgânico. A
divulgação do mais belo necessita de uma comunidade espiritual, não
social. Sem dúvida, uma comunidade espiritual não pode nascer sem o
sacrifício de uma individualidade ambiciosa. Só aplicando
constantemente este princípio se poderá conseguir que a nova estética
plástica se revele, como estilo, em todos os objetos, nascendo de
novas relações entre o artista e a sociedade.
Prefácio
II
O fim da
natureza é o homem.
O fim do homem é
o estilo.
O que a nova
plástica se expressa de modo determinado, ou seja, as proporções em
equilíbrio entre o particular e o geral, se revela mais ou menos
também na vida do homem moderno e constitui a causa primordial da
reconstrução social a que assistimos. Assim como o homem amadureceu
para opor-se a dominação do indivíduo e ao arbítrio, do mesmo modo o
artista amadureceu para opor-se a dominação do individual nas artes
plásticas, quer dizer, à forma e à cor naturais, às emoções.
Esta oposição,
que está baseada na maturação interior do homem em sua plenitude, na
vida e no sentido estrito da palavra, na consciência racional, se
reflete em todo o desenvolvimento da arte, e de modo particular, nos
últimos cinqüenta anos.
Assim pois, era
previsível que partindo deste desenvolvimento da arte, produzido aos
saltos, se deveria terminar em uma plástica completamente nova, a qual
não podia aparecer mais que em um período capaz de revolucionar
profundamente as relações materiais e espirituais.
Estes tempos,
são nossos tempos e hoje somos testemunhas do nascimento de uma nova
arte plástica. Ali de uma parte se deixa sentir a necessidade, para a
arte e a cultura, de uma nova base, quer seja espiritual (no sentido
mais amplo da palavra), quer seja material, e onde, de outra, a
tradição e o convencionalismo que acompanham necessariamente a cada
novo pensamento e a cada nova ação se esforçam por manter em todos os
campos as próprias posições resistindo a todo o que é novo, a missão
de quem deve testemunhar a nova consciência da época –com suas obras
plásticas e com seus escritos- é importante e difícil. Sua tarefa
exige uma energia e uma perseverança, constante, reforçada e
estimuladora, precisamente pela resistência conservadora. Os que
intencionalmente interpretam mal as novas concepções e noções e
consideram as novas obras plásticas, do mesmo modo que consideram as
obras impressionistas, é dizer, mais além da superfície, colaboram
inconscientemente na criação de uma nova concepção de arte e da vida.
Não podemos
deixar de agradece-los.
Se dirigirmos
nosso olhar ao ano que acaba de passar, devemos encher-nos de
admiração ante o fato de que artistas criadores tenham sabido formular
de maneira tão precisa as noções que têm chegado através de seu
próprio trabalho. Eles têm contribuído em grande medida para clarear a
nova consciência artística.