Processos Sociais e Práticas Culturais
2. Processos Sociais e Práticas Culturais
Estuda estruturas e experiências comunicacionais em seus desdobramentos históricos, geopolíticos, econômicos e culturais a partir de suas mais diferentes expressões verbais, visuais, sonoras e gestuais. Interpreta criticamente práticas e processos comunicacionais como práxis sócio-históricas da reprodução e das disputas de hegemonias.
Projetos de Pesquisa
Genealogia da Comunicação – Comunicação e Biopolítica I
Eduardo Yuji Yamamoto
Busca-se identificar, na história semântica da comunicação, os acontecimentos que determinaram a sua emergência enquanto prática transmissiva. Para tal estabelece-se o seguinte itinerário: contextualização do problema (a perda do mundo através da comunicação transmissiva), bem como da hipótese da pesquisa (salvar a comunicação é questionar a sua essência); levantamento de autores que problematizaram a comunicação como transmissão e como representação do mundo: Martin Heidegger, Gilles Deleuze, Jean Baudrillard, Guy Debord, Lucien Sfez etc. ; pesquisa etimológica da palavra comunicação, do indoeuropeu passando pelo latim e chegando até a sua semântica atual como sinônimo de media (publicidade e propaganda) e informação (jornalismo); interpretação da pesquisa etimológica à luz do percurso histórico apresentado, identificando os acontecimentos que determinaram o desenvolvimento de um significado da comunicação em detrimento de outros.
Sinais da crise do capitalismo – determinações históricas das formas audiovisuais de produção comunicacional (dos sistemas nacionais de televisão à rede mundial de computadores)
Manoel Dourado Bastos
O presente projeto se propõe a estudar o processo de transformação das determinações históricas entre comunicação e capitalismo, particularmente os processos relativos às formas audiovisuais, concentrando-se na interpretação do período que vai da hegemonia comunicativa dos sistemas nacionais de televisão àquela da rede mundial de computadores. A partir das contribuições da economia política da informação, comunicação e cultura (EPICC), pretende-se caracterizar as formas audiovisuais de comunicação moderna como aspectos de complexas dinâmicas históricas que se desdobram dos padrões de reprodução do capital e do estado-nação moderno, elementos essenciais do capitalismo. Reconhece-se assim a comunicação como um processo histórico específico da modernidade capitalista. Trata-se inicialmente de observar a expansão global dos sistemas nacionais de televisão, caracterizando-a como elemento essencial ao capitalismo no século XX. Em seguida, o interesse recai sobre a crise sistêmica do capital e a correspondente emergência das redes mundiais de computadores. Busca-se particularmente avaliar as continuidades e rupturas desse processo histórico em consonância com os debates sobre o atual estado histórico do capitalismo. Sob esse prisma, a rede mundial de computadores mantém aspectos essenciais dos sistemas nacionais de televisão, superando-os como um complexo midiático e de controle afeito à dinâmica de militarização do cotidiano.
Autoritarismos e estereótipos na comunicação: passado, presente e futuro
Márcia Neme Buzalaf
Como os autores vinculados à perspectiva pós-colonial podem colaborar na identificação dos mecanismos autoritários e na estruturação de estereótipos feitos pelos meios de comunicação? Esta é a pergunta que norteia este Grupo de Pesquisa. A busca por quebrar as narrativas hegemônicas vem sendo traçada em diferentes esferas do conhecimento, amplificando as falas que ainda são dominadas por práticas comunicativas que mascaram a pluralidade de representações sobre o passado, o presente e o futuro. Busca-se pressupostos conceituais pós-colonialistas para compreender os processos sociais envolvidos nas diferentes narrativas em relação aos dois temas propostos ? autoritarismos e estereótipos -, especialmente nas construções midiáticas. O objetivo é desenvolver uma leitura interpretativa crítica de diferentes meios comunicativos a partir, principalmente, de obras da nigeriana Chimamanda Adichie, da indiana Gayatri Spivak, do palestino Edward Said, do indiano Homi Bhabha e dos brasileiros Ruy Braga e Lilia Schwarcz, entre outros, a fim de contribuir para a solidificação das teorias pós-coloniais nas pesquisas de comunicação. Palavras-chave: Autoritarismos; Estereótipos; Mídia, História; Pós-colonialismo.
Contranarrativas radicais produzidas por homens e mulheres transexuais e travestis: a construção de novos sentidos, a partir de meios de comunicação contra-hegemônicos, populares, comunitários, democráticos e participativos
Reginaldo Moreira
O projeto de pesquisa tem como objetivo investigar as produções insurgentes de contranarrativas à mídia hegemônica, pela população de homens e mulheres transexuais, como também de travestis, compreendendo as possibilidades de mídia radical participativa, democrática, popular e/ou comunitária de construção de novos sentidos, uma vez que essa população é, via de regra, estigmatizada pela mídia hegemônica. A possibilidade de ocupações, acessos e criações desses coletivos, considerados subalternos pela maquinaria do capital, pode revelar novas imagens, até então invisibilizadas, marginalizadas, silenciadas e estigmatizadas; interferindo no imaginário social, para diminuição e/ou deslocamentos de preconceitos e estigmas, mostrando as potencialidades insurgentes das maquinarias do desejo, produtores de outros sentidos, possibilidades, visibilidades e dizibilidades. O acesso às novas tecnologias, considerado um dispositivo para a produção de novos significados em disputa nas narrativas midiáticas, podem potencializar empoderamentos desta população, a partir da participação, produção de conteúdo e expressão de seus modos de ver, pensar e agir no mundo. As antigas narrativas hegemônicas, únicas e verticalizadas, sem possibilidades dos contrapontos dos que vivenciam as realidades sociais na própria pele, gradualmente e de maneira irreversível, vão ganhando espaço com o acesso às tecnologias e às possibilidades dessa minoria produzir conteúdo e gerar novos pontos de vista de suas realidades, validando seus saberes e suas experiências de vida. A pesquisa investigará as possibilidades das revelações desses novos pontos de vista ao imaginário social, por meio do olhar da própria população excluída e marginalizada. O projeto analisará a construção das novas narrativas, como reveladoras de pluralidades, diversidades, singularidades e diferenças, em que se permita à população de homens e mulheres transexuais e travestis, participantes dos processos de comunicação, dizerem: nós temos um lugar no mundo! Nós existimos!
Percepção e pobreza: a disputa pela atenção e o fim da experiência
Rodolfo Rorato Londero
Desde o advento da modernidade, a faculdade da atenção tornou-se central para as instituições capitalistas, tanto para disciplinar a produção industrial quanto para estimular o consumo de mercadorias. Contudo, em um cenário de constante disputa pela atenção do consumidor, levado a cabo pelas mais diversas técnicas publicitárias, a própria experiência se encontra ameaçada, em vias de se tornar inútil e anacrônica em uma sociedade de aceleração. O objetivo desta pesquisa é repensar o argumento benjaminiano da atrofia da experiência como decorrência da modernidade, mas desta vez a partir do problema da percepção, compreendido no atual contexto de disputa pela atenção e de suas consequências (excesso de imagens, estímulos e informações). Entende-se que, como propõe a fenomenologia merleau-pontyana, a percepção é o ponto de partida da experiência. Entretanto, se a própria percepção está ameaçada devido ao excesso e à velocidade das imagens, então como é possível a experiência? Pode-se dizer, como hipótese de pesquisa, que o tipo de atenção produzido pelas atuais condições impossibilita a experiência. Adotando a pesquisa bibliográfica como metodologia, este estudo pretende se aprofundar no debate da fenomenologia da percepção, tanto nos argumentos originais de Merleau-Ponty quanto nas revisões realizadas por Virilio considerando o advento das ?máquinas de visão? e da ?poluição dromosférica?; e nas contribuições da teoria crítica, desde autores seminais, como Benjamin e Adorno, até pensadores contemporâneos, como Türcke e Rosa. Espera-se assim mostrar a atualidade do argumento benjaminiano, repensado de acordo com questões contemporâneas, mas ao mesmo tempo antevisto em sua crítica à modernidade.
Literatura e depressão: a alegoria da doença no romance brasileiro contemporâneo
Rodolfo Rorato Londero
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, até o ano de 2030, a depressão tornar-se-á a doença mais comum do mundo. Neste sentido, é importante compreender a experiência da depressão em suas mais variadas formas, inclusive por meio da literatura. Portanto, o problema que esta pesquisa propõe é: como a experiência da depressão se manifesta no romance brasileiro contemporâneo? Acredita-se que isso ocorre por meio da alegoria, sendo esta a hipótese que verificaremos nos quatro romances que compõem o corpus literário desta pesquisa: Até o dia em que o cão morreu (2003) e Meia-noite e vinte (2016), ambos de Daniel Galera; A maçã envenenada (2013), de Michel Laub; e As perguntas (2017), de Antônio Xerxenesky. Buscando compreender a experiência em sua integridade, portanto, sem o emprego da análise convencional, o corpus em questão é estudado a partir das contribuições da fenomenologia, principalmente de autores como Maurice Merleau-Ponty, Hans Ulrich Gumbrecht e Jean-Luc Nancy.
Riscos e rabiscos do governo Dilma Rousseff (2011-2016): uma análise da continuidade do petismo no governo federal por meio da produção chárgica
Rozinaldo Antonio Miani
Com a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2010, a sociedade brasileira decidiu pela continuidade do petismo no governo federal. A elevadíssima popularidade de Lula ao final de seu segundo mandato credenciou Dilma Rousseff – ex-ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula e uma candidata até então sem grande expressão popular – a vencer José Serra – um conhecido candidato em eleições majoritárias. Nas eleições de 2010, Dilma recebeu mais de 56% dos votos válidos no segundo turno para dar continuidade ao projeto social-desenvolvimentista, impulsionando programas iniciados no governo Lula, em especial, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Durante o primeiro mandato do governo Dilma Rousseff (2011-2014), a presidenta desenvolveu uma política macroeconômica em plena consonância com o modelo de crescimento do governo Lula (2003-2010) por meio de uma agenda industrialista, além da intensificação dos programas de transferência de renda. Apesar da reeleição de Dilma, ao vencer as eleições presidenciais de 2014, o cenário econômico e político do segundo mandato do governo Dilma Rousseff (2015-2016) se mostrou bastante diferente do período anterior, tendo sido marcado por uma orientação macroeconômica baseada na austeridade e por uma crise política que resultaria na consolidação do Golpe de 2016. Todo o período correspondente ao governo Dilma Rousseff (2011-2016) foi retratado por meio de uma vasta produção chárgica, valendo-se da criticidade, da ironia e do humor. Neste sentido, este projeto de pesquisa tem como objetivo analisar a produção chárgica que retratou os desdobramentos do projeto social-desenvolvimentista no Brasil durante o governo Dilma Rousseff (2011-2016), bem como as implicações da continuidade do petismo no governo federal. As análises das charges serão realizadas com base na metodologia da análise do discurso chárgico. O projeto, de natureza interdisciplinar, dará continuidade ao processo de pesquisa em desenvolvimento que visa estabelecer uma revisão teórico-metodológica da história brasileira recente tendo como base documental as fontes iconográficas derivadas do humor gráfico. O projeto contribuirá para uma compreensão histórica e sociológica do governo Dilma Rousseff, a partir de uma análise histórica e historiográfica das bases político-ideológicas do projeto social-desenvolvimentista no Brasil no contexto de continuidade do petismo no âmbito do governo federal. O projeto, ainda, irá somar na trajetória de pesquisas em comunicação visual com impacto na produção vinculada ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Comunicação da Universidade Estadual de Londrina.
A comunicação contra-hegemônica no Brasil: uma análise das publicações populares impressas no século XXI no contexto dos processos de disputa de hegemonias
Rozinaldo Antonio Miani
Este projeto de pesquisa tem como objetivo analisar as principais experiências comunicativas impressas contra-hegemônicas desenvolvidas no início do século XXI no Brasil e que contribuíram ativa e decisivamente no processo de disputa de hegemonias. Trata-se de uma pesquisa exploratória que terá como procedimento metodológico principal a análise de conteúdo. Entrevistas em profundidade com os principais responsáveis por tais publicações também poderão ser realizadas com o propósito de contribuir para o aprofundamento do conhecimento das referidas experiências comunicativas, bem como para a construção da memória política da comunicação popular no Brasil do século XXI. Para outros exercícios de análise qualitativa dessas experiências comunicativas será utilizada a metodologia da interpretação, fundamentada na tradição da hermenêutica de profundidade. A realização da pesquisa irá possibilitar a identificação e a análise de uma importante fração da produção editorial brasileira, proporcionando a recuperação histórica e a consequente ampliação da visibilidade de determinadas publicações impressas contra-hegemônicas no interior do espaço acadêmico, bem como oferecer elementos para a realização de análises históricas dos processos de disputa de hegemonias no Brasil, nas primeiras décadas do século XXI, a partir de uma das mais importantes arenas onde essa disputa se desenvolve, qual seja, o campo da Comunicação. De natureza interdisciplinar, esse projeto intensificará a trajetória de pesquisa em relação à área específica da Comunicação Popular e Comunitária, fortalecendo a linha de pesquisa “Processos sociais e práticas culturais” com impacto na produção vinculada ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu (Mestrado) em Comunicação da Universidade Estadual de Londrina, bem como a linha de pesquisa “Comunicação Popular e Comunitária” em vigência no âmbito do Departamento de Comunicação da UEL.