2. Formas sociais da comunicação e disputas de hegemonias

Estuda as formas sociais (fundamentos, estruturas e experiências) da comunicação próprias aos antagonismos entre capital e trabalho em seus desdobramentos históricos, geopolíticos, econômicos e culturais, bem como suas expressões em dinâmicas de disputas de hegemonias. Interpreta criticamente concepções, práticas e processos da produção, circulação e consumo comunicacionais a partir das bases epistemológicas da Economia Política da Comunicação, da Comunicação Popular e Comunitária, da Crítica do Valor e dos Estudos Culturais. Propõe também pesquisas no campo da comunicação contra-hegemônica elaboradas conforme metodologias participativas com vistas a contribuir com os processos de intervenção sociopolítica das organizações sociais e movimentos populares.

 

Pro­je­tos de Pesquisa

 

Levantamento das transmissões dos futebóis no Brasil

Anderson David Gomes dos Santos

Desde a década de 1980, a venda dos direitos de transmissão dos jogos de futebol profissional masculino se tornou uma das principais receitas dos clubes no mundo, definindo a distribuição dos capitais financeiro, midiático e simbólico num processo de reestruturação do sistema capitalista. Isso representou efeitos para todos os agentes envolvidos nisso, dos clubes às empresas que disputam entre si a transmissão dos torneios, sem desconsiderar o público, cujo acesso ao jogo profissional se dá cada vez mais pela mediação audiovisual. Diante dos desafios que envolvem o futebol e a mídia, com diferenças de acordo com o tipo de torneio e as distintas condições das modalidades deste esporte (das mulheres às práticas para pessoas com deficiência), o Observatório dos Direitos de Transmissão de Futebóis, parceria do grupo de pesquisa CEPCOM/UFAL com o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, inicia suas atividades com levantamento das transmissão dos torneios dos distintos futebóis no Brasil. Para isso, trata-se pesquisa qualiquantitativa, que parte dos estudos da Economia Política da Comunicação e da Cultura (EPC) para realizar pesquisas descritiva, comparativa e histórica para realizar a análise, com preocupação em difundir isso a partir de textos em sites noticiosos, eventos acadêmicos, no podcast “O jogo é hoje” e em rodas de conversa. Espera-se que o Observatório sirva como espaço unificador de descrição, análise, debate e pesquisa sobre as dinâmicas do campo social do futebol profissional, desde sua relação com a indústria cultural, que o transformou em espetáculo midiático, considerando as diferentes modalidades do esporte e toda diversidade e pluralidade que envolvem os futebóis praticados.

 

Entre o ativismo social e a mercadorização de pautas sociais: a apropriação de agendas dos movimentos sociais em comunicações para o consumo

Beatriz Molari

A diversidade, fortalecida pela luta por reconhecimento dos grupos minorizados
da sociedade, tornou-se uma temática frequente em comunicações de empresas de
diversos setores no Brasil, que mobilizam, em um mesmo espaço, pautas sociais e
estratégias de vendas. Considerando este cenário, esta pesquisa objetiva investigar o
processo de inclusão de agendas dos movimentos sociais em conteúdos que visam o
consumo. Para isso, parte-se do seguinte questionamento: a inserção de agendas dos
movimentos sociais em conteúdos comunicacionais de empresas do segmento de beleza
atuantes no Brasil é coerente com a uma proposta de ativismo social ou se trata de um
processo de mercadorização de pautas, que tem na promoção do consumo o seu fim? A
hipótese trabalhada é a de que, ainda que os conteúdos que se valem de pautas sociais
contribuam para que as discussões alcancem maior visibilidade, a inserção é realizada a
partir da lógica do mercado, que se apropria das agendas dos movimentos sociais
aspirando moldá-las para servir ao ideário capitalista. A investigação apresenta caráter
qualitativo, com metodologia centrada na Análise do Discurso, e possui como arcabouço
teórico conceitos dos campos dos Estudos Culturais, Estudos de Gênero, Relações Étnico-
raciais e sobre o consumo. A pesquisa colaborará na compreensão dos processos de
despolitização das agendas dos movimentos sociais através da comunicação, bem como
tais ações contribuem para a manutenção de uma sociedade orientada para o consumo.

 

A governança econômica das redes digitais: para uma análise dos mercados e da concorrência da Internet e seus impactos sobre os direitos dos usuários

César Ricardo Siqueira Bolaño

A proposta de pesquisa tem como objetivo analisar as dinâmicas de governança econômica das redes digitais na situação atual e seus impactos sobre direitos dos usuários de países de diferentes continentes por meio de mapeamento e avaliação das estruturas de mercados relevantes, estratégias concorrenciais dos principais competidores e iniciativas de regulação econômica em diferentes países e blocos regionais. A partir do quadro geral, busca analisar e propor medidas de governança econômica para a garantia de direitos no Brasil sob a ótica do decálogo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br) e direitos previstos na legislação vigente. Partindo do reconhecimento do caráter transnacional das redes digitais, a pesquisa propõe um recorte dúplice ao selecionar um conjunto de países de diferentes continentes e construir também uma avaliação da situação brasileira. Para tanto, a pesquisa será desenvolvida tendo em vista a configuração desse mercado nos Estados Unidos, de onde se originam as principais corporações do setor, e a China, que emerge como sua concorrente principal. Ainda que não tenham centralidade nas definições dessa dinâmica geral, Brasil e Argentina serão analisados, pretendendo discutir a participação de países do Sul global. O estudo também abordará a perspectiva da União Europeia, onde têm sido formuladas teorias e ações no plano da governança mais atentas a questões como o direito à proteção de dados pessoais e ao estabelecimento de medidas antitruste.

 

Biopoder e Comunicação

Eduardo Yuji Yamamoto

A mídia massiva, as redes sociais e as plataformas digitais são consideradas formas de comunicação moderna cuja aparição e desenvolvimento estão associados a uma força de organização social chamada biopoder. Diferentemente do poder dominador ou repressor que incide sobre os corpos e os imobiliza, o biopoder age sobre eles estimulando-os. É uma forma de poder que captura e gere a vida (bios) em toda a sua profundidade e extensão. O biopoder se espraia em todas as latitudes: no modo como exploramos a nós mesmos no trabalho, no estímulo à exposição de nossas intimidades a desconhecidos, na oferta gratuita de apps, na incitação à permanência em redes sociais, na demanda por feedbacks, recensões, críticas dos produtos culturais. Dentre as várias problemáticas que emergem pela presença do biopoder em nossa vida atual, interessa-nos conhecer: as produções midiáticas (cinema, jornal, TV, novela, séries etc.) que tanto reproduzem como criticam o biopoder; a maneira como os sistemas de telecomunicação e radiodifusão se aproveitam desse poder; as transformações nas esferas moral, artística e religiosa; a relação entre a política atual e a lógica da audiência das redes, seus sistemas de engajamento e marketing digital.

 

Regulação do trabalho mediado por plataformas: uma agenda contemporânea

Manoel Dourado Bastos

No dia 04 de março de 2024, o Governo Federal apresentou uma proposta de legislação para o “trabalho autônomo de plataforma”, como foi nomeado. Empresas, governo, trabalhadores e pesquisadores divergem sobre a natureza das relações de trabalho aí envolvidas. Partindo do edifício teórico-metodológico da Economia Política da Comunicação (EPC), avaliamos o contexto concreto da proposta de legislação do governo, reconhecendo em que sentido lógico e histórico podemos falar de trabalho mediado por plataformas. Para isso, utilizamos o conceito de mediação, tal qual elaborado por César Bolaño (2000 e 2015), para definir o conjunto de relações sociais desenvolvidas em torno das plataformas. A principal contribuição da presente proposta de pesquisa está na descrição do fenômeno a partir da ideia de elusão. Entendemos que a perspectiva do trabalho mediado por plataformas se apresenta como um princípio capaz de eludir os limites do capital desencadeados pela crise. No que diz respeito às plataformas, trata-se de simular, por meio da comunicação, a relação de sujeitos de direito (o “comprador da força de trabalho” e aquele que põe sua força de trabalhado à venda no mercado) que, entendimentos como usuários, se reconhecem mutuamente como sujeitos de comunicação que interagem por meio de uma plataforma visando satisfazer suas necessidades. A relação de trabalho desaparece sob a aparência de uma relação de comunicação, ainda que o trabalho esteja presente.

 

O mundo do trabalho nas agências de comunicação de Londrina: automação e subsunção do trabalho intelectual

Rodolfo Rorato Londero

O objetivo desta pesquisa é investigar o mundo do trabalho nas agências de comunicação da cidade de Londrina. Considerando a expressividade de Londrina no setor de serviços superiores e as agências de comunicação como um espaço privilegiado para coletar e analisar dados sobre o mundo do trabalho, esta pesquisa apresenta o seguinte problema: como o mundo do trabalho se configura nas agências de comunicação da cidade de Londrina? Enquanto hipótese, acredita-se que o universo de estudo demonstra contradições inerentes ao processo de subsunção do trabalho intelectual. Por meio de triangulação metodológica, a pesquisa pretende articular dados quantitativos e qualitativos sobre trabalhadores e agências. Deste modo, ao contribuir para esclarecer um universo pouco explorado, esta pesquisa se mostra relevante tanto para pautar políticas voltadas para o setor de comunicação quanto para repensar a formação acadêmica desses profissionais.

 

A comunicação contra-hegemônica no Brasil: uma análise das publicações populares impressas no século XXI no contexto dos processos de disputa de hegemonias

Roz­i­naldo Antonio Miani

Este projeto de pesquisa tem como objetivo analisar as principais experiências comunicativas impressas contra-hegemônicas desenvolvidas no início do século XXI no Brasil e que contribuíram ativa e decisivamente no processo de disputa de hegemonias. Trata-se de uma pesquisa exploratória que terá como procedimento metodológico principal a análise de conteúdo. Entrevistas em profundidade com os principais responsáveis por tais publicações também poderão ser realizadas com o propósito de contribuir para o aprofundamento do conhecimento das referidas experiências comunicativas, bem como para a construção da memória política da comunicação popular no Brasil do século XXI. Para outros exercícios de análise qualitativa dessas experiências comunicativas será utilizada a metodologia da interpretação, fundamentada na tradição da hermenêutica de profundidade. A realização da pesquisa irá possibilitar a identificação e a análise de uma importante fração da produção editorial brasileira, proporcionando a recuperação histórica e a consequente ampliação da visibilidade de determinadas publicações impressas contra-hegemônicas no interior do espaço acadêmico, bem como oferecer elementos para a realização de análises históricas dos processos de disputa de hegemonias no Brasil, nas primeiras décadas do século XXI, a partir de uma das mais importantes arenas onde essa disputa se desenvolve, qual seja, o campo da Comunicação. De natureza interdisciplinar, esse projeto intensificará a trajetória de pesquisa em relação à área específica da Comunicação Popular e Comunitária, fortalecendo a linha de pesquisa “Processos sociais e práticas culturais” com impacto na produção vinculada ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu (Mestrado) em Comunicação da Universidade Estadual de Londrina, bem como a linha de pesquisa “Comunicação Popular e Comunitária” em vigência no âmbito do Departamento de Comunicação da UEL.