Julho de 2016 |
Critical Animal Studies
Com os Estudos Críticos sobre os Animais, a Revista Estação Literária mostra sintonia com um dos temas mais estudados e debatidos hoje em dia em diferentes áreas do conhecimento: a vida animal. Aqui, estão reunidos dezessete artigos de pesquisadores que estudam os animais na Literatura, além de uma resenha. Os estudos apresentam diferentes bases teóricas para interpretar a presença dos animais em autores da literatura brasileira e estrangeira. No entanto, a ideia presente senão em todos os textos, pelo menos na maioria, é o de que a alteridade humana pressupõe a relação com o outro animal. O animal não humano é visto como o outro do ser humano. Não é coincidência o fato de três artigos estudarem Guimarães Rosa, haja vista a integração entre ser humano e animal nos textos dele. Esta edição reforça os estudos sobre os animais na Literatura como uma linha que se consolida nos estudos acadêmicos brasileiros. Em 2015, a UERJ e a UEM organizaram o I Seminário sobre Representação Animal na Literatura e também foram publicados quatro livros sobre o tema. Também nesse ano houve o I Seminário de Educação Vegana, voltado para estratégias de educação vegana no ensino básico. Este ano foi criada a ASLE-Brasil (Association for the Studies of Literatury and Environment) e em agosto houve o III Congresso Internacional de Ecocrítica, com simpósio sobre Ética e Direito Animal. Os estudos literários sobre os animais fazem voz, ainda, aos estudos sobre a relação do ser humano com os animais em outras ciências. Na Filosofia, a ética animal considera o animal não humano como o ser com o qual temos deveres éticos. O Direito, no Brasil, pede que os animais sejam considerados sujeitos protegidos pelo Código Civil. A Neurociência provou que todos os mamíferos, e também as aves possuem sensibilidade e consciência. Na Literatura, personagens humanas e animais se comunicam, se entendem, são seres igualmente sensíveis, emotivos e inteligentes. Em Vidas secas, de Graciliano Ramos, a cachorra Baleia emociona o leitor com seu amor, bondade e inocência. A Literatura infantil, desde suas origens, representa valores e ideais com personagens animais. Isso porque a criança é sensível para com os animais, é capaz de amá-los. Penso que um dos motivos para a Literatura Infantil ser povoada de personagens animais é também porque os escritores sabem que os animais são verdadeiros e incapazes de traição. Por isso, podemos confiar na palavra deles mais do que nas palavras das instituições e das ciências, tão incertas e mutáveis. Ao longo de séculos, o cordeiro é bom e inocente, e a raposa é ardilosa e esperta. E, para todo o sempre, o cordeiro será inocente, e a raposa, esperta. No momento em que se destrói a empatia da criança para com os animais, eles passam de amigos a coisas. Entrar no mundo adulto é desligar-se da compaixão e da empatia para com os animais, sentimentos que a nossa cultura relegou ao mundo da criança. Ser parte dos hábitos da comunidade cultural significa usar os animais como coisas ou ver neles vidas inferiores. E não pensar que o bife no prato veio de um animal sensível, com inteligência, sensibilidade e consciência de sua vida… Que esta edição da revista fale à criança que fomos. Para que olhemos para todos os animais como olhávamos para o cordeiro das histórias infantis. A Ética Animal pede que deixemos de usar os animais, pois a vida é um valor inerente, e não uma propriedade. Se um dia a humanidade vai deixar os animais em paz não se sabe. Mas esses estudos indicam que está aberta a discussão sobre nós e os animais não humanos, pois que somos muito mais semelhantes do que pensávamos. Evely Libanori[1]
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[1] Professora Doutora de Literatura da graduação e pós-graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá. Líder do GAIA (Grupos de Estudos Interdisciplinares sobre os animais) que estuda ética animal, veganismo, representação animal. Em 2014, publicou Nós, animais, livro de crônicas engajadas na defesa da vida animal. Co-autora de Representação Animal na Literatura, volumes de artigos voltados para o estudo dos animais na Literatura. |
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