MENU PRINCIPAL

 






Qualidade de vida em primeiro lugar


Professora Carmen Garcia de Almeida conta um pouco dos seus mais de 25 anos de atividades na UEL, onde foi muito mais que uma docente

“Melhorar a qualidade de vida das pessoas”. Assim a professora aposentada Carmen Garcia de Almeida define a psicologia. Fala com a autoridade de um pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e mais de 25 anos de serviços prestados à UEL. Somam-se a essa conta nove projetos de pesquisa, oito artigos publicados, dois livros escritos e participação em outros dez.

Tais resultados só vieram depois de muito esforço: noites mal dormidas e muitos quilômetros percorridos nas nem sempre aconchegantes poltronas de ônibus foram uma constante na vida da professora. Mas ela também guarda um carinho especial a quem a ajudou muito nessa escalada: a UEL. “A Universidade contribuiu muito não só com o meu desenvolvimento profissional, pois eu tive a oportunidade de fazer todas as minhas pós-graduações, como pessoal também”, reconhece.

Recém-graduada em psicologia pela Fundação Educacional de Bauru em 1974, Carmen veio da cidade do interior paulista para Londrina no ano seguinte. Tomou coragem de sair da casa dos pais e vir morar com o irmão no norte do Paraná depois que soube do concurso para a UEL. “Eu e mais duas colegas soubemos que abriria um concurso para docentes. Era grande o ânimo! Eu era jovem, com toda energia, com o potencial todo. Estava bastante disposta a arregaçar as mangas, a vestir a camisa da instituição. Então fui à luta!”, lembra.

O talento para a psicologia e a vontade de lecionar vieram de berço, já que o avô materno e a mãe tiveram experiência na área. Carmen também percebeu que fez a escolha certa quando, ainda em Bauru, teve a oportunidade de trabalhar em uma escola de periferia.  Os meninos e meninas assistiam a brigas dos pais em casa. Eles eram filhos de famílias “desestruturadas”, crianças que apresentavam dificuldade de comportamento na escola. “Daí veio o interesse pela psicologia, pela docência e a atuação profissional, no sentido de entender melhor essa dinâmica”, diz.


O começo esteve longe de ser fácil, principalmente por causa de uma rotina praticamente nômade que a professora teve de adotar no começo da carreira



Na UEL, o começo também foi cheio de desafios, principalmente por uma rotina praticamente nômade que a professora teve de adotar no começo da carreira. “Era difícil, pois eu ia de ônibus para a faculdade. Quando chovia, pegava barro assim que eu descia no ponto de ônibus no campus e precisava caminhar até o departamento, recém-construído. Era aquela terrona vermelha!”, recorda-se com bom humor. Também se lembra da fase em que a Universidade ainda se estruturava com relação aos cursos de especialização. “Hoje, nós temos bons cursos de pós-graduação na UEL, um mestrado em educação, do qual eu já participei e lecionei. Temos ainda os cursos de especialização e mestrado no departamento de psicologia, mas, naquela época, nós não tínhamos nada disso”, recorda-se. “No meu doutorado [na USP, em São Paulo], por exemplo, estava grávida. Eu me lembro que terminava a aula meio-dia na segunda-feira e esperava para ter uma disciplina na quarta, às duas horas da tarde. Vinha pra Londrina e dava aula na quinta e sexta e voltava pra São Paulo no domingo novamente. Foi bastante sacrifício, mas acho que valeu a pena”, pondera.

Na sala de aula, mais que formar profissionais e disseminar conhecimento, Carmen fez verdadeiros amigos e, por vezes, até o papel de mãe. Ela fala de quando lançava mão do que ela chama de “a terapia do terapeuta”, exercício no qual o estudante de psicologia é que ia para o divã. “É importante. Os alunos têm de ter uma oportunidade de fazer uma terapia”, recomenda. “Como nem todos tinham essa chance, eu é que tinha de trabalhar com as dificuldades, as limitações pessoais deles em sala de aula. Isso facilitava o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal e o aprimoramento da formação profissional deles. Também se transformou numa forma de aproximação maior do professor com o aluno. Eu acabava me tornando amiga e até fazia um pouco o papel de mãe, porque eles estavam longe de casa, distantes da família e, em alguns casos, vivendo dificuldades”, justifica.


“Professora Carmen e duas de suas obras. O interesse pela psicologia foi estimulado quando trabalhou com crianças carentes em uma escola de periferia”

Amiga sim, mas não menos exigente. Carmen ressalta que fazia questão de os seus estudantes capricharem no levantamento bibliográfico e seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) nos relatórios clínicos e de pesquisa. “Se você não fizer um bom levantamento, de literatura, por exemplo, você não vai estar bem fundamentado e não vai saber nem por que usou determinados procedimentos e estratégias em determinadas análises com os seus clientes. Com essa atitude, acho que eu contribuí para muitos deslancharem não só na carreira acadêmica, mas também na parte clínica”, comenta.

O resultado desse trabalho e devoção pela profissão que escolheu é facilmente notado quando ela novamente está em contato com os estudantes egressos, para os quais deu aula. Aliás, ainda que sem deixar de lado o sorriso e a simpatia que lhe são característicos, a lembrança de cada reencontro faz a professora ficar com os olhos marejados. “O que me marcou muito na UEL foi a gratidão de ex-alunos. Há uns três ou quatro anos, recebi um cartão de final de ano de uma ex-aluna e lá ela me dizia: ‘Professora, eu sou uma profissional bem-sucedida hoje e agradeço muito a tudo que você me ensinou’. Uma outra aluna, que hoje está atuando na área clínica, certa vez me disse: ‘Professora, cada atendimento que faço, cada alta que dou para os meus clientes é a sua presença que está ali, constantemente do meu lado. É a maneira como você me ensinou, na teoria e na prática, no modelo que você me deu, tudo isso foi muito importante’. Isso me emociona, porque você percebe o quanto você pode contribuir”, relata com emoção.


Esse é o ponto alto da psicologia, melhorar a qualidade de vida

A aposentadoria e o depois



“Para Carmen, a aposentadoria é o momento de 'equilibrar a balança'”

O tempo passou e com ele veio a hora da aposentadoria em 2001. Carmen sentia a necessidade de se dedicar mais à família, principalmente à mãe que passou a precisar ainda mais da companhia dela para tratamento médico. Hoje, a professora também faz questão de vivenciar experiências singelas, como os corriqueiros encontros com os amigos e as viagens que faz com a filha que trabalha em um navio cruzeiro. “Faço caminhadas diárias, pratico hidroginástica, gosto de sair, de tomar cerveja com meus amigos, gosto de dançar... Acho que tudo isso deve fazer parte do repertório de atividades de um aposentado, porque fisicamente e psicologicamente é muito importante, para você não se estressar, não entrar em depressão”, explica.

Mesmo aposentada, as atividades da professora Carmem não pararam. “Eu ainda continuo dando aulas em pós-graduação, quando eventualmente sou convidada, e atendendo em consultório”, afirma. “Acho que não se deve abandonar tudo. Eu recebi muito em termos de conhecimento e reuni experiência muito grande, então posso e devo continuar a repassar isso.

Quando se tem esse contato com os alunos, é uma coisa que rejuvenesce”, enfatiza. Mas também considera que vive uma fase em que é necessário ter o “equilíbrio” certo entre os compromissos profissionais e o lazer. “Tenho colegas que se aposentaram e continuam trabalhando num ritmo alucinante! Eu acho que isso não é bom. Nessa idade, mais do que nunca, é o momento de equilibrar a balança. O meu lema é: ‘o que se leva da vida é a vida que a gente leva’, então, se hoje a gente tem a oportunidade de ter um pouco mais de lazer, de participação social, a gente deve aproveitar. Não deixar mais para a frente, quando você vai ter menos condições e mais limitações físicas”, aconselha.

Descanso mais que merecido depois de anos de dedicação à instituição, à psicologia e à sociedade.  “A sensação que fica hoje depois de todos esses anos é de ter dedicado uma vida em prol do bem comum, da comunidade, da comunidade científica, do ponto de vista do aluno, de formação profissional, ter contribuído para o desenvolvimento e aprimoramento deles. Com os meus clientes, sempre busquei diminuir esse sofrimento, essa dor emocional que muitas vezes eles trazem, no sentido de melhorar a qualidade das pessoas. Esse é o ponto alto da psicologia, melhorar a qualidade de vida”, encerra.

Em nome da UEL, nosso muito obrigado, Professora Carmen.



Gustavo Ticiane

 

Ficha Técnica

Categoria: Docente

Nome Completo: Carmem Garcia de Almeida

Último Local em que Atuou: CCB - Departamento de Psicologia

Titulação: Pós-Doutorado

Natural de: Bauru - SP

Ano de Aposentadoria: 2001


















 

 
 
       
 
Copyright © Universidade Estadual de Londrina. Todos os Direitos Reservados.
Rodovia Celso Garcia Cid | Pr 445 Km 380 | Campus Universitário
Cx. Postal 6001 | CEP 86051-990 | Londrina - PR