N° 1
                           

 

Apresentação

Lutas & Resistências pretende divulgar a produção científica no campo das Ciências Sociais e áreas afins. Seu principal eixo teórico-político é o atual estágio de desenvolvimento do capitalismo dependente latino-americano, na sua diversidade política, ideológica, social e cultural. Seu objetivo é incentivar a publicação de textos de pós-graduandos, pós-graduados e docentes latino-americanos que, apoiados em suas pesquisas acadêmicas, procuram renovar a teoria crítica a partir dos embates políticos e ideológicos manifestos em praticamente todo o subcontinente latino-americano. Ao estimular o estudo da realidade sócio-política latino-americana, sobretudo a análise dos padrões políticos e ideológicos de dominação do imperialismo, das diversas formas de lutas e resistências populares ao projeto neoliberal, Lutas & Resistências entende que teoria e prática política não se dissociam. Sem abrir mão da crítica, em nome da imparcialidade da ciência, define-se como espaço aberto, democrático, plural e crítico, no âmbito do marxismo, sem concessão de interesses de cunho partidário.
A revista será um periódico eletrônico semestral e publicará artigos e resenhas de livros e teses, preferencialmente originais. A cada número da revista, o Conselho Editorial indicará um comitê responsável pela aceitação, envio a pareceristas e publicação de artigos e resenhas daquele número.

Lutas & Resistências, com o apoio do NEAD – Núcleo de Estudos Agrários e de Desenvolvimento, tem o prazer de apresentar este primeiro número, que traz o Dossiê Dimensões da questão agrária no Brasil, na forma impressa. Este número, organizado por Renata Gonçalves, se destina a subsidiar o debate acerca das complexas relações que envolvem o problema agrário no Brasil. A historiografia da questão agrária é meticulosamente analisada nos artigos de Márcia Motta e Cliff Welch à luz dos debates teórico-políticos produzidos, sobretudo, a partir dos anos 60 do século XX no país.

As experiências dos assentamentos de reforma agrária também são objeto de estudos de alguns artigos. Os autores Vera Lúcia Botta Ferrante, Luís Antonio Barone, Henrique Carmona Duval, apoiados em extensa pesquisa de campo e com longo conhecimento teórico do assunto enfatizam os impasses e as perspectivas das novas experiências nos assentamentos; Giovana Salvaro, por sua vez, traz reflexões acerca da constituição da identidade de trabalhadore(a)s rurais sem-terra. Os assentamentos são igualmente referências nos artigos de Renata Gonçalves e Jules Falquet; estes observam que, mesmo após anos de lutas e de alguma “igualdade” entre homens e mulheres nos acampamentos, quando a terra é “conquistada” há o retorno da divisão sexual do trabalho; os movimentos sociais, mesmo os mais “progressistas”, encontram obstáculos para lidar com as desigualdades de gênero.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelo que representa no cenário político hoje, é abordado em vários artigos: Marta Inez Marques examina algumas fases e faces da relação entre Estado e MST; Claudinei Coletti, analisa a diminuição do espaço político da burguesia agrária e dos proprietários de terra no interior do “bloco no poder”, no contexto da implementação das políticas neoliberais no Brasil, o que possibilitou o avanço do MST na década de 1990; Mariana Quintans se debruça sobre o estudo do movimento ao se perguntar sobre o potencial da proposta das chamadas Varas Agrárias. Este movimento ainda fica no centro do debate travado entre, de um lado, José Flávio Bertero, que não acredita na reforma agrária proposta pelo MST, e, de outro, Christiane Campos, que observa que o movimento, junto com a Via Campesina, tem contribuído para a nova tendência que é a do campesinato autônomo.

No artigo intitulado “Trabalho e meio ambiente. O avesso da moda do agronegócio”, Maria Aparecida de Moraes Silva e Rodrigo Constante Martins desenvolvem uma análise concreta das repercussões sociais e ambientais do chamado agronegócio sucroalcooleiro. Luiz Antonio Norder examina igualmente o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, em contraposição à emergência dos debates sobre agroecologia e desenvolvimento territorial, como uma das novas dimensões da questão agrária na atualidade.

Por fim, este primeiro número apresenta logo na abertura os artigos de Eliel Machado, “Lutas e resistências na América Latina hoje”, e de Marta Harnecker, “La política como el arte de hacer posible lo imposible”. Além da importante análise que fazem do protagonismo político dos chamados “novos” movimentos sociais que, mesmo sem o confronto direto com o capital, assumem a dianteira do processo de resistência às políticas neoliberais na América Latina, os dois artigos exemplificam bem a preocupação teórico-política que dá suporte ao nome e ao intuito da revista Lutas & Resistências.

 

Eliel Machado & Renata Gonçalves
(pelo Comitê Editorial)

 

 
 

 

Designer Responsável: Janaina de Oliveira Castro