Existem duas relações fundamentais que o homem estabelece ao realizar suas ações:
- relação homem natureza: caracterizada como ação estratégica, onde o acordo subjetivo não é possível, sendo que passa a funcionar como um mecanismo de valores e convicções, não permitindo um clima de cumplicidade e participação verdadeira.
- relação homem outros homens: uma ação comunicativa, onde os participantes compartilham o saber se apoiando em uma confiança e comprometimento. Segundo Rojo ela deve ser, “Mansa na escuta e forte na tomada de decisões.”, sendo que os acordos propostos por ela são decorrentes de uma negociação.
A ação comunicativa é a base da pesquisa – ação, pois esta se caracteriza pelas relações diretas entre o pesquisador e o grupo, sendo esse um processo que requer tempo para que o conhecimento interpessoal se aprofunde, para que assim, diante de uma cumplicidade possa emergir novos fatos e valores que levarão a verdadeiros resultados.
A pressa não funciona na pesquisa – ação, para que ela seja realizada com sucesso, é preciso considerar vários fatores, entre eles a imprevisibilidade, que leva a novas retomadas de princípios diante do coletivo.
É preciso um agir comunicativo, ações que venham do coletivo e caminhem de volta para ele por meio de diálogo, negociações e acordos que gerem um saber compartilhado entre participante e pesquisador.
O pesquisador deve ser um facilitador e só intervir quando houver necessidade, entender que suas ações tem um significado diferente para cada pessoa com quem ele for lidar, por esse motivo é preciso que ele aceite mudanças e seja capaz de viver nas incertezas, participando de cada evolução do projeto, juntamente com os sujeitos participantes.
Os participantes devem participar ativamente na elaboração da problemática da pesquisa, da ação, e da busca de soluções, sendo parte integrante de todo processo por meio de experiências, procurando partilhar os seus significados com todo o grupo.
Para que haja essa relação, é preciso que o pesquisador saiba construir um sentimento de parceria e colaboração, por meio de um discurso acessível, enriquecido por experiências vividas e, principalmente, aberto às transformações, tendo assim, um caráter exploratório. Como diria Morin, “sem aparelhagem cientifica complexa.”
Os procedimentos que permeiam a pesquisa – ação devem se originar de necessidades sociais reais, vinculadas ao meio natural de vida, procedimentos flexíveis sempre baseados na forma de gestão coletiva, em que o pesquisador é participante e o participante, pesquisador. Deve haver então, uma flexibilidade metodológica, indicando que o pesquisador precisa muitas vezes ,“agir na urgência e decidir na incerteza” (Perrenoud).
É preciso que se construa uma cultura de cooperação entre todos que pretendem trabalhar no coletivo, segundo Thurler:
[...] um certo hábito de ajuda mútua e de apoio mútuo; um capital de confiança e de fraqueza mútua; participação de cada um na tomada de decisões coletivas; um clima caloroso, de humor, de camaradagem e o hábito de expressar seu reconhecimento.”
Mas para que isso se dê, é preciso a construção da dinâmica do coletivo, que seria a fase preliminar de um contrato de ação coletiva, que tem uma grande ênfase no inicio da pesquisa e deve continuar em processo e melhoria até depois de terminada.
No exercício coletivo é importante a abordagem de um novo olhar, pois o olhar é o que muda primeiro e não aceita mais confrontar-se com o já superado. Uma nova forma de enxergar de um indivíduo consciente, questiona a necessidade de novos cenários, o que implica em novas práticas.
É fundamental que após um trabalho de pesquisa – ação, os sujeitos participantes tenham apreendido comportamentos e atitudes no sentido de incorporarem a reflexão cotidiana, como atividade inerente ao exercício de suas práticas. A reflexão sobre a prática deve transcender os aspectos de sala de aula e conteúdo e atingir um nível de reflexão sobre os princípios éticos e políticos da sociedade.
Conforme Ghedin, “o que fazemos não se explica pelo como fazemos; possui sentidos diante dos significados que lhe são atribuídos. Estes significados não são latentes mas emanam de fato, dos sentidos que construímos.”
O processo de pesquisa – ação deve produzir transformações de sentido, ressignificações ao que fazemos ou pensamos, sendo de grande importância que haja tempo e espaço para que cada sujeito vá se apropriando das mudanças que se operam em suas significações de mundo, que implicam essencialmente mudanças em sua perspectiva como sujeito.