A Metodologia da investigação e o esforço conscientizador da educação problematizadora
Cabe aqui uma reflexão sobre o real sentido da educação frente aos modos como se reproduzem as formas inautênticas de pensar, portanto de viver. De maneira geral, os homens mesmo estando em plena atividade na sociedade em que vivem e perpetuam seu modo de vida, não compreendem realmente a realidade em que estão imersos. É fato que a força de quem exerce o poder em condição de dominação se expressa de modo quase imperceptível, em forma de controle das massas, se manifestando de maneira a calar e impedir os homens de seu ato primordial, o pensar e o agir infundado por uma idéia. O processo de dominação acaba se configurando no campo das idéias, no modo como uma elite dominante estende sua ideologia aos dominados, é claro interessada em silenciar estes de seu potencial, o pensar critico, que conduza à verdadeira compreensão das relações de poder engendradas na sociedade e o questionamento e enfrentamento das mesmas. “Em sociedades cuja dinâmica estrutural conduz à dominação de consciências, a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes” (FREIRE, 1987). “Neste sentido pode-se considerar que o acesso ao saber é acesso ao questionamento das relações (de dominação) que o sustenta” (CURY, 1979).
Frente à uma situação que lhe exige resposta a consciência dominada acaba por agir de maneira imediatista, se prendendo à manifestações periféricas de modo a não enxergar a raiz do problema. O resultado é expresso na conformidade, gerando a adaptação à dificuldade ao invés da superação, o que acaba sendo o típico comportamento recorrente no meio social. Cabe o esforço do educador de, no ato da investigação temática, incitar a percepção de mundo a partir de um vislumbramento do mesmo, desconstruindo a limitação que se pode estar interiorizada na consciência, de que ela esteja imersa em uma realidade espessa, que pesa e se faz distante de análise e compreensão. É a partir de uma abstração da situação existencial concreta, partindo das suas manifestações particulares, que, no movimento de pensar esta realidade, codificando-a em representação, obtém-se a visão do todo, enxerga-se o problema em sua dimensão significativa, em seu contexto, perfazendo a totalidade. É desta visão totalizada do contexto que, em um movimento de isolar novamente as partes, partindo-se abstratamente ao concreto, que se é possível compreender a relação entre elas no contexto. Este esforço de descodificação, de cisão do todo afigurado, se bem feito pode conduzir à superação da abstração, pelo entendimento da relação entre as partes por uma percepção critica do todo cindido. “A investigação temática, que se dá no domínio do humano e não no das coisas, não pode reduzir-se à um ato mecânico. Sendo processo de busca, de conhecimento, por isto tudo, de criação, exige de seus sujeitos que vão descobrindo, no encadeamento dos temas significativos, a interpenetração dos problemas” (FREIRE, 2005). Exteriorizando sua visão de mundo a partir deste processo o individuo pode descrever a realidade concreta de maneira a obter uma nova postura frente aos problemas, pois a compreensão desta realidade se refaz a partir da reflexão critica, ganhando um nível que até então não tinha. A metodologia conscientizadora se concretiza no ato de “inserir os homens a uma forma critica de pensar seu mundo”(FREIRE, 2005).
A temática significatica a ser investigada se expressa nesta compreensão critica dos homens, e na maneira como eles enfrentam a realidade. “Investigar o tema gerador é investigar o pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis” (FREIRE, 2005). Fica claro que os temas estão inseridos em um universo temático, tendo assim uma dimensão significativa, totalizada, onde os temas são as partes em interação, e se encontram, portanto, nas relações que os homens estabelecem com o mundo. “Há portanto uma relação entre o fato objetivo, a percepção que dele tenham os homens e os temas geradores” (FREIRE, 2005).
O esforço conscientizador da ação educativa, que se faz pedagógica também no âmbito da investigação de seu conteúdo programático, tem como centro desta investigação a temática significativa, não sendo os indivíduos os objetos de análise como em muito acontece, mas sim o seu pensamento-linguagem referido à realidade. A investigação, portanto, não se fará de um investigador como sujeito sobre um objeto, e sim tem de ser ativa por ambas as partes, se fazendo o investigado também sujeito da investigação, sendo igualmente dialógica. No decorrer da investigação o que importa ao investigador, como educador profissional, é a analise que faz do processo, de sua evolução, das transformações que vão sofrendo os modos dos homens perceberem a realidade. Sendo esta objetiva, continua sempre imutável. O que está em constante mutabilidade é o modo de percebê-la e de interpretá-la. Por ser um motivo humano, portanto passível de mudança, a temática significativa que está implícita nesta relação é tão histórica quanto os próprios homens.