Traçar um retrato da desigualdade em Londrina. Esse é um dos objetivos de um projeto de pesquisa, do Departamento de Serviço Social do Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA) da UEL, liderado pela professora Ana Patrícia Pires Nalesso. Os trabalhos tiveram início no começo deste ano e já apresentam dados preliminares, em virtude da pandemia de COVID-19, doença causada pelo coronavírus. A iniciativa conta com a participação de estudantes e colaboradores externos.
Segundo a coordenadora do projeto, é preciso construir um banco de dados interativo e atualizado que permita aos órgãos de gestão e às instituições usarem as informações disponíveis sobre o município. Nesse sentido, o projeto de pesquisa atua em duas dimensões. A primeira, é aprofundar o estudo sobre indicadores sociais que permitam conhecer, compreender e explicar a desigualdade social. A segunda, reunir e estudar os dados disponíveis, publicados em órgãos municipais que atuam diretamente para direitos sociais, no enfrentamento da miséria e da pobreza.
A professora Ana Patrícia Nalesso afirma que é preciso observar a realidade de empobrecimento e de aumento de vulnerabilidade, considerando a conjuntura atual. Como medida de prevenção, o isolamento social causa impacto econômico significativo. "Nosso caminho investigativo começa pela análise das famílias inscritas no Cadastro Único [CadÚnico], em função das atuais medidas do governo federal referentes à renda emergencial", explica Ana Patrícia Nalesso.
Conforme a professora, a estimativa populacional para Londrina, segundo o IBGE é de 569.733 e as famílias cadastradas no CadÚnico em dezembro de 2019 eram de - 52.055. "Se aplicarmos a média de membros por família usualmente do IBGE de 3.3, teremos 171.781,5 pessoas no Cadastro, o que significa aproximadamente 30% da população Londrinense na linha da pobreza", afirma a professora. "Ou seja, são famílias com renda per capita de até meio salário mínimo ou renda familiar de até três salários mínimos".
Conforme o CadÚnico, em março de 2020 havia - pelo Programa Bolsa Família - 16.935 famílias beneficiadas. "Desse modo, há uma diferença de 35.120 novas famílias que deveriam ser contempladas nos primeiros critérios da Renda Emergencial da COVID-19", afirma Ana Patrícia Nalesso. A Renda Emergencial foi autorizada pelas Lei 13.982 de 2 de abril de 2020, que alterou a Lei Orgânica da Assistência Social (8742/93). A professora lembra que pode haver alteração, nesses números, por causa dos beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada], cujos usuários podem estar cadastrados no CadÚnico. "Isso na hipótese de que todos esses estejam cadastrados no BPC".
Outro indicador importante a ser analisado, conforme a professora, é avaliação do valor da renda familiar com o batimento Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). "A soma da renda de algum membro da família empregado formalmente está prejudicada, porque segundo a Agência Brasil as notificações referentes aos meses de janeiro e fevereiro foram suspensas", lembra a professora.
Além disso, com a pandemia de COVID-19, os dados do desemprego e a diminuição drástica da renda aumentaram de forma significativa para as famílias mais pobres. "Essa informação impacta na avaliação dos beneficiários na medida em que há variação do valor do benefício considerando a renda familiar", afirma a professora. "Sem atualização sobre os dados de empregabilidade de seus membros, ou ainda com dados defasados, a situação das famílias foi agravada ainda mais por essa crise".
Esse projeto de pesquisa busca entender a desigualdade social em Londrina e, por isso, tem ressonância nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao todos são 17 objetivos em uma agenda lançada em 2015, cujos esforços visam atingir os ODS até 2030. "Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares" é o objetivo 1, no qual a iniciativa do CESA pode ser enquadrada: erradicação da pobreza. Conhecer essa realidade e combatê-la é o primeiro passo para que o objetivo seja atendido.
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