Estudo levanta origem e características do projeto Vizinho Solidário
Agência UEL
(FOTO: Ilustrativa/COM/UEL)
Pesquisar as origens e levantar as características do projeto de vigilância comunitária Vizinho Solidário, desenvolvido em Londrina. Esses são alguns objetivos de uma pesquisa do Departamento de Ciências Sociais, do Centro de Letras e Ciências Humanas (CCH), da UEL. O trabalho é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e ao Laboratório de Estudos sobre Governança da Segurança (LEGS).
A pesquisa foi desenvolvida pelo estudante Fabrício Silva Lima, em nível de mestrado, na última turma do programa em Ciências Sociais que foi transformado em Sociologia. A orientação é do professor Cleber da Silva Lopes, do Departamento de Ciências Sociais.
Conforme os pesquisadores, o trabalho não verificou o impacto do programa na redução dos índices de roubos e assaltos. O professor Cleber Lopes afirma que o Vizinho Solidário surge como um terceiro modelo de segurança. Os outros são: a) o estado com suas instituições de segurança pública e b) as empresas de segurança privada. A origem desses programas no Brasil vem, portanto, da demanda da própria comunidade. Confira o áudio.
Uma das características, conforme o estudo, é a regulação do espaço público pelas comunidades, para evitar a circulação de pessoas consideradas estranhas na vizinhança, entre profissionais do sexo e pessoas em situação de rua. "Detectamos tecnologias que visam expor pessoas que são consideradas indesejadas ou não bem-vindas dentro daquela comunidade. Como você não pode proibir que essas pessoas circulem, são acionadas tecnologias como alarmes, monitoramento por câmera para inibir a presença dessas pessoas", afirma o professor Cleber Lopes.
Fabrício Silva Lima e o professor da UEL, Cleber da Silva Lopes
Fabrício Lima detalha que os programas de vigilância comunitária foram criados nos Estados Unidos, nos anos 1970, e na Inglaterra, nos anos 1980, com a implantação dos neighborhood watches. Nesses países, o programa foi concebido a partir da iniciativa governamental, ou seja, pelo incentivo do estado, como alternativa para reduzir os índices de criminalidade. A partir dessas experiências, os programas foram implantados em outros países.
O estudante explica que o corpus da pesquisa considerou duas experiências londrinenses, a do Jardim Shangri-lá, na região Central, e a do Parque Santa Mônica, na região norte. Ao todo, foram entrevistadas 24 pessoas, entre moradores, oficiais da Polícia Militar e profissionais do sexo, somando um total de 15 horas de material gravado. As profissionais do sexo não estavam previstas no projeto original, mas surgem como atores importantes durante o levantamento de dados.
Conforme Fabrício Lima, os programas de vigilância comunitária apresentam, desde a sua concepção, quatro dimensões: a) instituições, porque os projetos se relacionam com a PM, por exemplo; b) mentalidade, a forma como e para que se organiza; c) recursos, ou seja, financiamento e d) tecnologia, dispositivos de vigilância. Fabrício Lima diz que, em Londrina, a dimensão da mentalidade assume um papel importante. Confira o áudio.
No Jardim Shangri-lá, a iniciativa foi adotada em junho de 2010 e no Parque Santa Mônica, no final de 2011. O uso da tecnologia inicialmente consistia no apito acionado pelo morador e placas indicativas de monitoramento. Ao longo da experiência, outros recursos tecnológicos foram incorporados como alarme, câmeras apontadas para a rua e até grupos de whatsapp. Confira o áudio.