Projeto do curso de Artes Cênicas leva a arte do clown para 3 acampamentos e assentamentos do norte do Paraná
"Gira, gira, girassóis, flor de sol, que junto ao vermelho e verde da escola, nos trouxe alegria, alegria da partilha com tantas crianças, que nos fizeram rir ao mesmo tempo em que dominavam a cena, no lugar do palhaço. É bom ser criança, se preocupar com pouca coisa e acreditar que tudo é possível".
A afirmação da estudante do 4º ano de Artes Cênicas, Letícia Pocaia, é mais do que uma simples declaração. É um depoimento que registra a relação entre universidade e a comunidade, no catálogo do projeto de extensão "Possíveis caminhos de partilha: o encontro com os quilombolas e assentamentos do Paraná".
O projeto é uma iniciativa das professoras Laura Franchi dos Santos e Adriane Gomes, do Departamento de Música e Teatro da UEL. A proposta envolve a Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade (PROEX); a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com financiamento do programa Universidade sem Fronteiras, da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Governo do Paraná.
"Este é o primeiro projeto de Artes Cênicas da UEL aprovado pelo Universidade sem Fronteiras. Nosso curso tem 20 anos", destaca a professora Laura Franchi. O projeto foi aprovado em outubro de 2018 e desenvolvido durante este ano, com a participação de duas professoras, quatro alunos bolsistas, um recém-formado e um colaborador.
O projeto, inicialmente, previa a atuação em quilombos e assentamentos do Paraná, mas precisou ser adaptado. Assim, as atividades foram realizadas em 13 acampamentos e assentamentos do Movimento Sem Terra (MST). Foram contempladas as seguintes localidades: Eli Vive 1 e 2 (Lerroville, distrito rural de Londrina), União Camponesa (Tamarana), Paulo Freire, Dom Helder Câmara e Amélia Franco (São Jerônimo da Serra), Florestan Fernandes (Florestópolis), Carlos Lamarca (Congoinhas), Dorcelina Folador (Arapongas), Fidel Castro e Maria Lara (Centenário do Sul), Barra Bonita (Primeiro de Maio) e Herdeiros da Luta (Porecatu).
Laura Franchi explica que o projeto tem três etapas. A primeira foi conhecer todas as localidades aproximando e integrando os participantes do projeto com a comunidade sem terra. Essa inserção serviu para "quebrar o gelo" entre os universitários e os moradores dos assentamentos e dos acampamentos.
Segunda Laura Franchi, o objetivo era partilhar o riso na linguagem do clown
O segundo momento foi a realização de um espetáculo. "Nosso objetivo era partilhar o riso na linguagem do clown (palhaço)", diz a professora. "Houve local que preparou almoço para receber o grupo. Teve o que a gente queria mesmo, uma partilha do riso, através da linguagem do palhaço".
O terceiro momento - a etapa atual - é a entrega do catálogo "Possíveis caminhos para a partilha" nas comunidades atendidas pela Universidade. Não se trata de uma publicação científica, mas de um registro da relação dos estudantes com os moradores dos assentamentos. "O tempo parece passar mais devagar, apesar de poucas pessoas comparecerem; puro acolhimento, o riso das crianças, ótimo de se ouvir, mas o riso retirado de um adulto fechado, faz tudo valer a pena". A fala é do bolsista Fabrício Bianchi, registrado no catálogo entregue nos assentamentos.
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A estudante Letícia Pocaia fala com entusiasmo da sua participação no projeto, a partir de uma relação de muito carinho e partilha com os assentados e acampados das diferentes comunidades do norte do estado. "Não fomos lá para impor alguma coisa. Estávamos ali para compartilhar e aprender com o encontro entre a Universidade e a comunidade", afirma a estudante.
O ator recém-formado Danilo Neiva se transforma no clown do espetáculo "Paixonetices de um galalau", com orientação da professora Adriane Gomes, apresentado nos assentamentos. Ele diz que a primeira barreira a ser transposta foi a da própria realidade: "É muito diferente da nossa. Nós moramos na cidade. São classes sociais diferentes".
As barreiras geográficas e sociais foram transpostas pelo riso, uma linguagem universal que une diferentes classes sociais, segmentos e faixas etárias. Segundo o ator, houve várias experiências ao apresentar o mesmo espetáculo para crianças em idade escolar e idosos, conforme a localidade, ressaltando a diversidade, inclusive, entre as próprias crianças, de um para outro assentamento. Ele diz que as apresentações nas escolas foram as que mais o marcaram: "Pela recepção das crianças, pela energia que teve nas escolas".
No catálogo do projeto, o ator Danilo Neiva resume sua inserção em um projeto de extensão universitária na interface com a comunidade, a partir da apresentação de um espetáculo de clown para uma centena de crianças na escola do assentamento União Camponesa, no município de Tamarana: "Nervosismo de ser devorado por tantos olhos... e de repente... uma onda enorme de riso [...] Na escola, a gente pode aprender muita coisa, inclusive a ser feliz".
Esta matéria foi publicada no Jornal Notícia nº 1.404. Confira a edição completa:
Esta matéria foi publicada no Jornal Notícia nº 1.404. Confira a edição completa: