Alunos atuam no programa
Diminuir a lacuna que existe entre a Universidade e o setor produtivo. Essa é a proposta do "Programa de Apoio e Fortalecimento técnico-científico a empresas e indústrias da Região do Norte do Paraná", do Centro de Ciências Exatas (CCE). Criado em 2012, o programa já atendeu diversas empresas regionais interessadas em gerar produtos inovadores, a partir de pesquisa e desenvolvimento tecnológicos elaborados na UEL. O resultado são mais de R$ 100.000,00 em recursos, que foram captados ao longo dos últimos anos e investidos em produtos inovadores para a sociedade.
Coordenado pelo professor Alexandre Urbano, do Departamento de Física, do CCE, o programa atua na prestação de serviço na área de física de materiais, estudos feitos com cristalografia (estudo da disposição dos átomos em sólidos), baterias recarregáveis, ciência e tecnologia do vácuo, metalurgia, síntese e caracterização de materiais, películas e filmes finos. As pesquisas são realizadas na graduação e na pós-graduação da área de Física e de outros cursos que utilizam as estruturas do Laboratório de Análises por Técnicas de Raios X, na Central Multiusuária de Laboratórios de Pesquisa da UEL, e o Laboratório de Filmes Finos e Materiais, no Departamento de Física.
São exemplos de soluções tecnológicas a criação de películas anti-reflexo para óculos e de cimento dentário utilizado para restaurações. A última inovação é resultado da parceria de seis anos com a empresa Ângelus, considerada um case de sucesso pelo professor. Além disso, conforme cita Urbano, já foram realizadas pesquisas para Sercomtel, Bellagrícola, Tamarana Metais, Austen Bio, Casa do Óculos, entre outras.
Urbano salienta que o atendimento é feito do pequeno ao grande empresário, também direcionado a toda empresa que queira desenvolver um produto ou investigar um processo específico. Caso não tenha a tecnologia necessária nos laboratórios para atendê-las, ele as encaminha para outros programas e projetos.
Professor Alexandre Urbano
Etapas - Para Alexandre Urbano, o caminho da interação entre universidade e setor produtivo ocorre pelas seguintes etapas: pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico e inovação. Ele reforça inclusive que a pesquisa básica gera publicação de artigos para contribuir com a ciência. Para isso, a iniciativa recebe recursos para projetos e programas em fontes de financiamento dos governos estadual e federal.
O fato é que a primeira etapa leva diretamente para a segunda: o desenvolvimento tecnológico. "Essa é a expertise da universidade, que transforma esse desenvolvimento de tecnologia em uma potencial aplicação social, tecnológica e industrial", diz.
Isso se dá com aprofundamento e aplicação da pesquisa em uma escala para nível industrial. O professor ainda brinca que "fazer arroz para cinco pessoas é diferente de fazer para 100", por isso as pesquisas aplicadas em pequenas medidas são escalonadas para grandes.
Como parte final, o setor produtivo tem acesso ao desenvolvimento de tecnologia e o transforma em inovação, com a criação de um produto inédito. Para o professor docente, a inovação tem o viés da venda e do mercado, sendo esta a ponta final de toda a cadeia, que promove o comércio.
"Se virar um produto estamos colaborando para o crescimento do país", afirma o professor. Ele cita o exemplo de pesquisas desenvolvidas para Ângelus, que mostraram a eficiência do cimento usado em restaurações dentárias. Diferente de uma resina, esse cimento expande ao ser colocado no dente e preenche todo o espaço, sem risco de infiltração.
Com isso, há um melhor produto no mercado, os pacientes são beneficiados, há maior venda e arrecadação de impostos, que é revertida em saúde, educação e segurança para a sociedade. "É um ganha-ganha: empresa, universidade e sociedade são beneficiadas", afirma o professor.
Demanda - O professor explica que nos Estados Unidos e na Coreia do Sul, por exemplo, há grande procura do setor produtivo para as pesquisas desenvolvidas nas universidades. Já no Brasil, é preciso ainda procurar as empresas e mostrar o que pode ser feito dentro da universidade. Um ponto positivo que ele destaca é a Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da UEL (INTUEL) que atua como uma ponte de acesso à instituição. "Ela sabe o que está na nossa prateleira de ofertas para mostrar para o setor produtivo", diz.
As empresas podem conhecer o que o Programa já tem desenvolvido ou o que pode desenvolver, conforme a necessidade dela. "Nós também estamos abertos a receber uma demanda que nos tire da nossa zona de conforto. Isso é muito interessante para nossas pesquisas", afirma o professor do CCE.
Para viabilizar o desenvolvimento da pesquisa, o Programa faz um orçamento e firma um contrato com a empresa, que fica responsável pelos custos. O recurso é destinado para compra de materiais e para custear as necessidades básicas da pesquisa. "Sem dinheiro é difícil de fazer pesquisa e desenvolvimento", afirma. O grande diferencial, segundo o professor, é que o Programa faz uma leitura das necessidades do empresário, além de análise rápida, uma vez que a devolutiva para a indústria sai em 48 horas.
Recursos humanos - Todo o trabalho tem a colaboração do professor Jair Scarminio, do Departamento de Física, e do técnico de nível superior Paulo Rogério Catarini da Silva, e de estudantes de graduação e pós-graduação. O benefício dessa parceria com o setor produtivo, segundo o professor, é a formação desses estudantes como recursos humanos para atuar até mesmo nessas empresas após a conclusão dos estudos na Universidade.
Ele menciona ainda o exemplo de uma das pesquisadoras, que realizou a graduação e mestrado na UEL e, posteriormente, fez doutorado na Alemanha, em um dos melhores centros de pesquisa de baterias recarregáveis do mundo. Hoje, ela trabalha na Inglaterra, como pesquisadora em uma empresa do mesmo setor.