Professor Fábio Yamashita, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, com a equipe de pesquisa formada por alunos de programas de pós-graduação
Sem dúvida, os olhos do mundo estão voltados para os efeitos que a devastação do meio ambiente causa em florestas, rios, solos e ar. De olho na necessidade urgente de defender o que ainda resiste à intervenção humana, pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) investem no estudo e desenvolvimento de materiais e nanomateriais de fonte renovável, como a celulose e nanocelulose. O objetivo é a produção de materiais 100% biodegradáveis, que sofrem decomposição em até 90 dias e a respectiva aplicação em sistema sustentável de embalagens.
O emprego da celulose e nanocelulose, inclusive produzidas a partir de resíduos da indústria de alimentos, tem como base a adoção de processos menos poluentes, resultando no uso de quantidades menores de efluentes de lavagem. A pesquisa também desenvolve embalagens biodegradáveis produzidas com 70% de amido de mandioca.
"Trabalhamos muito com amido de mandioca porque o Paraná é grande produtor da matéria-prima, mais de 70% do amido de mandioca do Brasil sai do estado", acrescenta a professora Suzana. Ainda segundo a professora, outra linha do projeto investe no uso de resíduos da indústria para a produção dos filmes. Entre os resíduos reaproveitados, segundo ela, estão o bagaço de laranja e malte, bagaço de malte, bagaço de cana-de-açúcar e casca de aveia, casca de soja, entre outros.
Coordenadora do projeto, professora Suzana Mali de Oliveira (ao centro), do Departamento de Bioquímica e Biotecnologia, explica que além do amido de mandioca, também são usados resíduos da indústria na produção de filmes biodegradáveis
Os filmes biodegradáveis são empregados na produção de embalagens para alimentos e tubetes para acondicionamento de sementes e pequenas mudas e demais aplicações. São responsáveis pela pesquisa, financiada pela Fundação Araucária, os professores da UEL, Maria Victória Eiras Grossmann, Fábio Yamashita, Suzana Mali de Oliveira (coordenadora) e André Luiz Martinez de Oliveira. Eles são do Centro de Ciências Agrárias (CCA) e Centro de Ciências Exatas (CCE).
O ponto forte das pesquisas reside na produção de materiais biodegradáveis, cuja principal propriedade é a rápida decomposição, conforme as condições ambientais - terra, luz e água, além do tempo de permanência depositado no ambiente. Portanto, o resultado prático é uma alternativa viável, limpa e de baixo custo, com diversas aplicações em muitos setores da indústria.
Resultados - Os estudos desenvolvidos na UEL já renderam quatro patentes, registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), ligado ao Ministério de Desenvolvimento. "São materiais amigáveis para o ambiente, sem problemas para o descarte", aponta a professora Suzana Mali de Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Biotecnologia.
"A adoção das embalagens biodegradáveis é uma forte tendência de mercado. Mas, por outro lado, são fundamentais mais incentivos e investimentos", aponta a professora Suzana. Ela observa ainda que a ausência de legislação para regular o setor é outro entrave que barra o crescimento da produção de embalagens biodegradáveis, bem como o uso pelo mercado consumidor. "Só 2% das embalagens produzidas no país são biodegradáveis", diz a professora.
Bandeja biodegradável produzida com 70% de amido de mandioca
Números - Além das patentes registradas, o projeto já rendeu o total de 30 dissertações de mestrado e 15 teses de doutorado defendidas na área de desenvolvimento de materiais biodegradáveis dentro dos Programas de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da UEL. E mais 10 dissertações e duas teses de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Outro dado que chama atenção são os mais de 100 artigos publicados pelo grupo ao longo dos quase 20 anos de trabalho.
De acordo com o professor Fábio Yamashita, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, o grupo de pesquisa da UEL é pioneiro. "Nenhum grupo desta área no mundo produz o volume de pesquisas ligado ao material utilizado por nós. São trabalhos que conquistaram relevância mundial", avalia. O professor reforça que os esforços são no sentido de reduzir o impacto causado pelas embalagens plásticas e de isopor depositadas na natureza.
"O objetivo é incentivar a diminuição do consumo ou substituir em parte o uso de embalagens convencionais, portanto, não biodegradáveis". Segundo ele, o material também é 'compostável', pois "além de ser biodegradável também pode ser usado na compostagem, a partir do uso como adubo".
(Matéria produzida pela COM/UEL, originalmente veiculada na Revista Paraná faz Ciência/2019).