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17/08/2018  

A eloquente linguagem do concreto aparente

Bia Botelho

Dissertação de Mestrado identifica e analisa 20 obras de concreto aparente em Londrina, uma das marcas do Modernismo arquitetônico

Com menos de 90 anos, Londrina é uma cidade do interior criada sob a influência das capitais paranaense e paulista. Um dos aspectos que indica a influência é a Arquitetura, que tem traços do Movimento Modernista, por exemplo. Eles são identificados em construções com o uso do concreto aparente, que deixa de lado a alvenaria comum de tijolos, argamassa e pintura para utilizar o concreto sem revestimento, valorizando a obra bruta.

Vinte edifícios institucionais da cidade foram identificados pela pesquisa de mestrado da arquiteta Franciane Schreiner da Mota. O trabalho "Arquitetura do concreto aparente em Londrina" foi orientado pelo professor Sidnei Jr. Guadanhim (Departamento de Arquitetura e Urbanismo). A pesquisa foi defendida dentro do Programa de Pós-Graduação Associado em Arquitetura e Urbanismo UEM e UEL, e coorientada pela professora Juliana Harumi Suzuki, da Universidade Federal do Paraná.

De acordo com a pesquisadora, a dissertação foi dividida em três etapas: a primeira foi a identificação das obras de concreto aparente na cidade de Londrina e redesenho dos projetos arquitetônicos; a segunda foi composta por entrevistas e documentação do depoimento transcrito de alguns arquitetos que projetaram as obras; por último, a análise de todo o material.

Obras em Londrina

Como define Franciane Mota, o concreto aparente "é a verdade da estrutura, da construção". Ela explica ainda que é o material de construção no estado bruto, sem nenhum tipo de revestimento, como pintura. Fica evidente, segundo ela, que o concreto é o principal elemento das fachadas, o que difere das construções de alvenaria.

O concreto armado é composto pela mistura de areia, brita e cimento, além de armaduras de aço. "É uma escolha do arquiteto em querer mostrar a estrutura. Então é uma linguagem, um conceito, é a arquitetura que fala por si", aponta Francine.

Com essas características, a pesquisa identificou 20 edifícios institucionais do período de 1970 a 1983. Entre eles estão diversos prédios da UEL, nos Centros de Ciências Biológicas, de Exatas, de Humanas, e de Estudos Sociais Aplicados. Os demais são: Instituto Agronômico do Paraná, Instituto de Previdência do Estado, SESC Londrina, Delegacia da Receita Federal, Fórum Estadual de Londrina, Associação Odontológica do Norte do Paraná, Editora Tibagi, Câmara Municipal de Londrina, Prefeitura de Londrina, Sociedade Eletrotécnica Norte do Paraná, Construtora Plaenge, Construtora Cebel, Construtora Khouri, Unibanco, Banco Itaú, Caixa Econômica Federal.

De acordo com Sidnei Guadanhim, essa arquitetura tem vínculos com um movimento conhecido como Brutalismo, cujo início remonta ao pós-guerra com o arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Houve repercussão no mundo todo e, no Brasil, influenciou toda uma geração de arquitetos, que produziram muitos edifícios importantes. Uma das principais obras brasileiras, do Brutalismo, segundo o professor, é a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

"Desvencilhando-se de todos os estilos do passado, de todas as amarras, surgiu a arquitetura modernista no início do século XX. O Brutalismo é uma evolução no sentido de buscar a honestidade máxima do uso dos materiais, da expressão da estrutura, sem recorrer em hipótese nenhuma a ornamentos e apliques, tratamentos estéticos, decorativos", explicou o orientador.

Arquitetos

Essas obras foram projetadas por arquitetos das grandes cidades e que, posteriormente, vieram para Londrina. Alguns dos nomes listados na pesquisa são Siegbert Zanettini, Carlos Emiliano de França, Joel Ramalho Junior, José Marcos Loureiro Prado, Luiz Forte Netto, Roberto Luiz Gandolfi, Rubens Meister, Luiz César da Silva, Carlos Sérgio Bopp, Julio Oscar Giestas Ribeiro e Léo de Judá Barbosa. Os quatro últimos, segundo o professor, permaneceram em Londrina e construíram carreira na cidade.

Franciane teve a oportunidade de entrevistar alguns deles, que ainda atuam como arquitetos. "São profissionais com visão nacional e internacional de projetos. Cada um que eu conversei lembrou exatamente o que pensaram em cada projeto estudado na pesquisa. Para mim, como profissional e pesquisadora, foi uma experiência única", disse.

"A pesquisa da Franciane nos ajuda a identificar o valor das obras para a memória e contexto londrinense, para preservação do patrimônio arquitetônico", constata o professor Sidnei, que ainda explicou: "o trabalho tem dois alcances: o primeiro é a discussão dessa arquitetura modernista brasileira, no sentido de explicar o que acontecia no interior, fora das capitais. Outro alcance, que para Londrina é importante, é que ela documenta, faz o registro da memória desses arquitetos, faz um registro tanto quanto fotográfico como iconográfico, redesenhando todos esses projetos".

Para o professor, esse é o papel de um programa de pós-graduação regional associado, isto é, valorizar temas vinculados à região norte do Paraná e, ao mesmo tempo, entender o ambiente e Arquitetura.

Preservação

Quanto à preservação dessas obras, a pesquisadora identificou que algumas sofreram descaracterizações. Isso aconteceu, por exemplo, no prédio da antiga Sociedade Eletrotécnica, dividido em três edifícios, um deles o antigo Instituto Médio Legal. As que sofreram menos descaracterizações, de acordo com ela, foram os bancos, a Universidade, o Fórum e a Prefeitura.

"Esse é um dos problemas dessa arquitetura, porque o concreto aparente se deteriora se não tiver manutenção. Ele é suscetível à umidade, corrosão, proliferação de fungos. É um trabalho caro e demorado", afirmou. O professor exemplificou com a Faculdade de Arquitetura da USP, que passa por processo de restauro há cerca de 10 anos.

Por isso, ele afirma que a utilização de concreto não é uma forma de baratear os custos de uma obra. "O prédio da Morfologia da UEL tem paredes inteiras de concreto, por exemplo. Isso não é barato, porque o concreto é muito mais caro do que a alvenaria. Se considerar que a parte do concreto não está revestida, então isso é uma maneira de reduzir custos. Mas isso é muito relativo, porque vai ter o impacto na manutenção. Existe também o custo indireto das formas utilizadas para produzir esse concreto", explica.

Como um dos resultados da dissertação, Franciane elaborou fichas técnicas de cada uma das obras para entregá-las à Diretoria de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural, da Prefeitura de Londrina. "Elas representam um momento importante para a história da cidade e devem ser preservados", afirmou.


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