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12/12/2018  

Enfrentar toda violência e promover cidadania

José de Arimathéia

Simone Moura: "O menor ato de violência ainda é violência", enfatiza a professora

Projeto de pesquisa envolve 14 instituições brasileiras, de todas as regiões, mais 4 de países diferentes, com o objetivo de investigar as formas de preconceito, discriminação e qualquer outra forma de violência nas escolas

A violência é uma antagonista da cidadania. Se olhada de perto, em todas as suas manifestações, como no ambiente escolar, ela pode ser encarada mais como consequência do que como causa de ameaça à cidadania. Isso porque a própria violência é resultado das desigualdades sociais. Ainda assim, deve ser combatida, afinal, o menor ato de violência ainda é violência, segundo a professora Simone Moreira de Moura (Departamento de Educação), e não deve ser tolerada.

Simone coordena, na UEL, um projeto de pesquisa sobre violência escolar que, recentemente, obteve recursos em edital internacional. O projeto, que decorre de um anterior, sobre educação inclusiva e violência, é também resultado de novas demandas. Nesta nova etapa, ele envolve 14 universidades brasileiras, públicas e privadas, de 10 estados diferentes, e outras estrangeiras, de Barcelona (Espanha), Braga (Portugal), Buenos Aires (Argentina) e Cidade do México.

AMBIENTE ESCOLAR

Na realidade escolar, a violência se manifesta numa diversidade de atos de agressão, dos quais os mais frequentes - e são muito freqüentes - são a discriminação, o preconceito e o bullying, decorrentes de uma hierarquia formada entre os próprios alunos. Na verdade, explica a professora, há duas hierarquias: a "oficial" é determinada pelo rendimento escolar; a "não-oficial" é estabelecida pelas habilidades corporais dos alunos: força e beleza física, complementada pela popularidade que delas derivam.

Desestruturação familiar, falta de autoridade escolar e problemas psicológicos são geralmente apontados como causa destas manifestações de violência, mas o projeto vai além, porque entende que as relações interpessoais no ambiente escolar são muito complexas e como tais devem ser abordadas.

Simone conta que as instituições envolvidas aplicam os mesmos instrumentos em suas pesquisas sobre o tema, e em várias frentes. Todas ficam no 9º ano escolar, constatam as hierarquias entre alunos e a complexidade das relações intraescolares. O que se percebe é que os alunos mais bem sucedidos em termos de rendimento escolar (no alto da hierarquia "oficial") são as maiores vítimas de bullying, justamente dos alunos mais populares e de melhor êxito em atividades físicas. O fato de a escola ser um ambiente que incita a competitividade só contribui para a indesejada "naturalização" da violência.

Nas escolas brasileiras estudadas, coordenadores pedagógicos e diretores são ouvidos e falam de sua percepção da violência e do grau de inclusão da escola. Professores de língua portuguesa, Artes e Educação Física são entrevistados. Muitos, segundo a professora, não percebem casos específicos de bullying, por exemplo, mas concordam que ele é praticado na escola.

Talvez as próprias definições de cada forma de violência interfiram. Simone explica que o preconceito, por exemplo, tem alvo determinado - negros, deficientes físicos, etc. As maiores vítimas do preconceito são os portadores de deficiência. Já o bullying revela um desejo de destruição, uma agressividade generalizada. "Há muita coisa escrita sobre o bullying", aponta a professora. Mas enfatiza: "Embora o bullying se caracterize pela repetição, basta uma vez para ser violência". Daí a tolerância zero com tais atos, independente de serem praticados individualmente ou em grupos, reiterada ou isoladamente.

OBSERVATÓRIOS

A proposta do projeto, entre outras, é combater as formas de violência investindo na formação da cidadania e, para fundamentar as estratégias de ação, criar Observatórios de Educação: violência, inclusão e direitos humanos em todas as instituições participantes. A criação dos Observatórios se justifica pela demanda e urgência de identificar, problematizar e combater a violência e superar o pensamento esterotipado em relação às minorias vítimas de preconceito nas diferentes instâncias sociais, como a escola. Nestas minorias se incluem pessoas com deficiência, imigrantes de países pobres, moradores de rua, usuários de drogas, entre outras.

Os Observatórios também formarão bancos de dados sobre violência escolar, a partir das pesquisas e de fontes oficiais, como: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), Censo Demográfico, Censo Escolar, Sistema de Informações sobre Mortalidade/Departamento de Informática do SUS (SIM/Datasus), Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). A partir daí, serão promovidos debates e propostas de alternativas de enfrentamento e superação da violência na escola, contribuindo tanto para o desenvolvimento social, quanto do indivíduo em um movimento contrário à violência. Os debates serão levados às escolas como parte da formação dos professores e promoção de uma cultura contra a violência.

A professora lembra que, como projeto de pesquisa, a dimensão teórica tem seu papel relevante. No caso, baseia-se na Teoria Crítica da Sociedade, que articula diversas disciplinas - Sociologia, Filosofia, Psicologia, Estética, Antropologia. Este aspecto também aproxima os pesquisadores das instituições participantes que, mesmo separados pela distância geográfica, convergem nos estudos sobre o tema.

Simone explicou que os dados obtidos serão divulgados em livro, artigos científicos, cartilhas, a serem distribuídos para professores, alunos e funcionários das escolas pesquisadas. Esse material também será encaminhado às Secretarias de Educação municipais, estaduais e ao Ministério da Educação; às Secretarias de Justiça municipais e estaduais e para o Ministério da Justiça; para as Secretarias de Direitos Humanos dos municípios, dos estados e da federação. Ou seja, é um esforço para avançar nas políticas públicas e ações locais contra todas as expressões de violência escolar.

PORTUGAL

Simone esteve em Portugal entre 9 e 20 de novembro, num encontro que reuniu representantes da maioria das instituições envolvidas no projeto. Lá, discutiram as ações em três frentes. A primeira, promoção de palestras e seminários para levar os resultados das pesquisas às escolas. A segunda, definida no encontro do Porto, é a inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado. E em Guimarães, segundo a professora da UEL, o encontro foi muito rico com a participação de escolas portuguesas.

A ideia, de acordo com Simone, é que este retorno dado às escolas funcione como formação dos professores, inclusive com progressão na carreira. "Queremos falar de educação inclusiva no sentido mais amplo possível, discutindo adaptações, metodologias diferenciadas e tudo o que ela envolve", afirma.

Em junho do ano que vem, o encontro de participantes do projeto será na Universidade de São Paulo. Mas Simone trabalha para trazê-los a Londrina.

As universidades participantes são: Universidade Federal do Pará (UFPA) - Campus Belém e Campus Castanhal; Universidade Federal do Sergipe (UFS); Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL); Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Universidade Estadual de Londrina (UEL); Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal Fluminense (UFF); Universidade de São Paulo (USP) e duas da rede privada do ensino superior: Instituto Singularidades (IS) de São Paulo, e Faculdade Alfredo Nasser (Goiânia).

O coordenador geral do projeto é o professor José Leon Crochik (Instituto de Psicologia da USP). Na UEL a equipe é formada ainda pelas docentes Ana Cristina Amado e Marta Furlan, além de Laura Solaliendre, Mariana Maroca e Graziela de Mendonça, bolsistas de iniciação científica.


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