Deflagrada pela Polícia Federal (PF) no último dia 17, a Operação Carne Fraca revelou fraudes e irregularidades na fiscalização e comercialização de carnes em 21 frigoríficos do país, afetando exportações e provocando desconfiança do consumidor externo. De acordo com a investigação, fiscais do Ministério da Agricultura receberam propina de empresas para liberar produtos com composição adulterada e prazo de validade vencido. A notícia de que eram adicionadas substâncias como ácido ascórbico (vitamina C) e sórbico (composto que atua como conservante), misturas e em embutidos e até mesmo o suposto uso de papelão no preparo de carne repercutiram fortemente e deixaram consumidores.
No entanto, a coordenadora do Grupo de Pesquisa e Análise de Carne da UEL, professora Ana Maria Bridi (do Departamento de Zootecnia), alerta que há exagero no que foi noticiado. De acordo com ela, o uso de ácido ascórbico e sórbico é legal. "Não há nada de irregular no uso de ácido ascórbico e sórbico. A questão é que essas duas substâncias devem ser aplicadas em quantidade adequada e em produtos específicos", orienta. Inclusive, tanto o ácido ascórbico quanto o ácido sórbico são autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos processos de conservação. Ainda de acordo com a Anvisa, nenhum dos dois tem efeito cancerígeno.
Sobre a polêmica da carne de cabeça de porco na linguiça, a especialista afirma que a prática também não é ilegal. "Quando ouvem que há carne de cabeça na linguiça, muitas pessoas já imaginam que estão comendo o cérebro do animal, mas, o que se usa são pedaços da bochecha, por exemplo. E não há nada de irregular nesse processo. Errado mesmo seria utilizar carne de outros animais além do porco". O suposto uso de papelão também repercutiu bastante. No entanto, já foi esclarecido que a PF interpretou mal um áudio gravado entre o gerente de produção e o funcionário de um frigorífico.
"A conversa entre os dois se referia ao uso do papelão na embalagem, não no produto em si. Quem é da área sabe que é muito improvável que exista mistura desse material com a carne que vai ser consumida", explica Ana Maria Bridi.
Fraudes envolveram 21 frigoríficos. Sistema tem acompanhamento para avaliar qualidade, inclusive com auditoria internacional
Apesar do escândalo revelado pela operação da PF, a especialista afirma que o sistema brasileiro de preparo e fiscalização da carne é confiável. "Considerando que há milhares de frigoríficos no Brasil, os 21 em que foram encontradas fraudes e irregularidades representam uma quantidade muito pequena. Não dá para afirmar que a carne brasileira é ruim com base nisso".
Ela explica ainda que, antes de fechar contratos de exportação, os frigoríficos passam por uma auditoria internacional, já que os países não compram esse tipo de mercadoria sem verificar a qualidade antes. Mesmo assim, é importante que a população confira o estado do produto antes de consumi-lo. "Em alguns casos, não é difícil perceber se a carne está estragada. Basta observar a cor, o cheiro e a textura, por exemplo. Mais fundamental ainda é ter confiança no seu fornecedor, no seu local de compra", aconselha.