Comissão Universidade para os Índios (CUIA) estadual definiu cronograma nesta quinta (23)
A Comissão Universidade para os Índios (CUIA) estadual definiu nesta quinta-feira (23) as datas das provas e o período de inscrição do Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, que este ano será realizado no Campus da UEL, em Londrina. As provas estão marcadas para os dias 10 e 11 de dezembro e as inscrições deverão ser feitas de 8 de setembro a 23 de outubro. O vestibular específico para alunos indígenas, criado por lei estadual em 2001, oferece seis vagas em cada uma das sete Universidades Estaduais, além de dez vagas na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, que se associou ao processo como conveniada.
O cronograma do concurso foi definido nesta quinta, durante a primeira reunião da CUIA estadual este ano. Além da escolha das datas e da redação do edital do vestibular, foram encaminhadas outras providências, entre as quais a preparação de material de divulgação e a elaboração do manual e das provas. A expectativa é receber mais de 500 candidatos este ano, segundo os representantes da UEL na comissão, professor Wagner Roberto do Amaral, do Departamento de Serviço Social e a diretora do SEBEC (Serviço de Bem-Estar à Comunidade), Betty Finatti. No ano passado, quando o vestibular foi realizado em Guarapuava, foram registrados 420 inscritos.
Outro encontro dos membros da comissão foi marcado para setembro, também em Londrina. Até lá, deverá estar no ar, no site da UEL, uma página específica sobre o vestibular indígena, onde os interessados encontrarão ficha de inscrição (a ser impressa), preenchida e entregue na instituição de preferência do candidato. As inscrições não poderão ser feitas online. "Na verdade, a maior parte das inscrições para o vestibular indígena é feita nas aldeias, por meio do pessoal da CUIA, quando vamos lá fazer a divulgação e levar esclarecimentos", informa o professor Wagner do Amaral.
A impressão das provas e a logística para a aplicação deste ano estarão a cargo da Coordenadoria de Processos Seletivos (Cops) da UEL. O vestibular consiste de uma prova oral, redação e prova objetiva com cinco questões de cada disciplina do Ensino Médio. O exame será aplicado no Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA), no Campus.
Para a diretora do SEBEC, Betty Elmer Finatti, o vestibular para indígenas deve ser visto como um grande evento que a UEL vai sediar. "Este é um processo que já tem 14 anos de existência. É representativo porque temos muitas terras indígenas na região, à nossa volta, que fazem parte do nosso cotidiano. Por outro lado, procuramos uma data em que o vestibular não vai interferir nas atividades da instituição", afirmou. O dia 10 de dezembro é feriado em Londrina.
Regras - Diferentemente do que ocorre com os outros alunos, no vestibular indígena o candidato escolhe apenas a Universidade onde deseja estudar, e não o curso. A escolha da graduação é feita pelo aluno no ato da matrícula. A UEL, no entanto, segundo explica Betty Finatti, implantou no ano passado um ciclo intercultural de iniciação acadêmica, com duração de um ano, no qual os alunos indígenas recebem formação intermediária entre a educação básica e o ensino superior. "É um primeiro ano de formação crítica, no qual se espera que o estudante desenvolva uma compreensão do que é a universidade e retome conteúdos do ensino médio".
A mesma lei que criou o vestibular para indígenas estabeleceu a concessão de uma bolsa de assistência para os que entrarem na universidade. Atualmente, a bolsa é de R$ 633 e de R$ 950 para quem tem filhos.
Histórico - O Paraná, que tem 17 áreas de reservas indígenas demarcadas, foi o primeiro Estado do Brasil a estabelecer uma política pública de ingresso e permanência de indígenas em universidades públicas no Brasil, lembra o professor Wagner Roberto do Amaral. O Vestibular dos Povos Indígenas começou, há 14 anos, com 52 candidatos, a grande maioria de perfil adulto, para 15 vagas, três em cada uma das então cinco universidades estaduais.
O número de vagas elevou-se para seis em cada universidade em 2006. Foram oferecidas, nesses 14 anos, 525 vagas para indígenas. Na UEL, ingressaram 66. Hoje existem em torno de 340 alunos matriculados no Estado. O número dos que se formam, porém, ainda é pequeno. Na UEL, de acordo com o professor, formaram-se nove dos que ingressaram de 2002 a 2008, um índice de 25%, devido à alta evasão. Foram formados uma médica, dois dentistas, um jornalista, um assistente social, um médico veterinário, uma secretária executiva, um Design Gráfico e um professor de Educação Física.
Existe um projeto de pesquisa coordenado pelo próprio professor Amaral que está estudando a trajetória dos profissionais. O estudo mostrou que as duas maiores demandas de escolha dos candidatos são saúde e educação e todos os que se formaram na UEL estão atuando na aldeia ou em seu entorno, inclusive o jornalista e a secretária executiva.
No Paraná, já foram feitas três teses e duas dissertações de mestrado tratando do vestibular indígena. A própria CUIA está para lançar uma publicação com um balanço da política estadual nesse campo.
