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Eduel na era digital
Enquanto organiza sua participação na 23ª Bienal do Livro, a Editora da Universidade Estadual de Londrina se prepara para lançar e-books
Uma das participantes da 23ª Bienal do Livro de São Paulo, evento que acontece na próxima semana, a Editora da Universidade Estadual de Londrina (Eduel) se prepara para começar a produzir livros também no formato digital a partir de 2015. Paralelo ao lançamento dos e-books, a editora assume um outro desafio: reduzir para seis meses o prazo para publicação das obras que atualmente são colocadas no mercado somente dois anos após a entrega dos manuscritos pelos autores.
O atual diretor da Eduel destaca a importância da participação na 23ª edição da Bienal do Livro de São Paulo, que será aberta na sexta-feira e prossegue até o dia 31 de agosto. "Um dia antes da abertura para o público os organizadores da bienal promovem um encontro entre editores do mundo todo. É uma ótima oportunidade para tornar nossos livros conhecidos, firmar novas parcerias comerciais e também para que os funcionários da Eduel façam um intercâmbio com outros profissionais e fiquem atualizados quanto às novidades do mercado editorial", destaca Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello.
Prestes a completar 20 anos de atuação em 2015, a Eduel está em fase de reestruturação para encarar uma nova empreitada: a produção e comercialização de livros também no formato digital. "Os e-books trazem diversas vantagens para os consumidores. Ao lançar as obras neste formato não teremos mais casos de títulos esgotados, como acontece atualmente com os livros físicos. Pretendemos, inclusive, disponibilizar no formato digital obras que já se encontram esgotadas. Além disso, a versão digital pode ser lida até pela tela do telefone celular, não fica restrita ao mercado nacional e agiliza o trabalho dos pesquisadores. Com apenas um clique é possível localizar determinada citação, facilitando a transcrição de alguns trechos e o cruzamento de informações", enfatiza Mello.
A previsão é que os e-books da Eduel comecem a ser comercializados a partir de 2015. "Muita gente acha que basta disponibilizar o conteúdo os livros em PDF na internet. Mas na realidade os e-books demandam uma série de ferramentas que viabilizam as pesquisas e a visualização dos livros. Isso requer tecnologias específicas que estão sendo desenvolvidas pelo setor de Tecnologia da Informação (TI) da UEL", revela o diretor da UEL, ao destacar que algumas obras da editora são encontradas no formato e-book produzidos pela livraria online SciELO. (Leia mais na página 4)
Marcos Roman - Reportagem Local
Divulgando conhecimentos
Motivada por uma amiga do curso de graduação em Jornalismo, Cláudia Sabbag Ozawa Galindo decidiu publicar em livro a pesquisa que produziu durante o curso de mestrado em Letras da UEL. No período de quatro anos, ela analisou as similaridades entre a poética sonora dos trovadores medievais criando um paralelo com as composições de Chico Buarque de Hollanda. A pesquisa resultou no livro "Mulher, Poesia e Música", produzido este ano.
"É tanto trabalho de pesquisa que a gente tem nos cursos de mestrado e doutorado que acho injusto todo esse conhecimento ficar restrito apenas aos pesquisadores e às bancas avaliadoras das universidades. Transformar as pesquisas em livros é uma forma de compartilhar todas essas informações com a sociedade e promover debates, trazendo esses trabalhos para a vida prática" defende Cláudia.
O livro escrito por ela será lançado quarta-feira, na Livraria Cultura, de São Paulo, e em setembro, em Londrina. "Recebi o convite para fazer o lançamento na próxima edição do Festival Literário de Londrina (Londrix), entre os dias 8 e 9 de setembro", informa a autora.
Cláudia conta que ficou tão satisfeita com a repercussão da obra que também pretende transformar em livro a pesquisa que está realizando para o programa de doutorado em Letras da UEL atualmente. "Sabendo que o prazo para a edição do livro pela Eduel será reduzido a gente tem uma motivação ainda maior, pois a publicação dos nosso trabalhos acadêmicos contam pontos no currículo" comemora.
REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO SEXUAL
Os dois livros que a professora aposentada da UEL Mary Neide Figueiró lançou pela Eduel se transformaram em referências na área de educação sexual no Brasil. "Todos os anos participo de bancas de mestrado e doutorado em vários Estados brasileiros com pesquisas que têm meus livros como referência", afirma Mary.
Autora dos livros "Educação Sexual: Retomando Uma proposta Um Desafio" (1996, já na 3ª edição) e "Educação Sexual no Dia a Dia" (2013, produzido também em braille), respectivamente resultados de pesquisas de mestrado e doutorado, Mary Neide comemorou o fato da Eduel estar se preparando para lançar os títulos da editora no formato e-book. "Essa semana, por exemplo, recebi a ligação de um estudante de Natal solicitando um título meu de outra editora que está esgotado. Com os e-books não haverá mais esse tipo de problema", argumenta.
Mary Neide destaca a importância dos livros que ela editou pela Eduel. "Durante os 19 anos coordenei um projeto de extensão na UEL que trabalhava a formação de educadores sexuais. A cada ano trabalhamos com cerca de 70 profissionais, 90% deles professores da rede pública de ensino. Ter acesso aos textos sobre o tema por meio dos livros com certeza facilitou o desenvolvimento do nosso trabalho. A Eduel cumpre muito bem essa função de divulgar os conhecimentos acadêmicos", enfatiza. (M.R.)
Dinamicidade ainda é um desafio
Eduel dobra efetivo de alguns departamentos para reduzir tempo de produção de obras para seis meses
Com cerca de 600 títulos lançados desde a sua fundação em 1995, a Editora da Universidade Estadual de Londrina (Eduel) tem um grande desafio pela frente: tornar-se mais atraente para os pesquisadores que desejam transformar suas pesquisas acadêmicas em livros. O principal entrave na atualidade é o longo prazo entre a entrega dos manuscritos e a impressão da obra.
"Atualmente firmamos em contrato um prazo de dois anos para que o livro fique pronto. No entanto, a publicação de pesquisas é um dos quesitos que contam pontos no currículo dos autores e este prazo longo na maioria das vezes acaba tornando a Eduel pouco atraente para os autores", argumenta Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello, diretor da editora.
Segundo ele, a meta estabelecida pela atual administração da Eduel é reduzir o atual prazo pela metade para futuramente chegar a seis meses, que seria o período ideal para a entrega do livro. "Para alcançar esse objetivo já estamos investindo no aumento da mão de obra em todos os setores da editora, chegando ao dobro do efetivo em alguns departamentos, como o de revisão linguística que hoje conta com dois profissionais da área de Letras e dois estagiários", esclarece.
Mello explica que após a entrega dos manuscritos que darão origem ao livro, o material passa por diversos processos. Na primeira etapa, o material segue para um parecerista externo, que pode ser de qualquer lugar do Brasil. Ele vai avaliar se a obra é ou não publicável sob o ponto de vista da originalidade.
Caso o parecer seja favorável, o material é submetido à análise do Conselho Editorial da UEL, formado por dez membros de diversos centros acadêmicos da universidade. "Nesta fase, são avaliadas questões técnicas e jurídicas que envolvem direitos do uso de imagens e citações e também questões éticas. Caso o conselho aprove a publicação, o material é encaminhado aos setores de revisão linguística e finalmente para a editoração que fará os ajustes finais de texto e imagem, incluindo a produção de capa. Nosso trabalho de revisão demanda mais tempo do que o de uma editora comercial por conta da linguagem acadêmica e também das normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que precisam ser respeitadas", detalha Mello.
Ele salienta que os livros publicados pela Eduel não têm nenhuma pretensão comercial que objetive grandes de vendas. "Alguns títulos acabam se tornando referência em determinadas áreas, chegando a várias reedições. Mas o principal objetivo de uma editora universitária é a divulgação das pesquisas acadêmicas. Todos os livros lançados pela Eduel são resultados de trabalhos realizados por alunos dos programas de mestrado e doutorado da UEL. Os autores cedem os direitos autorais à instituição e em troca a editora disponibiliza a eles 10% das tiragens de cada livro, que são colocados no mercado com 500 ou mil exemplares na primeira edição".
Marcos Roman - Reportagem Local
Olimpíada de matemática, berço de heróis
Coordenadora de olimpíada de matemática fala da conquista da nova celebridade acadêmica brasileira e faz balanço dos 10 anos da competição que envolve mais de 19 milhões de alunos
A professora Ana Lúcia da Silva, do curso de matemática da Universidade Estadual de Londrina (UEL), é uma das três coordenadoras regionais no Estado da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), competição criada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em 2005, quando o titular da pasta era Eduardo Campos, morto na semana passada.
Graduada na Universidade Estadual de Maringá, mestre pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, doutora pela Universidade de São Paulo, Ana Lúcia burilou seus conhecimentos numa inesquecível temporada na Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos.
Na instituição novaiorquina, teve contato com cinco detentores da Medalha Fields, o equivalente ao Nobel de matemática. Um deles era o carioca Artur Ávila Cordeiro de Melo, cientista que virou celebridade nacional ao se tornar o primeiro latino-americano a receber o prêmio. "Embora tenha um conhecimento absolutamente profundo da matemática, ele é capaz de ser simples e claro numa palestra para adolescentes. Já vi várias e sempre me impressiono com a forma como ele se comunica com os estudantes. Muitos pedem autógrafo no final da exposição", conta a professora.
Melo nunca participou de uma Obmep mas brilhou por anos seguidos na sua precursora, a Olímpiada Brasileira de Matemática (OBM), vencida por ele em 1993, 1994 e 1995. A OBM, dominada historicamente por estudantes de colégios militares ou particulares, inspirou a criação da Obmep, idealizada para dar mais chances aos matriculados da rede pública. Em 2014, a competição envolveu 19 milhões de alunos em mais de 99% dos municípios do País.
A competição forma uma elite entre os estudantes de matemática. Os medalhistas têm direito a bolsa do governo federal e a um curso de iniciação científica desenvolvido pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), um dos maiores centros de excelência científica do País. Na região de Londrina, são 60 alunos candidatos a gênio, que em um sábado por mês, durante um ano, vão ao campus da UEL para receber e trocar conhecimento. As aulas os aproximam da carreira acadêmica e facilitam o acesso a programas oficiais de incentivo, como o Ciência sem Fronteiras. "O caso do Artur é um estímulo para eles", garante Ana Lúcia.
Em todo o País, são 6,5 mil medalhistas. "O governo quer chegar a 10 mil a cada ano", afirma a professora. Para ela, as olimpíadas estão impactando positivamente o ensino de matemática, que, no entanto, ainda vive escassez de professores e bacharéis. De acordo com Ana Lúcia, a competição tem o mérito de aglutinar os melhores, além de funcionar como um elemento multiplicador do estudo da matemática no âmbito das escolas públicas, tanto entre os estudantes quanto entre os professores.
A conquista da medalha Fields - prêmio tão conceituado que é comparado ao Nobel - por um brasileiro contrasta com os resultados pífios que o sistema de ensino brasileiro apresenta em rankings internacionais. Como se explica isso?
Isso mostra que somos mesmo um país de contrastes. Temos excelentes pesquisadores, reconhecidos internacionalmente, mas temos carência na formação de professores que ensinem matemática básica. Falta incentivo ao professor e nem estou falando da questão salarial. É mais que isso: são dificuldades administrativas e uma cultura de desvalorização do professor.
Considerado um centro de estudos científicos de padrão internacional, o Impa mantém Artur Ávila Cordeiro de Melo nos seus quadros e outros pesquisadores de grande prestígio. Por que o Impa dá certo?
O Impa é um orgulho para o Brasil. Tudo o que há de melhor no mundo está ali, a melhor biblioteca de matemática da América Latina está ali. Foram os investimentos nesta instituição que fizeram despontar talentos como o Artur. O Impa abraçou a pesquisa em matemática. Para os pesquisadores crescerem, é preciso um ambiente voltado à discussão e ao pensamento e o Impa oferece isso. É um modelo para outros centros de pesquisa.
A ciência brasileira se ressente de nunca ter sido premiada por um Nobel. No entanto, a comunidade científica compara a Medalha Fields a este importante prêmio. Por que a matemática foi o primeiro ramo do conhecimento a conquistar tal galardão no Brasil?
O matemático é um ser obstinado. Para montar o Impa, por exemplo, os professores tiveram que batalhar muito, pesquisar muito. Você chega no Impa e percebe que o tempo todo se faz pesquisa ali, desde o comecinho da manhã ate o fim da noite. Tem alguns pesquisadores que chegam a dormir lá. Eles realmente são um exemplo de obstinação. Para se conseguir algo num grau tão elevado, é preciso lutar muito. E os matemáticos brasileiros contam com esta estrutura, que os abraça e os apoia.
Qual é o papel dos professores no processo de identificação dos alunos geniais?
O principal mérito de um professor é fazer o aluno aproveitar bem o tempo. Um aluno com mau comportamento às vezes age assim porque o professor não sabe estimulá-lo o suficiente. Se ele for desafiado por algum exercício interessante, ao invés de um comportamento inadequado, ele pode conseguir um bom desempenho. Por isso, é necessário que o professor seja como um bom jogador de xadrez, que calcula cinco passos à frente. Tem que saber sempre mais do que o conteúdo que ele prepara para a aula. Tem que "dar corda" ao aluno para saber até onde ele pode ir. E "puxar a corda", se for necessário. Fazendo isso, o professor vai saber se o aluno tem uma aptidão especial ou não. Em matemática, acrescentaria ainda a transmissão do valor da disciplina, que é fundamental. Por vezes, mesmo sem aptidão, mas com muito esforço, é possível ser um matemático de alto nível.
As competições de conhecimento ajudam a melhorar o padrão de ensino?
Uma pesquisa nacional apontou uma sensível melhora no ensino desde o início da Obmep. E a tendência é de uma melhora gradual e contínua. O resultado do Pisa (um programa internacional de avaliação de estudantes) mostra um pequeno avanço do Brasil nos últimos anos, com a conquista de duas posições no ranking global. Em ensino, não há saltos. A Obmep é importante porque é um objeto aglutinador e multiplicador do ensino. O aluno leva o que aprendeu na iniciação científica para a escola. Os professores destes alunos também se envolvem no projeto. As olimpíadas disseminaram o estudo da matemática. São 6,5 mil alunos que tem contato frequente com a universidade ainda na adolescência. Muitos deles nem sonhavam com isso. Alguns chegam depois ao doutorado. O prêmio estimula os outros alunos a estudarem mais. Precisamos de bons professores, bons físicos, bons químicos, bons engenheiros e vamos fazer isso dando boa formação de matemática porque a matemática é a base de tudo isso.
Lúcio Flávio Moura - Reportagem Local
Era uma vez um jardim
Em novembro, completam-se 15 anos do tombamento incompleto do conjunto Autolon-Ouro Verde, processo em que apenas o cine teatro foi incluído no Patrimônio Cultural do Estado. Arquitetos e profissionais ligados à preservação ainda lamentam equívoco que permitiu a construção de uma loja no espaço entre os dois prédios
Em 8 de novembro, completam-se 15 anos da inscrição do Cine Teatro Ouro Verde no Patrimônio Cultural do Paraná. Apesar do orgulho da inclusão de uma das obras mais icônicas de Londrina na lista de bens tombados pelo Estado, arquitetos e profissionais ligados à preservação da história londrinense lamentam o que consideram um equívoco.
O Ouro Verde, que está sendo reconstruído após o incêndio de 2012, faz parte de um projeto que inclui outros itens que não foram tombados pelo patrimônio: o vizinho Edifício Autolon, um bloco que liga as duas construções e um jardim, que foi destruído para a construção de uma loja. Especialistas apontam que a falta da proteção que poderia ser proporcionada por um tombamento foi decisiva para a perda do jardim e da ideia original do conjunto.
O projeto teve início em 1948, quando Celso Garcia Cid, Ângelo Pesarini, Jordão Santoro e outros sócios da Sociedade Auto Comercial de Londrina, a Autolon, revendedora da Chevrolet na cidade, tiveram a ideia de construir um edifício comercial na esquina das ruas Maranhão e Minas Gerais. Entusiasta da sétima arte, Santoro sugeriu que o empreendimento incluísse um cinema. O projeto foi encomendado aos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, curitibano radicado em São Paulo, e Carlos Cascaldi – o irmão deste, o engenheiro Rubens Cascaldi, executou a obra.
Embora todo o complexo tenha sido planejado de uma vez, com o edifício comercial, um restaurante com um jardim em frente e o cinema, os prédios foram concluídos em períodos diferentes. O primeiro foi o Autolon, em 1951. O Cine Ouro Verde foi inaugurado na véspera do Natal de 1952. E o Restaurante e Confeitaria Calloni, apenas em 1959. Este foi fechado cinco anos depois e o imóvel teve outros usos desde então.
Uma ruptura decisiva aconteceu em 1978, quando a Universidade Estadual de Londrina (UEL) comprou o Ouro Verde, com recursos dos governos Federal e do Estado, e o converteu em cine teatro universitário. Os demais componentes do complexo permaneceram privados. O caráter público do cine teatro facilitou para que fosse o único item do conjunto tombado, 21 anos depois da aquisição pela UEL.
"O tombamento de prédio público é feito por ofício e não precisa passar por vários trâmites. Simplesmente comunica-se o ente público proprietário. Quando é um espaço privado, o processo é mais complicado. É dado ao proprietário direito de se manifestar, abre-se um prazo, se o dono for contra, o conselho se reúne para analisar a manifestação... E assim por diante", explica Rosina Parchen, coordenadora do Patrimônio Cultural do Estado. "Sempre se soube que o conjunto era todo do Artigas, mas por ser prédio público decidiu-se apenas pelo tombamento do Ouro Verde."
Rosina acredita que, apesar de o espaço do antigo Restaurante e Confeitaria Calloni ser privado, "a prefeitura não deveria ter autorizado" o fechamento do jardim. "O Estado não tinha como fazer nada, pois não era um local tombado", argumenta. A coordenadora diz que nada impede que a comunidade londrinense se mobilize para reivindicar o tombamento do restante do conjunto e a reconstrução do jardim.
"Para nós, sempre o interesse é que a iniciativa parta de uma comunidade - se um grupo de arquitetos de Londrina entender que isso (o tombamento de todo o projeto) deve acontecer, por exemplo. O Estado pode fazer o processo de tombamento a qualquer momento, mas entendemos que é melhor que parta da comunidade local, lutando pela preservação do espaço", afirma.
A área entre o Ouro Verde e o Autolon pertence ao empresário Rachid Zabian desde a década de 1990. Antes de construir sobre o jardim o prédio que depois seria alugado para lojas, pouco após o tombamento do cine teatro, ele consultou a prefeitura e a coordenação do Patrimônio Cultural do Estado. Como o espaço não era tombado, não teve impedimentos para fazer a obra. Após o incêndio do Ouro Verde, chegou-se a cogitar a desapropriação do terreno para que fosse feita uma rota de fuga do cine teatro, possibilidade que abriria espaço para a reconstrução do jardim. Mas as conversas não avançaram.
Fábio Galão - Reportagem Local
Projeto do complexo previa interação
Juliana Harumi Suzuki, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e autora dos livros "Idealizações de Modernidade: Arquitetura dos Edifícios Verticais em Londrina 1949-1968" e "Artigas e Cascaldi: Arquitetura em Londrina", acredita que o poder público poderia ter se esforçado para tombar o conjunto Autolon-Ouro Verde por inteiro.
"Não custava ter tombado também o Autolon, porque ele fazia parte do conjunto e o potencial construtivo dele estava esgotado", argumenta. "Nós temos necessidade de uma política de preservação em Londrina. O problema é maior do que o das obras do Artigas. Já existe uma tentativa de fazer uma lei de preservação municipal. Primeiro, precisamos de uma reflexão da sociedade, e segundo, dessa legislação. Não podemos esperar o centenário da cidade para lamentar coisas que aconteceram", diz a professora.
Juliana cita que Londrina já perdeu imóveis de importância histórica: exemplares de arquitetura de madeira, casas de imigrantes japoneses, residências rurais, casarões da Avenida Higienópolis (como a famosa Casa dos Anões). Ela também lamenta situações que considera de abandono, como a degradação do Bosque e a falta de uma preocupação com o paisagismo do Lago Igapó.
"Mas vejo esforços do poder público, por exemplo, para não descaracterizar o Shangri-Lá, as vielas, o desenho do bairro, que contam uma parte importante da história de Londrina. Existe ali uma pressão imobiliária, de verticalização da região", afirma a professora. "Mas tudo diz respeito não a uma intervenção pontual nas obras, mas criar uma política de preservação." Juliana sugere que essa ação pode passar pelo resgate do jardim do complexo Autolon-Ouro Verde. "Existe o projeto, é possível refazê-lo", acredita.
Jairo Queiroz Pacheco, professor da pós-graduação em Patrimônio e História da UEL e autor do documentário "Das cinzas ao renascimento: Ouro Verde" (2012), que trata da história e da importância do cine teatro para a cidade, diz que a construção da loja no lugar do jardim entre o Ouro Verde e o Autolon representou "uma completa mutilação" do projeto original. Pacheco lembra que a arquitetura de Artigas sempre teve a qualidade de buscar a interação com o entorno: como exemplos dessa preocupação, cita o vão livre do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) e as colunas inclinadas do próprio Ouro Verde.
"O Artigas concebeu o Ouro Verde e o Autolon como um conjunto. No meio, ele deixou um espaço que era meio como uma praça, um convite para as pessoas entrarem. Com o Calçadão (implantado em 1977), isso foi reforçado. Todos os projetos do Artigas tinham essa característica de não serem uma arquitetura de caixote, que delimita o entorno e tenta se isolar das pessoas. Quando se fechou o jardim, não foi possível sequer mais perceber que se tratava de um conjunto", lamenta.
Em abril de 2011, foi publicada a Lei Municipal Nº 11.188, que cria regras para a preservação do patrimônio cultural de Londrina. A matéria cria os processos de listagem de bens de interesse de preservação e de tombamento municipal, o conselho municipal e o fundo de preservação do patrimônio cultural londrinense. Entretanto, a lei ainda não foi regulamentada. Um decreto nesse sentido deve ser publicado dentro dos próximos dias.
Vanda de Moraes, diretora de Patrimônio Artístico e Histórico-Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de Londrina, aponta que essa regulamentação vai impedir situações como a do conjunto Autolon-Ouro Verde. "Se existisse essa lei na época, a história teria sido outra", afirma. (F.G.)
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Soltar peixes de aquário em rios e lagos pode causar danos irreversíveis
Pesquisadores da UEL fazem campanha para evitar o descarte de peixes ornamentais. Prática pode desequilibrar o ecossistema
Assunto corrente quando se trata de animais domésticos, como cães e gatos, a guarda responsável também é uma exigência para quem mantém um aquário e peixes ornamentais em casa.Descartados em rios e lagos de forma inadvertida, os peixes ornamentais podem se tornar um problema biológico e ambiental, alertam pesquisadores do Laboratório de Ecologia de Peixes e Invasões Biológicas (Lepib) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Os pesquisadores do laboratório lançaram uma campanha explicativa para consumidores e lojas sobre os riscos da destinação de peixes de aquário em ambientes onde eles podem se tornar uma ameaça para as espécies originais.
Segundo o alerta, espécies nativas podem ser afetadas pelos peixes exóticos introduzidos, que passam a dominar o ambiente, eliminando predadores naturais e estimulando o cruzamento de espécies que, em condições normais, nunca se encontrariam.
Um levantamento do grupo indica que a bacia do Rio Paraná foi invadida por 11 espécies ornamentais vindas de aquários. Os principais peixes exóticos presentes são o Flame Tetra, o Cascudo, o Pati, o Cará (porquinho) e o Espada – todos nativos do Pantanal, da Amazônia e América Central.
“O problema dos peixes ornamentais em outros ambientes é a ocupação dos espaços que faz com que algumas espécies sejam consideradas como invasoras”, diz Mário Orsi, biólogo coordenador do Lepib.
Impacto local
Em breve, o laboratório começará estudos sobre o impacto desses peixes nos ribeirões locais de Londrina. “A situação pode ser bem mais séria do que imaginávamos."
Orsi destaca a “quebra dos serviços ambientais” causadas pelas espécies introduzidas – como a perda da qualidade da água e a eliminação de predadores naturais desses ambientes, o que pode desequilibrar o ecossistema.
“O peixe conhecido como Oscar (Astronotus crassipinis), por exemplo, é superbonito, colorido e parece inofensivo. Mas é um predador importante, assim como o tucunaré”, explica. “São agressivos e tomam o território onde se instalam.”
Segundo o pesquisador, nos EUA o custo para prevenir e manejar espécies invasoras é de US$ 1 bilhão por ano. As solturas maciças de peixes em rios, muito comuns como políticas de governo, também são questionáveis, afirma o especialista em peixes.
Mais informações:
Laboratório de Ecologia de Peixes (UEL) – (43) 3371-4948
Loja Angel Fish – (43) 3029-1233.
Loja recebe peixes de volta
Proprietário da loja mais antiga de Londrina no segmento, a Angel Fish, o aquarista Edson Shimizu diz que a guarda responsável de animais aquáticos deve ser incentivada de forma ampla.
“Quando a pessoa não quer mais um peixe, não pode despejar em um rio ou lago qualquer. O melhor é devolver para o local onde comprou ou mesmo aqui para a nossa loja”, orienta ele, que também participa da campanha da UEL sobre a guarda responsável de espécies aquáticas.
Segundo Shimizu, é comum a soltura indiscriminada de peixes em ambientes onde eles não devem estar. “Os consumidores precisam ter mais informação sobre animais aquáticos. A guarda responsável é um tema ainda restrito nesse círculo com graves efeitos para o meio ambiente”, aponta.
“Pelo fato de o aquarismo ser um hobby, é importante saber o que fazer quando desistir da atividade.”
3 dicas na hora de pensar no seu querido peixinho:
1 – Antes de adquirir um peixe, informe-se sobre os cuidados, os hábitos e os gastos necessários para manter um aquário.
2 – Caso tenha desistido de ter um aquário, doe o peixe para outro aquarista ou devolva-o em lojas do setor.
3 – A doação também pode ser feita pela internet, anunciando o seu peixe em grupos e fóruns de aquaristas e criadores.
Fontes: Lepib e Jornal Notícia da UEL
Marcelo Frazão