Entrevista com a artista Carolina Panchoni

Carolina Panchoni é uma das seis artistas participantes da exposição “Quando vier por favor me avise” na DaP, aberta até o dia 15 de agosto.
Enviamos para ela algumas perguntas para que todos nós possamos conhecê-la melhor e conhecer também de onde vem suas referências para a realização de seus trabalhos.
COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Não sei dizer muito bem quando começa, mas como começa. Eu comecei a prestar atenção depois que aprendi com alguns professores e amigos, meus mestres, que trabalho nasce de trabalho. Acredito nisso porque sempre tenho a ideia do trabalho seguinte quando estou no meio do trabalho presente.
Acho que é um amalgama disso com várias outras coisas. Por exemplo, a soma de um livro que estou lendo ou um filme que vi com uma experiência uma observação sobre o mundo por menor que seja, mais o trabalho que estou fazendo, mais a conversa com algumas pessoas, mais estudo sobre alguns artistas que admiro, tudo isso vai condensando a ideia e aos poucos as coisas vão acontecendo. Sou bastante influenciada por filmes, livros… Por isso também, acho bastante pertinente as perguntas seguintes.
Os trabalhos que estão expostos na casa de cultura, por exemplo, surgiram enquanto eu desenhava uma série de desenhos pequenos de observação de um pássaro morto encontrado. Depois de conversar com alguns amigos e mestres, no caso a Elke Coelho e o Danillo Villa e também depois de me lembrar de outros trabalhos em formatos maiores que eu já havia feito, pensei porque não retornar a essas tamanhos?
E aí vem o trabalho também físico, achar o material adequado, a técnica adequada, tamanho adequado, maneiras de armazenar e transportar adequadas. Ainda estou procurando isso e não sei se vou achar, rs. Os trabalhos do pássaro pequeno surgiu de um encontro entre uma cena do filme As Horas, mais umas experiências de infância, mais o fato de ter encontrado um pássaro na mesma época e assim vai.
E por mais que eu quisesse não é uma coisa fácil, talvez o importante para mim é ficar observando atenta para que eu perceba quando esses “encontros” surgem e use-os a meu favor. Se fosse pensar onde o ciclo de trabalhos começou, talvez seja do encontro de um estojão ganhado da avó, mais a observação do sítio onde eu morava, mais as as observações das invenções e geringonças do meu pai, mais as massinhas de farinha etc que minha mãe fazia.
QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES?
Nossa, são muitos e sinceramente antes da graduação eu não conhecia nada de teoria e ainda conheço muito pouco. Acho que o teórico que me foi apresentado e mais importante especificamente para mim, tem sido desde a graduação Gaston Bachelard, pelo olhar atento de como o espaço, a matéria da natureza e o devaneio surgem na poesia, acho que foi importante para o meu trabalho de conclusão de curso por exemplo. Não sou conhecedora de Freud e Baudelaire, mas li algumas coisas para entender um pouco mais a questão da memória e foram importantes para mim, como o capítulo Palimpsesto do livro Paraísos Artificiais do Baudelaire. Alguns teóricos que acredito ter sido importante para muita gente, como Rodrigo Naves por exemplo. Gosto muito da Márcia Tiburi, Aline Dias, Marilena Chauí, Katia Canton. Acho difícil pensar essa resposta, porque mesmo que pouca, tenho mais leitura de literatura que de textos críticos. Em relação aos artistas, gosto muito, principalmente da Kiki Smith, tanto pelo tema quanto pelo traço. Gosto de Janaína Tschäpe, Sandra Cinto, Brígida Baltar, Vania Mignone, Alberto da Veiga Guignard, Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo, Lucian Freud, Bernini. Também gosto muito dos pintores românticos e barrocos, principalmente barrocos.
O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Agora acabei de terminar de ler dois romances, li porque tinha que fazer um trabalho sobre eles, mas adorei os dois. Um é Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios do Marçal Aquino e o outro é Barba ensopada de sangue do Daniel Galera, incríveis. Mas meus livros preferidos ainda são Vermelho Amargo do Bartolomeu Campos de Queirós, Estava escuro e Estranhamente Calmo do Einar Turkowski, As Ondas da Virginia Woolf, Lolita do Vladimir Nabokov, Água Viva da Clarice Lispector, Manuelzão e Miguilim do João Guimarães Rosa. E agora espero começar a ler Lavoura Arcaica do Raduan Nassar.
QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Nossa… não sei responder, muitas coisas… Acho que principalmente as coisas onde a beleza e a dor coexistem.
O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Agora estou mais pensando e lendo do que desenhando. Produzindo textos, rs…
– QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Eu vejo muita coisa, mas não tem um site específico que costumo ver.
– QUE EXPERIÊNCIA COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?
Acho que tive muitas, a graduação foi muito importante pra mim também nesse sentido. Acho que a viagem para Ouro Preto e a visita a Fundação Iberê Camargo foram bem marcantes.
QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?
Eu também escuto muita coisa. Cartola, Ney Matogrosso , Chico Buarque, Legião Urbana, Cazuza, Milton Nascimento, Tom Zé, Filipe Catto, Zé Ramalho, Led Zeppelin, Aerosmith, Queen, Beatles, Florence and the Machine, Lenine, Nick Drake, Coldplay, Beirut, Ana Cañas, Mallu Magalhães…