Claudio Garcia, Brasil
Quando a comunicação passou para o espaço cibernético do correio eletrônico, assim como, as relações socioafetivas para as redes sociais no mundo digital, o desenho se mostrou, simultaneamente, como um gesto de comunicação “remota” com sensação visual, um meio de percepção visual e intelecção até alcançar a ciência. Mas, sobretudo, uma expressão com sentido afetivo. Entretanto, a informática tratou de agregar mais um sentido à palavra “remoto”: um controle de tudo remotamente, que, num curtíssimo espaço de tempo, faz das comunicações afetivas acontecerem em um tempo de espaço distante e quase irreal, mas em espaço de tempo simultâneo. Detenho, então, esse movimento de encobrimento de sentidos para não me esquecer de que as cavernas foram os primeiros lugares de comunicação remota e de recolhimento onde nossos ancestrais desenhavam. As cavernas são lugares distantes no tempo e no espaço que emitem sentidos ainda muito potentes de significados, bem mais que os desenhos mostrados em redes sociais. Então me pergunto: O que é o desenho? Parafraseando Eugen Fink, respondo: para pensar no sentido de desenho faço uma análise fenomenológica essencialmente provisória e temporal, por isso busco sempre um fio condutor através do qual haverá sempre um sentido mutante aparecendo. (2019, p. 40) Para falar de desenho não escolho o verbo ‘ser’ no afirmativo presente “é”, prefiro-o no infinitivo. Assim, sempre estarei detendo os sentidos das coisas, desenhos, atos etc., mesmo que eles passem. Nessa passagem, escrevo para que o conhecimento fique menos um sentido afirmativo para ser uma “metamorfose ambulante” (Raul Seixas). Portanto, afirmo o desenho como conhecimento e não como definição de um “é” definitivo.
BIBLIOGRAFIA
FINK, Eugen, Presentificação e imagem: contribuições à fenomenologia da irrealidade. Londrina: Eduel, 2019.
Nasci em 1955, em Flórida Paulista – SP. Graduei-me em Arquitetura, em 1978. Perambulei por muitas cidades em busca de um lugar para morar definitivamente. Moro em Londrina há mais tempo do que em qualquer outra cidade que habitei. Faço gravura em metal há mais de trinta anos, mais do que trabalhei com arquitetura. Quando se envelhece, todas as contagens ficam enormes, mas não as pretendo realizar aritmeticamente. Só quero contar histórias.
Não gostei da arquitetura enquanto construção de espaços, mas de revitalização de lugares antigos, de ruínas, enfim, de tudo o que a Nova Capital fugiu e eu me sentia atraído. Depois de Brasília, querendo ficar com algum emprego por lá, fui cuidar de horta e galinhas em Goiás. Em Luziânia, em um vale maravilhoso, me instalei com uma família para formar uma comunidade alternativa. Falhei. Fui para Alcântara, no Maranhão, para ser pescador. Falhei. Quase afundei. Trabalhei na Praia Grande, Centro Histórico de São Luís. Mudei-me para o Rio de Janeiro para ser artista. Estudei desenho, pintura e gravura em metal e criei um trabalho de viajante e ilustrador da própria pesquisa como arquiteto. O artista viajante apenas atravessava a Baía de Guanabara nas Barcas Rio-Niterói. O arquiteto quase se derreteu no calor das ladeiras de Santa Teresa e Saúde-Gamboa-Santo Cristo (Projeto de Preservação Ambiental – SAGAS).
Cheguei em Londrina com 40 anos. Trabalhei como “oficineiro” de gravura em projetos patrocinados pela Lei de Incentivo à Cultura durante sete anos.
Fui para Campinas fazer pós-graduação, não em arquitetura, mas em Artes Visuais. Assim, entendo meu mestrado e doutorado como uma graduação em Poéticas Visuais, enfim, como uma segunda licenciatura.
Hoje, sou professor de Gravura no Departamento de Arte Visual, da Universidade Estadual de Londrina, desde 2010. Durante este período houve um de grande crise pedagógica porque coordenei um curso de Artes Visuais dentro do PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica). O conhecimento do arquiteto, gravador, pesquisador e professor de gravura chocou-se com algumas propostas da Arte Contemporânea, uma delas foi o Happening.
Compreendo o Happening na Universidade como expressão artística criada pelo que entendo por Arte Contemporânea, menos como historiador, crítico de arte ou professor de gravura do que pesquisador do ensino de artes visuais.
Enfim, artista nenhum escapa do mercado financeiro, assim, ou vende o que cria para galerias ou troca, por salários, o que cria em Instituições Públicas. Portanto, sem revoltas, nem conformismos, não me sinto artista na Universidade, mas, sobretudo, professor, pesquisador e criador de pesquisas de artistas.
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