Rafael Bqueer apresenta ao Arte Londrina 8 o trabalho “Sem título” (2019),  objeto- performance que investiga as possibilidades de hibridismo entre corpo e objeto e foi desenvolvido durante o curso Formação e deformação na escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ). O olhar múltiplo de Rafael passa por lugares como sua ancestralidade, escolas de samba, o tecnobrega, moda e arte drag.
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Confiram aqui as perguntas e respostas entre nós e x artistx:
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Como o trabalho que foi selecionado foi desenvolvido?
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O trabalho selecionado foi desenvolvido durante estudos no curso : Formação e deformação, na escola de Artes Visuais do Parque Lage- RJ (2018). Em 2017 comecei a desenvolver pesquisas com roupas japonesas de fetiche, reunindo um olhar sobre moda e a influência japonesa na cultura  áudio-visual dos anos 90 no Brasil e seus impactos na memória de corpos racializados.
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A  crítica sobre a objetificação e fetichização de corpos racializados, junto as referências do trabalho do artista Leigh Bowery, me despertaram o desejo de experimentar a performance junto de outros suportes, o corpo desafiando a escultura e vice versa; As cores e  a estamparia trazem a influência do trabalho do artista nigeriano Yinka Shonibare, provocando diversas leituras sobre a diáspora africana, conectando o passado com o presente do colonialismo a partir de uma perspectiva descolonial .
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Como ele se relaciona com sua produção de uma maneira geral?
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Esse trabalho se relaciona com a minha produção na tentativa de trabalhar o hibridismo entre o corpo e objetos. É um desdobramento do trabalho com tecidos de roupas zentais e a criação de imagens que estão entre o onírico e o distópico.
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Que artistas ou teóricos você considera importantes? Por quê?
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Acho importante manter um constante diálogo com trabalhos de artistas paraenses e de outras regiões da Amazônia para pensar os significados e as heranças que permeiam minha ancestralidade: Lucia Gomes, Orlando Maneschy, Uyra Sodoma, Coletivo Noite Suja, Leona Vingativa etc . Sigo também constantemente pesquisando o trabalho de artistas da sena LGBTQI+: Ventura Profana, Marsha P. Jonson, Jota Mombaça, Eli Sudbrack, etc. E artistas afro-contemporâneos, que revisitam o passado colonial e pensam outras narrativas visuais e conceituais possíveis para o agora:  Yinka Shonibare, Athi Patra Ruga, Beyonce, Nick Cave, Lorraine O’Grady, Michelle Mattiuzzi, etc.
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O que você está lendo?
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Atualmente eu estou lendo: “Ideias Para Adiar o Fim do Mundo”, de Ailton Krenak .
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Que tipo de coisa chama sua atenção no mundo?
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Sou uma pessoa muito multifocal, estou sempre em trânsito , pesquisando e experimentando referências para a minha Drag-Themônia Uhura BQueer. Maquiagem, figurinos, moda, tudo o que me permite criar diálogos com os trabalhos que desenvolvo. Sou um amante assíduo do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro,  sempre que posso assisto carnavais de diversas agremiações e tudo que permeia esse universo onde comecei como carnavalesco em 2009, em Belém do Pará e hoje desfilo como destaque da escola de samba Grande Rio. Além de ver filmes, ir a exposições de arte e mergulhar em referências no instagram. Coisas extravagantes,experimentais, excêntricas, junções improváveis, narrativas não convencionais sempre chamam minha atenção.
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O que você está produzindo agora?
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Atualmente estou com um projeto de pesquisa  em Belém, investigando  as festas das aparelhagens de tecnobrega. Importante manifestação musical e visual da periferia da cidade. Uma amazônia de luzes digitais  e estética afro-indigena-futurista.
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Que sites você costuma ver?
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Estou sempre no instagram, Youtube e sites relacionados as artes visuais, arte drag e carnaval das escolas de samba.
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Que músicas você ouve?
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Gosto de ouvir: Maria Bethânia, Caetano, Gil, samba-enredo, pop,
fuck, tecnobrega, Gaby Amarantos, Leona Vingativa, Beyonce, Marília Mendonça, Calypso, Lady Gaga e Elza Soares.
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Como está sendo sua rotina durante a pandemia?
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Minha rotina na pandemia tem sido um desafio. Não tenho me cobrado, lidar com as problemáticas políticas do Brasil em determinados momentos tem sido tão difícil quanto as questões ligadas ao Covid 19. Muitas notícias desanimadoras, muita violência contra a cultura e contra os corpos dissidentes. Colhemos as reverberações de um país colonial , comandado por uma elite assassina e por um presidente fascista.
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Que tipo de performance, aproximando arte e vida, espera das pessoas, no contexto político que vivemos?
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Uma performance que seja voltada para a coletividade, pensando o cuidado com os corpos mais vulneráveis . Onde a/o artista não seja uma pessoa que tenha medo de viver financeiramente  de seu próprio trabalho e que reflita criticamente sobre os desmontes políticos que estamos vivendo na educação e na cultura.
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Sem título, 2019, Objeto-Performance. Parque Lage – Rio de Janeiro, RJ .Registro: Lorena Pazzanese.

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