ENTREVISTA COM O ARTISTA RAVI NOVAES

A última publicação desta série de entrevistas com os artistas participantes da exposição Tu não te moves de ti é com Ravi Novaes. Ele reside em Maracaju (MS) e respondeu algumas perguntas a nós a respeito de seus processos e de seu trabalho integrante do edital Arte Londrina 7, Saúva.
“As gravuras aqui apresentadas tentam tirar proveito dessa definição ampla, tornando-a ponto de partida para uma figuração que, em diálogo com realidades brasileiras, produza cruzamentos visualmente instigantes, explorando formas, texturas e grafismos. Ao invés de re-encenar monstros já inventados, esta série busca “cultivar” novas espécies, desenvolvendo assim a monstrocultura nacional.”
– Ravi Novaes
COM QUEM TEM AS MELHORES CONVERSAS SOBRE O QUE TE INTERESSA COMO ARTISTA?
Embora não a veja há algum tempo é com a professora e curadora Mayra Laudanna. Seu incentivo me convenceu a buscar construir juízos fundamentados além de meus gostos pessoais, o que tem me ajudado na compreensão de processos e motivações do universo da arte.
COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Um trabalho geralmente começa com desenhos para mim, quase sempre em um dos cadernos de bolso que tenho por hábito carregar. Outro processo que funciona às vezes é folhear revistas e jornais antigos, separando imagens que me chamem a atenção por algum motivo. Depois uso esse material para colagens, sobreposição de impressões ou junções com desenhos .
QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
São importantes para mim artistas da gravura, colagem e humor gráfico. Goeldi e Marcelo Grassmann na gravura, por exemplo, Hannah Hoch, Max Ernst, John Heartfield e Alex Flemming na colagem; Nássara, Ângelo Agostini, Laerte, Di Cavalcanti, entre outros, no humor gráfico.
O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Estou lendo Um General na Biblioteca, do Ítalo Calvino.
QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Me chama a atenção o estranho, o cômico, aspectos da realidade que soam pouco críveis. Isso tudo me desperta especial interesse quando envolve política.
QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Estou produzindo alguns cartazes e impressos, tentando equacionar aprendizados do Design Gráfico, que recentemente tenho estudado mais, com o desenho. Tenho experimentado com formatos, suportes, texto e imagem. Estou com o ateliê repleto de marmitas recheadas com impressos e cabaças sobre as quais pintei, imprimi e colei.
QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?
Nas minhas playlists: Belchior, Milton Nascimento, Itamar Assunção , Elza Soares, Mercedes Sosa, Luiz Gonzaga e Almir Sater são comuns. Atualmente tenho ouvido muitos podcasts também.
QUE EXPERIÊNCIA FOI IMPORTANTE PARA QUE VOCÊ SE ENTENDESSE COMO ARTISTA?
Pergunta difícil, acho que ocorreu de maneira progressiva, principalmente entre o ensino médio e a graduação, quando as questões relacionadas a processos criativos e linguagem visual foram ocupando cada vez mais espaço entre as minhas preocupações. O contato com técnicas de gravura durante a graduação foi decisivo nesse processo.
O QUE SIGNIFICA MONSTROCULTURA BRASILEIRA?
A Monstrocultura Brasileira é uma série de gravuras e desenhos nos quais tentei, à partir de questões do ambiente da agricultura e do agronegócio, produzir criaturas que dialogassem de maneira crítica com essa faceta da realidade brasileira, muito presente no MS. Tentei articular o gosto por desenhar criaturas derivadas de objetos com questões que acrescentassem camadas de significado a imagem.
AO IMPRIMIR SUAS GRAVURAS SOBRE PÁGINAS DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS, FAZER DELAS LAMBE-LAMBES, QUE TIPO DE DIAÓLOGO PRETENDE?
Me preocupou reprocessar imagens impressas no caso da sobreposição, dialogar com o sentido original da página de HQ sobre a qual a gravura foi impressa; vejo a sobreposição da saúva ao superman também como uma sátira.
O lambe-lambe tem a ver com a tentativa de submeter essas imagens a uma interação com um ambiente público menos regido por condutas próprias de um espaço destinado à arte. Na rua os trabalhos tornam-se efêmeros e as interações imprevisíveis. Foi uma maneira que estava ao meu alcance de colocar as imagens para circular.